UM ESTUDO SOBRE A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS COMO FERRAMENTA PARA CONCESSÃO DE EMPRÉSTIMO BANCÁRIO AS EMPRESAS AUTOR: ROMILDO JOSÉ FERNANDES CAVALCANTI ORIENTADOR: PAULO CEZAR FERREIRA DE SOUZA RESUMO As empresas para enfrentar a forte concorrência e aproveitar suas oportunidades de negócio necessitam de capital de giro. Como alternativa surge às linhas de crédito oferecidas pelos bancos comerciais. As instituições financeiras ao oferecer esses empréstimos buscam ter um conhecimento maior da empresa tomadora para tentar reduzir o risco de crédito. Uma eficiente análise econômico-financeira da empresa solicitante de crédito tem grande valia para êxito da operação, ou seja, o retorno do capital emprestado. Como parte fundamental para correta análise econômico-financeira está o uso das demonstrações financeiras para geração de informações relevantes para tomada de decisão de concessão de crédito bancário. O objetivo desse estudo foi analisar a relevância da análise das demonstrações contábeis como ferramenta fundamental para concessão de crédito. Para tanto foi utilizado o método dedutivo e a pesquisa bibliográfica, sendo examinados textos diversos sobre o assunto. Os resultados demonstraram que a ferramenta de análise de demonstrações contábeis é uma ferramenta essencial para a concessão de crédito. Palavras chave: Análise de Crédito; Crédito Bancário; Concessão de Crédito; Risco de Crédito; Análise das Demonstrações Contábeis. 1. INTRODUÇÃO As instituições financeiras como principais formentadoras de crédito concedem linhas de crédito às empresas para atender suas necessidades momentâneas de caixa, mas para obterem esses empréstimos as empresas tem que se adequar as políticas de crédito dessas instituições. Os bancos buscam ter um conhecimento maior da empresa tomadora, para que se tenha confiabilidade de emprestar com segurança e reduzir ao máximo o risco de crédito. O risco de crédito é a probabilidade de perda de um capital emprestado e seus encargos. Este é inerente à atividade bancária creditícia, não podendo, portanto, ser eliminado. Diante da impossibilidade de se eliminar o risco de crédito é efetuada a análise de crédito através da análise dos demonstrativos contábeis com o objetivo de obter maiores informações sobre o tomador e conhecer sua capacidade de pagamento. Este trabalho visou averiguar os critérios para a tomada de decisão das instituições financeiras no que tange à concessão de crédito bancário às empresas. Este estudo utilizou o método dedutivo e classifica-se como descritivo e quanto aos procedimentos metodológicos, foram utilizadas pesquisas bibliográficas. Nos resultados desta pesquisa foram consideradas à opinião de gerentes de políticas de crédito de uma instituição financeira e quanto a relevância das informações financeiras sobre os seus clientes na decisão de concessão de empréstimos. Em vista do exposto, o objetivo desse estudo foi analisar a relevância da análise das demonstrações contábeis como ferramenta fundamental para concessão de crédito. 2. CRÉDITO A palavra crédito está presente em nosso dia-a-dia e pode ter diversos significados, dependendo do contexto em que é utilizada. De maneira abrangente, o crédito pode ser definido como confiança. O crédito é a principal atividade de qualquer Instituição Financeira e se caracteriza pela ação de disponibilizar dinheiro aos seus clientes em troca da expectativa de pagamento futuro num prazo determinado. Crédito é todo ato de vontade ou disposição de alguém destacar ou ceder, temporariamente, parte de seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente, após decorrido o prazo fixado. O crédito visa, sobretudo, impulsionar o desenvolvimento econômico, por meio da ampliação das escalas e aceleração do processo produtivo. Com a tomada de crédito, o empresário pode realizar o investimento mesmo antes de produzir e vender seus produtos. O crédito pode fazer com que as empresas aumentem seu nível de atividade; estimular o consumo influenciado na demanda; cumprir uma função social ajudando as pessoas a obterem moradia, bens e até alimentos; facilitar a execução dos projetos para os quais as empresas não disponham de recursos próprios suficientes. A tudo isso, por outro lado, deve-se acrescentar que o crédito pode tornar empresas ou pessoas físicas altamente endividadas, assim como pode ser parte componente do processo inflacionário (SILVA, 1988:23). No caso das instituições bancárias, o empréstimo é sempre monetário e a transação ocorre entre o banco, que coloca à disposição do cliente um determinado valor monetário sob a forma de empréstimo ou financiamento, mediante uma promessa de pagamento em período futuro predeterminado pelo banco, e atrelado a uma taxa de juros previamente acordada entre as partes. 