No tocante deste trabalho, entendo que ler é construir significados constituindo o leitor como um sujeito ativo nesse processo. Apesar disso, ler pressupõe o envolvimento de múltiplos processos que para Jouve "é uma atividade de várias facetas" (JOUVE, 2002, p. 17). Segundo este autor, ao lermos infringimos em várias faculdades, tais como, a identificação e memorização dos signos, o entendimento do que está escrito, a identificação afetiva com o texto, a intenção argumentativa que poderá levar a uma conclusão ou desviá-la dela e o sentido da leitura.

Qualquer que seja o tipo de texto, o leitor sempre será interpelado pelo conhecimento que já adquiriu ao longo de sua vida. Nesse sentido, 'ler' não é apenas decodificar o que está escrito, mas, também isso, é compreender os significados mediatizados no texto. A compreensão é um processo dinâmico, no qual fazemos uso dos nossos conhecimentos prévios e interagindo com as pistas fornecidas vamos construindo o sentido global do texto. Assim, "o texto, como se vê, pode apenas programar a leitura: é o leitor que deve concretizá-la" (JOUVE, 2002, p.74).

Assim sendo, vamos atribuindo as novas informações aos conhecimentos de que já dispomos. À medida que avançamos na leitura do texto vamos realizando vários processos mentais de modo que possamos continuar a leitura. Na maioria dos casos a leitura solicita uma competência mínima que o leitor deve possuir, para prossegui-la. Deste modo, o (des) conhecimento do assunto poderá constituir, inicialmente, um sentido de admiração como também antipatia pelo que se está lendo. A alternativa de muitos leitores, nesse caso, restringe-se em recorrer a outro texto ou abandonar a leitura naquele momento.

Considero que reconstruir este caminho, por vezes, torna-se um grande enigma na compreensão do que está se lendo. Quero elucidar que as leituras realizadas pelo indivíduo irão delinear uma certa forma de compreender e abordar o que está se lendo. Para Jouve "o texto permite, com certeza, várias leituras, mas não autoriza qualquer leitura" (JOUVE, 2002, p. 25). Logo, para entender do que se trata, é comum o leitor recorrer às eventualidades mais comuns de um texto, ou seja, as pistas fornecidas por este para o seu entendimento.

À medida que lemos, podemos também, estabelecer nexos equivocados, seja pela forma que foi escrito, talvez pelas concepções que temos construídas, ou ainda, por que não dominamos o vocabulário de determinado texto. Caso apareça algum obstáculo, nossa mente fará interromper a leitura e voltar a atenção, posteriormente, seguirá o percurso se for resolvido. Quando o leitor não controla esse mecanismo, ele age passando os olhos sobre as letras. Presume-se que, naquele instante, o leitor realize uma leitura dinâmica daquele texto para logo defrontar-se com o final e 'estar livre' do que está lendo. Conscientemente ele fez a leitura, mas entendê-la já é outro caso. Então, ao relemos o escrito em outro momento iremos dar outro sentido àquele texto, isso, por que nesta ocasião já teremos internalizadas novas leituras acerca do conteúdo abordado no referido texto.

A leitura apresenta-se como um jogo de relações, no qual o leitor vai construindo por antecipação o contexto do discurso, formulando hipóteses e suposições que posteriormente, no decorrer da leitura, serão ratificadas, negadas ou reformuladas, incidindo ao leitor recorrer as suas interpretações. Por exemplo, o caso das obras de Lygia Bojunga, as quais são marcadas por serem leituras emancipatórias, que contribuem para a formação crítica do leitor, em outras palavras, são leituras que caberão ao leitor preencher através da interpretação das ações e do estabelecimento de conexões entre as diversas perspectivas que o texto fornece. Assim, Leffa (1996) pretende esclarecer que o leitor dispõe de diversas estratégias para construir o significado do texto e por essa razão, a leitura não deve envolver somente o leitor ou o texto, mas a interação entre o leitor e o texto para, enfim, se produzir o sentido do texto.

Solé também nos remete a ativação de estratégias quando lemos. Para ela, "a leitura é um processo de emissão e verificação de previsões que levam à compreensão do texto" (SOLÉ, 1998, p. 116). Assim, enquanto estamos lendo vamos fazendo previsões acerca das informações que encontramos aos conhecimentos que já temos internalizado e, é a partir daí, que a compreensão acontece.

Nesse sentido Leffa destaca que:

o que o leitor processa da página escrita é o mínimo necessário para confirmar ou rejeitar hipóteses. Os olhos não vêem o que realmente está escrito na página, mas apenas determinadas informações pedidas pelo cérebro. A compreensão não começa pelo que está na frente dos olhos, mas pelo que está atrás deles. (LEFFA, 1996, p. 14),

Deste modo, ler exige a ativação de distintas competências e estratégias num processo ascendente e é através da leitura que podemos (des) construir conceitos para nossa formação social.

Enfim, o ato de ler não é uma atividade passiva, é o leitor que vai 'funcionar' o texto. Ler significa atuar no texto mobilizando estratégias de leitura. E, mais ainda, é fazendo inferências, estabelecendo relações e mobilizando seus conhecimentos prévios para dar coerência aos vazios, implícitos, subtendidos, ocultos nos interstícios de um texto. Além disso, é possível concluir que o ato de ler não é consequência do saber ler.

O saber ler é uma construção realizada por muitas experiências de leitura que envolve distintas estratégias que só um professor consciente desse processo poderá proporcionar. Colocar em cena, aos alunos, esses marcadores de texto fornecem-lhes maior êxito no ato de ler, assim, certamente, orientando a leitura e colaborando com a formação do leitor.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOJUNGA, Lygia. Angélica. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2006.

JOUVE, Vincent. O que é a leitura? In: JOUVE, Vincent. A leitura. São Paulo: Editora da UNESP, 2002. p.17-33.

JOUVE, Vincent. Como se lê? In: JOUVE, Vincent. A leitura. Assis/SP: Editora da UNESP, p. 61-87. 2002.

LEAL, Leiva de Figueiredo Viana. Leitura e formação de professores. In: EVANGELISTA, Aracy Alves Martins; BRANDÃO, Heliana Maria Brina; MACHADO, Maria Zélia Versiani (orgs.). A escolarização da leitura literária: o jogo do livro infantil e juvenil. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 263-268.

LEFFA, Vilson. Aspectos da leitura: uma perspectiva psicolingüística. Porto Alegre, Sagra Luzzato, 1996.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.