Nos primórdios da civilização, quando a sociedade começou a se organizar em clãs e depois em tribos os indivíduos mais velhos, passaram a constituir um poder: os conselhos de anciãos. Para eles convergiam importantes discussões de interesse da população. Ali se reuniam as pessoas mais vividas, depositárias de maior sabedoria e, também conhecimento para deliberarem sobre os assuntos pertinentes a aldeia, a cidade. Os anciãos eram escolhidos entre os mais velhos, os sobreviventes num tempo onde viver muito era algo atribuído a benemerência dos deuses ou do Deus. As decisões que emergiam do conselho serviam de orientação para as ações dos dirigentes e lideres do povo.

Na Bíblia há muitas referências a “consultas aos anciões”. “O Senhor respondeu a Moisés: “Junta-me setenta homens entre os anciãos de Israel, que sabes serem os anciãos do povo e tenham autoridade sobre ele.” (Números 11,16). Sempre aos mais velhos consagrou-se  uma autoridade natural sobre os demais. 

No império romano, os senex (velhos) adquiriram postura política ainda mais relevante. Era um poder do povo o S.P.Q.R – Senatus PopulusQue Romanus – que quer dizer “O senado e o povo romano”. Faziam parte dele os patrícios ilustres, mas muitos já não tão anciãos (Catilina não era um ancião, embora Cícero fosse). De qualquer forma, eram os homens não apenas de maiores posses, mas também de maior estudo e conhecimento. Muito embora tenha inventado e dado nome a esta instituição de decisões políticas, o Senado Romano não deixou de ter manchas e ser um antro de intrigas políticas e desvios morais e éticos.

Talvez seja por conta da história que o Senado Federal brasileiro, se mostre  da forma como o vemos e conhecemos hoje. A chamada Câmara Alta, do Poder Legislativo, deveria ser o espaço da ponderação e sapiência necessária para aperfeiçoar e qualificar ainda mais a democracia, as leis. Uma instâcia composta de homens probos, virtuosos.  É isso que se vê?

Há como admitir que o Senado seja uma instituição fundamental para a democracia, a um custo de mais de R$ 2 bilhões por ano? Ou que sejam necessários a cada um dos 81 senadores (que são eleitos para um mandato de 8 anos) 110 funcionários? E, não fiquemos pensando apenas no que nos custa o Senado, quando custa uma Assembléia Legislativa? Quanto custa uma Câmara de Vereadores? São, por certo, organismos importantes do corpo democrático, mas dão a si mesmo, através daqueles que, eu e tu, nós, elegemos, esta importância? 

Se temos as instituições que temos, somos parte da causa disso. O que fazer, se mesmo os bons, em meio a tanta nulidade, acabam, quando não sucumbindo, desistindo? Triste país, triste estado, triste cidade que dá a si representantes políticos de tão baixo nível, de caráter duvidoso e sem nenhum princípio e respeito pela própria democracia. Em 2010, há eleição para o Senado (um senador), para a Câmara Federal (35 vagas) e para a Assembléia Legislativa (55 vagas). Reconduziremos os que se apresentarem a reeleição?  Elegeremos novos? Ou votaremos nulo manifestando, desta forma, nossa indignação? Aliás, se fossemos nós os eleitos, seríamos diferentes? Faríamos um Senado, uma Câmara Federal, uma Assembléia Legislativa, diferente daquela que temos eleito ao longo dos anos? Na dúvida, desde já decidi, votarei nulo. E farei campanha para isso, como uma atitude de reflexão. Talvez seja um início, pois parecemos estar no fim.