FACULDADE KURIOS

ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA E DA FAMÍLIA

 

 

 

 

EVELINE TELES BEM

 

 

 

 

 

 

UM OLHAR TEÓRICO-PRÁTICO SOBRE O ACOLHIMENTO NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS III                              DE BARBALHA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

JUAZEIRO DO NORTE

2011

EVELINE TELES BEM

 

 

 

 

 

 

UM OLHAR TEÓRICO-PRÁTICO SOBRE O ACOLHIMENTO NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS III                              DE BARBALHA

 

 

 

 

 

 

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Saúde Pública da Faculdade Kurios como requisito para a obtenção do grau de especialista.

Profª. Orientadora: Esp. Socorro Aline de Almeida.

 

 

 

 

 

 

JUAZEIRO DO NORTE

2011

UM OLHAR TEÓRICO-PRÁTICO SOBRE O ACOLHIMENTO NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS III                              DE BARBALHA

 

 

 

 

 

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado por Eveline Teles Bem, Aluna do Curso de Especialização em Saúde Pública da Faculdade Kurios como requisito para obtenção do grau de especialista

 

 

BANCA EXAMINADORA

 

 

 

 

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ORIENTADOR –

 

 

 

__________________________________________________

MEMBRO 1

 

 

 

__________________________________________________

MEMBRO 2

 

 

 

 

Monografia aprovada em _____ /____ /_________, com nota________.

 

 

 

 

JUAZEIRO DO NORTE – CE

2011

SUMÁRIO

 

 

1 INTRODUÇÃO.. 4

2 JUSTIFICATIVA.. 5

3 OBJETIVOS.. 7

3.1 OBJETIVO GERAL. 7

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.. 7

4 REVISÃO DE LITERATURA.. 8

4.1 AS POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL – PROSPECÇÕES DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 8

4.2 SURGIMENTO E ESTRUTURAÇÃO DOS CENTROS DE ATENDIMENTO PSICOSSOCIAL – CAPS.. 9

4.3 CONTRADIÇÕES NA SAÚDE MENTAL. 11

4.4 ACOLHIMENTO.. 12

4.4.1 O ACOLHIMENTO – RELAÇÃO HUMANIZADA.. 13

4.4.2 ACOLHIMENTO NOS CAPS.. 13

4.5 A FUNÇÃO DO SERVIÇO E DOS AGENTES DE SAÚDE E DA REDE INTER-SETORIAL  14

5 MATERIAIS E MÉTODOS.. 16

6 RESULTADOS ESPERADOS.. 18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.. 19

ANEXOS.. 21

 

 

 

 


1 INTRODUÇÃO

 

Compreende-se que a Política de Atenção à Saúde Mental passou por importantes e significativas transformações, evoluindo em definitivo de um modelo centrado na referência hospitalar para um modelo de atenção diversificada, de base territorial comunitária. Tais concepções evidenciam que os rumos da Política de Saúde Mental são inequívocos e apontam para a contínua expansão e consolidação dessa rede de atenção extra-hospitalar.

O grande questionamento é se esta mudança tem se mostrado eficaz e satisfatória, sobretudo no que concerne a melhoria da qualidade de vida dos pacientes com transtornos mentais e suas respectivas famílias.

Objetivando fazer a análise desse processo no âmbito dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e conceber uma visão mais pontual no que concerne a realidade do CAPS III em Barbalha (CE), denominado Dr. Paulo Duarte Sampaio; instigamo-nos pelo desafio de promover a análise comparativa entre as políticas vigentes a nível nacional e os aspectos locais da unidade já mencionada.

Numa projeção dinâmica e prática, buscou-se avaliar as especificações técnicas do referido centro, sempre atentando aos parâmetros profissionais, estruturais e logísticos, bem como a consonância dos mesmos com as realidades dos usuários e o atendimento de suas necessidades, tendo a demanda de acolhimento como principal quesito a ser considerado.

