Universidade do Estado da Bahia

    Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias- campus XXI – Ipiaú

Daiane dos Santos Freire

Um príncipe duas versões: o conto e o filme, A princesa e o sapo.

Ipiaú – Ba

 2013





 

 

 

Daiane dos Santos Freire

 

 

 

 

 

 

Um príncipe, duas versões: o conto e o filme, A princesa e o sapo.

 

 

Monografia apresentada como requisito parcial para complementação de nota para obtenção de grau de licenciatura, do curso de Letras Vernácula, da Universidade do Estado da Bahia – campus XXI – Ipiaú.

Orientadora: Mstr. Adilma Nunes Rocha

Ipiaú – Ba

 2013

 
 
 


“Adaptações, de uma maneira geral, sempre fizeram sucesso. Não fossem as adaptações, a evolução das espécies não ocorreria. E não teríamos, no plano das linguagens, todo um nicho do cinema hollywoodiano, Guimarães Rosa ou James Joyce. O ser humano não teria dominado o planeta se não fosse sua capacidade de adaptação.”

Luiz Carneiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Dedico este trabalho à minha família. Especialmente para minha filha Laura e meu marido Marcelo Marcos. Meus pais Gileno e Maurina e irmãos Daíla e Adelson.

À meus avós, in memória Flavio Afonso e Anatalicia Teles; Argemiro Silva e Isidia Silva.

Aos amigos que tanto me apoiaram nesta longa caminhada que é sem sombra de dúvidas fazem  parte da minha família:Zélia, Brisa, Maria, Arnaldo, Maria José, Marinalva (tia Preta), minha dinda Rita Alves.

 

 

 

 

 
 

AGRADECIMENTOS

 

Antes de tudo agradeço ao Senhor meu Deus que permitiu que eu tivesse a sabedoria necessária para realização deste trabalho.

Agradeço a todos aqueles que contribuíram e acreditaram em mim nesta longa jornada, a minha família principalmente, a minha filha Laura e meu marido e companheiro de longa data Marcelo Marcos pela paciência e compreensão em todos os momentos.

Pai e Mãe obrigada por sempre acreditar e se orgulhar de mim. Dando apoio nas horas de mais dificuldades por que passei, e pelo grande amor que tens por mim. Foram meus maiores incentivadores.

Aos amigos de caminhada, em especial Yana Karla Martins e Milla Tannus, que por forças do destino sempre estiveram ao meu lado.

E a toda família UNEB que  de alguma forma contribuíram  para que eu conseguisse realizar este trabalho: os mestres Adilma Nunes, Otávio Assis, Vitor Hugo Martins, Luciana Leitão, Tereza Cristina, Maria da Conceição, Tarcisio Cordeiro, Murilo da Costa, Joseneia Costa, Harle Costa e José Humberto da Silva.

Arlete Pimentel, Nilzete Machado, D. Maria, Danilo Marques, Luiza e Idiária. 

A todos meu sincero muito obrigado!!

 

 

 

 

 

 
 

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 : Capa do filme A princesa e o sapo..................................................................  24

Figura 2 : Chegada de Naveen à cidade de Nova Orleans.................................................  29

 

Figura 3: O príncipe Naveen  pela cidade, acompanhando uma banda de Jazz.....................  30

Figura 4 : Naveen tendo que lutar pela sobrevivência............................................................ 31

Figura 5: Tiana e Naveen buscando solução para seus problemas.......................................   32

Figura 6: O jantar que Naveen preparou para Tiana...................................................  33

Figura 7: Dr, Facilier...................................................................................................  34

Figura 8: Lawrence sendo humilhado por Naveen......................................................  35

Figura 9: Lawrence assume a forma de Naveen.........................................................  35

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

SUMÁRIO

Introdução......................................................................................................................  9

Capitulo 1-   Literatura infanto-juvenil e a cultura das mídias................................    12

1.1-Um pouco da história da literatura infantil...........................................................  12

1.2   A literatura infanto-juvenil na era da cultura das mídias ...............................................   16

Capitulo 2- Um príncipe duas versões......................................................................... 19

2.1 O conto O príncipe Sapo dos Irmãos Grimm.......................................................  19

2.2 O filme A princesa e o sapo, da  Disney................................................................ 23

Capitulo 3- A representação do príncipe encantado na obra cinematográfica: A Princesa e o sapo.......................................................................................................... 28

Considerações Finais................................................................................................... 37

Anexos......................................................................................................................... 39

Referencias ................................................................................................................. 41

 

 

 

 

 

 

 

 


 

RESUMO

 

 Percebendo que o príncipe encantado é o ideário do homem na sociedade, . e  que durante muito tempo esse personagem servia de referencial de identidade masculina propomo-nos a observar que perfil de homem esta sendo veiculado na literatura infanto-juvenil na contemporaneidade em sua tradução n cultura da mídia. Assim, o presente trabalho propõem analisar a representação do homem na literatura infanto-juvenil, tendo como corpus de pesquisa duas obras  a literária O príncipe sapo dos Irmãos Grimm  e a  cinematográfica: A princesa e o sapo, da Disney,  para perceber as semelhanças e diferenças nas representações de contextos temporais e espaciais diferentes. O homem era um ser de identidade irrevogável, a quem se vinculavam os valores bem quistos pela sociedade. Na contemporaneidade passa-se a ressignificar mitos e valores tradicionais, atribuindo ao homem todos os aspectos de sua humanidade.  Tal pesquisa baseia-se nos fundamentos da tradução intersemiótica, já que faremos um paralelo entre duas narrativas, que se assemelham em alguns pontos, porém, se apresentam de diferentes maneiras, e em espaço e tempos distintos.

Palavras-chave: literatura infanto-juvenil; cultura das mídias; representação do masculino.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


ABSTRACT

  Realizing that the prince is the ideal of man in society. and this character for a long time served as a referential of male identity, we propose to observe that man profile is being conveyed in children's literature in contemporary culture in his translation to media culture. Thus, this paper proposes to analyze the representation of man in children's literature, with the research corpus to two literary works “The Toad Prince” from Brothers Grimm and he film: The Princess and th Toad, from Disney, to understand the similarities and differences in representations of different temporal and spatial contexts. The man was a identity irrevocable, to whom is conveyed values ​​well received by society. In contemporaneity, it passes to reframe myths and traditional values​​, assigning to man all aspects of their humanity. Such research is based on the fundamentals of inter-semiotic translation, since we do a parallel between two narratives, which resemble in some points, however, present themselves in different ways and in different places and times.

Keywords: children's literature, media culture, representing the male.

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

A Literatura é uma das artes onde o homem se diz, diz seu tempo, revela sutilmente as ideologias. Tudo isso utilizando a palavra arte. Não é diferente, quando este texto-arte é dirigido ao publico infantil e juvenil. Esta é a condição da literatura infanto-juvenil: espaço onde por meio da ficção o homem se revela e revela o mundo.

Na contemporaneidade a literatura infanto-juvenil ganha nova roupagem, e a partir dela outras obras são produzidas, resignificando argumentos e atualizando perfis a muito tempo cristalizados.  

