1. Introdução

A partir dos fatos históricos e o modelo da sociedade inglesa da época, e observando passo a passo os enredos das personagens femininas analisadas nestes dois romances (Razão e Sensibilidade e Orgulho e Preconceito) vê-se claramente a mudança que sofria o papel da mulher naquela sociedade nos fins do século XVIII e início do século XIX. A mulher, seu individualismo, suas relações, pensamentos, motivos e objetivos serão demonstrados de maneira clara.

A trajetória da mulher começa a mudar, até então vivia submissa, sempre sob o olhar legislador masculino impondo normas tais como: o que pode, o que não pode no mundo feminino; agora a mulher ganha seu espaço, seu poder de expressão.

Empenha-se, finalmente, em situar a mulher da sociedade inglesa da época no lugar que lhe é devido.

2. Visão panorâmica da história da Inglaterra nos fins do séc XVIII do séc. XIX.

Como sabemos as obras literárias, sobretudo os romances, estão intimamente ligados aos fatos políticos, sociológicos, históricos e geográficos da época. Por isso, é interessante nos situarmos no tempo em questão para melhor entendermos os contextos tratados nos romances em estudo: Razão e Sensibilidade e Orgulho e Preconceito de Jane Austen.

2.1 A vida na cidade

Em 1700, Inglaterra era formada apenas por pequenas vilas. As grandes cidades existentes na Inglaterra hoje começaram a crescer pelo meado do século (1734 – 1750); no entanto, ainda eram tratadas como vilas e não tinham representantes no parlamento. As pequenas cidades eram sujas, sem sistema de esgotos, e as ruas tinham apenas dois metros de largura.

O lixo era atirado nas ruas e não havia sistema de coleta, poucas pessoas recolhiam o lixo orgânico para usá-lo como adubo nas plantações. As cidades eram centros de doenças, poucas crianças chegavam à idade adulta – uns 25%.  Os pobres morriam muito jovens e eram jogados em valas comuns, as quais não eram cobertas com terras antes que se enchessem. Não era surpresa que as pessoas encontrassem conforto nas bebidas alcoólicas e jogos de cartas. Os Quakers, que muito se preocupavam com os problemas sociais, chocados com o terrível efeito das bebidas alcoólicas, desenvolveram a indústria da cerveja que causava menos dano à saúde. Durante o século XVIII, esforços foram feitos para melhorar a qualidade de vida nas cidades; as ruas foram alargadas, com capacidade suficiente para dois carros com tração animal. Em 1934, Londres já tinha sistema de iluminação nas ruas.

Em 1760, George III foi coroado rei, reinou por sessenta anos. Nesse ínterim, muitas cidades pediram ao Parlamento que assalariassem pessoas para a execução de atividades pública tais como: limpeza de ruas e acender as luzes das ruas, etc..., os proprietários de casa pagavam taxas cujo valor era decidido pelo concílio ou corporação local. Só os proprietários de casas com determinada renda anual tinham direito ao voto para o Parlamento, e o voto não era secreto, isso levava o Parlamento a representar apenas um pequeno grupo de pessoas lideradas pelos aristocratas. Um Membro do Parlamento “MP”, John Wilkes, que via as coisas de maneira diferente, não gostava do governo de George III acreditava que política deveria ser aberta para discussão livre para todos; liberdade de expressão era o direito básico de todos e individualmente. Publicou em seu próprio jornal “The North Briton” fortes ataques ao governo de George III que havia feito a paz com a França sem avisar seu aliado Frederico da Prússia, deixando-o lutar sozinho. Wilkes foi preso e absolvido, sua vitória irritou o rei, mas se tornou o homem mais popular em Londres, pois disse que o rei não tem o direito de prender a quem ele escolher; o governo também está submisso à lei.

De 1750 a 1770 um grande número de jornal começa a ser publicado, e um grande número de leitores, que até então não tinham acesso aos assuntos políticos, começam a se interessarem por tais assuntos. Wilkes, com sua vitória, mostra ao povo comum que eles não eram representados pelo Parlamento, isso os levou a se organizarem politicamente para conquistarem seus direitos básicos.

Católicos e Judeus não eram permitidos no Parlamento. Os “Noncoformist” (partido dos que não se conformavam com a situação) achavam que isso continuava a ser uma dificuldade que precisava ser superada. Como lhes era permitido fazer parte dos concílios de suas cidade como “autoridades locais” logo começaram a se organizarem e tomaram as lideranças dos mercados, indústrias criando assim uma classe administrativa que levavam seus anseios ao concílio. Breve, com essa organização, Londres e outras cidades tornaram-se tão limpas e organizadas que ficaram conhecidas como a “Maravilha da Europa”. O grande escritor Samuel Johnson escreveu. “Quando um homem se cansar de Londres, ele está cansado da vida”.