Os atributos investigatórios referem-se a um estudo exploratório, de cunho bibliográfico e natureza qualitativa, baseados nos métodos dedutivo, histórico e comparativo. Deve-se frisar que a publicação do Ministério da Saúde sobre a temática em questão (as políticas de saúde mental no Brasil) é a bússola norteadora desse estudo e converte-se na sua principal referência, ao passo que disponibiliza praticamente todos os dados e subsídios necessários para a sua concepção. Numa indicação final abordamos quais os possíveis resultados a serem esperados das compilações dispostas nesse estudo, fazendo as observações mais pertinentes quanto ao contexto explorado.

2 JUSTIFICATIVA

 

De acordo com o Ministério da Saúde (2004) os CAPS são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecendo-lhes atendimento médico e psicológico.

Sua característica principal é buscar integrá-los a um ambiente social e cultural concreto, designado como seu “território”, o espaço da cidade onde se desenvolve a vida quotidiana de usuários e familiares. Os CAPS constituem a principal estratégia do processo de reforma psiquiátrica.

Os mesmos estabelecem-se através de uma assistência multiprofissional, buscando oferecer atendimento de qualidade à população, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

Dentre as inúmeras conceituações dadas aos CAPS nenhuma se mostra tão pertinente quanto a que lhe atribui a função de ser um serviço de saúde mental criado para ser substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos e favorecer o exercício da cidadania e da inclusão social dos usuários e de suas famílias.

Porém, é justamente essa função substitutiva (de acompanhamento e não de internação) que lhe é conferida que tem suscitado diversos questionamentos bastante salutares, um dos quais é foco do nosso estudo, e que se refere à indagação de como essas unidades de saúde têm se estruturado e de quais os pontos positivos e negativos da sua atuação.

As concepções logísticas do CAPS devem estar sempre em evidência, é imprescindível saber se o programa de acolhimento oferecido pelo mesmo mostra-se eficaz ou insatisfatório, abordando inclusive quais os indicadores que podem ser determinantes nessa avaliação.

Apontamos como objeto específico de estudo o CAPS III na cidade de Barbalha (CE), centrando-se na análise e projeção dos seus serviços, sobretudo os que se referem ao acolhimento.

Colimando os atributos do acolhimento são inúmeros os fatores que devem ser considerados, dentre os quais: a listagem das atividades terapêuticas oferecidas pela unidade em questão e a consonância destas intervenções com as determinações do Ministério da Saúde; o estabelecimento de critérios para o recebimento de usuários, bem como as diretrizes do seu acompanhamento, medicação e alta e os subsídios oferecidos na capacitação dos profissionais que trabalham em tais unidades.

Outras projeções pertinentes a serem feitas, dizem respeito à estruturação física da unidade, se é condizente ou não com os serviços por ela ofertados, considerando-se ai os aspectos de acessibilidade e conforto, além das nuances que definem a participação dos familiares no tratamento dos usuários.

Além das analises técnicas que esse tipo de estudo requer, é cabal também fazer um levantamento teórico mais diretivo que fundamente essa discussão e ofereça prospecções confiáveis para quaisquer argumentações, até porque o teor investigativo e ao mesmo tempo expositivo desse tipo de estudo requer um embasamento cada vez mais amplo.

A perspectiva de oferecer um panorama mais completo que aborde as diretrizes de funcionamento do CAPS; e ao mesmo tempo indique os pontos determinantes de sua atuação constitui-se de um desafio estimulante que perpassa não só a história da saúde brasileira, mas também a (re)discussão sobre quais tem sido os direcionamentos feitos no âmbito específico da saúde mental.

Para tanto se faz necessário um breve retrospecto histórico das políticas de atendimento a saúde mental no Brasil e a contextualização das mesmas com a realidade contemporânea.