2.1. Concessão de Crédito A atividade de concessão de crédito baseia-se em informações e decisões. As decisões devem ser práticas, ou seja, claras e rápidas. Portanto, a política de crédito deve ser flexível, mutável ao longo do tempo e auxiliadora na concretização dos negócios. A política de crédito não deve se voltar ao risco excessivo em nome do aumento de lucratividade, por isso conduz ao campo da incerteza, em que não devem permanecer as operações de crédito. Devem, sim, apontar o grau de risco de cada perfil de clientes, para que o banco trabalhe dentro de um risco calculado. (MIURA; DAVI, 2000, p. 48). Dessa forma, o grande desafio do crédito bancário hoje é dimensionar e administrar o risco com segurança em cada uma das operações de crédito contratadas. A concessão do crédito implica lógica, bom senso e raciocínio. Implica a aceitação de riscos, tomando-se, no entanto, todos os cuidados para minimizá-los. Assim, a análise para a concessão do crédito deve: • Ser racional, focalizando as razões para se conceder um empréstimo, mas indicando, também, com maior cuidado, as razões para não concedê-lo; assim, serão minimizados os riscos. • Ser profissional, objetiva, clara, conclusiva e impessoal. • Possibilitar, entre as diversas soluções apresentadas, a escolha da mais factível e razoável. • Ser criteriosa, possibilitando uma boa proposta de crédito. Quanto melhor for a preparação, melhor será a proposta. • Considerar os pequenos detalhes, tendo-se o cuidado de relacioná-los com o todo. • Considerar que não existe análise de crédito que não resulte em uma decisão de crédito, isto é, a análise levará à concessão ou não do empréstimo. Também são efetuadas análises sobre a capacidade creditícia de um cliente, através de diretrizes tradicionais e subjetivas, os chamados 5 C’s do crédito: Caráter, Capacidade, Colateral, Capital e Condições. É dada maior importância aos dois primeiros C’s (Caráter e Capacidade), pois eles representam os requisitos fundamentais para concessão de crédito. Os outros três C’s (Colateral, Capital e Condições) são importantes para definição do crédito e tomada de decisão final. A análise por meio dos cincos Cs do crédito não produz uma decisão específica de aceitação ou rejeição e, portanto, seu uso requer a intervenção de um analista experimentado o estudo de pedidos e em decisões de concessão de crédito. A aplicação desse enfoque tende a garantir que os clientes da empresa paguem seus débitos, sem que sejam pressionados, dentro prazo de crédito estabelecido. (GITMAN, 2004, p. 521). 2.2. Risco O empréstimo, enquanto uma promessa de pagamento incide na incerteza de não ser cumprida caso o devedor não dispuser de recursos para satisfazer o pagamento na data acordada. “O risco é a medida quantitativa dessa incerteza“, ressalta Sanvicente (1981). O risco sempre estará presente em qualquer operação de crédito, pois sempre existe a possibilidade que eventos inesperados ou adversos possam inviabilizar o cumprimento da obrigação estabelecida. O risco assumido tem que ser calculado para evitar prejuízos decorrentes do não recebimento de uma operação de crédito que representará a perda do montante emprestado. O gerenciamento de risco de crédito é realizado através de modelos que estimam as perdas esperadas em um portfólio de crédito. A gestão de risco é uma das mais importantes áreas da administração dos bancos. Os principais riscos a que estão submetidas às instituições financeiras são: 2.3. Risco de Crédito Na determinação do risco de crédito são feitas avaliações de risco, e estas podem ser mais ou menos detalhadas em função do crédito em questão e o peso do mesmo em relação ao faturamento bruto do cliente. Os bancos são as principais instituições que oferecem créditos a seus clientes, e conhecê-los bem é uma das principais preocupações, pois é dessa maneira que é medida a necessidade de capital da empresa, a capacidade de pagamento, a necessidade de garantias, para minimizar as possíveis perdas de capital. O risco de crédito abrange vários riscos: 3. ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS A análise das demonstrações contábeis é uma técnica contábil que consiste na decomposição, comparação e interpretação das demonstrações contábeis. Para Matarazzo (2008 p.15), “as demonstrações financeiras fornecem uma série de dados sobre a empresa, de acordo com regras contábeis. A análise de balanços transforma dados em informações e será tanto mais eficientes quanto melhores informações produzir”. Para Assaf (1993. p. 143) “a análise de balanço é feita a partir das várias demonstrações contábeis apuradas pela empresa”. Segundo Iudicibus (2007, p.19) a análise das demonstrações contábeis pode ser compreendida como “a arte de saber extrair relações úteis, para o objetivo econômico que tivermos em mente, dos relatórios contábeis tradicionais e de suas extensões e detalhamentos, se for o caso”. Esta atividade é considerada uma arte, pois não existe um roteiro padronizado que leve sempre às mesmas conclusões. Em outras palavras a análise de demonstrações contábeis é a arte por meio do qual são analisadas e interpretadas as principais demonstrações financeiras de uma entidade, visando identificar pontos críticos e apresentar um escopo de prioridades para uma possível solução do problema. A partir destes conceitos é possível determinar o objetivo da análise das demonstrações contábeis que compreende o fornecimento de informações numéricas de dois ou mais períodos, de modo a auxiliar ou instrumentar os usuários internos e externos da empresa em conhecer melhor sua situação econômico-financeira ou para basear seus processos de tomadas de decisões (NEVES e VICECONTI, 2002). Para Neves e Viceconti (2002, p. 437) a análise pode ser conceituada como “o estudo da situação patrimonial da entidade, através da decomposição, comparação e interpretação do conteúdo das demonstrações contábeis, visando obter informações analíticas e precisas sobre a situação geral da empresa”. Segundo Brinckmann (2009), o objetivo da análise das demonstrações contábeis “consiste em extrair informações desses relatórios e torná-las úteis à tomada de decisões através de técnicas específicas e da própria intuição dirigida do analista por sua experiência e conhecimentos passados”. Para Matarazzo (2008, p. 15) “a análise de balanço objetiva a extração de informações das demonstrações financeiras para a tomada de decisão”. Neste mesmo raciocínio tem-se Silva (2004, p.64) considerando a análise como o “fornecimento de subsídios para tomada racional de decisão de concessão de créditos e decisão sobre investimentos, a partir de informações de boa qualidade”. Para Assaf (1993, p. 143) “a análise de balanços visa extrair informações sobre a posição passada, presente e futura de uma empresa”. São inúmeras as razões que levam a analisar os demonstrativos financeiros de uma empresa, dentre elas destacam-se o levantamento de informações sobre capacidade de pagamento, endividamento, imobilização e capacidade de geração futura de lucro e fluxos de caixa para cobrir investimentos, verificar tendências e fornecer informações a administração. Matarazzo (2008, p. 33) também discorre sobre usos e usuários da análise de demonstração contábil: Análise de balanços permite uma visão de estratégia e dos planos da empresa analisada; permite estimar o seu futuro, suas limitações e suas potencialidades. É de primordial importância, portanto, para todos que pretendem relacionar-se com uma empresa, quer fornecedores, financiadores, acionistas e até empregados. Por exemplo, a procura por um bom emprego deveria começar com a análise financeira da empresa. O que adianta um bom salário se as expectativas da empresa não são boas. A importância da análise de balanço é o acompanhamento constante dos indicadores escolhidos, e através deste acompanhamento e da tendência que irão evidenciar, teremos seguramente uma visão real das operações e do patrimônio empresarial. A análise das demonstrações contábeis deve ser baseada no raciocínio científico que define uma linha de obtenção de resultado. Esta metodologia consiste inicialmente em extrair os índices