Uma análise na Educação de Jovens e Adultos.

 

            A educação de jovens e adultos é um assunto que necessita muito ser pensado na relação dos desenvolvimentos dos conteúdos por parte dos professores, pois temos muitos exemplos ainda de um ensino infantilizado. Na EJA a teoria base de ensino é utilizar projetos, percebendo os interesses dos alunos.

           A formação dos sujeitos acontece em vários espaços das convivências humana. A escola é uma delas, como um dos espaços de construção do conhecimento, tem como função promover o acesso e a permanência dos sujeitos. Nesse sentido, a escola requer que seus professores compreendam os princípios e os fundamentos da EJA, centrados na igualdade de condições e liberdade de aprender.

            O grande desafio do professor na EJA é construir o conhecimento dos educandos, conduzindo a sua prática de docência e reconhecendo a validade das experiências do indivíduo. Sendo o educador da EJA reflexivo, pesquisador e comprometido.

            Os alunos da EJA esperam da escola a oportunidade de serem valorizados, pois a condição de não escolarizados os mantém humilhantemente á margem da vida. Esperam uma proposta educativa que possibilite o encontro de uma escola segura, confiável, que respeite as suas experiências e a partir delas possa pensar num currículo significativo ao seu dia a dia.

            O professor se dirigi a uma sala de EJA com o intuito de desenvolver seu trabalho sem a preocupação de relacionar os conteúdos com as experiências dos alunos, seus desejos e ideais ou seus objetivos de vida. A dinâmica dos encontros se torna cansativa e desestimulante, sem falar que não vai auxiliá-los em suas necessidades sociais cotidianas. Diferente desse professor é o que entra em contato com o grupo através de um texto que reflete a sua vida e a dos seus alunos, conversando e pedindo exemplos de situações contidas nos versos contidas de uma poesia, comparando e valorizando a história de cada um, fazendo-os perceber e aceitar a riqueza que têm experiências.

            Se pretendemos que os nossos alunos jovens e adultos se apropriem do conhecimento e da aprendizagem significativa e que tenham o saber como um requisito essencial e como uma ferramenta que os auxilie em sua vida social, devemos ir além do marco de um currículo disciplinar idealizado para submeter á população a um saber não funcional. Precisamos nos aproximar da realidade dos alunos com o objetivo de realmente ajudá-los a vencer e a ter uma vida digna na sociedade. Devemos pensar melhor no instrumento de avaliação, tomando os devidos cuidados não para medir o que o aluno sabe, mas para observar sua reação diante de situações desafiadoras do cotidiano com base na aprendizagem adquirida. 

            O professor deve assumir o papel de mediador e pesquisador. O papel de mediador centra-se no saber escutar o aluno relacionando ao ato de ensinar, pois ao ouvir o aluno o professor aprende em diálogo permanente, a troca de informações. O ato de ensinar esta relacionado ao papel do pesquisador, sendo assim por meio de mediação, visto que a integração de ensino e pesquisa é fundamental na formação do educador, pois ao ensinar, não apenas o professor auxilia o aluno, como também reelabora seus conhecimentos.

 

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino contínuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. (FREIRE, 1997, p.32)

 

            A citação de Freire é a retomada de ensino e pesquisa, em que a pesquisa é parte integrante da prática educativa. Portanto, o trabalho docente implica em uma reflexão constante de sua ação, pelas questões que acontecem em sala de aula, que serão reelaboradas por um processo reflexivo na ação, não apenas uma mudança, mas sim na discussão coletiva, na troca de experiências, na busca de saberes. A importância do resgate do professor como pesquisador, aquele que indaga, reflete e que produz teoria a partir da prática, o registros de suas experiências fazendo uma análise das práticas que deram certos e as que necessitam alterações.

            O professor precisa conhecer e priorizar o contexto real do educando, sem esquecer que a educação de jovens e adultos se faz pela interação dos conhecimentos do professor e do aluno e, como base nessa realidade, construir um projeto pedagógico adequado para atender ás necessidades dos alunos.

            Paulo Freire (2005, p.30), em seu livro Pedagogia da autonomia, se refere aos saberes necessários á prática educativa e oferece contribuições valiosas para conduzir á reflexão sobre competências docentes.

 

Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos (...), discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. Ensinar exige disponibilidade para o diálogo nas relações com os outros que não fizeram necessariamente as mesmas opções que fiz em nível de política, da estética, da pedagogia (...), no respeito ás diferenças entre mim e eles ou elas (...). Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural, assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos. Ensinar exige apreensão da realidade, transformar a realidade, nela intervir, recriando-a. Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade. O fundamental no aprendizado do conteúdo é a construção da responsabilidade que se assume (...).

