Um caminho para compreender a aprendizagem da Geração Z 

Telmo Farias de Souza[1] 

Kelen Conrado de Souza Santos[2]

RESUMO 

Este artigo procura demonstrar, através da pesquisa bibliográfica e na internet, estudo das gerações, desde a Baby Boomers até a Geração Z como estas foram caracterizadas em um determinado contexto. Há uma atenção direcionada para o público adolescente, de como acontece sua aprendizagem em seus aspectos biológicos intelectuais e sociais e como isto se aplica nos adolescentes da Geração Z. A partir disso, estuda-se alguns meios para compreender de que forma os indivíduos estão aprendendo no século XXI, uma vez que existe muitas dúvidas no campo da educação de como trabalhar com essa nova geração rodeada de informações nas diversas mídias disponíveis.  A classe que primeiro tem o contato com esses indivíduos, antes das empresas, são a dos educadores e estes merecem um olhar diferenciado, não um olhar de cobrança, pois a complexidade dessa nova geração exige muito mais do que estudos, exige um aprendizado prático, onde as soluções virão no dia-a-dia. A geração Z não pode ser rotulada como  uma geração anormal, pois houve um caminho onde vários fatores foram se atrelando até a virtualidade  se concretizar. Talvez o principal papel da educação hoje, seja motivar os educandos a perceber que atrás do “ser virtual” existe um “ser Humano” de carne e osso e que precisa de contato humano para satisfazer aquilo que tanto procura e não encontra no “mundo virtual”.

Palavras-chave: Geração Z. Internet. Adolescência. Aprendizagem.

INTRODUÇÃO

 

            O presente artigo apresentará um estudo sobre a Geração Z e suas formas de aprendizagem. E para isso, é preciso resgatar um pouco o que aconteceu em outras gerações para entender o contexto que se insere a atual geração. Em um ambiente de aprendizagem como a escola, muitos fatores são vivenciados, levando em consideração que a escola talvez seja um dos únicos mecanismos que contradiz o ambiente que esses indivíduos estão vivendo.

            Estabelecendo  ligações entre gerações, este estudo procura entender o que se construiu em outros contextos, as mudanças que ocorreram e de que forma isto se reflete nas gerações posteriores. Buscando um entendimento no sentido de descobrir como acontece a aprendizagem na geração Z e de que maneira trabalhar com estes educandos na escola.

            Existe muitas dúvidas sobre os adolescentes da atualidade, há profissionais da educação querendo mudar de carreira por não conseguir compreender o que está se passando com esses indivíduos. É indubitável que estude-se meios para entender como estes indivíduos estão aprendendo e de que maneira conduzir professores e alunos - ambos de gerações diferentes – para que a educação faça o seu papel de contradição a sociedade que está a cada dia mais consumista.

            Neste artigo, será feito um estudo, com a ajuda da História, a partir da geração Baby Boomers até a Geração Z, destacando suas principais características e mudanças. A cada geração, os adolescentes sempre são importantes vestígios para compreendê-las, por isso é dedicada uma busca para compreender a adolescência e como se estabelece a aprendizagem dos adolescentes na geração Y e Z. Quando se fala em aprendizagem, é indubitável a presença dos educadores, pois estes é que terão a incumbência de estar a frente dessa geração e de que forma trabalhar e buscar soluções a complexidade que se estabelece nos educandos.

 
   

 

Geração Baby Boomers

            De 28 de julho de 1914 a 1945, períodos que englobaram a Primeira e Segunda Guerra Mundial, o mundo perdeu aproximadamente mais de 65.000.000 (sessenta e cinco milhões) de pessoas. Praticamente todos os países do globo envolveram-se nesses conflitos. Essas duas guerras foram assustadoras, uma vez que, com a forte industrialização iniciada no século XIX, os conflitos passaram a ser mais cruéis e o ser humano provou ter capacidade de se auto destruir.