das demonstrações contábeis, ou seja, calculá-los e em seguida compará-los com índices padrões, isto é, com uma média setorial. Por conseguinte é necessário ponderar as diferentes informações para chegar a uma conclusão ou diagnóstico específico que irá influenciar as tomadas de decisões (MATARAZZO, 2008). A análise permite a identificação de aspectos científicos da contabilidade pela relação causa e efeito. Em outras palavras, ela é responsável por identificar as causas dos fenômenos contábeis e conseqüentemente possibilita interpretar os fatos. Sem análise, todo conhecimento é superficial, incompleto e destituído de clareza. As informações contábeis obtidas na análise possuem a finalidade de controle que almeja informar a gerência da empresa se a mesma está cumprindo e seguindo as políticas e planos traçados. Esta finalidade foca-se na questão liquidez empresarial. A segunda finalidade é o de planejamento, pelo qual as informações obtidas auxiliam não só a administração, mas também os stakeholders a definirem suas decisões (BLATT, 2001). Para Matarazzo (2008), “a análise de demonstrações contábeis é para os administradores um instrumento complementar para tomada de decisão, já que poderá fornecer subsídios importantes sobre a rentabilidade e liquidez da empresa em comparação com os balanços orçados”. Em suma, a importância da análise das demonstrações contábeis está na capacidade de identificar os problemas econômico-financeiros e patrimoniais da empresa e suas causas, fornecer subsídios que justifiquem decisões, identificar a potencialidades e perspectivas da empresa para o futuro. Nas empresas de fins lucrativos a análise é de grande importância gerencial, pois vislumbra o seu desempenho perante o mercado. Resumidamente, para os gestores as análises servem como um meio de acompanhar e avaliar as decisões tomadas, bem como para mensurar os resultados de suas políticas de investimentos e financiamento. Por elas é possível conhecer o retorno de investimentos, a rentabilidade de capital, a estrutura do capital, a rotação do ativo e o volume de dívidas. Em outras palavras ela permitir conhecer e desenvolver uma avaliação sobre o futuro da empresa, como, seu desempenho, sua capacidade de gerar lucros, posição prevista do caixa e crescimento de vendas (ASSAF, 2007). 3.1. Relatórios Contábeis A análise das demonstrações contábeis envolve um conjunto de demonstrações financeiras, entre as quais as mais utilizadas são o Balanço Patrimonial (aspecto econômico) e a Demonstração de Resultado do Exercício (aspecto financeiro). A linguagem utilizada pela análise de balanços deve ser a corrente, sem fatores que compliquem os usuários dos relatórios contábeis. O principal objetivo da análise das demonstrações financeiras é fornecer informações aos interessados sobre a real situação econômica e financeira da empresa, para garantir a tomada de decisão correta. São muitos os usuários que recorrem à análise das demonstrações financeiras para conhecer a real situação das empresas e cada um desses usuários possui um objetivo específico, dependendo dos fins a que se destinam, os principais são: Bancos; Clientes e Fornecedores; Concorrentes; Dirigentes e Governo. 3.2. Técnicas de Análise das Demonstrações Contábeis O analista deve aplicar nos demonstrativos às técnicas de análise que são métodos pelos quais são extraídos índices para melhor entender a situação patrimonial da entidade e fornecer uma rápida e segura opinião sobre a liberação ou não do crédito solicitado. Existem três tipos principais de Análise das Demonstrações: 3.2.1. Análise Horizontal A Análise Horizontal compara os saldos das contas do balanço atual com os respectivos saldos dos balanços anteriores. Tradicionalmente na análise horizontal toma-se o primeiro exercício como base 100% e se estabelece a evolução dos demais exercícios comparativamente a essa base inicial. Assim este conceito fundamenta-se na ideia de evolução histórica de cada item ao longo do período considerado. Sempre que possível deve ser empregada em conjunto com a análise vertical. A análise horizontal mostra a evolução de cada conta e ainda, pela comparação entre si, permite tirar conclusões sobre as evoluções da empresa e as possíveis tendências (MATARAZZO, 2008). Ressalta-se que a evolução tem conotação de histórico de cada conta e por isso mesmo, a evolução pode ser crescimento ou até redução. É calculada através da uma simples subtração dos valores de uma conta, do ano mais novo pelo mais antigo. O resultado é dividido pelo valor inicial e então, obtém-se a evolução ou retração da conta (PLATT NETO, 2009). 