Uma análise sobre as características gerais da obra: “Os Assassinos”, de Ernest Hemingway

Maria Do Socorro Ricardo Souza

 

                   O conto apresenta características semelhantes a alguns anteriores e ao mesmo tempo características completamente distintas em relação a eles. Encontramos semelhanças, por exemplo, numa das técnicas apresentadas, camera eye (olho da câmera), que é a técnica em que a descrição do personagem é feita num determinado momento, como se fosse uma câmera, é feita de fora, foco externo, se compararmos este, ao conto “Kew Gardens”, de Virginia Woolf, que se utilizava dessa mesma técnica narrativa. E, apresenta características distintas no sentido em que, até então, não havíamos discutido sobre um conto com predominância em diálogos, como este o é.

                    A história é contada através da narração de um narrador heterodiegético pessoal, aquele que tem privilégios sobre as personagens, mas não usa, não explica as ações, usa mais a consciência dos personagens. Todas as ações ocorrem por meio da focalização deles, o que limita, e muito, a visão do leitor, dificultando sua percepção da totalidade dos atos, isto é, só conseguimos compreender a ação, até onde o personagem nos permite enxergar.

                   Outra característica fundamental apresentada é a predominância do discurso jornalístico em toda a narrativa, quer dizer, os fatos são representados como eles realmente são, sem nenhuma interferência do narrador, é a representação fiel da realidade, romance reportagem. Nesse tipo de narrativa o julgamento dos personagens, opiniões a respeito deles ficam por conta do leitor, já que, neste caso a história apresenta falhas, não é completamente explicitada e cabe ao leitor preencher essas lacunas e interpretá-las à sua maneira.  Dessa forma é como se fosse um telespectador assistindo uma reportagem: ele assiste aos fatos dentro de sua realidade, analisa-os e decide o que pensar sobre eles.

                   Temos, portanto, aqui, uma narrativa sob uma perspectiva distanciada, neutra por parte do narrador. Como foi anteriormente citado, a focalização é externa, de fora, resultando assim, também na fragmentação do mundo, a percepção acontece a partir da compreensão do personagem, é limitado.       

                   Analisando agora, não apenas as características gerais, mas, a narrativa em si e as características dos personagens, podemos afirmar que Hemingway traz em sua obra uma visão bem pessimista a respeito da sociedade de sua época. Identificamos isto principalmente através da fala dos personagens, que apresentam uma linguagem direta, grosseira, irônica e sarcástica e de suas ações, especialmente dos dois assassinos Al e Max, que apresentam em todos os momentos, comportamento desrespeitoso e grosseiro.

__ Quero lombo de porco assado com molho de maçã e purê – disse o primeiro homem.

__ Ainda não está pronto.

__ Então para que diabo põem isto no Cardápio?

                                                        (Hemingway, P.54)

(...) __ Tem alguma coisa que se beba?

__ Refrigerantes, sucos e ginger ale.

__ Perguntei se tinha alguma coisa de beber.

                                                         (Hemingway, P.55)

                   Ainda em relação aos personagens podemos identificar algumas características que os destacam como assassinos, por exemplo, a maneira de se vestirem: “seus rostos eram diferentes, mas estavam vestidos como gêmeos. Ambos usavam sobretudos muito apertados (...) cachecol de seda e luvas”; a maneira de sentarem-se: “Inclinavam-se para frente com os cotovelos sobre o balcão”; a maneira como andavam, em duplas ou em bandos, etc. O autor de certa forma quis representar, aqui também, a relevante taxa de criminalidade que ocorria naquele momento nos Estados Unidos, 19 26, promovida pelas diversas gangs espalhadas pelo país. 

REFERÊNCIAS

HEMINGWAY, Ernest. Os Assassinos. In: As Aventuras de Nick Adams. Trad.: Hélio Pólvora. São Cristovão: Artenova, s/d, pp. 54-63.    

CARNEIRO, Raul. O pessimismo da modernidade na perspectiva de "Ole Andreson" no conto"The Killers” de Ernest Hemingway. 201,1p.1 -3.