“As contradições de classe, a violência, a miséria e outras mazelas sociais, quando não desaparecem, são justificadas como um mal necessário ou beatificadas pelas motivações supostamente – nobres dos beligerantes”. (CARNEIRO, 2016, p. 33).

Atualmente temos observado em noticiários locais o grande aumento nos casos de violência no Brasil, e esta realidade não é diferente na cidade de Rio Branco, tal elevação tem ocorrido provavelmente em face das inúmeras tentativas de organizações criminosas de se implantarem no Estado do Acre, visando o domínio da faixa fronteiriça, com o objetivo principal de dominar a rota das drogas na Amazônia ocidental.

A violência tem se proliferado grandemente nas últimas décadas no Brasil de maneira assustadora, os números têm se desenvolvido de forma crescente, mas a partir do estatuto do desarmamento os índices tiveram um declínio mínimo, entretanto sem grandes modificações em relação aos números absolutos.

No Estado do Acre a realidade não se difere do restante do Brasil, no quesito de mortes envolvendo armas de fogo o estado teve um crescimento elevado nos últimos anos como podemos ver nos dados abaixo, que foram extraídos do Mapa da Violência 2016:

UF

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

Δ%1

Δ%2

Acre

8,0

5,4

7,3

7,3

5,9

8,8

8,6

6,7

11,2

12,4

14,6

83,0

17,3

Os números acima representam as taxas de homicídios referentes a 100 mil habitantes, que ocorreram por armas de fogo, no Estado do Acre, em um período de uma década, ou seja, de 2004 até 2014. Ao final temos o percentual equivalente a evolução das taxas compreendidas na década focada (Δ%1), já no segundo quadro (Δ%2), temos a variação especifica ocorrida entre os últimos dois anos.

Nesta escalada da violência generalizada o Estado do Acre também subiu negativamente no ranking da violência antes ocupava a 22ª colocação, nos anos 2000, subindo para 21ª colocação no ano de 2014.

Quando afunilamos ainda mais os nossos olhares percebemos que na Capital os números também se ampliam a cada dia, gerando uma sensação de insegurança em grande parte da população acreana e em especial no cidadãos rio-branquenses.

 

Mapa da violência 2016.

 

Como podemos ver acima, os índices da cidade de Rio Branco têm se elevado consideravelmente, principalmente quando os relacionamos com o nível de crescimento populacional, segundo o Senso de 2016, o Estado do Acre conta com pouco mais de 800 mil habitantes, fato este que tornam os números mais relevantes, principalmente quando verificamos que os números mais expressivos se concentram na capital, que possui uma população estimada em aproximadamente 380 mil habitantes.

Contudo devido a crescente escalada da violência a sociedade tem se tornado cada vez mais insensível e fria os reflexos negativos da violência, pois as frequentes ações de violência e a constante situação de caos em que estamos imergidos nos faz cada vez mais tolerantes ao que parece comum e natural, ou seja, as ondas de violência.

Nas palavras do professor Eduardo de Araújo Carneiro, a questão da violência não é enfocada, ou seja, visualizada como violência em si própria:

“A violência praticada não é enfocada, pois o herói sempre é guiado por motivações nobres e altruístas, para justificar tudo que faz. A perspectiva bélica do herói permeia até hoje o imaginário da civilização ocidental”. (CARNEIRO, 2016, p. 120).

Então o que justificaria essa perspectiva da violência seria a necessidade de se combater a violência por meio da violência, e quando esta violência é marcada por características de gênero? Como verificar tais hipótese? Vejamos os números correspondentes a seguir:

 

Mapa da violência 2016.

 

É obvio que em sua grande maioria as vítimas de homicídios causados por armas de fogo são pessoas do sexo masculino, que normalmente se envolvem em rixas violentas que terminam em óbitos.

Outra característica marcante das mortes violentas provocadas por armas de fogo é a idade das vítimas em questão, são primordialmente jovens com idade entre 15 e 29 anos.

Em Rio Branco estes números se demostram mais alarmantes, dada a amplitude de seus números em relação pequena população, outro fator importante é o da raça das vítimas em sua grande maioria jovens negros e de baixa renda, residentes de áreas periféricas e sem uma presença atuante do Estado garantindo educação, segurança, lazer e saúde de forma satisfatória, de maneira a possibilitar a esta juventude ampliar as suas possibilidades de ascensão social e financeira.

Em suma podemos depreender que grande parte das vítimas da violência na cidade de Rio Branco são pessoas de poucos recursos financeiros, do sexo masculino e em sua grande maioria da raça negra. Características estas que marcam toda uma faceta da população local, estigmatizando toda uma parcela da sociedade, com marcas da violência generalizada.

REFERÊNCIAS

CARNEIRO, Eduardo de Araújo. O discurso fundador do Acre(ano): História & Linguística. Eduardo de Araújo carneiro. Rio Branco: EAC Editor, 2016, 140 p.: il.

IBGE. Estado do Acre. Senso 2016. Disponível em: . Acessado em: 18.08.17

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2016. Homicídios por Armas de Fogo no Brasil. Flacso Brasil. Versão Corrigida 26/08/2015. Disponível em: . Acessado em: 18.08.17