3.2.2. Análise Vertical Este tipo de análise consiste em estabelecer um item como base e a partir daí verificar quanto cada um dos demais itens representam em relação àquele escolhido como base. O cálculo do percentual que cada elemento ocupa em relação ao conjunto é realizado por meio de regra de três, em que o valor base é igualado a 100, sendo os demais calculados em relação a ele. Ela proporciona uma nítida visão de como se distribuem os investimentos na entidade. Resumidamente análise vertical é calculada através da divisão de uma conta pelo total do ativo, ou total de um subgrupo, pois tem como objetivo verificar quanto cada conta representa nos grupos e no total do ativo, passivo ou receita operacional líquida (PLATT NETO, 2009). 3.2.3. Método dos Quocientes Este método faz um estudo comparativo entre grupos de elementos das demonstrações financeiras por meio de índices, objetivando o conhecimento da relação entre cada um dos grupos do conjunto. Sua principal finalidade é permitir ao analista extrair tendências e comparar os quocientes com valores preestabelecidos. 3.3. As Demonstrações Contábeis na Concessão de Crédito A análise de demonstrativos contábeis é de fundamental importância no processo de concessão de crédito. Embora o limite de crédito seja decorrência de um somatório de fatores e não apenas de um número obtido com base nesse balanço. Para a análise de crédito geralmente as instituições financeiras solicitam aos clientes o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultado dos últimos três exercícios, ou dos últimos dois exercícios completos e balancete do exercício atual, além da relação de faturamento dos últimos doze meses. Após o recebimento das demonstrações contábeis para análise, o primeiro procedimento a ser realizado é a padronização, que tem por objetivo levar as peças contábeis a um padrão que atenda às diretrizes técnicas internas da instituição ou do profissional independente que esteja desenvolvendo a análise para atender a determinada finalidade, que neste caso se trata de análise de crédito. Desta forma procura-se reclassificar algumas contas, que além de atender as determinações da instituição propiciam ao analista consistência nos critérios, permitindo-lhe, efetuar a comparabilidade entre as diversas empresas de um mesmo ramo de atividade, localizadas em uma mesma região geográfica e com mesmo porte. O analista tem como responsabilidade profissional interpretar as informações disponíveis e emitir um parecer fundamentando sua opinião, cabendo ao mesmo assumir uma posição conservadora diante de situações duvidosas, isto é, quando as informações não forem suficientemente claras. Daí quanto mais meticuloso for o analista, maior segurança se pode ter no produto de seu trabalho. A instituição financeira segue basicamente os seguintes parâmetros de padronização: simplificação, comparabilidade, adequação aos objetivos da análise, precisão nas classificações das contas e descoberta de erros. Após a padronização das demonstrações o analista deve proceder a uma análise prévia das informações disponíveis. Uma visão panorâmica dos dados pode evidenciar a situação de crédito problemático e desequilíbrio financeiro por parte da empresa em análise. Alguns pontos merecem maior atenção por parte do analista de crédito: variações expressivas e mudanças significativas merecem uma apreciação com maior grau de meticulosidade, mas isto não quer dizer que a empresa não mereça o crédito. Um dos procedimentos para análise de empresas se faz através de índices econômico-financeiros que é o estudo comparativo entre grupos de elementos das demonstrações contábeis objetivando o conhecimento da relação entre cada um dos grupos. A análise dos índices de balanço fornece avaliações genéricas sobre diferentes aspectos da empresa em análise, sem descer a um nível maior de profundidade. No estudo dos índices financeiros três questões impreterivelmente devem ser respondidas: como interpretar um índice financeiro, quantos índices