            O Estado de tensão vivido neste período, trouxe instabilidade em vários aspectos da sociedade como na economia, política, família, etc. Na Europa, onde praticamente todos os conflitos aconteceram, viu-se esgotada, destruída, com dificuldades em todos os setores, assim como alguns países da Ásia e África. Blainey descreve o fim da II Guerra Mundial:

A destruição de casas, escola, igrejas, sinagogas, estradas, pontes, ferrovias, portos, fábricas, escritórios, aviões, navios, bem como outros equipamentos de uso militar em tantos países rivalizava, em seu total, com a devastação causada por todos os desastres naturais ao longo do século anterior. A capacidade global de produzir alimentos a curto prazo fora reduzida, uma vez que muitas terras próprias para cultivo estavam danificadas, animais de criação haviam sido mortos e moinhos de farinha, cervejarias e panificadoras estavam em destroços. A comida continuou escassa por muito tempo após o fim da guerra. (BLAINEY, 2010, p.166).

            Países desenvolvidos, que exibiam-se pela Industrialização e economia acelerada, agora estavam escassos de produtos básicos e suas estruturas totalmente danificadas. Ao fim da II Guerra Mundial, vencedores e derrotados tinham a mesma expressão. O mundo foi derrotado, homens, mulheres e crianças morreram em ambos os lados. Porém, Estados Unidos e União Soviética saíram como os mais beneficiados e ajudaram a deixar o mundo em estado de alerta, pois se só em meio século ocorreu duas grandes Guerras, não era de estranhar uma terceira em um pequeno espaço de tempo.

            Ao mesmo tempo em que ocorriam especulações em todo o globo, a partir de 1946, uma nova geração estava “nascendo” para substituir a geração “tradicionalista”, que são os “baby boomers”. Esta geração está elencada com o desejo pela paz, para trabalhar pela paz. É a geração conhecida como “filhos da Segunda Guerra Mundial” que abrange um período aproximado entre os anos de 1946 e 1964.

             O que mais caracteriza esta geração é a preocupação com um padrão de vida estável, quer usar o passado como um aprendizado e não repetir as atrocidades acontecidas. Além de serem persistentes no que querem, procuram qualidade em produtos, educação, além de serem conscientes nas decisões.

 

Geração X

 

            Já os filhos da geração baby boomers, são conhecidos como Geração X, que englobam os nascidos entre os anos de 1960 e final de 1970, aproximadamente. Esta geração evidencia algumas mudanças significativas na sociedade. Época em que o mundo vivia a Guerra Fria – expressão criada pelo norte-americano Bernard Baruch, em 1947, mudanças na Igreja Católica com o Concílio Vaticano II, 1961-1965. Transformações culturais, principalmente na música com o rock and roll, países da América do Sul vivendo ditaduras militares, inclusive o Brasil. Esta geração é conhecida por causar uma quebra com as gerações que as antecederam.

            Geoffrey Blainey resume bem esta época:

Beatles, Rolling Stones e a guitarra de Bob Dylan foram os pioneiros dos palcos. Os sinais de diferenças de opinião acentuaram-se. Os hippies apareceram. O álcool e outras drogas, inclusive a heroína, invadiram a atmosfera. A contracultura ficava cada vez mais contra. O envolvimento do Estados Unidos na Guerra do Vietnã crescia e muitos jovens diziam não ao recrutamento. (BLAINEY, 2010, p. 247).

 
   

            Alguns conceitos que antes eram inquestionáveis, agora já seriam questionados e até confrontados; como a família, questão da mulher na sociedade, a procura por uma liberdade física e mental.

 

Geração Y

 

            Bancos com vários funcionários, barulhos de máquinas de escrever em cada empresa que se chegava, cartas nos correios, reprodução de textos em mimeógrafos, a espera de um final de ano para rever os parentes que não se tinha contato a tempos. Essas são algumas coisas que acabaram perdendo espaço na geração conhecida como Geração Y.

