Durante muito tempo, em nossa sociedade, a sexualidade foi vista com naturalidade e franqueza. Sem segredos. Até o final do século XVI, falava-se em sexo sem constrangimentos, sem disfarces. Havia certa tolerância ao que se referia a sexualidade, aos códigos da grosseria, da obscenidade e da decência.

Gestos diretos, discursos sem vergonha, transgressões visíveis, anatomias mostradas e facilmente misturadas, crianças astutas vagando, sem incômodo nem escândalo entre os risos dos adultos: os corpos pavoneavam. (FOUCAULT, 1988, p. 9).

Contudo, a partir do século XVII, essa tolerância acaba. O sexo deixa de ser visto com naturalidade. Em torno dele, cria-se uma série de mecanismos de repressão que o condena ao desaparecimento, impõe-lhe o silêncio e afirma sua inexistência. Declara-se que, acerca do sexo, não há nada para dizer, nem para ver, nem para saber. O sexo passa a ter uma única função: a de reproduzir. É transportado para dentro de casa e condenado ao único lugar de sexualidade reconhecida: o quarto dos pais. Local utilitário e fecundo. Tudo o mais é negado e reduzido ao silêncio.

Isto posto, Foucault (1988, p. 11) questiona: “estaríamos liberados desses dois longos séculos onde a história da sexualidade devia ser lida, inicialmente, como a crônica de uma crescente repressão?”.

O próprio Foucault responde: muito pouco. Ele considera que, devido a ligação entre poder, saber e sexualidade, seria pagar um preço muito alto para se alcançar a liberdade.

 Seria necessário nada menos que uma transgressão das leis, uma suspensão das interdições, uma irrupção da palavra, uma restituição do prazer ao real, e toda uma nova economia dos mecanismos de poder; pois a menor eclosão de verdade é condenada politicamente (FOUCAULT, 1988, p. 11).

A ligação entre poder, saber e sexualidade, a que Foucault se refere, relaciona-se com o momento histórico em que ocorre a repressão. Esta se dá, coincidentemente, com o desenvolvimento do capitalismo.