financeiros devem ser calculados e qual a importância que deve receber cada um dos índices financeiros. Como medida relativa de grandeza, o índice permite que em uma mesma empresa se possa compará-lo ano a ano para observar sua tendência, ou seu comportamento. Adicionalmente, é possível comparar em determinado momento o índice relativo a outras empresas de mesma atividade e assim verificar como a empresa se encontra em relação a seus principais concorrentes. A questão sobre a quantidade de índices a serem utilizados na análise é muito importante, visto que uma grande quantidade de índices pode confundir o analista. Por outro lado uma pequena quantidade pode não ser suficiente para obtenção de conclusões a cerca da saúde financeira da empresa. Neste contexto vale destacar que com a experiência adquirida o analista tende a identificar os pontos mais vulneráveis da empresa. É evidente que a quantidade de índices relaciona-se aos objetivos da própria análise. Para análise de crédito em bancos um número de índices entre 4 e 20 seja suficiente, devido as planilhas de análise apresentarem percentuais de análise vertical, que também são indicadores. Apesar da contribuição fornecida pelos índices financeiros, é importante destacar que os mesmos normalmente se referem ao passado, quando para o analista o mais importante é saber o presente e ter uma expectativa do futuro. A situação financeira é evidenciada pelos índices de estrutura de capitais e de liquidez e a situação econômica é evidenciada por meio dos índices de rentabilidade. Os índices de estrutura de capitais evidenciam as grandes linhas de decisões financeiras em termos de aplicação e obtenção de recursos. Na participação de capitais de terceiros retrata-se a dependência da empresa em relação aos recursos externos. Neste caso o objetivo é avaliar o risco da empresa, já que um índice alto diminui a liberdade de decisão da empresa. O passo seguinte é determinar qual é a composição dessas dívidas. Uma situação é ter dívidas de curto prazo que precisam ser pagas imediatamente, outra situação é possuir dívidas de longo prazo, pois aí a empresa possui tempo para gerar recursos para pagá-las. No que tange a imobilização do PL, as aplicações de recursos do PL são mutuamente exclusivas do ativo permanente e do ativo circulante. Quanto mais a empresa investir no permanente, menos recursos próprios sobrarão para o circulante e, em consequência, maior será a dependência de capitais de terceiros. O ideal é possuir recursos suficientes para cobrir o permanente e ainda restar uma parcela para cobrir o circulante. Mas como os elementos do ativo permanente possuem vida útil que pode variar de dois a cinquenta anos, assim não é necessário financiar todo o imobilizado com recursos próprios. É perfeitamente possível utilizar recursos de longo prazo, desde que o prazo seja compatível com o de duração do imobilizado ou então que o prazo seja suficiente para a empresa gerar recursos capazes de resgatar as dívidas de longo prazo. Daí a lógica de determinar a imobilização de recursos não correntes. Os índices de liquidez evidenciam a base da situação financeira da empresa, ou seja, o grau de solvência em decorrência ou não de solidez financeira que garanta o pagamento dos compromissos assumidos com terceiros. A liquidez deve ser analisada em conjunto com as rotações de ativos e passivos e com as margens de rentabilidade da empresa, porquanto tanto a liquidez quanto a rentabilidade são relacionáveis entre empresas de um mesmo setor econômico. Enquanto a liquidez corrente, imediata e seca revelam a capacidade de a empresa honrar seus compromissos no curto prazo, a liquidez geral expressa uma condição de solvência, ou seja, verifica se a empresa for extinta a capacidade que ela tem de liquidar todas as suas obrigações. Os índices de liquidez completam-se entre si, são parâmetros cuja observação é necessária, mas não suficiente para concluir sobre a robustez financeira da empresa. Os índices de rentabilidade servem para medir a capacidade econômica da empresa, ou seja, o grau de êxito econômico obtido pelo capital que a empresa investiu. Mostram qual a rentabilidade dos capitais investidos. Um dos indicadores de rentabilidade da empresa é o giro dos ativos. O sucesso de uma empresa depende fundamentalmente de um volume