Nos textos infantis, tanto nas obras cinematográficas, quanto nos contos de fadas o príncipe encantado é a representação do homem na sociedade. Nas obras infanto-juvenis clássicas, trata-se da idealização de um perfil masculino a ser seguido. Porém como toda obra esta sujeita a adaptações, para se adequar a época a qual esta sendo representado ou apresentado, o perfil masculino ganha novas tônicas que melhor representem o homem na contemporaneidade.

Nesta linha de estudo, na resignificação da literatura infanto-juvenil para o cinema  nossa pesquisa se equivale do seguinte questionamento: qual a representação do príncipe encantado estar sendo veiculada na obra literária e na cinematográfica : A princesa e o sapo?

A sociedade vive em constante transformação, e as obras literárias não fogem a esse princípio. E essas transformações são mais perceptíveis nas personagens. A conotação que o autor do conto O príncipe sapo deu ao personagem do príncipe encantado é totalmente diferente da configuração que o autor da tradução cinematográfica A princesa e o sapo atribuíram ao mesmo personagem, já que o contexto em que ambas se apresentam são totalmente diferentes. Assim levantamos a seguinte hipótese: a diferença de perfis masculina nos distintos textos, de diferentes épocas, retrata a mudança no ser humano tanto no agir quanto no seu ideal de vida.

Propomo-nos a analisar a representação do príncipe encantado na obra literária O príncipe sapo e na cinematográfica: A princesa e o sapo, para perceber as semelhanças e diferenças nas representações de contextos temporais e espaciais diferentes.  Estudar a representação do príncipe figura masculina na sociedade, observando e traçando o perfil do príncipe encantado na obra supracitada. Confrontando as imagens (representações) do príncipe encantado observado os contextos em que se enquadram.

Para tanto nos baseamos na tradução intersemiótica. Sobre este método, Luiz Carneiro (2012), assim se pronuncia:

Um dos pilares da tradução intersemiótica advoga que, quando se transpõe um texto de uma linguagem para outra, o que se cria é outra mensagem em outra linguagem. A história contada pode ser a mesma em um filme e em uma história em quadrinhos, mas, por conta dos limites de cada uma dessas linguagens, as mensagens não são as mesmas. (2012 ) “

O propósito deste trabalho é o interesse em analisar como certas temáticas em obras clássicas são resignificadas na contemporaneidade em outra linguagem. Aqui trataremos da linguagem verbal- literária para a linguagem não-verbal da animação cinematográfica.

Como corpus de analise recorremos ao conto dos Grimm, O príncipe sapo escrito no século XIX e a animação cinematográfica da Disney, A princesa e o sapo em 2009. Nosso foco será o estudo comparativo da representação do homem na sociedade a partir da observação do personagem príncipe encantado na obra literária e na cinematográfica,  obras direcionadas ao público infanto-juvenil.

Tal pesquisa nasceu da inquietação que surgiu a partir da percepção que nos textos da literatura infanto- juvenil o príncipe encantado que sempre aparece no final para dar  beijo salvador na princesa, recaindo sobre esta todo o drama e toda problemática existencial e social, seguindo os preceitos da sociedade ocidental machista. Contudo percebemos que na contemporaneidade esse paradigma vem modificando-se e tanto o homem quanto a mulher são sujeitos que estão com suas identidades em construção. Isso é percebido na tradução cinematográfica O príncipe sapo, um dos objetos de nosso estudo.

Para melhor compreensão do nosso trabalho, o estruturamos em três secções, a primeira iremos abordar A literatura infantu-juvenil desde quando surgiu, em meados do século XVII propriamente com textos para o público infanto-juvenil com a função não só de entreter mas também de educar e preparar a criança e o jovem para o mundo adulto. A literatura infanto-juvenil  é rico um campo muito vasto e em interpretações, por isso alguns escritores-estudiosos como percussores Charles Perrault (1628 – 1703) e os Irmãos Wilhelm (1786 – 1859) e Jacob (1785 – 1863) Grimm. A  literatura infanto-juvenil passa a ser referencia para crianças e jovens com base nos textos dos Irmãos Grimm, durante algumas pesquisas de cunho lingüísticas, eles perceberam a preciosidade nas histórias contadas pelo povo em momentos de diversão. Eram histórias fantásticas que alem de divertir elas tinham a capacidade de instruir as pessoas a cerca de certas condutas bem vistas pela sociedade. Até a  contemporaneidade, em que temos a utilização de novos recursos para uma maior disseminação da literatura infanto-juvenil, em meios as novas mídias. O segundo capitulo ofereceremos nosso objeto de pesquisa, o conto dos irmãos Grimm, O príncipe sapo  e a obra cinematográfica da Walt Disney, A princesa e o sapo, apresentando o contexto histórico em eu cada uma das obras se apresenta. O terceiro faremos uma analise da representação do príncipe encantado na respectiva obra, tentando perceber as mudanças no perfil do homem da idade média para o homem da contemporaneidade.

Para fundamentar nossa pesquisa recorremos a alguns teóricos, dentre muitos os principais foram: Julio Plaza, com o livro Tradução intersemiótica (2008); Lúcia Pimentel Góes, Introdução à Literatura para crianças e jovens (2010); Lúcia Santaella,  Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano (2003); Maria Antonieta Antunes Cunha . Literatura infantil: teoria e prática (2003).  Entre outros.

 

 

 

 

 

 

  1. 1.   LITERATURA INFANTO-JUVENIL E A CULTURA DAS MÍDIAS

1.1-Um pouco da história da literatura infantil

A literatura infanto-juvenil surge no final do século XVII, a partir da necessidade das famílias burguesas tracejarem um perfil de infância logo após o fim da Revolução industrial, com o fim do trabalho infantil. Ela surge com a função de educar de forma moralistíca. Alguns nomes na época foram de grande relevância para a literatura infanto-juvenil, os principais foram o francês Charles Perrault (1628 – 1703) que adaptou as narrativas folclóricas que eram contadas oralmente pelos camponeses da época,  e os irmãos Wilhelm (1786 – 1859) e Jacob (1785 – 1863) Grimm. Como esclarece Cadermatori, (2010), p.39:

A literatura infantil tem como parâmetro contos consagrada pela preferência das crianças de diferentes épocas que, por terem vencido tantos testes de recepção, fornecem aos pósteros referências a respeito da construção tônica literária do texto infantil. No século XVII, o frances Charles Perrault ... Coleta contos e lendas da Idade Média  e adapta-os, constituindo os chamados contos de fadas, por tanto tempo paradigma do gênero infantil.    

Perrault é um dos principais nomes na história da literatura, foi o percussor da Literatura Infantil a publicar contos infantis no século XVII, com os livro Contos da mãe gansa (1697),neste livro ele reuniu oito estórias, que recolhera das fabulosas memórias do povo: A bela adormecida no bosque; Chapeuzinho Vermelho; O Barba Azul; O Gato de Botas; As Fadas; Cinderela (A gata borralheira); Henrique do Topete e O Pequeno Polegar.

Porém só a partir dos estudos lingüísticos dos irmãos Grimm, em busca das invariáveis lingüísticas, que foram descobrindo e registrando as narrativas maravilhosas. E assim surge a coletânea  que hoje tomamos por Clássicos da Literatura Infanto-juvenil. Os mais conhecidos estão: A Bela Adormecida; Branca de Neve e os Sete Anões; Chapeuzinho Vermelho; O Ganso de Ouro; Os Sete Corvos; Os Músicos de  Bremen; A Guardadora de Gansos; Joãozinho e Maria; O Pequeno Polegar; As Três Fiandeiras; O Príncipe Sapo, entre outras que até hoje percorrem o mundo.

