ARTIGO
Um passeio pelo espaço e pelas correntes
de pensamento geográficos


Autor: Francisco Jose Filgueiras Russo. Formado em Lic Plena em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará, Especialista em ESPECIALIZAÇÃO EM METOD DO ENSINO DA GEOGRAFIA . (Carga Horária: 480h).pela Universidade Estadual do Ceará, UECE, Brasil. Atualmente cursa o mestrado em Geografia- (Propgeo- Ce). Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Regional. Professor de , geografia física e humana , geografia do Nordeste e do Ceará. Professor de curso preparatório de vestibulares com experiência em formulação e resolução de questionamentos do ENEM. Nome em citações Bibliograficas : RUSSO, F. J. F. (Ver obras na base LATTES)

DESENVOLVIMENTO DA OBRA

Determinismo geográfico:
O determinismo geográfico é considerado como a primeira concepção geográfica, o mesmo tem na figura do alemão Friedrich Ratzel seu grande articulador e divulgador; tal teoria, nasce fundamentada em correntes naturalistas defendidas por Lamark e Darwin. A corrente geográfica citada acima surgiu aos fins do século XIX, no início do sistema econômico capitalista, monopolista e imperialista. O determinismo geográfico parte do princípio que o meio exerce total influência no modo de ocupação do homem, a tal ponto que a sua própria identidade seja condicionada pelo meio natural.
Para essa concepção ambiental, os elementos naturais, tais como o clima e a temperatura além de outros condicionadores naturais, são os verdadeiros responsáveis e influenciadores do comportamento e modo de agir do homem, chegando até mesmo a interferir no seu modo de produção. Essa teoria acredita na ideologia que os povos mais inteligentes e os mais cultos estão localizados numa zona climática denominada de temperada, enquanto os habitantes da zona climática tropical, em função de um clima quente, são mais indolentes, resultando disso o desenvolvimento e o subdesenvolvimento.
Devemos ainda ressaltar que o mesmo paradigma foi por muito tempo utilizado pelas chamadas classes dominantes como verdadeira arma expansionistas, ou seja, tinha expressividade mundial quem tivesse grandes extensões territoriais e políticas.
Apoiando a nossa idéia a respeito de tal teoria geográfica, temos no seu maior idealizador a seguinte linha de raciocínio, como esclarece Andrade:

"F. Ratzel encarou o homem como uma espécie animal e não como um elemento social, tentando explicar a evolução da humanidade dentro dos postulados de Darwin. Na sua maioria política, as noções de espaço e de posição têm a maior importância. O progresso ou a decadência de um Estado depende de sua capacidade de expressão. Daí se desenvolveria a idéia de espaço vital tão usado por Hitler." (Andrade, 1987:55)

Ainda em relação a essa linha de pensamento, temos também outra citação não tão menos importante quanto aquela citada anteriormente, no sentido de esclarecer ainda mais o paradigma posto em questão, assim vejamos:

"A Geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação dos desígnios expansionistas do Estado alemão recém-constituído. A mesma chegou a ser denominada por Lefébvre de manual do imperialismo". (Robert, 1987:37)

Possibilismo geográfico:
O possibilismo geográfico configura-se numa reação ao determinismo ambiental, o mesmo tem na figura do francês Paul Vidal de La Blache, seu grande mentor.
O surgimento do possibilismo se dá no final do século XIX e começou no século XX, marcando um confronto direto entre a nação francesa e a germânica. Para essa concepção geográfica, a natureza exerce influência sobre o homem, porém este através da técnica e da inteligência modifica a mesma, transformando-a para garantir sua sobrevivência. Para Corrêa, o possibilismo apresenta uma relação entre o homem e o meio dentro de uma extrema complexidade, sendo a natureza fornecedora de possibilidade para que o homem venha modificá-la. Nestas condições, o homem se configura como um agente principal no campo desta relação.
Comungando com Rufino, à respeito da teoria possibilista, temos:

"O homem poderia ter influência sobre o meio, por isso a expressão possibilista, divulgada por Lucien Lefébvre". (Rufino, s/d: 14)

Método regional:
O método regional é mais um dos paradigmas geográficos no processo evolutivo da ciência geográfica. O mesmo tem sua expansão e expressão nos E.U.A., a partir da década de 40. O paradigma em questão faz oposição às concepções geográficas citadas anteriormente, uma vez que seu campo de estudo é estabelecido através de diferenciações entre áreas que não são vistas das relações entre o homem e o meio, mas, sobretudo, a integração de fenômenos heterogêneos em uma determinada área do globo terrestre.
"No plano extremo, o método regional evidencia a necessidade de produzir uma Geografia regional, ou seja, um conhecimento sintético sobre diferentes áreas da superfície terrestre". (Corrêa, 1981:18)

Reforçando ainda mais a idéia do método regional termos em Corrêa:

"O objetivo da Geografia regional é unicamente o caráter variável da superfície da Terra, uma unidade que só pode ser dividida arbitrariamente. O objetivo da Geografia regional é unicamente umas partes, as quais, em qualquer nível da divisão, são como as partes temporais da história única em suas características".