 

A tarefa de professor não é fácil, mas necessita de muito engajamento para um ensino de qualidade. É preciso buscar uma concepção ampla de ensino aprendizagem, sendo assim professor e alunos uma relação dinâmica com o entorno social e com suas questões, considerando que jovens e adultos são também tempos diferentes de aprendizagens.

Sugiro um plano de aula para ser desenvolvido no 3º e 4º ano da EJA, interdisciplinar que irei utilizar em meu estágio, visto que resido no Litoral Norte e assim trabalhando com a realidade dos alunos, muitos dos moradores desta região são pescadores, desenvolvendo um plano de aula que pode ser expandido á um projeto tendo como tema os animais do litoral norte, que teria como objetivos conhecer estes animais; aprimorar o conhecimento já existente pelos alunos sobre os animais do Litoral Norte; utilizar o ceclimar (Imbé) para investigar os animais do nosso litoral; proporcionar um levantamento de quantos animais que possui no ceclimar, procriação em cativeiro e demais interesses; reconhecer a classificação dos animais do litoral norte realizando uma visita ao Ceclimar da Ufrgs.

A professora irá investigar com seus alunos os conhecimentos já existentes sobre os animais do Litoral Norte e o que gostariam de saber, apresentando-os de uma forma lúdica, trabalhando inicialmente com atividades com a formação de nome de animais através de figuras. Será feito pesquisas online de reservas ecológicas, focalizando o ceclimar para podermos assim fazer uma visita.  Nesta visita será feito o registro de fotos, será visto os animais de nosso litoral e assim investigado as suas dúvidas. Será estudado a classificação dos animais que encontramos em nosso Litoral Norte com pesquisa na internet e livro didático. No final do projeto terá uma exposição para as outras turmas verem o material coletado.

Um plano de aula simples sendo trabalhados português, ciências naturais, matemática e o cotidiano do aluno. Preparando os alunos para os questionamentos, não aceitar as coisas como são, inquietações, fazer acontecer nas turmas de EJA.

O desenvolvimento será da seguinte maneira, em primeiro momento a professora irá investigar os conhecimentos já existentes sobre os animais do Litoral Norte e o que mais gostariam de saber, será apresentado slides de alguns animais do Litoral Norte do site da Ufrgs do Ceclimar.

Em segundo momento levando os alunos ao laboratório de informática poderão manusear o site do ceclimar verificando as reservas ecológicas e a partir daí fazer uma visita ao Ceclimar;

Em terceiro momento a visita ao Ceclimar, os aluno poderão tirar fotos com a máquina fotográfica da professora e ainda caso algum aluno tenha pode levar, ou até mesmo de celular, também podem ser feitos registros escritos, percebendo sempre quantos animais possuem o Ceclimar, se há procriação em cativeiro, entre outros;

No quarto momento  em sala de aula será feito uma análise de tudo o que foi visto no Ceclimar, debate das investigações e se todas dúvidas e curiosidades foram resolvidas na visita. Será estudada a classificação destes animais através do livro didático e da internet. E será feitos atividades matemáticas com possibilidades de procriação dos animais em cativeiros.

No quinto momento será feito pelos alunos vários painéis com todo material coletado, assim organizando a mostra para as outras turmas, neste caso foi planejado cinco aulas, mas caso haja necessidade o tempo pode ser aumentado.

Neste plano de aula será avaliada a participação dos alunos em todas as atividades, percebendo o interesse do aluno e sua organização. A constante observação do professor em perceber se o aluno compreendeu o conteúdo. Enfatizando a realidade escolar e a valorização da experiência de cada um, integrando-se a vida escolar, neste sentido Freire (2003, p. 137) colabora com a seguinte reflexão:

 

 

Como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno geográfico, social, dos educandos?[...] Preciso, agora, saber ou abrir-me á realidade desses alunos com quem compartilho a minha atividade pedagógica. Preciso tornar-me, se não absolutamente íntimo de sua forma de estar sendo, no mínimo, menos estranho e distante dela.

 

   A formação do professor para EJA é uma prática que visa á uma proposta pedagógica pautada no diálogo, no questionamento e na compreensão da realidade que nos busca de novas propostas coletivas de mudanças, em que o conhecimento deve ser apresentado como uma construção social. O professor preocupado em relação ás capacidades que deseja que os alunos desenvolvam.

 

Referências:

 

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

 

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 31. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.