de vendas adequado e este volume tem relação direta com o montante dos investimentos. Já a margem líquida compara o lucro líquido em relação as vendas líquidas do período, fornecendo o percentual de lucro que a empresa está obtendo em relação a seu faturamento. A rentabilidade dos negócios adicionada à boa administração dos recursos financeiros da empresa são responsáveis pelo retorno do capital investido pelos acionistas/sócios. A rentabilidade do ativo é uma medida de potencial de geração de lucro da empresa para poder capitalizar-se e está diretamente ligada ao giro do ativo e à margem líquida. A rentabilidade do PL determina-se multiplicando-se a rentabilidade do ativo pela alavancagem que expressa o quanto do ativo é financiado com recursos próprios. Em outras palavras, a alavancagem representa o retorno do investimento para o acionista em relação a rentabilidade do negócio. Ao determinar a rentabilidade do PL verifica-se qual o prêmio que os acionistas ou proprietários da empresa estão obtendo em relação aos seus investimentos efetuados no empreendimento. Portanto este retorno resulta da combinação de lucratividade, qualidade e eficiência da utilização do ativo e da estratégia de financiamento do ativo. A metodologia mais utilizada para análise dos indicadores econômico-financeiros refere-se à comparação dos indicadores obtidos para uma empresa com os dados padrões de empresas que atuam no mesmo segmento, na mesma região da empresa sob análise e que possuam porte semelhante. Uma empresa como uma entidade socioeconômica estabelecida em determinada localidade estará sujeita às condições dessa região. Assim fatores como: clima, costumes, política, crenças e valores, mais os recursos naturais, seguramente afetam a economia local e, por conseguinte a estrutura financeira da empresa. O segmento de atuação é, sem dúvida, um dos fatores que maior influência irá exercer na vida da empresa, determinando seu ciclo financeiro, o tipo de estrutura física, tecnológica e de administração. Cabe destacar que dentro de um mesmo sub-ramo e de uma mesma região geográfica os índices podem ser diferentes em decorrência do porte das empresas. Comparar, por exemplo, uma pequena mercearia com uma rede de supermercados, apenas devido a suas atividades serem comercialização de alimentos e produtos de limpeza, seguramente não é uma forma adequada de estabelecer padrões de comparação. De acordo com a atividade desenvolvida por uma empresa, ela pode perfeitamente operar com liquidez corrente abaixo de “um”. Para isto é necessário que o passivo circulante se renove constantemente. Essa renovação é praticamente automática no que se refere aos créditos de funcionamento como, salários, fornecedores, encargos sociais, pois essas obrigações decorrem das próprias operações. Entretanto para os empréstimos bancários nada garante a renovação. Para consegui-la a empresa é obrigada a manter reciprocidade. A princípio o analista deve definir com clareza se a empresa atua em um segmento em que as atividades são sazonais ou são uniformemente distribuídas ao longo do tempo. Se for sazonal, é importante a utilização de balancetes intermediários para se certificar em que momento a empresa fecha seu balanço anual, no pico de necessidades financeiras ou no ponto de baixa destas necessidades. Dogmaticamente, o prazo de financiamento deve equiparar-se ao prazo de conversão dos ativos que estão sendo financiados. 3.5. O capital de giro na análise de crédito de curto prazo Na administração financeira o capital de giro refere-se aos ativos correntes que constituem o capital da empresa que circula até transformar-se em dinheiro dentro de um ciclo de operações. Mas é importante que se diferencie a expressão capital de giro, sinônimo de ativo circulante, da expressão capital de giro líquido que é definido como a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante. Em instituições financeiras o capital de giro é tratado como um produto relacionado a um empréstimo de curto prazo. Para efeitos de análise de crédito, importa saber se o capital de giro da empresa em questão é suficiente ou não, isto é, ponderar se ela é capaz de satisfazer apropriadamente as obrigações com seus emprestadores nos devidos prazos. Afinal, o balanço patrimonial espelha a situação da empresa em um determinado