0 - INTRODUÇÃO

Fortin (1996, p.31-32), diz que a origem da Investigação em Enfermagem remonta a Florence Nigthingale, isto é, à segunda metade do século XIX : a promoção da saúde e a prevenção da doença são os ideais da sua concepção; acumulando um grande leque de informação junto dos feridos durante a guerra da Crimeia.
A Investigação é o método usado para estabelecer a verdade, tanto quanto é possível defini-la. Em enfermagem, consiste em fomentar o desenvolvimento de intervenções de enfermagem que melhorem os resultados, em termos de saúde, e contribuam para uma excelente prestação de cuidados.
A investigação realizada teve como titulo "Um Flagelo da Sociedade" e baseou-se na temática da "Influencia da ingestão de álcool em utentes com distúrbios Gastrenterológicos".

1 - ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.1 - SITUAÇÃO EM PORTUGAL

A maior forma de toxicodependência em Portugal não é a droga, mas sim o álcool. Não sendo uma substância ilegal, e sendo a sua ingestão um hábito e para alguns uma necessidade social, a dependência do álcool já se tornou um problema grave no nosso país. Os últimos estudos apontam para que atinja cerca de um milhão e setecentos mil portugueses, ou seja, um quinto da população.
O escalão etário que apresenta mais problemas de abuso de álcool está entre os vinte e trinta anos, tendo-se verificado ainda um aumento do consumo de álcool entre a população mais nova nos últimos anos.
A prevenção, a informação e o tratamento são áreas onde se pode fazer muito para que se possam apreciar os efeitos e benefícios do álcool, pois muitas vezes esquece-se que com moderação os efeitos são positivos.

1.2 - TIPOS DE ALCOOLISMO

A multiplicidade de manifestações ou de complicações geradas pelo abuso de álcool são factos que tendem, naturalmente, a implicar diversos quadros classificativos dos diferentes tipos de alcoolismo.
Segundo Jelliner (estudo de FERNANDEZ, 1988, P.477), o alcoolismo está delimitado em cinco tipos:
 Alcoolismo alfa ou alcoolismo secundário - representa uma dependência psicológica contínua para o efeito do álcool neutralizar a dor física ou emocional, produzida por uma doença subjacente. É um bebedor que utiliza a bebida como automedicação, que tem controlo e capacidade de abstinência, mas em muitos casos pode progredir para o alcoolismo gama.
 Alcoolismo beta ou bebedor social - é um tipo de alcoolismo em que as complicações do mesmo podem ocorrer sem existir dependência física ou psíquica ao álcool. Este é um bebedor que não apresenta sintomas de abstinência e pode progredir para o alcoolismo gama ou delta.
 Alcoolismo gama ou alcoolómano - gradualmente a dependência psicológica passa a uma dependência física, que consiste no impulso para a embriaguez, ou, em certos casos, na falta de controle. É caracterizado pela a incapacidade de controlo e sem perda de capacidade de abstinência. Ao fim de algum tempo pode conduzir à dependência biológica.
 Alcoolismo delta ou bebedor excessivo regular - possui um padrão de bebida caracterizado pela ingestão contínua de álcool, não podendo abster-se um único dia sem manifestar sintomas de abstinência, embora a capacidade de controlar a quantidade de álcool ingerida permaneça intacta a qualquer momento.
 Alcoolismo Épsilon dipsómano ou bebedor periódico - o padrão de consumo é caracterizado pela compulsão para a bebida evoluindo por surtos, que quando começa termina em estados graves de intoxicação.

1.3 - CLASSIFICAÇÃO DOS INDIVÍDUOS QUANTO AO CONSUMO DE ÁLCOOL

No que se refere a uma classificação dos indivíduos, quanto ao consumo que fazem das bebidas alcoólicas, pode aceitar-se a sugerida por Jellinek.
Elvin Jellinek, (1960), considerou a existência de quatro tipos de indivíduos:
1 – Abstinentes de Álcool – são "os que nunca consomem bebidas alcoólicas ou as consomem moderadamente até cinco vezes por ano em circunstâncias excepcionais".
2 – Consumidores Moderados de Álcool – são "os que consomem regularmente uma quantidade inferior a 10 ml de álcool puro por dia e \ ou se apresentam em estado de embriaguez menos de 12 vezes por ano"
3 – Consumidores Excessivos de Álcool – são os bebedores "que consomem diariamente, e na sequência de dependência sócio – cultural e psicopatologica, uma quantidade superior a 10 ml de álcool puro por dia e apresentam estados de embriaguez mais de 12 vezes por ano.
4 – Consumidores Patológicos de Álcool ou Alcoólicos – são os bebedores "que apresentam sintomas característicos da presença constante de uma dependência sócio – cultural e psicopatologica, bem como física, face ao álcool". A dependência física manifesta-se pela incapacidade de parar ou abster-se de beber e conduz ao alcoolismo permanente ou intermitente, segundo os casos.

