Um Outro Olhar Sobre a História

Jane Ferreira Senra e Silva

Lucinaira Maria Cristo

Objetivando estimular a imaginação e a sensibilidade das crianças, ajudando-as a conhecer melhor a magnitude das histórias de Monteiro Lobato, foram realizadas diversas atividades lúdicas, possibilitando-nos avaliá-las com um processo de aprendizagem contínuo, em que espaços favoráveis à convivência e ao conhecimento foram criados a partir das necessidades das crianças. Espera-se que esses educandos continuem a vivenciar, no decorrer de anos posteriores, momentos que favoreçam e estimulem a imaginação, já que consideramos o imaginário infantil um fator fundamental para o não endurecimento da educação.

O sucesso das atividades lúdicas desenvolvidas em sala de aula se deu pela característica inerente das crianças em viver plenamente a magia e os momentos de encantamento proporcionados pelas histórias de Monteiro Lobato. Tudo isso se caracterizou pelo diálogo dos educandos com os personagens das histórias contadas.

A imaginação criadora é inerente às crianças, porém isso se perde com a falta de estímulos. Foi com esse pensamento que acreditamos na possibilidade de melhorar o aprendizado das crianças envolvidas em momentos de contação de histórias denominados de momento“Era uma vez”.

Segundo Teberosky (1997, p. 46), “a memorização e relato de histórias fazem parte das atividades da linguagem escrita, dentro de um projeto de renovação pedagógica”. Para ela, recontar um texto não é um simples processo de reprodução, mas uma sequência de pensamentos que envolvem ordenação, expressão, esquematização, formulação do texto com ordenação de fatos, e isso implica processos cognitivos de memória. Para tanto, faz-se necessário ter conhecimento prévio adquirido com a contação de histórias incluindo quatro etapas: apresentação da história, visualização das ilustrações, o conto feito pelo leitor e o reconto feito pelo ouvinte. A partir das histórias, é possível desenvolver inúmeras atividades, saindo da repetição mecânica sem sentido que torna a educação um fardo que as crianças carregam desde muito cedo.

A educação mecanicista rompe com o processo de aquisição do conhecimento, separando o aprendizado que a criança traz consigo do aprendizado adquirido na escola. Essa ruptura tende a induzir o educando a pensar que conhecimento válido é obtido somente na sala de aula, repassado pelo professor de forma rígida e inflexível. 

Sabemos que a criança é um ser histórico, sendo assim, também é um ser social e cultural. Esses são fatores que não podem ser desconsiderados quando se pretende ensinar e também aprender com alguém. Quando os educadores buscam excessivamente a objetividade dos conteúdos, isso torna a educação menos humana, dando um caráter produtivista àquilo que poderia ser prazeroso e divertido. A criança se caracteriza por sua capacidade de imaginar e criar, sendo assim, aproveitar essas qualidades para possibilitar a elas momentos lúdicos, ajuda-as no processo de criar novas fantasias e um universo particular, saído da educação estratificada, ao qual, com frequência, elas são submetidas.

As brincadeiras, desenhos, histórias, etc., possibilitam a criança viver de forma lúdica a realidade em que está inserida. Para ter uma pré-escola com o valor que lhe é devido, necessário seria também aos educadores voltarem às suas criancices, não no sentido da imaturidade, mas na relação com a fantasia vivida na infância. Talvez isso seja importante para que a escola re-signifique seu papel, tornando o ato de ensinar sedutor, tomando como base o imaginário infantil. Se os educadores perderem a sua capacidade de sonhar e imaginar, tornar-se-ão duros e insensíveis, reproduzindo isso nas crianças. É preciso não perder o olhar de criança. Vejamos nas palavras de Saint-Exupéry:

As pessoas grandes aconselharam-me a deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas e a dedicar-me de preferência à geografia, à história, à matemática, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma promissora carreira de pintor [...]. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar a toda hora explicando (SAINT-EXUPÉRY, 2002, p. 10).

Se ainda na infância os educandos forem submetidos ao adestramento rígido que muitas escolas impõem para dar conta dos conteúdos, então perderão toda a infância, tornar-se-ão adultos, ou, quem sabe, professores tristes e incapazes de ver beleza nos rabiscos e nas fantasias que uma criança mostra entusiasmada.

Para Continuar a História

ABROAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices. São Paulo, Ed. Scipione, 1997.

KRAMER, Sonia e LEITE, Maria Isabel (orgs). Infância: Fios e Desafios da Pesquisa. Campinas, SP, série práticas pedagógicas. Vários autores. Ed Papirus, 1996

LOBATO, Monteiro. A Reforma da Natureza. São Paulo. 38º Ed. Brasiliense, 1994.

LOBATO, Monteiro. Caçadas de Pedrinho. São Paulo. Globo, 2003.

LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1994.

SAINT-EXUPÉRY, Antonie de. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro. 48ª ed. Agir, 2002.

SAUZA, Ila Maria Silva de/Lucrécia Stringheta Mello. Currículo na Educação Infantil. Cuiabá. Ed. UFMT, 2008.

TEBEROSKY, Ana. Aprendendo a Escrever. São Paulo, 3ª ed. Ed. Ática, 1997.