A literatura infanto-juvenil é muito ampla em conteúdo, aparece como forma de educar, principalmente em relação transmissão de valores ideológicos protegidos pela sociedade, e a cultura da época, sempre perpetuando a questão da moral, em seu contexto. Cunha (1999) diz:

“A história da literatura infantil tem relativamente poucos capítulos. Começa a delinear-se no início do século XVIII, quando a criança pelo que deveria passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta”(.apud. PAÇO. 2009,p12)

Entretanto sabe-se que o princípio os contos como eram transmitidos oralmente, direcionados para os adultos contendo em seu conteúdo um nível de sensualidade e erotismo muito grande. No entanto as crianças não eram impedidas de participarem das leituras destes textos, porque na Idade Média não havia distinção entre ser adulto e ser criança, uma vez que, “Até o século XVII, as crianças conviviam igualmente com os adultos, não havia um mundo infantil, diferente e separado, ou uma visão especial da infância. (Silva,2009. p.136)  ”. Por isso com o tempo e com interesses ideológicos foi-se tendo a necessidade de separar o que era adulto de criança. Segundo Silva (2009) e Oliveira (2008)

A partir do século XVIII, a criança passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, havendo então o distanciamento da vida “adulta” e recebendo uma educação diferenciada, que a preparasse para essa vida.(p.136)

Desde a Idade Média já havia Literatura Infantil. É sabido que naquele tempo a infância era algo um tanto quanto diferente do que concebemos hoje. As crianças não possuíam espaços exclusivamente para elas e, muitas vezes, levavam uma vida de adulto, trabalhando arduamente nas lavouras de uma sociedade até então eminentemente agrária. Mas, as histórias de heróis e cavaleiros fortemente vestidos com armaduras fascinavam não só crianças, mas adultos também. E detalhe: ainda não haviam inventado o livro. As histórias eram contadas oralmente, o que nos leva a afirmar que a Literatura Infantil, na verdade, é anterior ao livro infantil. (p.7)

Como seguia os ideais cristãos que perpetuava no Romantismo que eram contra a crueldade em certos contos os Irmãos Grimm na segunda edição da sua coletânea retiram as cenas de violência e maldade, principalmente as que envolvem as crianças. Dar-se início as adaptações, pois muitos dos textos foram adaptados para serem apresentados para crianças, e para este fim  retiraram as cenas de sexo e erotismo.

 Nelly Coelho ressalta a importância da literatura infantil como forma de aprendizado para a construção da sociedade. Segundo ela a literatura tem como papel primordial o de “auxiliar a formação das novas gerações.”, pois:

Aí está o valor substancial da Literatura como criação: sua matéria-prima é a  existência humana e seu meio transmissor é a palavra , a linguagem – exatamente o meio do qual tudo no mundo necessita para ser nomeado e existir realmente para todos os homens.(2003. p.122)

Para Cagneti (1996):

A Literatura infantil é, antes de tudo, literatura, ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o Mundo, o Homem, a Vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática; o imaginário e o real; os ideais e sua possível/impossível realização. (apud. PAÇO, 2009p.12)

Assim os textos escritos se afirmam como supremacia diante da sociedade falante, fazendo com que surjam vários gêneros literários os contos, as lendas, mitos, fábulas, os romances, novelas e poemas. Todos eles com suas particularidades e contextos.

No século XX essa literatura já se apresenta de forma renovada. Os textos clássicos ganham varias adaptações escritas e também versões áudio visual e como: é a chamada tradução intersemiótica, que segundo Plaza (2003) é a recriação de um elemento a partir de uma matriz. Já Dinis define como sendo a tradução de um determinado para outro signo semiótico. Porém nem sempre é uma replica, pode conter elementos semelhantes, mais que em seu contexto buscam passar uma mensagem diferente, atendendo também a novos contextos de recepção.

Já muito diferente do século XVII, a literatura infanto-juvenil do século XX já abrange toda a sociedade, pois fora rescrita de formas diferentes fazendo com que se tornasse acessível a todos os grupos de leitores, desde o iniciante ao leitor critica. A versão mais conhecida na atualidade da literatura infanto-juvenil são as novas versões dos contos de fadas é a  do formato áudio visual. Porém essa literatura esta sendo rotulada como mercadológica, como situa Silva (2009):

Partindo do pressuposto de que a literatura infantil está em crise de valores, conceitos e funções, observou-se a importância de pesquisar acerca do referido tema almejando percorrendo a trajetória da literatura infantil desde sua origem histórica, observando o conceito mercadológico, sob o qual esta literatura foi observada e rotulada,...(p.136)

A literatura de modo geral possui elementos capazes de estimular o imaginário do ser humano possibilitando que nas desventuras da vida ele possa solucionar os problemas que o cercam de maneira mais eloqüente. Por isso a literatura sempre esteve presente na sociedade, desde sua forma original quando eram transmitidas oralmente até os dias atuais.

Na atualidade com a chamada cultura de massa, essa literatura não se situa apenas no  seu caráter didático – pedagógico e passa ser considerada uma literatura mercadológica. Busca-se uma simplificação nos contos clássicos e assim facilitando o acesso. Assim quando passa a ter apenas o caráter mercadológico. “A literatura infantil é, muitas vezes, considerada uma literatura de massa, de menor qualidade, produzida em grande escala  e pouco elaborada, pois o que o mercado  deseja, nesse âmbito, é a venda e o  consumo, a quantidade, não a qualidade.”(,Silva, 2009. p. 138).

A saber, que a literatura assim como toda a sociedade vive em processo de constante mudança, no século XXI essa literatura ressurge não como processo de mera reprodução, mas com uma nova roupagem, porém com a intenção de representar a realidade de maneira lúdica. Pois tendo como fonte de inspiração a humana, busca relatar a convivência social, atribuindo a seus personagens a representação de cada indivíduo na sociedade.

 E delinear a representatividade de cada personagem em contextos bem próximos a realidade; este o novo sujeito que está sendo concebido no seio da sociedade, trazem os padrões identitários de sua época, problematiza-se então o SER, O ESTAR e o PARECER  no mundo tão global e fragmentado. No Brasil  a literatura infanto-juvenil   surge de maneira diferenciada, pois não se atem apenas aos aspectos pedagógicos e sim busca através de um texto voltado para a essência de ser criança e valores morais, sociais, culturais e sobre tudo o ser humano.

 A partir a década de 70 por meio dos textos de Monteiro Lobato que se tornou conhecida  literatura infanto-juvenil. Uma obra de grande representatividade do autor é o Sitio do Pica-Pau Amarelo, com seus personagens memoráveis: Emília, Narizinho, Pedrinho, dona Benta, tia Anastácia, o Visconde, e o Saci. Personagens estimularam o crescimento intelectual das crianças, preparando-os  para que se  tornassem adultos mais críticos,  estabelecendo um relação muito mais politizada diante da sociedade.

Lobato soube como ninguém retratar o ser criança de maneira tão fidedigna que percebemos um distanciamento da literatura infantil clássica europeizada.  Ele trabalha a esperteza e a criatividade da criança para solucionar os conflitos, já a clássica apenas estabelece valores que permeiam o certo – errado, o bem – mal, obediência – desobediência.