 

 

 

 

 

3 OBJETIVOS

 

3.1 OBJETIVO GERAL

 

Diagnosticar os principais mecanismos de acolhimento (atendimento psicoterapêutico) no âmbito do CAPS III – Barbalha;

 

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 

ü  Analisar o histórico dos programas de saúde mental no Brasil e as perspectivas de atuação dos CAPS;

ü  Identificar as principais atividades terapêuticas desenvolvidas no CAPS III – Barbalha;

ü  Elencar informações relativas à estruturação logística e à equipe profissional atuante no CAPS III.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4 REVISÃO DE LITERATURA

 

4.1 AS POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL – PROSPECÇÕES DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)  

 

Criado consitucioanalmente em 1988 e regulado posteriormente pelas Leis 8.080 e 8.142, o Sistema Único de Saúde – SUS possui diretrizes específicas no art. 98 do texto Constitucional, que se referem ao atendimento integral, devendo dar prioridade para ações preventivas sem prejuízos as ações assistenciais. Além de prever a participação efetiva da comunidade no âmbito de suas ações e a descentralização, com direção única em cada esfera de governo. (DORNAS; FERREIRA, 2003).

  Conforme o Ministério da Saúde (2004) esse sistema alicerça-se nos princípios de acesso universal, público e gratuito às ações e serviços de saúde; integralidade das ações, cuidando do  indivíduo como um  todo e não como um amontoado de partes; eqüidade, como o  dever  de  atender  igualmente  o  direito  de  cada  um,  respeitando  suas  diferenças;  descentralização  dos  recursos  de saúde, garantindo cuidado de boa qualidade o mais próximo dos usuários que dele necessitam; controle social exercido pelos Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de Saúde com  representação dos usuários,  trabalhadores, prestadores, organizações da sociedade civil e instituições formadoras.

 Explorando a efetividade dessas ações e de como eles são vistas no resto do mundo, Nicollete (2010, p.1) explana que:

“Nosso sistema é referência para muitos países desenvolvidos, por apresentar complitude em todos os sentidos, pelos seus princípios básicos de universalidade, integralidade, equidade, participação da comunidade, descentralização político-administrativa e hierarquização/regionalização.”

Percebe-se que teoricamente o SUS está muito bem embasado, porém faz-se necessário compreender qual o grau de aplicabilidade e efetividade dessas ações. Onde o primeiro ponto a ser analisado é a distribuição das ações no seio das unidades, e no nosso caso específico das unidades de atendimento psicoterapêutico.

4.2 SURGIMENTO E ESTRUTURAÇÃO DOS CENTROS DE ATENDIMENTO PSICOSSOCIAL – CAPS

 

Com pouco mais de duas décadas de criação os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) constituem-se de modelos referenciais no acolhimento de pacientes com transtornos mentais.

A primeira unidade do Brasil foi inaugurada em março de 1986, na cidade de São Paulo: Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS da Rua Itapeva.

A criação desse CAPS e de  tantos outros, com outros nomes e  lugares,  fez parte de um  intenso movimento  social, inicialmente de  trabalhadores de  saúde mental, que buscavam  a melhoria da  assistência no Brasil e denunciavam  a situação precária dos hospitais psiquiátricos, que ainda eram o único  recurso destinado aos usuários portadores de transtornos mentais.

  Nesse contexto, os serviços de saúde mental surgem em vários municípios do país e vão se consolidando como dispositivos eficazes na diminuição de internações e na mudança do modelo assistencial.

Os NAPS/CAPS foram criados oficialmente a partir da Portaria GM 224/92 e eram definidos como “unidades de saúde locais/regionalizadas que  contam  com  uma  população  adscrita  definida  pelo  nível  local  e  que  oferecem  atendimento  de  cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em um ou dois turnos de quatro horas, por equipe multiprofissional”. (Ministério da Saúde, 2004, p. 12)

   Os CAPS – assim como os NAPS (Núcleos de Atenção Psicossocial), os CERSAMs (Centros de Referência em Saúde Mental) e outros tipos de serviços substitutivos que têm surgido no país, são atualmente regulamentados pela Portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002 e integram a rede do Sistema Único de Saúde, o SUS.

