Um grito de socorro.

O que conhecemos com o nome de sociedade agoniza. Aos brados ela pede socorro. Na contabilidade da vida, os erros suplantam – em muito – os acertos.

Se duvidares, olhe à sua volta. Leia as trágicas notícias que se multiplicam. Abandone a hipocrisia e admita: algo está muito errado!

Crimes e mais crimes têm origem pelas mãos de filhos da classe média, notadamente a mais alta. Filhos do abandono da idade moderna, como diz a música: criados pela televisão.

Podes dizer: o que tenho com isso?

Sim, poderás dizer isso, enquanto não for você a próxima vítima do desatino social que predomina.  Ou alguém próximo, então acordarás.

Estará desperto para dolorosas verdades. Todo crime precisa de uma motivação. No nosso caso, existem vários crimes e suas motivações.

Poucos seriam os roubos se não existissem os receptadores.

Não haveria contrabando se ninguém fosse “freguês” do câmbio negro.

Os traficantes assassinos que matam nos morros, na periferia, por todo lado, são “financiados” pelo dinheiro dos usuários das drogas comercializadas. Não se iluda, essa é a verdade.

Ouvirás discursos eloqüentes afirmando o contrário, mas não se engane mais, por mais técnicos e modernos que sejam, são apenas acréscimos desnecessários a serviço do caos.

Os corruptos, encastelados no poder, estão muito bem obrigado, graças aos corruptores. O suborno não é um ato inocente!

Pense nas crianças. Lembra? Como aquela que foste um dia.

Se não tens um filho, imagine a possibilidade de tê-lo e entregá-lo a esta selva artificial existente lá fora que, num segundo, acaba com uma vida sem a menor preocupação ou remorso.

Essa é a nossa sociedade, geradora de monstros. E se não ocorrer uma séria e ampla mobilização social, nosso futuro no médio prazo será uma espécie de “inverno nuclear” de intolerância e de ódio.

E o ódio, esse amor virado no avesso, só labora em favor da destruição.

O que chamamos sociedade está terrivelmente doente e clama por socorro.

Não fuja mais da briga. Se pensares que o fato do político ser corrupto é problema dele, erras feio. Se quiser acertar, jamais vote nele de novo!

Se pessoas sentem fome ao seu lado, alimente-as, na medida de suas possibilidades, mas, antes disso, denuncie a torpeza ao seu redor.  Pois o silêncio é uma espécie de cumplicidade e também mancha as mãos.  Não há miséria maior para o espírito humano que se calar. Isso se chama conivência.

O que resta da sociedade pede socorro, enquanto as balas perdidas zunem entrecortando suas trajetórias.

As grades nas janelas e portas de seu próprio lar te indicam quem é realmente presidiário.

O grito de socorro social é aquela sensação que te incomoda vez ou outra. Pode surgir na forma do medo que sentes ao sair de casa e não saber se voltará.

Na notícia trágica que incomoda, pois no fundo imaginas: como seria se fosse comigo? 

Pode vir tristemente brilhante, no olhar da criança que vende bugigangas num semáforo. Na notícia de filhos que tramaram e executaram a morte dos pais. Na vítima inocente, morta por policiais, apenas por causa da cor da pele. No idoso empurrado para a indiferença à espera da morte, como único alívio possível. Nas imensas filas, do que resta dos hospitais públicos, ou na frieza de seus necrotérios. Nos atos de maus motoqueiros que agridem motoristas e vice-versa, no trânsito caótico das grandes cidades.

São assim os preocupantes gritos de socorro da sociedade. Disfarçam-se de banalidades ou se agasalham na nossa insensibilidade e indiferença.

Mas para cada ser humano que morre, um pouco de nós também morre.

Pense nisso!

Ou não pense em nada, apenas espera, enquanto a vítima não seja você ou alguém que amas.

Pena que, se for, será tarde demais!