Durante todo o percurso da literatura infanto-juvenil percebemos que seus pilares não foram quebrados e sim resignificados, diante das transformações que a sociedade vem sendo submetida. Desde seus primórdios, fora necessários fazer adaptações para se adequar a cada época a qual estava sendo apresentada. Depois que foram escritos até mesmo seus primeiros percussores visualizaram a necessidade de fazer algumas modificações para que acompanhasse a evolução da sociedade.

1.2-A literatura infanto-juvenil na era da cultura da mídia

Com o desenvolvimento da sociedade muitas coisas mudaram ou tiveram que se adaptar para que não fossem esquecidas em meio às evoluções. Adaptar-se está na conduta para o desenvolvimento humano. Na literatura isso não foi diferente, e principalmente a literatura infanto-juvenil.  Viu-se a necessidade de modernizar os textos do passado para que não se perdesse todo um contexto, ou melhor, um padrão ideal de sociedade.

Como a literatura infanto-juvenil sempre foi tida como principal  meio de preparar a  criança para o mundo adulto,  percebe-se com maior ênfase essas evoluções. Para Julio Plaza os textos não se tornam meras produções ou traduções, e sim tornam uma releitura do passado para o presente, pois um signo só pode ser entendido a partir de outro signo anterior, no processo interativo de comunicação.  Não se tratar apenas em transpor uma mensagem para outra linguagem, mais sim através dessa nova linguagem passar outra mensagem.

Plaza defende a tradução como o processo semiótico por excelência, principalmente se este processo for pensado nos termos da semiose ilimitada de Peirce, onde só se começa a perceber um signo como significante de outro signo e assim sucessivamente. Deste modo, sugere que aquilo que se tem por criação passa a ser, de fato, uma tradução criativa, uma recriação de um "original", o qual, por conseguinte, perde sua "aura" pois que passa a ser, também, tradução de algo anterior. Pode-se supor que "original" desliga-se de "primordial", na medida em que passa a representar uma origem referencial em vez de uma origem singular e quase mítica.(GODINHO, 2013. p 1)

Pois essa mensagem esta inserida em outro contexto histórico e por isso não se pode trabalhar os mesmos problemas do passado. E em meio aos avanços tecnológicos, vem a necessidade de transpor alguns dos clássicos infanto-juvenis para esse novo mundo (virtual). E assim fazer com que as crianças e jovens passem a conhecer  esse mundo lúdico da literatura infanto-juvenil. Esse  bom uso das novas tecnologias pode trazer benefícios para todos os ramos da sociedade, e também para a literatura.

No momento atual a literatura infanto-juvenil vem sendo veiculada, a partir de uma demanda mercadológica, uma releitura muito simplificada e pouco contextualizada. Com isso não se cumpre o real papel da literatura infanto-juvenil, que é trabalhar a mente da criança e o jovem, fazendo com que ele torne-se um leitor critico. Para Silva (2009,p.138), A literatura infantil é, muitas vezes, considerada uma literatura de massa, de menor qualidade, produzida em grande escala e pouco elaborada, pois o que o mercado  deseja, nesse âmbito, é a venda e o consumo, a quantidade, não a qualidade.(itálico nosso).Por isso que a literatura infanto-juvenil vem sendo rechaçada e muito descriminada.

 Silva (2009.p.139) diz:

 O que pode ser observado atualmente é que as obras e os livros infanto-juvenis são feitos a partir das  medidas do mercado, produzidos para um consumidor médio. São utilizados moldes e fórmulas prontas, sem diferenciações. No mercado atual, encontram-se livros de péssima qualidade em impressão, ilustrações fora de contexto e também sem qualidade viável ao leitor e, principalmente, falhas no diz respeito ao conteúdo.

No entanto a literatura infanto-juvenil não pode ser avaliada a partir dessas reproduções simplórias, e apenas como meros instrumentos didático-pedagógicos. Para Coutinho (1978):

A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as fôrmas que são os gêneros e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social. (apud. Silva. 2009p. 140)

         São realmente novos tempos e por isso surgem novos fatos, que nos permite repensar a nossa condição humana. Nesse novo mundo tão globalizado as novas tecnologias a parecem como meios de transformação da sociedade, e com o bom uso desses recursos tecnológicos pode se obter benefícios em todas a s ramificações da sociedade. Santaella observa que:

Já estar se tornando lugar-comum afirmar que as novas tecnologias da informação e comunicação estão mudando não apenas as formas de entretenimento  e do lazer, mas potencialmente todas as esferas da sociedade: o trabalho (robótica e tecnologias para escritórios), gerenciamento político, atividades militares e policiais ( a guerra eletrônica), consumo ( transferências de fundos eletrônicos), comunicação e educação ( aprendizagem a distancia), enfim estão mudado toda a cultura em geral. (SANTAELLA, 2003 p.23)   

      A  referida estudiosa situa a cultura em várias eras culturais: cultura oral, cultura escrita, a cultura impressa, a cultura de massas, a cultura das mídias  e a cultura digital. Em  meio a esses tipos de cultura circulam signos que expressam tipos de mensagens diferentes e tornam-se mediadores na formação do individuo,  com isso fazendo com que surja novos ambientes socioculturais. Esses ciclos culturais são necessariamente interligados, um processo de compartilhamento, “uma formação comunicativa e cultural vai se integrando na anterior, provocando nela reajustamentos e refuncionalizações. (SANDELLA. 2003 p. 25)”(.itálico nosso).

        Diante da cultura das mídias é possível ter contato com todos os ramos da sociedade, e a literatura é um ramo muito explorado. Pois a partir dela podemos nos expressar e representar de todas as formas possíveis ressignificações de textos literárias mediante a tradução passado-presente.

       É nesse sentido que encontramos o diálogo da literatura com outras linguagens nas traduções da mesma para o cinema, os vídeos-game, para a TV, entre outros. O signo estético literário ganha uma nova dimensão de linguagem intensificando-se a mensagem que o texto possuem, oferecendo novos contextos e novas possibilidades de se revelar. É o que acontece com o  conto Príncipe sapo que ganha a tradução via cinema A princesa e o sapo, ambos objeto de nossa atenção.

2-      UM PRÍNCIPE, DUAS VERSÕES

 

O presente capitulo tem por objetivo apresentar de forma sucinta o nosso objeto de pesquisa, o conto O Príncipe sapo dos Irmãos Grimm e o filme  A princesa e o sapo (2009), uma produção da Walt Disney.   

O conto apresenta a historia de um príncipe que transformado em sapo, passa a viver a beira de um poço na expectativa que alguém pudesse  quebrando o feitiço sobre ele lançado a muito tempo.

O filme expõem as ambições de um jovem príncipe, que deserdado pelos pais se ver na obrigação de casar-se com uma moça de posses para continuar na vida  boa. Mas acaba por  ser enganado por um charlatão e é transformado em sapo.

2.1-            O conto O príncipe Sapo dos Irmãos Grimm

O príncipe sapo é uma obra dos Irmãos Grimm tendo sido publicado pela primeira vez no século XIX, em um livro intitulado de Contos de Criança e do Lar, onde reunia várias histórias de conhecimento popular. Em sua primeira publicação o referido conto intitulava-se O Príncipe Rã ou Henrique de Ferro.