Essa portaria reconheceu  e  ampliou  o  funcionamento  e  a  complexidade  dos  CAPS,  que  têm  a missão  de  dar  um  atendimento diuturno  às  pessoas  que  sofrem  com  transtornos mentais  severos  e  persistentes,  num  dado  território,  oferecendo cuidados clínicos e de reabilitação psicossocial,  com o objetivo de substituir o modelo hospitalocêntrico, evitando as internações e favorecendo o exercício da cidadania e da inclusão social dos usuários e de suas famílias.

Dentre as diretrizes que são inerentes às missões e demandas necessárias ao bom funcionamento do CRAS, as que se listam como mais importantes são: prestar atendimento em regime de atenção diária;  gerenciar os projetos terapêuticos oferecendo cuidado clínico eficiente e personalizado; promover  a  inserção  social  dos  usuários  através  de  ações  inter-setoriais  que  envolvam  educação,   trabalho,  esporte,  cultura  e  lazer, montando  estratégias  conjuntas  de  enfrentamento  dos  problemas.

  Os  CAPS  também  têm  a  responsabilidade  de  organizar  a  rede  de  serviços  de  saúde mental  de  seu território; dar suporte e supervisionar a atenção à saúde mental na rede básica, PSF (Programa de Saúde da Família), PACS (Programa de Agentes Comunitários de Saúde); regular a porta de entrada  da rede de assistência em saúde mental de sua área; coordenar junto com o gestor local as atividades de supervisão de unidades hospitalares  psiquiátricas que atuem no seu território; manter atualizada a listagem dos pacientes de sua região que utilizam medicamentos para a saúde mental.

Quanto aos aspectos físicos e estruturais, o primeiro ponto a ser observado é que os CAPS devem contar com espaço próprio e adequadamente preparado para atender à sua demanda específica, sendo capazes de oferecer um ambiente continente e estruturado.

 Em segunda instância observa-se que os CAPS deverão contar, no mínimo, com os seguintes recursos físicos: consultórios para atividades individuais (consultas, entrevistas, terapias); salas para atividades grupais;   espaço de convivência; oficinas; refeitório (o CAPS deve ter capacidade para oferecer refeições de acordo com o tempo de permanência de cada paciente na unidade); sanitários; área externa para oficinas, recreação e esportes.

 

 

 

4.3 CONTRADIÇÕES NA SAÚDE MENTAL

 

Elencadas todas essas nuances de funcionamento e determinações oriundas do próprio Ministério da Saúde, fazem-se necessárias prospecções avaliativas que além de questionar a eficácia do modelo Capscêntrico – centrado no CAPS – abordem as controvérsias e lacunas existentes nesse modelo.

Atualmente a assistência à Saúde Mental implantada pelo Ministério da Saúde está cada vez mais reduzida aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Estabelecimentos aos quais foi delegado o papel de articuladores estratégicos, com a responsabilidade de regular a porta de entrada da rede de atenção em Saúde Mental em sua área de atuação e distribuir a demanda para os outros recursos de assistência à saúde, porventura existentes.

Ao menos em tese, cabe aos CAPS o acolhimento e a atenção às pessoas com transtornos mentais graves e persistentes. Assim, os CAPS estão substituindo a anterior atuação dos hospitais psiquiátricos e não sendo um equipamentoa mais a integrar o sistema, ferindo frontalmente a Lei 10.216/2001 que preconiza o redirecionamento do modelo assistencial, garantindo ao paciente o acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades.

Sem considerar sua inadequação para tratar pacientes com transtornos neuróticos, como os da alimentação, de ansiedade, do desenvolvimento e tantos outros, cujaassistência se fará melhor em ambulatórios especializados ou policlínicos. Trocou-se um modelo hospitalocêntrico obsoleto por um modelo Capscêntrico ineficiente e ineficaz para atender às necessidades de todos os pacientes psiquiátricos.