            Não tem como se medir o tempo exato de cada geração, o que se faz, são meios para tentar entender as transições sofridas em determinados momentos. As pessoas que nasceram entre os anos 80 e final dos anos 90, são os que se enquadram nesta geração, porém, é claro que a forma de pensar e agir se difere de indivíduo para indivíduo, por conseguinte é possível haver “representantes” dos baby boomers totalmente inseridos na Geração X ou Y e vice-versa.

            A geração Y marca um grande “aceleramento” das informações e da tecnologia. Em gerações anteriores como a tradicionalista e a geração Baby Boomers, objetos demorariam vários anos para fazer parte de um museu, já os “objetos” produzidos na geração Y, se tiverem sorte, ficam por cerca cinco ou 10 anos e depois já são depositados, isso se não tiverem-se “dissolvidos” neste período.

 

Geração Z

 

            Outra geração que já é considerada rodeada de meios virtuais, os “nativos virtuais” que se globalizam com mais facilidade é a geração Z, que começa aproximadamente no final do século XX. Existe uma certa incerteza sobre a chamada geração Z, porém esta pode estar marcando o início das gerações rápidas, ou seja, se antes, mediam-se as gerações em cerca de 25 (vinte e cinco) anos, hoje esta “medida” já está se compactando entre 10 (dez) e 15 (quinze) anos. Esta geração é altamente marcada pela grande transformação dos “grupos” que agora se reúnem em redes sociais como o orkut, twuitter, facebook etc.

            Para muitos representantes da Geração Z, é inimaginável um mundo sem a tecnologia avançada que hoje é realidade. Uma geração que nasce no colo, caminha em caminhador, anda de automóvel no bebê conforto, quer um carrinho de bateria para não precisar pedalar e quando descobre a “beleza” da Internet, só quer “surfar”.

Adolescência

 

            A adolescência talvez seja a fase mais afetada pelas mudanças de gerações, é uma fase onde ocorrem grandes transformações, tanto no âmbito social, físico e mental. É comum a dificuldade que os pais encontram de entrar em consenso com os adolescentes quando chega esta fase.

            O cérebro de um adolescente passa por várias transformações nesta etapa da vida. Isso afeta as relações familiares, por vezes, o isolamento, a necessidade de ser diferente, provocando estranhamento e até conflitos no âmbito onde se vive.

            Esta etapa da vida, além de ser uma mudança biológica, também sofre influências do contexto social. Gostar de ficar isolado, fazer um corte de cabelo diferente, usar roupas que saem totalmente do padrão estabelecido, são algumas características que se vêem nos adolescentes em geral.

            A música, por exemplo, exerce uma grande influência, segundo Cloutier e Drapeau, “... a música pode contribuir para o desenvolvimento da identidade pessoal, a  adaptação ao estresse, a regulação emocional e a atualização pessoal” (CLOUTIER, DRAPEAU, 2012, p.27 e 28), pode servir como um refúgio, uma maneira de sentir-se inserido em um grupo.

            Assim como a música, outros mecanismos estão presentes na vida dos jovens, principalmente a partir da segunda metade do século XX e início do século XXI, como a televisão, motocicletas, drogas, internet. Principalmente por se tratar de mecanismos que ajudam a “unir” determinados fatores que encaixam  o indivíduo num contexto de consumo. Segundo  Cloutier e Drapeau, “O retrato dos atuais adolescentes está certamente imbuído pelo que se tornou a “religião universal” dos países desenvolvidos: o consumo.” (CLOUTIER, DRAPEAU, 2012, p. 25).

            Com esse consumo que se faz pensar, onde, graças a redenção da internet em praticamente todo o mundo, os adolescentes são um dos principais alvos de propagandas, em que informações são passadas sem o tempo de estes questionarem um determinado produto. É nesse contexto que estão inseridos os adolescentes do século XXI, como eles estão aprendendo? As informações que se multiplicaram em poucos anos ajudam os jovens a aprenderem melhor?