Os Irmãos Grimm viveram numa época em que a Alemanha como de resto toda a Europa vivia sobre o domínio napoleônico, e nesse contexto surge o espírito nacionalista com o intuito de preservar a identidade nacional.  Era uma época em que a Alemanha passava por um momento de afirmação como nação, o nacionalismo no sentido quase que religioso, pois busca-se formar uma ideologia nacional com base nas tradições populares. Trata-se de uma era balizada pelo estilo romântico além da ênfase a cultura popular,  período que foca o sentido humanitário e idealista do homem.

 Os irmãos Grimm eram estudiosos, pesquisadores, historiadores e folcloristas,  que tinha o intuito de estabelecer a afirmação da Alemanha enquanto nação por meio do  elementos da lingüístico que  buscavam através da sabedoria popular. As “historias” que eles recolheram da cultura popular renderam-lhes um livro de contos, lançado entre 1812-1822, intitulada Contos de fadas para crianças e adultos.  Nestes contos percebe-se a grande exaltação ao povo alemão, pois geralmente falavam do seu modo de vida e de seus mitos.

 Nas variedades de contos dos irmãos Grimm não predominava os contos de fadas. Encontramos os contos encantamento onde as metamorfoses são marcantes; os contos maravilhosos em que percebemos os elementos mágicos; fabulas vivida por animais; lendas onde se destaca o mágico como milagre relacionado a uma  divindade;  contos de enigma marcado pelo enigma a ser  desvendado; e  contos jocosos que se destacam pelo humor.

Os Grimm apresentavam uma escrita muito simples que abordavam temáticas  de conhecimento de toda a sociedade. Os textos deles permitiam que o leitor interagisse com obra, e traziam uma estrutura simples com um único núcleo dramático.

O príncipe sapo, conto que é um dos objetos do nosso estudo, traz a historia ambientada em um reino onde uma jovem princesa brincava a beira de um poço, com sua bola de ouro que acaba por cair no poço. Sem saber como resolver a questão, a jovem põe-se a lastimar, numa postura sem iniciativa, típica imagem veiculada à mulher até o século XIX.

Quando de repente surge o sapo, que se propõem recuperar o lindo brinquedo da jovem. Uma postura de cavalheirismo que representava a figura masculina até o século XIX. Em troca ela lhe daria algo. Não queria bens materiais, mas sim a promessa de sua amizade.

Porém ao recuperar o brinquedo da jovem, percebeu que ela esqueceu-se de cumprir sua promessa. Na expectativa de adquirir o que desejava (a amizade da jovem), o pequeno sapo foi a sua procura. Apesar de repudiado a todo instante ele não se cansa da busca do seu ideal: a amizade da princesa. 

O pai ao descobrir o feito de sua filha, exige-lhe que cumpra a sua promessa: a confirmação da amizade com o sapo, que passa a acompanhar-lhes a todo o momento apesar da insatisfação da princesa.

Daí o pequeno réptil passa a sentar-se a mesa com a princesa, come e bebe de seu prato. Mas a jovem princesa  não se sente bem com essa nova situação que chega ao clímax quando o sapo se dispõem a compartilhar do mesmo leito que ela. Chateada ela o joga contra a parede, e ver o pequeno sapo transformar-se em um lindo príncipe.

Em  sua nova condição, o príncipe leva-a para o reino para a tornar sua esposa, sendo conduzido por um antigo criado que vivia triste pela ausência de seu amo . Desde então volta a ficar feliz com o retorno do amado senhor.

Temos em O príncipe sapo um típico exemplo de conto de encantamento uma vez que temos a figura do príncipe transformado em sapo por uma bruxa. É um texto que muito alimenta a imaginação, característica da típica da época romântica, especialmente marcada pelo sentimentalismo, pela idealização e pelo domínio da fantasia nas obras de arte,

A figura masculina neste texto traduz a imagem do homem alemão do século XIX, focando o seu ideal de recuperação de identidade. Na condição de príncipe que se tornou sapo, mesmo sendo senhor de seu reino e sua riqueza, encontra-se encantado e precisa reencontra a sua identidade.O referido texto traz a imagem de homem culto e cordial, conforme o ideário romântico do século XIX, um verdadeiro cavalheiro, a pesar da aparência de sapo. Como vemos no trecho a seguir:

“Qual o problema?”, uma voz esquisita perguntou.

A moça olhou em torno, mas só viu um sapo. “Ora, é você!”, exclamou, enojada, porém logo mudou de tom. “Minha bola caiu no poço”, disse, fungando. (PHILIP,Neil. Volta ao mundo em 52 histórias. São Paulo: Companhia das letrinhas. 1998. P. 24)

Apesar da condição de sapo, acredita no valor da palavra empenhada e de qualquer forma quer fazê-la cumprir:

O sapo mergulhou no poço e dali a pouco voltou, trazendo na boca o brinquedo precioso. Mais depressa a jovem agarrou a bola  correu para o palácio. “Espere! Não consigo ser tão rápido!”, o sapo exclamou. (idem p.24)

            Cultiva ideais nobres, ante qualquer promessa de bens materiais:

“O que você me dá, se eu for buscá-la?”                                    

“O que você quiser...Minhas roupas, minhas jóias... até minha coroa!”

“Não quero nada  disso! Só vou buscar a bola se você me prometer  que vai ser minha amiga, vai me deixar comer em seu prato e dormir em sua cama.”(idem p.24)

E apresenta-se como ser persistente em seus ideais:

... O sapo entrou, todo contente, pediu que ela o colocasse sobre a mesa e falou: “Ponha seu prato mais perto de mim”. Enquanto o hospede indesejado comia com apetite, sua anfitriã mal conseguiu engolir uma garfada.

“Estou exausto”, disse ele, depois de encher a barriga. “Vamos dormir?”(p.25)

Outro personagem masculino, o pai, traz o código da honra da palavra, independente da situação da filha.

“Quem era filhinha?”, o rei perguntou.

“Apenas um sapo nojento.”

“E o que ele queria?”

“Queria jantar com agente... Imagine...”

“Como assim? Você o convidou?”

“Bem... sabe...”, a princesa explicou. “Ontem minha bola de ouro caiu no poço e ele foi buscá-la. Mas antes ele me fez prometer que eu seria sua amiga. Nunca pensei que tivesse a ousadia de vir aqui...”

“Então você  precisa cumprir sua promessa, minha filha!”(p.24)

             O servo do príncipe traz outra virtude apontada para o homem da época: a lealdade. Apesar de sua transformação  e sumiço, ele se manteve fiel a seu senhor.

No dia seguinte uma carruagem parou diante do palácio. O cocheiro era um velho criado do príncipe, que após a transformação de seu amo, pedira ao ferreiro que prendesse seu coração com três aros de ferro para que não se despedaçasse. Agora estava que não cabia em si de tanta felicidade.

Na estrada o príncipe ouviu de repente um barulho forte e exclamou: “A carruagem está se quebrando!”

“Não, Alteza!”, o velho cocheiro explicou. “O que se quebrou foi um dos aros de ferro que prendiam meu coração!”