momento, não indicando que ele se mantenha sempre na mesma condição. É preciso, pois, ir em frente nas ponderações e estudos antes de tecnicamente, chegar a uma conclusão sobre a decisão de crédito. Basicamente a tomada de recursos por uma empresa para atender as suas necessidades de giro, decorre de seu nível de capitalização, de seu ciclo financeiro e de sua capacidade de geração operacional de caixa. A necessidade de capital de giro (NCG) é a chave para a administração financeira de uma empresa, não apenas servindo como ponto de vista de análise de caixa, mas também, de estratégias de financiamento, crescimento e lucratividade. Na condição de analista de crédito, é necessário se conhecer as atividades dos clientes para melhor entender as necessidades de recursos e se proteger frente aos riscos decorrentes das operações de crédito. Na grande maioria os bancos operam com clientes atuantes em vários segmentos da atividade econômica. As necessidades normais de giro de uma empresa são decorrência de seu ciclo financeiro e de seu nível de atividade. Quando o capital de giro próprio não é suficiente para financiar as necessidades líquidas de capital de giro a empresa recorre a empréstimos de curto prazo ou desconta duplicatas ou ainda notas promissórias. Os chamados limites rotativos também são adequados para satisfazer tais necessidades, as quais devem ter um caráter ocasional. Normalmente, estes empréstimos de curto prazo devem ser pagos com caixa obtido a partir da realização de ativos circulantes. As atividades de muitas empresas apresentam características sazonais que afetam suas necessidades de capital de giro, quanto às épocas, aos volumes e as finalidades desses recursos. Os empréstimos para atender as atividades sazonais devem ser pagos com caixa obtido pela realização natural dos ativos circulantes. Há situações em que determinadas empresas recebem encomendas para produção de bens, cujos volumes excedem os níveis habituais de produção, demandando uma necessidade especial de recursos para financiar o incremento na NCG. Nesse caso a estruturação do empréstimo requer a compreensão da forma de operação da empresa e do impacto da demanda especial na NCG da empresa. Também nessa situação, o empréstimo deve ser pago com caixa decorrente da realização natural dos ativos circulantes. Em alguns casos ocorre a deficiência permanente de capital de giro caracterizada pela existência de um hiato permanente entre o CPL e a NCG. Neste caso, o melhor é um empréstimo por prazo longo suficiente para compatibilizá-lo com a capacidade de pagamento da empresa. 4. CONCLUSÃO Com a aplicação de técnicas de análise é possível a elaboração de relatórios que traduzam a situação econômico-financeira da empresa, podendo, assim, a tomada de decisão quanto à concessão de crédito ser mais segura. Não há um modelo padrão ou um modelo ideal de técnicas de análise e assim quanto maior a quantidade e a qualidade das informações maiores serão os subsídios para que os analistas de crédito possam avaliar e tomar a melhor decisão. A forma de proceder a análise das demonstrações contábeis para concessão de crédito pode ser realizada através da análise horizontal e vertical do Balanço Patrimonial e da Demonstração de Resultado do Exercício. Outra forma de análise das informações se dá através de índices financeiros e comparação destes com os índices padrões das demais empresas que atuam no mesmo segmento. É dever do analista de crédito conhecer e verificar os índices mais importantes para calcular e proceder a referida análise. Os índices por si só não geram uma boa análise financeira. Apenas a sua combinação com uma análise minuciosa da evolução e composição das contas de maior relevância das demonstrações contábeis podem gerar uma análise de maior conteúdo. Sobretudo, é importante ter em mente que não há fórmulas mágicas nem solução pré-fabricada na análise de crédito. A análise de crédito é uma atividade com forte exigência pessoal e dinâmica. Em vista do exposto pode-se concluir que a análise das demonstrações contábeis é uma ferramenta fundamental para concessão de crédito por parte dos bancos, ainda que possua pequenas deficiências, mas é imprescindível para este tipo de decisão. REFERÊNCIAS ASSAF NETO. Alexandre. 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