 

O adolescente e a inteligência

 

            Essas mudanças que acontecem  nesses indivíduos, não são por que eles são frágeis e ingênuos, mas sim, porque sua inteligência está se transformando.  Para Piaget, citado por Cloutier e Drapeau: “O conhecimento é uma construção que resulta da interação do indivíduo com o meio em que ele vive. Assim, cada ato nosso depende do equilíbrio entre aquilo que nós somos e aquilo que o nosso meio é.” (CLOUTIER, DRAPEAU, 2012, p. 54).

            Nisto consiste dizer que o ser adolescente nos anos de 1940 possui diferenças significativas do adolescente dos anos 2000, por exemplo. Para Piaget, a fase da adolescência  se estabelece no estágio da inteligência formal, a partir dos 12 anos de idade. Segundo Balestra, com base em Piaget, enfatiza: “Adquirindo a capacidade de representar mentalmente surge a possibilidade de deslocamento da ação para a utilização das percepções.  (BALESTRA, 2007. p. 74).

            É a fase onde o indivíduo tende a entender a abstração formal. Porém, isto acontece quando as outras fases aconteceram, em torno das etapas previstas por Piaget que são: sensório motora, pré-operatória, operatória concreta e inteligência formal. Isto não quer dizer que essas fazes aconteçam de forma linear. Balestra destaca: “No período das operações formais, a partir dos 11-12 anos, o conhecimento ultrapassa o real, o que possibilita à criança operar mentalmente sem a mediação do concreto.(BALESTRA, 2007. p. 74).

            Nesse momento, o indivíduo passa a descartar a presença concreta de objetos para fazer deduções de forma abstrata. Nessa fase, segundo Balestra, o adolescente passa a ser o indivíduo que interage, ou seja,  não dá só respostas ou recebe as mesmas. É importante destacar que essas etapas não acontecem de forma precisa, uma vez que isso depende de vários aspectos para se perceber essas mudanças no adolescente.

 

Aprendizado na Geração Z

 

            Já sabe-se que a Geração Y é a geração que faz parte de uma certa migração tecnológica. No Brasil, especificamente, no final dos anos 80 estamos vivendo o fim da ditadura militar. Os jovens desta geração “derrubaram” o presidente Fernando Collor em 1992, com grande apoio da mídia. É importante salientar que este processo já mostra um engajamento destes através das mídias da época.

            A geração Z é considerada nativa das atuais tecnologias, estes, na sua maioria, não imaginam o mundo sem o meio virtual. Desta forma, a maneira de se expressar está além das expressões do corpo, pois o comunicar-se está em grande parte nas redes sociais. Assumir um estilo de perfil pode mascarar o que realmente se é, a ilusão de ter 700 amigos, quando na verdade pode haver uma grande dificuldade em ter uma amizade verdadeira.

            As pesquisas que por décadas eram horas à fio em uma biblioteca, hoje podem exemplificar-se digitando algumas palavras no google, bastando “copiar e colar”. Sobre essas mudanças, Castanha e Castro salientam:

... muitas mudanças ocorreram: as informações e o conhecimento historicamente construídos estão disponíveis com muita facilidade e a quase todas as pessoas, basta um clique e podemos ter em mãos todas as informações de que necessitamos. Os nossos jovens vivem neste mundo imediato, sempre conectados, obtendo as informações de que precisam a partir do uso dos diferentes recursos tecnológicos e do acesso aos meios de comunicação. (CASTANHA E CASTRO, 2010. p. 29.)

            Isso não quer dizer que esses indivíduos aprendam com isso. Há uma ilusão em que, ao copiar e colar, ganha-se mais tempo para fazer o que realmente interessa. Fica aí estabelecido um grande perigo rondando os estudantes, pois uma vez achando que se ganha tempo, talvez está-se desperdiçando grandes oportunidades de aproveitar essas tecnologias para adquirir conhecimento. Estão confiando ao computador informações que o cérebro humano poderia reter.