Um dos motivos disso é próprio da natureza dos CAPS. O padecimento do pacientepsiquiátrico, entendido simplesmente como situação social e não como enfermidade, aliada à excessiva ênfase atribuída à instituição onde o paciente é tratado, tem tidorelevo em detrimento da qualidade e da eficiência do tratamento oferecido. (ABP- Associação Brasileira de Psiquiatria. Diretrizes para um Modelo de Assistência Integral à Saúde Mental no Brasil, 2006.)

4.4 ACOLHIMENTO

 

Acolhimento é o primeiro contato com quem nos procura, a partir do qual será definida toda a sequência de atendimentos, é “a abertura do jogo de xadrez” como nos ensina Freud. É o momento em que todos os recursos do serviço são postos à prova: quem atende; o que pode oferecer; como pode acolher, avaliar e discriminar a demanda.

Silva Júnior & Mascarenhas (2004) destacam três dimensões de atendimento: postura, técnica e princípio de reorientação do serviço.

 A primeira dimensão (postura) implica a atitude humanizada e receptiva dos profissionais ao receber, escutar e tratar as demandas dos usuários; implicando relação de interesse mútuo, confiança e apoio. Esta dimensão abrange tanto as relações entre os profissionais e usuários como também as relações intra-equipe, como relações democráticas, que estimulam a participação, autonomia e decisão coletiva.

O acolhimento como técnica é a utilização do saber profissional para produzir respostas ao usuário. Quando se trata da equipe multiprofissional, há a articulação dos diferentes saberes, buscando superar a fragmentação na busca de construção de novas respostas às demandas emergentes.

E o acolhimento, na perspectiva da reorientação do serviço, está no centro da proposta do projeto organizacional, que é a base que orienta o trabalho dos profissionais, o processo em equipe, a busca de capacitação.

A supervisão é destacada, neste último item, como um importante modo de organização do serviço e de acompanhamento do cotidiano de trabalho assegurando a articulação entre o acolhimento tanto como atitude quanto técnica, o que implicaria uma determinada concepção de clínica para além dos protocolos de triagem.

Os trabalhos reunidos nos Cadernos IPUB n. 17 (2000), sobre o que se convencionou chamar “clínica da recepção”, preconizam algumas direções tais como: decantar a demanda no sentido de não atender rapidamente ao pedido inicial; relativizar o pedido de medicação, oferecendo também outras possibilidades; priorizar o diagnóstico da situação sem abandonar o diagnóstico psicopatológico, entendendo que o primeiro de algum modo inclui o segundo.

Essa idéia remete à possibilidade de convocar o sujeito a participar do processo de tratamento, deixando de ser tomado apenas como um depósito de sintomas a serem extirpados pelos profissionais (e pela medicação) e tornando-se um agente na compreensão desse processo, adquirindo poder de conduzi-lo através dos profissionais. (Schmidt M.B., Figueiredo A.C.2009).

 

4.4.1 O ACOLHIMENTO – RELAÇÃO HUMANIZADA

 

Pode ser definido como uma estratégia para a reorganização do serviço de saúde que garante o acesso universal, a resolutividade e o atendimento humanizado. Dessa forma, o acolhimento atende a mudanças que vêm ocorrendo no setor saúde, à inversão do modelo de atenção atuale respeita os princípios do Sistema Único de Saúde.

O acolhimento também se traduz como a relação humanizada, acolhedora, que os trabalhadores e o serviço, como um todo estabelecem com os diferentes tipos de usuários que chegam ao serviço. Isso nos remete a pensar sobre as nossas práticas nos diferentes momentos de relação com os usuários e em nossa própria formação. (COIMBRA; KANTORSKI, 2011).

 

4.4.2 ACOLHIMENTO NOS CAPS

 

É imprescindível pensar as práticas de acolhimento, no campo da saúde mental, mais especificamente em um CAPS, que constitui um dispositivo com valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica Brasileira. Cabe ao CAPS o acolhimento e a atenção às pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu território.