Por mais duas vezes o príncipe ouviu o mesmo barulho, e seu fiel servidor lhe deu a mesma explicação, entre risos da mais pura alegria. (p.25)

À mulher é legado o espírito interesseiro e ludibriador:

A moça olhou em torno, mas só viu um sapo.  “Ora é você!”, exclamou enojada, porém logo mudou de tom. “minha bola caiu no poço”, disse fungando.

“O que você me dá, se eu for buscá-la?”

“O que você quiser... Minhas roupas, minhas jóias...até minha coroa!”

“Não quero nada disso! Só vou buscar a bola se você me prometer que vai ser minha amiga, vai me deixar comer em seu prato e dormir em sua cama.”

“Eu prometo! Prometo!”, ela exclamou, pensando:  “Que bicho mais feio! Nunca devia sair do brejo onde vive coaxando...”.(p.24)

Mas que sucumbe ante a submissão ao masculino, aqui a figura do pais ao qual deve  obediência  inquestionável:

A princesa se pôs a chorar de raiva, mas o rei declarou: “Você aceitou a ajuda dele e agora não pode deixar de fazer o que prometeu...”.

Diante disso, ela pegou o sapo com a pontinha dos dedos, e levou-o até seu quarto... (p.25)

          Apenas no final do conto que se descobre a a verdadeira forma do príncipe, e como toda categoria encantamento isso só se é possível quando alguém descobre a verdadeira essência por trás daquela aparência.

           O príncipe traçado pelos irmãos Grimm, é o típico cavalheiro, cordial, digno de valores, que tem a palavras como código de conduta irrevogável, mesmo em situação adversidade, na condição de sapo, quando tem que lutar pela sua real identidade. No príncipe temos a metaforização da condição do povo alemão que busca de sua identidade nacional frente ao domínio francês.

 2.2  O filme A princesa e o sapo, da  Disney.

 A princesa e o sapo é uma animação  dos estúdios Disney, desenhada manualmente pela equipe de Jhon Musker e Ron Clements. Com a duração aproximadamente de 98 minutos, teve sua estréia nos cinemas em dezembro de 2009.

Com a banda sonora do compositor Randy Newman, o filme musical A princesa e o sapo trata-se de uma animada comédia que ocorre na cidade de Nova Orleans nos Estados Unidos. É uma releitura do conto O príncipe sapo dos Grimm, adequando a um novo espaço, a um  novo tempo e a uma nova mentalidade. E neste viez de cultura da mídia, podemos situá-lo como uma releitura para ser apreciada por todos os públicos independente da tônica infanto-juvenil que o texto cinematográfico parece propor.

Figura 1: Capa do filme A princesa e o sapo

Estúdio Disney, 2009

É a história de Tiana uma jovem que batalhadora, de Nova Orleans, que corre atrás de seu grande objetivo que é abrir sem próprio restaurante, sonho herdado do pai. Para alcançar seu objetivo não ver problema em se dedicar única e exclusivamente ao trabalho. A culinária sempre esteve presente em sua vida, desde a infância incentivada pelo seu pai.

Em Tiana temos um perfil feminino muito distante do padrão ocidental secular: da  mulher submissa, e obediente do século XIX  deparamo-nos com a mulher do século XXI,independente, mais ousada, e portadora de seus próprios objetivos.É uma batalha pelo que realmente quer. Porem acaba perdendo a verdadeira essência de vida que seu pai lhe ensinara, cega pelo seu objetivo. Após sofrer decepções com promessas não cumpridas por financiadores.  Acaba sucumbido à promessa de recompensa de um sapo que se dizia príncipe e também enfeitiçada, torna-se em sapa.

Naveen, outro protagonista da animação, é um lindo príncipe da Maldonia. Fascinado pelo Jazz viaja para a cidade de Nova Orleans para conhecer esse fenômeno musical. Muito charmoso e comunicativo, o jovem rapaz tem um grande problema de responsabilidade. Foi deserdado pelos pais pela sua vida boêmia, e se ver obrigado a trabalhar, ou  casar-se com uma moça que tenha posses. Tentando fazer um acordo com Dr. Facilier, para impedir o trabalho e continuar com a vida mansa e seu estilo de vida majestoso, acaba caindo numa verdadeira armadilha, sendo transformado em sapo.  E só com o encontro com  Tiana, ele começa  descobrir o verdadeiro brio de espírito, que até ele ignorava ter.

Na  condição de sapos, ambos se vêem  obrigados a sair do convívio com os humanos, e passam a habitar as margens dos rios da Louisiana, em busca de um antídoto que possa reverter a magia lançada sob eles. Durante a procura eles conhecem Louis.

Louis  é um crocodilo que toca trompete por ser  fascinado pelo Jazz. De tanto ouvir o ritmo contagiante as margens dos rios, desenvolvera a habilidade de manusear tal instrumento. Deseja encontrar um encantamento que o transforme em humano, para que possa apresentar-se para uma grande platéia que também aprecie o Jazz.

Ao perceber uma suave melodia, sendo tocada por uma espécie semelhante, Louis conhece o sapo e a sapa, que explicam que são seres humanos que sofreram um encantamento lançado sob eles pelo bruxo Dr. Facilier. 

Dr. Facilier trata-se de um bruxo que usa da inocência das pessoas para explorá-las. Atraindo  as pessoas com seu jeito sinuoso de ser, oferece a realização de seus mais remotos e improváveis, por meio das magias ocultas, em especial o vúdoo.

Com suas artimanhas ele ilude o servo do príncipe, Lawrence, que apesar de desconfiar do jeito suntuoso do Dr. Facilier, é ludibriado a se aliar ao bruxo, levado pela indignação de sua condição de submissão e inveja que ele alimenta do príncipe Naveen.

O sapo e a sapa, vêem a possibilidade de retomarem suas formas humanas novamente, com o auxilio de uma senhora chamada Mama Odie, uma espécie de fada-madrinha. É uma senhora baiana muito animada, que dispõe de habilidades surpreendentes, que vive aos redores da Louisiana.

Mama Odie, apresenta a única possibilidade de desfazer tal magia, o sapo ganhar o beijo de uma princesa. E lhes apresenta a princesa mais próximo a eles, trata-se da  amiga de infância, Charlotte LaBouff, filha do bem sucedido Sr. LaBouff.

 Detentora de uma beleza inigualável, Charlotte representa o lado glamoroso das mulheres, e  acredita nos finais felizes que ouvira durante a sua infância nos livros de contos de fadas. Sonha em casar-se com um príncipe.

Em sua jornada da busca do antídoto, o sapo e a sapa conhecem Ray, um pequenino vaga-lume que enxerga apenas o lado belo da vida. A paixão é o que move esse pequeno “Don Ruan”, que tem um amor imensurável por Evangeline, a estrela que ele julgava ser uma vaga-lume.

O encantamento se dá na representação do sapo e da sapa, humanos que foram transformados em animais. Também há o desejo oposto: o crocodilo querendo se torna humano por ser apaixonado por música.

A figura masculina apresentada na animação cinematográfica é de um homem em conflito, que não se apega a valores e que centraliza sua conduta em viver os prazeres da vida, aqui festas, música e mulheres.

