Thiago B. Soares[1]

(Quando usar o artigo, lembre-se de citar a fonte)

[1] Doutorando (PPGL-UFSCar). E-mail: [email protected]

            O presente texto visa expressar sucintamente os desdobramentos da filosofia helenística e suas cisões, ao acrescentar filósofos e novos conceitos precisa justamente a esse árduo objetivo.

         Tentemos,de forma abrangente, perceber que das correntes filosóficas helenísticas, o estoicismo, epicurismo e o pirronismo ou ceticismo, pode-se afirmar que tiveram certa influência em correntes posteriores. Entretanto, tal fato é acompanhado por veículos conceituais que diluíram tais compreensões do mundo e da vida, como é comum a se relacionar sociedades e épocas distintas, porquanto não há como distanciar um pensamento de onde e quando ele surgiu. Sendo assim, é nesse sentido que alucinaremos algumas semelhanças e distinções ao fazer remissão a essas três concepções filosóficas.

             Ao perceber o ceticismo de Pirro como uma maneira de entender ao mundo, não se pode deixar de lembrar-se do filosofo francês Michel de Montaigne (1533 – 1592) que faz uso do ceticismo para se contrapor aos dogmas escolásticos. A esse respeito Aranha e Martins (2009, p. 113) alegam que “A perspectiva de Montaigne denota uma característica da modernidade em vias de se estabelecer: a valorização do eu que reage à imposição cega da tradição”. Desse modo, fica nítida a contribuição dessa perspectiva, qual construção das bases da modernidade que sempre supõe contrapor uma verdade com outra.

            Em contrapartida, o estoicismo de Zenão além de ser, com efeito, oposição ao atomismo epicurista, também se permite traduzir em filósofos romanos, bem como em Sêneca e Marco Aurélio, tal como fica claro nas palavras do segundo:

Sabendo das tribulações para as quais nascemos, e nada para lhes granjear nosso reconhecimento, a natureza fez do hábito o abrandamento dos incômodos que, em pouco tempo, torna familiar os tormentos mesmo pesados (SÊNECA, 2008, p.57).

Há alguma similitude entre o cristianismo e o estoicismo, claramente em uma generalização grosseira, porém, ao sustentar a prática da virtude que isola os sofrimentos, permitindo ao sujeito o alcance da apatia (apatheia), se aproximando com a relegião cristã.

            A lógica estoica em séculos recentes foi revisitada como afirmaJapiassú e Marcondes (2006, p.95) “No séc. XX, as contribuições dos estoicos à lógica e à teoria da linguagem têm sido revalorizadas”. Obviamente sendo superposta pela lógica aristotélica. Todavia, é coerente deduzir a importância dessa perspectiva para o desdobramento de outras teorias, não menor do que sua quase oposta concorrente, o epicurismo.

            O legado de Epicuro é visivelmente sentido em muitos pensadores, contudo limitaremos a alguns tanto pela densidade de teorias quanto pela pequenez da abrangência desse trabalho. À medida que, o hedonismo é revisitado por filósofos, esses se deparam com o epicurismo e a busca pelo prazer, tal fez o inglês Jeremy Bentham. Ele “defendia a filosofia do hedonismo, mas como o epicurismo, isso não significava busca imprudente do prazer. Bentham acreditava no hedonismo social, que pode ser traduzido como a maior quantidade de felicidade para um maior número de indivíduos” (MANNION, 2012, p.122). Dessa feita, passando o prazer do nível individual para o coletivo, e, ainda, associando moral a felicidade como entrelaçadas, uma correspondendo àoutraem mesmo grau. Chegou a até fazer o cálculo para felicidade, no entanto, as críticas atrozes de filosofia libertina que lhe foram atribuídas também chegaram ao epicurismo.A esse ponto, o inglês não fica só, pois outro pensador, agora alemão, teve sua deixa ao debater o prazer.

            Sigmund Freud é baluarte do hedonismo contemporâneo, com suas teorias sobre a personalidade, sonhos, inconsciente versus consciente e os complexos. Mas Freud aventa que todas nossas pulsões estão em busca do prazer ou na ausência desse, é assim que desenvolve o princípio de prazer imanente ao ser humano. Nas palavras do autor:

Na teoria psicanalítica não hesitamos em supor que o curso tomado pelos eventos mentais está automaticamente regulado pelo princípio de prazer, ou seja, acreditamos que o curso desses eventos é invariavelmente colocado em movimento por uma tensão desagradável e que toma uma direção tal, que seu resultado final coincide com uma redução dessa tensão, isto é, com uma evitação de desprazer ou uma produção de prazer (FREUD, 1966, p. 17).

Neste ponto, nem precisamos retomar Epicuro para dizer que o prazer tem papel fulcral na teoria freudiana tanto quanto no epicurismo. De resto, essa corrente filosófica será igualmente visitada por outros pensadores, declaradamente para usufruir de suas benesses ou mesmo para apontar malefícios. Visto isso, temos ainda outros indícios para constatar o valor que o epicurismo, estoicismo e o pirronismo possuem até os dias de hoje.

CONSIDERAÇÕES

         Não cabe em uma tarefa tão imperfeita quanto a que foi desempenhada nesse texto ser chamada de conclusão, porquanto nada aqui foi concluído, por conseguinte, quando a Filosofia estiver em algum de seus pontos conclusa, deixará de ser o que de fato é.

            Em suma, o que foi realizado com este texto é uma tentativa de demonstrar alguns desdobramentos de pensamentos helênicos, ainda que de forma um tanto sumular, pois a abrangência desse trabalho é limitada pelos conhecimentos de seu autor bem como da estrutura designada a ser este trabalho, assim o que se disse acima é passível de alterações qual a ciência atual em perspectiva do futuro.

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda;MARTINS,Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. – 4º. Ed. – São Paulo,SP: Moderna, 2009.

FREUD, Sigmund. Além do Princípio de Prazer. In. Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XXVIII): Ed. Standard brasileira. Trad. Jayme Salomão. – Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1996.

JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. – 4º. Ed. – Rio de Janeiro RJ: Jorge Zahar, 2006.

MANNION, James. O livro completo da Filosofia. Trad. Fernanda Monteiro dos Santos. – 6º. Ed. – São Paulo, SP: Madras, 2010.

SÊNECA. A tranquilidade da alma. Trad. Luiz Feracine. São Paulo, SP: Ed. Escala 2008.