Ele é o núcleo de uma nova clínica que convida o usuário à responsabilização e protagonismo em toda trajetória do seu tratamento – justamente os valores que norteiam a Política de Humanização. Assim, pensamos que o acolhimento pode se constituir em um ponto de interface importante entre a Reforma Psiquiátrica e a Política Nacional de Humanização do SUS. (LONDERO, 2011).

A depender do projeto terapêutico do usuário do serviço, o CAPS poderá oferecer, conforme as determinações da Portaria GM 336/02:

  • Atendimento Intensivo: trata-se de atendimento diário, oferecido quando a pessoa se encontra com grave sofrimento psíquico, em situação de crise ou dificuldades intensas no convívio social e familiar, precisando de atenção contínua.  Esse atendimento pode ser  domiciliar, se necessário; 
  • Atendimento Semi-Intensivo: nessa modalidade de atendimento, o usuário pode ser atendido até 12 dias no mês. Essa modalidade é oferecida quando o sofrimento e a desestruturação psíquica da pessoa diminuíram, melhorando as possibilidades de relacionamento, mas a pessoa ainda necessita de atenção direta da equipe para se estruturar e recuperar sua autonomia. Esse atendimento pode ser domiciliar, se necessário;
  • Atendimento Não-Intensivo: oferecido quando a pessoa não precisa de suporte contínuo da equipe para viver em seu território e realizar suas atividades na família e/ou no trabalho, podendo ser atendido até três dias no mês. Esse atendimento também pode ser domiciliar.

 

4.5 A FUNÇÃO DO SERVIÇO E DOS AGENTES DE SAÚDE E DA REDE INTER-SETORIAL

 

  A  rede  básica  de  saúde  se  constitui  pelos  centros  ou  unidades  de  saúde  locais  e/ou  regionais,  pelo Programa de Saúde da Família e de Agentes Comunitários de Saúde, que atuam na comunidade de sua área de abrangência; Esses profissionais e equipes são pessoas que estão próximas e que possuem a responsabilidade pela atenção à saúde da população daquele território.

Os CAPS devem buscar uma integração permanente com as equipes da rede básica de saúde em seu território, pois têm um papel fundamental no acompanhamento, na capacitação e no apoio para o trabalho dessas equipes com as pessoas com transtornos mentais.

As funções inerentes a estes profissionais e as suas respectivas unidades serão sempre de acolhimento, escuta ativa, para tecer com eles itinerários, histórias de vida, passagens de um espaço a outro na busca de um lugar de reconhecimento que os legitime. Trata-se de um processo complexo, de investimento contínuo, vínculo, confiança e aposta.

Delicado, denso, escorregadio, titubeante no sentido decavar/construir outras possibilidades, considerar as vias que já conhecem eacompanhá-los em outras experimentações, colaborar para abrir outras queproduzam menos sofrimento e menor risco. Isto só ocorre em um campo de trocas: olhar, cuidado, interesse, paciência, abertura ao outro, produção de intervalos queocorrem em um ritmo muito particular. (ROSSI; CHARÃO; CONTE, 2011).

Essa integração potencializar-se-á a partir do interesse e do entendimento do próprio CAPS em:

a) conhecer e interagir com  as equipes de atenção básica de seu território;

b) estabelecer iniciativas conjuntas de levantamento de dados relevantes sobre os principais problemas e necessidades de saúde mental no território;

c)  realizar  apoio matricial  às  equipes  da  atenção  básica,  isto  é,  fornecer-lhes  orientação  e  supervisão, atender conjuntamente situações mais complexas, realizar visitas domiciliares acompanhadas das equipes da atenção básica, atender casos complexos por solicitação da atenção básica;

d) realizar atividades de educação permanente (capacitação, supervisão) sobre saúde mental, em cooperação com as equipes da atenção básica.