Destaca-se na animação A princesa e o sapo a nova ambientação dada a esta tradução. Segundo Plaza, a tradução não trata-se apenas de transpor uma mensagem para outra linguagem, mas a   reformulação desta mensagem atribuindo-lhes a representação. Isto ocorre quando a história do sec. XIX, que em suas entrelinhas aborda a questão da identidade nacional na Alemanha passa a representar também a questão identitária, agora referente a   Gênero e etnia nos EUA, na obra cinematográfica do século XX.

Temos em Tiana uma dupla discussão: a mulher, que é negra, e busca sua identidade. Lembremos que se trata da primeira princesa negra da Disney que terá seu drama pessoa e social discutido plena transição da modernidade (contexto da narrativa do filme) para pós-modernidade(contexto de produção da obra).

A história narrada na animação ocorre na primeira metade do século XX, em plena efervescência do modernismo, momento em que o mundo começava a se deparar com uma nova representação da sociedade, quebrando a hegemonia do centralismo da cultura ocidental. É  nessa condição que   a animação problematiza a questão do perfil da mulher, a condição da mulher negra, a nova perspectiva para o masculino, além de situar a questão da cultura popular em Nova Orleans.

3-      A REPRESENTAÇÃO DO PRÍNCIPE ENCANTADO NA OBRA CINEMATOGRÁFICA: A PRINCESA E O SAPO.

 

A figura masculina sempre foi tida nos contos de fadas como meros coadjuvantes, pois surgem apenas no final com a função de resolver o problema vivido por personagens principais. Observa-se uma grande predominância da figura feminina nos contos de fadas, que na  maioria dos conflitos padecem.

 Desde a origem da sociedade ocidental, a figura centralizadora do poder  é o homem. Com a consolidação da família conjugal e o núcleo familiar passa a se centralizar na tríade: pai, mãe e filho, percebemos que a figura paterna se apresenta como referencia na transmissão de valores. À mulher cabe apenas o papel de mediadora, pois a ela atribuíam uma  identidade frágil. Sempre submissas e sem iniciativa, a mulher dependia da figura masculina para ser bem visa socialmente. Ao homem era legado a autoridade, o poder das decisões, a força, e a exemplaridade no trabalho.

Porem na contemporaneidade percebe-se uma mudança significativa: a mulher ganha lugares de destaque na sociedade e o que provoca uma discussão sobre a questão identitária feminina.  De objeto decorativo na sociedade,a objeto sexual na cama, de santa e submissa a diabólica e sedutora, muito se tem discutido sobre a nova paisagem social focando na mulher Contudo, como se situa o homem,personagem sempre tomado como protagonista na sociedade ocidental.

Nossa discussão busca analisar nessa resignificação social, como o homem passa a ser visto e representado nas artes, em especial a literatura infanto-juvenil e suas traduções. O homem passa a ser a vítima, sofrer as ações conflituosas, ou seja, ele buscava construir sua identidade. O nosso objeto de pesquisa retrata essa mudança, textos de épocas diferentes que mostram perfis masculinos distintos.

 O conto apresenta um príncipe encantado seguindo os valores estabelecidos pela Idade Média. Em que o homem é detentor da moral, da sabedoria, que honra a palavra e que se mantém sempre leal a aqueles que merecem respeito. Para Amaral (2004):

Dentre as vantagens atribuídas ao gênero masculino, incluem-se: maior presença no espaço social; maior grau de poder, autoridade, prestígio e capacidade –intelectual, física, artística, científica – aplicados ou mencionados na relação direta e indireta com o gênero feminino, e também fora dela; facilidade de transgressão.(p.181)

Já na obra cinematográfica observa-se um príncipe  faz  despontar um modelo de homem que foge aos padrões tradicionais. Naveen é um sujeito que apresenta características do homem contemporâneo que busca a descentralização da sua figura na sociedade. È um príncipe totalmente descomprometido com as responsabilidades que sua posição tradicionalmente pede;

Figura 2.  Chega de Naveen à cidade de Nova Orleans.

Estúdio Disney, 2009

Com uma aparência sedutora, de encantar qualquer mulher, ele logo mostra seu lado boêmio. Logo que desembarca na cidade de Nova Orleans, ele se desfaz da aparência de realeza e começa a melindrar pela cidade rodeado de mulheres e muita música. 

Liberto das virtudes de valores do cavalheirismo e da cordialidade, não se posiciona em relação ao outro, só pensando em si e seus prazeres.

Figura 3. O príncipe Naveen pela cidade acompanhando uma banda de Jazz.

 Estúdio Disney, 2009

 

O gosto pela liberdade faz com que o príncipe Naveen, se sinta muito a vontade. Em Nova Orleans vive em busca os prazeres da curtição, envolvida pela música que muito admira, o jazz, e cercado por mulheres e novos amigos. É o que percebemos na figura 3

Mas tal situação é modificada quando é enfeitiçado, quando passa a ter que procurar  resolver tal questão.

É nesta condição que conhece Tiana, a possível princesa que quebraria. Mas isso não acontece posto que a jovem era uma simples mulher fantasiada de princesa no baile da carnaval. Tal engano tem um preço: Tiana também é enfeitiçada e torna-se a sapa.

Agora precisa buscar a solução não dos problemas: buscar o antídoto para o encantamento além de  lutar pela sobrevivência na condição de sapo, o que não é nada fácil , como ilustra a figura 4, se observamos as expressões fisionômicas e as circunstâncias da cena abaixo.

Figura 4: Naveen tendo que lutar pela sobrevivência                 

Estúdio Disney, 2009

Mesmo em condição adversa a da realeza, Naveen, sempre lega a Tiana a operacionalização das ações, figurando apenas como príncipe que espera que os outros tenha obrigação de servi-lo.

A figura 5 apresenta a personagem  Tiana, num canoa pelo rio. Na condição de sapa, busca com sua astucia articular meios para livrar-se  do encantamento. Ela se posiciona como quem tem o controle  nas decisões.

Figura 5: Tiana e Nave buscando solução para seus problemas

Estúdios Disney, 2009

 

Neste novo posicionamento masculino, a mulher deixa de ser submissa a passa a se afirmar como um individua possuidor de conhecimento critico mais independente a capaz de decidir seu próprio futuro. Isso é representação da mulher na figura da sapa, que  mostra-se um ser  que toma iniciativa e o controle da situação.

Naveen é um retrato oposto, espera que faça por ele. Contudo esta  postura masculina aproxima-se da imagem da irresponsabilidade, da comodação e do egoísmo, o que torna a relação dele com Tiana conflituosa.

Mas a destemida sapa não se conforma. Ela provoca-lhe situações em que ele possa vivenciar  novas aprendizagens, como trabalhar para alimentar-se o que vai requerer da personagem uma avaliação de seus posicionamentos. Assim, aos poucos ele passa a perceber a realidade a sua volta e se sensibiliza com persistência de Tiana.

Figura 6. O jantar que Naveen prepara para Tiana. Estúdio Disney, 2009

Assim, na figura 6, notamos Naveen, um outro ser, deixa de se colocar como centro e passa a perceber sua realidade e a dos que o circundam. Da condição de ser servido e cuidado, passa a servir e a cuidar. É quando de descobre apaixonado por Tiana.

Nos contos de fadas tradicionais a vilania sempre é destinada às madrastas, às bruxas. Nesta obra cinematográfica, o masculino  também passa a representar contra valores, antes sempre ilustrados nos papéis femininos. Aqui Dr. Facilier, bruxo vúdoo,   assume o papel de mau, figura negativa, que  por interesses de poder provoca malefícios na vida de muitas pessoas..