1.4 - OBJECTIVOS DA INVESTIGAÇÃO

Com a realização deste trabalho de investigação, pretendeu-se atingir objectivos como:
- Proporcionar uma situação autêntica de experiência e de vivência;
- Estimular o pensamento criativo;
- Promover um espaço de reflexão relativamente à "existência de hábitos alcoólicos em utentes da Especialidade de Gastrenterologia".



1.5 - QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO

Fortin (1996, p.101), refere-nos as questões de investigação são premissas sobre as quais recaem os resultados de uma investigação; traduzem-se segundo enunciados interrogativos precisos, escritos no presente e que incluem habitualmente uma ou duas variáveis, assim como a população a estudar. Especificam-se assim as variáveis e as relações que podem existir entre elas.
As questões de investigação utilizam-se essencialmente nos estudos exploratório – descritivos, utilizando-se por vezes em estudos correlacionais.
Na tentativa de dar resposta ao problema de investigação proposto, ou seja, quais as "alterações na vida diária dos utentes provocadas pela ingestão de álcool", preocupei-me em saber:
- Qual a predominância em relação ao sexo (masculina \ feminina) dos entrevistados?
- Qual a faixa etária mais comum dos entrevistados?
- Qual o grau de escolaridade dos entrevistados?
- Qual a percentagem de entrevistados que já ingeriam álcool?
- Em que faixa etária os entrevistados ingeriram pela primeira vez álcool, e qual a bebida que ingeriram?
- Qual a classificação dos indivíduos entrevistados quanto ao consumo de álcool, através da classificação de Elvin Jellinek, e qual a bebida que ingerem com mais frequência?
- Com quem os entrevistados costumam beber?
- Qual a percentagem de familiares próximos dos entrevistados que bebem ou bebiam em demasia?
- Qual a percentagem de entrevistados que apresentou problemas familiares ligados ao álcool e, destes, quais os envolveram maus-tratos físicos e\ou psicológicos?

2 – METODOLOGIA

A metodologia tem como objectivo analisar as características dos vários métodos disponíveis, observando as suas e desvantagens. Face aos objectivos propostos, pretendeu-se utilizar o método de investigação qualitativo, pois para Fortin (1996, p.22), este permite a compreensão absoluta e ampla do fenómeno em estudo, observando, descrevendo, interpretando e apreciando o meio e o fenómeno tal como se apresenta, sem procurar controlá-lo. Permitirá assim descrever e interpretar, mais do que avaliar, numa tentativa de desenvolver o conhecimento, dando sentido ao fenómeno estudado.

2.1 – DESENHO DE INVESTIGAÇÃO

De acordo com Fortin (1996, p.132), o desenho de investigação traduz-se num plano lógico, elaborado por um investigador para obter respostas válidas ás questões de investigação, permitindo também controlar potenciais fontes de enviesamento que podem influenciar nos resultados em estudo.
Após ter surgido o problema de investigação e consequentes questões, questionou-se acerca do tipo de desenho mais apropriado para se conseguir obter as respostas. Desde logo colocaram-se os desenhos experimentais de parte, visto serem muito rigorosos. Assim sendo, no estudo em causa adoptou-se um desenho do tipo não experimental descritivo.

2.2 – POPULAÇÃO / AMOSTRA EM ESTUDO

Fortin (1996, p.202), refere-nos que a amostragem é o procedimento pelo qual um grupo de pessoas ou um sub - conjunto de uma população é escolhida com vista a se obter informações relacionadas com um fenómeno, e de tal forma que a população interna que nos interessa, seja representada.
Qualquer trabalho de investigação requer uma definição precisa da população a estudar e, portanto, dos elementos que a constituem. Uma população particular que é submetida a um estudo é designada de população alvo, que deve ser representativa.
Para o presente estudo seleccionou-se como universo populacional os "Utentes que deram entrada no Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar Cova da Beira, durante o período de 28\03\2002 a 01\07\2002 ". Limitando a observação a parte do universo, ou seja, definindo uma amostra, considerou-se um grupo de 100 indivíduos entrados no serviço nesse espaço de tempo, tendo sido escolhidos de forma aleatória. 