 

 

5 MATERIAIS E MÉTODOS

 

Contextualizando as principais referências do nosso objeto de estudo é importante evidenciar que o CAPS III – Dr. Paulo Duarte Sampaio constatamos tem sede própria, atendendo de 7:00 às 16:00 horas e conta com uma equipe  de (01) Clínico Geral, (02) Psiquiatras, (02) Psicólogas, (01)Pedagoga, (01) Terapeuta Ocupacional, (01) Assistente Social e coordenador, (01) Enfermeiro, (01) Técnico em Enfermagem, (01) Recepcionista, (02) Auxiliares de grupos terapêuticos, (01) Auxiliar Administrativo, (01)Auxiliar de Serviços Gerais, (01) chefe de segurança e (01) Cozinheira, atendendo a cerca de 240 (duzentos e quarenta) pacientes.

A referida unidade detém as seguintes demandas de funcionamento, além das atividades  terapêuticas que lhes são habituais: Visitas domiciliar as famílias dos usuários, trabalhos em grupo, atendimento individual, elaboração de pareceres e relatórios, atividades de lazer, atividades para elevação da auto-estima dos pacientes, realização de triagens, evolução e prognósticos nos prontuários, bem como análise e encaminhamento de aposentadorias e benefícios.

Através da observação minuciosa de um conjunto de procedimentos metodológicos e investigativos, obteve-se unanimidade na elaboração desse texto monográfico, sobre os quais podemos destacar o tipo a natureza da pesquisa e as suas nuances de análise, tomando como base as normas aplicáveis ao CAPS (Anexos).

 Colimando os pensamentos de Cervo, Bervian e Silva (2007) com as indicações de Gil (2002), denota-se que este estudo possui natureza exploratória; pelo fato de proporcionar  maior  familiaridade  com  o  problema,  com  vistas  a  torná-lo  mais claro, além de ser altamente flexível e adaptável, principalmente quando não se há um domínio muito grande sobre determinada temática; o que foi uma característica comum desse estudo, pois mesmo não dispondo de muito conhecimento sobre o assunto em questão (saúde mental) foi possível explorá-lo e ter um domínio mais amplo sobre o mesmo.

Considerando que os dados resultantes desse estudo não podem ser quantificados e que as nossas projeções definem-se mais no campo comparativo e semântico:  trabalhando com o universo de significados, valores,  crenças  e  atitudes,  correspondendo  a  um  espaço  mais  profundo  das relações,  dos  processos  e  dos  fenômenos  aos  quais  não  podem  ser  reduzidos  à operacionalização variáveis, apontamos a esse estudo a sua práxis qualitativa. (MINAYO, 2001).

Quanto aos procedimentos técnicos temos uma pesquisa bibliográfica, que como bem preconiza Gil (2002) é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros, artigos científicos, teses dissertações, etc.

Quanto aos métodos e as suas ramificações, apontamos como método de abordagem o pensamento dedutivo, que de acordo Ruiz (2002) é a concepção de uma conclusão particular ou menos geral sobre determinado enunciado mais amplo, ou seja, no nosso caso específico a análise global do CAPS a nível de Brasil e as concepções no contexto local do CAPS III – Barbalha.

Já em relação aos métodos de procedimento compartilhamos dos pensamentos de Lakatos e Marconi (2006) classificando-os de maneira dupla, enquanto históricos e comparativos, tal como exemplificam as autoras.

Histórico: Parte do princípio de que as atuais formas de vida e de agir na vida social, as instituições e os costumes têm origem no passado, por isso é importante pesquisar suas raízes para compreender sua natureza e função.

Comparativo: Consiste em investigar coisas ou fatos e explicá-los segundo suas semelhanças e suas diferenças. Geralmente o método comparativo aborda duas séries de natureza análoga tomadas de meios sociais ou de outra área do saber, a fim de detectar o que é comum a ambos.