Nova Geografia (Geografia pragmática ou Quantitativa):
A Nova Geografia surge no pós-guerra mundial ao meio de uma fervorosa transformação sócio-espacial. A mesma está assentada em três pilares de origem, que são: a Suécia, a Inglaterra e os Estados Unidos.
A Geografia quantitativa ou teórica, como também é denominada a ciência citada acima, tem como metodologia o emprego do pragmatismo, ou seja, o pragmático aquilo que pode ter um efeito prático qualquer.
O pragmatismo, doutrina filosófica do final dos anos 40 e 60 (pós-Revolução Industrial), caracteriza-se por enfatizar a necessidade de aplicar as idéias com um propósito, por encarar a verdade do ponto de vista da utilidade e por considerar o pensamento como um guia para a ação. A mesma emprega técnicas estatísticas, tais como: fórmulas, tabelas e gráficos, na busca de explicar os fenômenos geográficos, e transforma as pessoas e outros aspectos sócio-econômicos em valores numéricos quantitativos ou não-qualificativos.
A estas transformações onde tudo é reduzido a valores, encontramos na realidade verdadeiras máscaras sociais, criadas por tal Geografia. Podemos citar como exemplos, as divulgações de cotas relacionadas à distribuição de renda, Produto Interno Bruto, População Economicamente Ativa, entre outros indicadores sócio-econômicos.
Corrêa afirma que as mudanças são nitidamente visíveis e mais concretizadas após a Segunda Guerra Mundial, chegando o mesmo a fazer a seguinte interpretação.

"Pós a Segunda Guerra, verifica-se uma nova fase da expansão capitalista. Ela se dá no contexto da recuperação econômica da Europa e da Guerra Fria, envolvendo mais capital e progresso técnico..
Não se trata mais de uma expansão marcada pelas conquistas territoriais, como aconteceu no final do século passado, ela se dá de outra maneira e traz enormes conseqüências tanto à organização social como às formas espaciais criadas pelo homem." (Corrêa, 1981:19)

Geografia crítica:
A Geografia crítica surge como último paradigma. Os diversos debates e encontros ligados a essa temática foram mais destacados a partir da década de 70 e 80, com o chamado "movimento de renovação da Geografia".
A Nova Geografia e os paradigmas das geografias tradicionais e positivistas são submetidos às severas críticas por parte dos geógrafos denominados de "mentes abertas". Para tal momento histórico geográfico, o enfoque mais significativo é aquele baseado no materialismo histórico e na dialética marxista, onde a Geografia deixa o campo de descrição e passa para o campo da reflexão, produção, transformação e elaboração de diferentes espaços. Baseado em Leite, temos:

"Para o positivismo, a ordem natural é imutável e implicava na harmonia entre classes e sociedade organizada com papéis definidos. O progresso garantia a ordem. O trabalho dignifica o homem e leva-o a atingir o progresso no campo normal, pregava-se a mudança de valores e costumes como solução par ao egoísmo que era inerente aos homens. A ordem do poder está no saber e na competência que lhe é inerente. O positivismo se preocupa com o "saber útil" em desprezo às "elucubrações metafísicas", havendo um certo desprezo pela fisologia e o abstrato". (Leite, 1994:30)

A Geografia crítica surge como uma forma de analisarmos e abordarmos o mundo contemporâneo, onde o capitalismo industrial e monopolista é o sistema hegemônico, além de globalizado e apoiado pela chamada revolução técnico-científica ou, simplesmente, Terceira Revolução Industrial. Neste sentido, afirma Corrêa:

"As origens de uma Geografia crítica, que não só contestasse o pensamento dominante, mas o que tivesse também a intenção de participar de um processo de transformação da sociedade, situam-se no final do século XIX. Trata-se da Geografia proposta pelos anarquistas Elisée Rudus e Pior Kroptotkin. Ela não faz escala submergida pela Geografia "oficial" vinculada aos interesses dominantes". (Corrêa, 1981:15)

Não podemos obscurecer o papel da Geografia como sendo a ciência da "gramática mundial", porém acreditamos e temos plena convicção que essa gramática não é estática, a mesma move-se como um filme, sendo o homem o ator principal das transformações sócio-econômicas, ou seja, o homem é um ser ativo na organização e reorganização de seu espaço.