4 - CONCLUSÃO

Desde o início se denotaram as dificuldades que o presente trabalho acarretaria, não só devido à complexidade do tema, mas também ao pouco tempo disponível para a realização deste tipo de trabalhos.
Como referido, este estudo contou com uma amostra de 100 utentes que deram entrada no serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar Cova da Beira, entre o período de 28 de Março a 1 de Julho de 2002. Toda a colaboração foi estritamente voluntária, ou seja, todos os utentes entrevistados se predispuseram de imediato a responder à entrevista orientada que lhes foi proposta.
Após a implementação da entrevista à amostra em causa, as principais conclusões a reter deste estudo serão:
- Em relação à amostra, verificou-se que não existe uma grande disparidade entre os entrevistados do sexo masculino e feminino. Mais de cinquenta por cento dos doentes tinham idade superior a sessenta anos e grande parte apenas possuíam o primeiro ciclo.
- Apenas um doente referiu nunca ter ingerido álcool ao longo da sua vida, sendo que a maior parte dos entrevistados ingeriram álcool pela primeira vez entre os dez e os dezoito anos. A bebida consumida foi, em setenta e seis por cento dos casos, vinho. Será no entanto de ter em conta que, face à faixa etária dos entrevistados e a zona geográfica onde foi realizado o estudo (zona tipicamente vitícola), estes números não serão de alguma forma considerados desproporcionais.
- A maior parte da amostra estudada revelou, segundo a classificação de Elvin Jellinek, (1960), que são "consumidores moderados de álcool". No entanto, nove por cento da amostra revelou-se ser "consumidor patológico de álcool ou alcoólico". Os familiares são a companhia mais habitual de quem ingere álcool, sendo o vinho (em setenta e três por cento dos casos) a bebida mais utilizada.
- Quase metade da amostra referiu existir na sua família alguém que ingeria álcool em demasia, sendo os pais os elementos mais frequentemente referidos. Mais de setenta doentes referiram nunca terem existido problemas familiares relacionados com o alcoolismo, mas dos entrevistados que nos responderam afirmativamente á questão, trinta e nove por cento alegaram ter sofrido agressões de índole física, psicológica ou em simultâneo.
As principais características da amostra, tanto pela sua dimensão, quer pela sua natureza, impedem-me de generalizar os resultados obtidos. Julgo no entanto que a não representatividade da amostra não invalida a importância dos resultados obtidos dado o carácter descritivo deste estudo; é de salientar que a investigação, no conjunto dos seus passos , tem sempre resultados úteis e significativos.
Verificou-se que a técnica descritiva foi a melhor forma de abordar a temática proposta. Pela utilização de um instrumento de dados como a entrevista orientada, foi possível iniciar o estudo em causa e tentar ir de encontro aos objectivos propostos. Para o tratamento dos dados recolhidos, utilizou-se uma metodologia essencialmente técnica, realizando-se uma análise descritiva. De igual forma, penso que os objectivos propostos foram atingidos, aumentando assim o meu grau de conhecimento.
Espera-se que este trabalho de investigação seja aproveitado ou utilizado da melhor forma possível por todos aqueles a que lhe tenham acesso, podendo desta forma unir esforços para combater este grande flagelo que assola a toda a nossa sociedade e que tantas vezes é precipitante de graves problemas familiares. 

4 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUCHARME, Francine – Álcool e Doenças Gastrenterológicas – Lisboa : Lusociência, 1998. ISBN 972 – 96166-3-3

FERNANDEZ, F. - Alcohol dependencia. Personalidade del alcohólico. Barcelona: Salvat Editores., 1988, 1988

FORTIN, Marie – Métodos de amostragem – O Processo de Investigação : da concepção á realização. Loures: Lusociência, 1999. ISBN : 972-8383–10-X.

FORTIN, Marie – Os objectivos de investigação e as suas questões ou hipóteses - O Processo de Investigação : da concepção á realização. Loures: Lusociência, 1999. ISBN : 972-8383–10-X.

JELLINEK, E.M. – The disease concept of alcoholism – New Haven, 1960

MANSO, Pires – Estatística descritiva e previsão. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 1996. ISBN: 972-9209-55-33.

MELLO, M,. Manual de Alcoologia para o clínico geral, Coimbra, Delagrange, 1988.

Resolução do Conselho de Ministros n.º 166/2000 - Plano de Acção Europeu sobre o Álcool (1992-1999 e 2000-2005)