 

 

 

 

6 RESULTADOS ESPERADOS

 

São infindáveis os desdobramentos que podem se resultantes desse estudo, até porque as políticas de saúde mental ainda estão em fase de implantação, embora já disponham de uma certa consolidação e pertinência no contexto contemporâneo. As concepções teóricas e históricas nos mostram que esse ainda é um processo em construção, e que mesmo com os notáveis avanços das políticas públicas brasileiras ainda há um grande caminho a ser trilhado.

Há de abrir-se um parêntese para o fato de não havermos feito nenhuma análise da realidade brasileira com as políticas de outros países, até porque não era esse o nosso foco temático; este por sua vez consistia tão somente em avaliar as diretrizes de atendimento no âmbito do CAPS III – Barbalha (CE) e projetar a realidade local com os desígnios gerais do Ministério da Saúde.

De modo preliminar é possível dizer que a unidade em questão atende sim aos principais requisitos do órgão nacional de saúde, e que tem desempenhado um importante papel de inclusão social na vida dos pacientes e da comunidade por ela atendida.

Outros fatores de impacto positivo são a boa estruturação física do referido centro e a qualificação do corpo técnico que lá atua, sendo indispensáveis não só no conforto e adaptação dos usuários, mas também na segurança e seriedade dos trabalhos que são oferecidos.

Numa análise mais geral alertamos para uma segunda vertente dessa pesquisa, que versa sobre a comparação dos modelos: hospitalocêntrico (de internações) e o capscêntrico (voltado para o acolhimento e reinserção social dos pacientes), cuja definição de eficácia e aplicabilidade tem suscitado amplos debates. A compilação dos dados aqui dispostos em alusão a realidade do sistema de saúde brasileiro nos mostram o quanto essa questão é difícil de ser respondida em sua totalidade; devendo haver estudos mais específicos que busquem indagar não só os documentos e que regem a história do CAPS, mas também os sujeitos envolvidos no seu funcionamento, profissionais, usuários e seus familiares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

Associação Brasileira de Psiquiatria. Diretrizes para um Modelo de Assistência Integral à Saúde Mental no Brasil. 2006. Disponível em:                    <http://www.abpbrasil.org.br/diretrizes_final.pdf. > Acesso em 16 de ago.2011.

 

 

BRASIL.  Ministério  da  Saúde;  Secretaria  de  Atenção  à  Saúde. Departamento  de  Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial / Ministério da Saúde, Secretaria de

Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

 

 

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia Científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

 

 

COIMBRA, V. C,;Kantorski, L. P. O. Acolhimento em Centro de Atenção Psicossocial. R.Enferm.UERJ.2005.Disponívelemhttp://www.facenf.uerj.br.  Pág.57. Acesso em 16 de ago. 2011.

 

 

DORNAS, G. Jr. FERREIRA, J.M. Informações de Unidades de Pronto Atendimento – possibilidades de uso como sentinelas da atenção básica a saúde.Informação Pública,  [s.l.] vol. 5 (1): 27-48, 2003.

 

 

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

 

 

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico. 6. ed.  São Paulo: Atlas, 2006.

 

 

LONDERO, S. Re-inventando o acolhimento em um serviço de saúde mental. Porto Alegre, 2010. Disponível em http://www.ufrgs.br. Acesso em 16 de ago. 2011.

 

 

MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001.

 

 

NICOLLETE, D. R. P. Políticas públicas em saúde e seus resultados no Brasil, 2010. Disponível em: <http://estudodeusuarios.blogspot.com/2010/12/politicas-publicas-em-saude-e-seus_13.html>. Acesso em 08 jun 2011.

 

ROSSI, I,; CHARÃO, R.; CONTE, M. Oficinas de Tratamento: Rede de Atenção. Disponível em http://www.amprs.org.br. Acesso em 16 de ago. 2011.

 

 

RUIZ, J. A. Metodologia Científica: Guia para eficiência nos estudos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

 

 

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ANEXOS