Figura 7. Dr Facilier

                                                   Estudio Disney, 2009

A relação de lealdade apresentada no conto tradição ente o príncipe e o servo é desconstruída nesta animação. No conto dos GRIMM, assim é descrita:

No dia seguinte uma carruagem parou diante do palácio. O cocheiro era um velho criado do príncipe, que após a transformação de seu amo, pedira ao ferreiro que prendesse seu coração com três aros de ferro para que não se despedaçasse. Agora estava que não cabia em si de tanta felicidade.

Na estrada o príncipe ouviu de repente um barulho forte e exclamou: “A carruagem está se quebrando!”

“Não, Alteza!”, o velho cocheiro explicou. “O que se quebrou foi um dos aros de ferro que prendiam meu coração!”

Por mais duas vezes o príncipe ouviu o mesmo barulho, e seu fiel servidor lhe deu a mesma explicação, entre risos da mais pura alegria. (p.25)

Na animação da Disney a relação entre o príncipe Naveen e o servo Laurence é um tanto tensa. Ele é um servo que vive a pagiar o príncipe e reclamando responsabilidades. Este por sua vez, vive pensando em si e até provocando situações de constrangimentos e humilhação ao servo.

Figura 8 – Lawrence sendo humilhado por Naveen.

Estúdio Disney

Essa condição de servidão sem reconhecimento e repleta de humilhações  faz com que Lawrence alimente o desejo de vingança contra o príncipe Naveen. É o que sucede com o feitiço de Dr Facilier que troca as identidades entre príncipe e servo, como se observa na figura a seguir.

Figura 9: Lawrence assume a forma do príncipe para 

Estúdio Disney, 2009

É desta forma resignificada a relação príncipe/servo na animação, com o personagem Lawrence, servo que se sente rechaçado pelo seu amo, e que não aceita a condição que se encontra, que tem inveja,  e cobiça passa a desejar tudo que o príncipe Naveen possuía: sua beleza, seu status.

Contudo  Lawrence é desmascarado, Dr. Facilier sucumbe ante suas maldades e Naveen aceita a casar com Charlotte para que Tiana consiga voltar a condição de humana e realizar seu sonho de abrir o restaurante. Ele abdica de pensar no seu amor por Tiana, para que ela se realize, postura não comum na sociedade machista, onde é a mulher que sempre é posta nessa condição.

Entretanto o beijo de Charlotte não desfaz o encantamento. Naveen e Tiana na condição de iguais - sapos e apaixonados  - se casam. Uma vez casados, Tiana torna-se igualmente da realeza. E como princesa  ao beijar Naveen quebra o encantamento,  retornando ambos a condição de humana.

Desta forma, é que na condição de igualdade que homem e mulher se transformam e podem transformar sua realidade: no filme Tiana realiza seu sonho e Navee  passa a viver a alteridade com todas as responsabilidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O homem é um ser social e imitador de hábitos. Desde sua origem ele tende a reproduzir o mundo à sua volta, desde gestos a opiniões.

Com o tempo percebeu-se que por meio da literatura infanto-juvenil poderia acentuar-se a transmissão de valores, e aspectos de condutas humanas a ser reproduzidas, poderíamos, incorporar esses, modelos culturais de sociedade. E também passou a notar que os texto literários traz implícitos as marcas de sua sociedade.

Foi no intuito de construir discussão sobre a representação do homem na literatura e nos textos ressignicados na cultura das mídias, aqui o cinema tecnologias., que elaboramos esta pesquisa.Trata-se da nossa leitura sobre essa representação que vai muito além de apenas  traçar um perfil masculino. tal leitura é antes de tudo, uma leitura  social  e cultural.

No capítulo, contatamos que a Literatura infanto-juvenil  há muito tempo vem sendo tida como uma literatura de contornos apenas lúdicos sem perder apresenta a função de veiculo de propagação de conhecimento e refletor de ideologias.

 Essa Literatura voltada para um público que está em processo de aquisição de conhecimento, contem em suas entrelinhas uma representatividade de sociedade idealizada como padrão, e tenta assim desde a infância transmitir essa representação. Por ser a  literatura infanto-juvenil é muito rica em contexto, apresenta vários aspectos que contribuem para a formação do individuo na sociedade, principalmente na questão de gênero.  Isso levando em consideração os vários meios que a literatura infanto-juvenil para chegar ao universo do leitor na contemporaneidade.

A sociedade ganhou novos contornos, novas tônicas desde quando começou-se a apresentar a figura masculina na literatura. Assim como todo processo evolutivo da civilização, as mudanças frente a esse aspecto não fora diferente.

No segundo capítulo, constatamos como foi construída a representação masculina feita pelos irmãos Grimm no conto O príncipe sapo. Percebeu como a busca da reconstrução da identidade do sapo metaforizou a busca da construção da identidade nacional alemã. em período de dominação francesa. Nota-se  a representação de um homem mais atribuído de valores e  boas condutas, de lealdade, e de persistência.

Também estudamos a tradução deste conto para o cinema com a resignificação de tempo, espaço. Da Alemanha do século XIX, vemos um príncipe negro em Nova Orleans do século XIX. Enquanto  conto alemão escrito apresenta a historia de um príncipe que mesmo na sua condição de encantamento não se desvirtua da sua posição de nobreza, apesar de ter que batalhar muito para alcançar seus objetivos,a animação estaduniense  destaca a representação de um príncipe que apesar de sua condição de nobreza, não atrela a esse os valores de boa conduta, e passa a viver experiência que vai desconstruir a imagem do masculino centralizador e heroico.

            No terceiro capítulo, constatamos na animação da Disney   uma versão de príncipe, que busca  readquirir sua identidade. Apesar de trazer  um perfil de  gênero masculino ainda visto como ser dominador, dono de uma moral irrepreensível, que  pressupõem um perfil  masculino a ser seguido, o príncipe descobre novos sentidos de vida que o leva a desconstrução do masculino

A representatividade da figura masculina no século XX na produção cinematográfica traz no príncipe a figura mais atual da sociedade machista: a figura de homem boêmio, de interesses supérfluos, que pensa apenas nos seu próprio bem.  Um ser descompromissado da responsabilidade e da alteridade.

Observa-se que é desconstruída aquela perfeição de perfil masculino estereotipado do século XIX, que passa a ser visto como um ser em processo de construção de identidade. Traz vários sentidos de vida do masculino na modernidade: Em Naveen, o homem desse século é descompromissado de valores, sempre no materialismo exacerbado, e o consumo desregrado: em Lawrence é recalcado com a exploração e a servidão ao sistema; em Dr Facilier é extremamente ambicioso, passando por cima de todos para alimentar tal ambição.

            Desta forma podemos perceber que  este trabalho é apenas uma possibilidade de leitura de textos de linguagens diferentes que exploram o mesmo tema situando-os em contextos sócio-históricos distintos. Que a literatura infanto-juvenil nos possibilita muitas outras leituras, sabemos que tal discussão apenas é um pequeno contributo nosso a partir das experiências de aprendizagens que o curso de Letras nos proporcionou e que muito ainda pode ser explorado.

ANEXOS

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

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FILME

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