Um Festival De Música Popular Com Duas Vencedoras
Publicado em 08 de abril de 2008 por Marcelo Cardoso
Foi em 1965, no 1º Festival da Canção Popular da TV Record, em São Paulo, que terminou com duas vencedoras dividindo o 1º lugar: Disparada, de Geraldo Vandré e Theo de Barros e A Banda, de Chico Buarque de Holanda.
Era época de um nacionalismo exacerbado resultante do golpe militar de 1964, quando a maioria da população não se conformava com as injustiças sociais que imperavam então na nossa Pátria, o que se refletia nos meios musicais e literários e nas lideranças intelectuais do nosso país, que reagiam com movimentos sociais que visavam melhorias para as camadas mais pobres da população.
Em Disparada, Geraldo Vandré faz uma maravilhosa comparação entre a exploração das classes sociais mais pobres pelas maiorias ricas e a exploração das boiadas pelos boiadeiros; entre as maneiras de se lidar com o gado e de se lidar com gente e a música, composta por Theo de Barros, complementou de forma perfeita os versos de Vandré, ficando a interpretação a cargo de Jair Rodrigues, então no auge da popularidade e que deu forma final muito bonita aos versos e à música.A canção foi ruidosamente aclamada pela facção mais politizada da platéia,que rivalizava em número e entusiasmo com os partidários de A Banda e, em vista disso, embora A Banda tivesse ganhado pelos votos dos jurados, a direção da Record resolveu considerar as duas concorrentes como empatadas em primeiro lugar, para evitar que, assim, pudesse haver um confronto entre os torcedores o que, de fato e, felizmente, não aconteceu.
Disparada – "Prepare o seu coração p'ras coisas que eu vou contar / Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão / Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar / Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar / E a morte o destino tudo, a morte o destino tudo / Estava fora de lugar, eu vivo p'ra consertar / Na boiada já fui boi, mas um dia me montei / Não por um motivo meu ou de quem comigo houvesse /Que qualquer querer tivesse, porém por necessidade / Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu / Boiadeiro muito tempo, laço firme, braço forte / Muito gado, muita gente pela vida segurei / Seguia como num sonho e boiadeiro era rei / Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo / E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando / As visões se clariando, até que um dia acordei / Então não pude seguir, valente, lugar tenente / E o dono de gado e gente, porque gado a gente marca / Tange, ferra, engorda e mata / Mas com gente é diferente / Se você não concordar não posso me desculpar / Não canto p'ra enganar, vou pegar minha viola / Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar / Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei / Não por mim nem por ninguém / Que juro comigo houvesse / Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu / Por qualquer coisa de seu, querer mais longe que eu / Mas o mundo foi rodando, nas patas do meu cavalo / E já que um dia montei, agora sou cavaleiro / Laço firme, braço forte, de um reino que não tem rei / Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei / Não por mim nem por ninguém / Que junto comigo houvesse / Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu / Por qualquer coisa de seu, querer mais longe que eu / Mas o mundo foi rodando, nas patas do meu cavalo / E já que um dia montei, agora sou cavaleiro / Laço firme, braço forte, de um reino que não tem rei !" ...
A Banda – (estribilho): "Estava à toa na vida, o meu amor me chamou / P'ra ver a banda passar cantando coisas de amor / A minha gente sofrida despediu-se da dor / P'ra ver a banda passar cantando coisas de amor / ...
O homem sério que contava dinheiro parou / O faroleiro que contava vantagem parou /A namorada que contava as estrelas /Parou para ver, ouvir e dar passagem / A moça triste que vivia calada sorriu / A rosa triste que vivia fechada se abriu / E a meninada toda se assanhou / P'ra ver a banda passar cantando coisas de amor /
( estribilho )
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou / Que ainda era moço p'ra sair no terraço e dançou / A moça feia debruçou na janela / Pensando que a banda tocava p'ra ela / A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu / A lua cheia que vivia escondida surgiu / Minha cidade toda se enfeitou / P'ra ver a banda passar cantando coisas de amor /
( estribilho )
Mas para meu desencanto o que era doce acabou / Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou / E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor / Depois da banda passar cantando coisas de amor".