            Várias questões passam a ser pertinentes nesse contexto; por exemplo: leituras longas estão cada vez mais difíceis, foco em um determinado assunto, há uma dificuldade em fazer o que antes era rotina como resumos ou questionários com perguntas complexas. Porém, esses indivíduos da geração Z conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo, como manipular o celular, olhar o facebook assim como o e-mail, olhar filmes e abrir várias “abas” na Internet. Essas características não são exclusividades somente dessa geração, uma vez que houve um caminho que foi possibilitando para essa multitarefa.

            Buscando uma ajuda da História, sabemos que existe alguns fatos que estabeleceram os “tempos” da História, como a História Antiga, Idade Média, Moderna e contemporânea, porém vários historiadores afirmam que a História não é assim, pois o processo de mudança sempre foi lento e as características transformavam-se em décadas. Nas gerações, a leitura tem de ser similar, se na atualidade temos crianças e jovens multitarefas também é resultado de um longo processo.

            Quando em meados dos anos 60 e 70 a televisão era um artigo de luxo, só o “chefe” da casa poderia ligar e desligar com horários determinados. Já em meados dos anos 80 esses adolescentes e jovens das décadas anteriores foram mais liberais com seus filhos, às vezes até incentivando crianças a passar horas em frente à televisão e o artigo de luxo passa a ser o vídeo-game e mais tarde o alquimen. O que tem que ser priorizado neste sentido, é a forma que a família foi se “abrindo”, dando cada vez menos limites, isto se dá também pela grande influência das mídias cada vez mais globalizadas. Ao longo dos anos vemos como a aprendizagem também muda, o jeito, o modo, o método das crianças e adolescentes aprenderem mudaram com o tempo.

Se um estudante do século XX entrasse nas escolas de hoje, se espantaria com o comportamento apresentado pelos seus colegas e com a quantidade de equipamentos eletrônicos que cada um deles traz em suas mochilas. Mas, com pouca possibilidade de erro, não teria nenhum espanto ao entrar em uma sala de aula e encontrar: lousas, mesas enfileiradas, professor à frente da sala; esta cena lhe seria absolutamente familiar. (CASTANHA, CASTRO, 2012, p.29 e 30.)

            A citação acima nos remete a muitas hipóteses, uma vez que as modificações são de certa forma gritantes no que diz respeito aos alunos.  O acesso a vários aparelhos, internet, consegue transportar o indivíduo ao mundo virtual. Sabemos que o senso comum ganha muito espaço no que diz respeito ao fato de os alunos estarem a cada dia que passa sem foco, quando em outras gerações já sabiam o que queriam “desde cedo”.

            Castanha e Castro (2012) também criticam a organização escolar do século XXI, visto que a estrutura, principalmente física continua a mesma. Ou seja, podemos indagar que há uma escola que não atenda a esse novo processo tecnológico que se expandiu rapidamente nos últimos 20 (vinte) anos do século XX e início do século XXI. Há de termos um grande cuidado ao que se refere à organização da escola para atender essas novas tecnologias, porque quando a escola se articula e começa um caminho de mudanças, como um laboratório de informática, pode acabar esbarrando na falta de manutenção, por exemplo.

            Não basta mudarmos a estrutura física da sala de aula, colando (como exemplo) o professor não mais a frente dos alunos, enchendo de computadores com acesso a internet, e percebermos que os educandos ficam nas redes sociais e ou jogos, encarando o professor como um indivíduo a mais no ambiente. Já é quase inconsciente pensarmos que deve haver um monitoramento para que não seja perdido o foco. Então cabe uma indagação: Como pode um professor monitorar uma turma com 30 (trinta) alunos, quando estes estão nos computadores?

 

Professores e a Geração Z

            Sabemos que o papel do professor é motivar, inovar e ajudar os seus alunos a participarem de forma autônoma no processo educativo. O que não pode ser confundido em “nadar a favor da maré”, os educadores têm a função de sempre se atualizar, porém de forma que tudo o que foi construído não seja perdido. “Manias” que eram comuns na escola tradicional, não devem ser repetidas, porém existe a necessidade de ajudar os educandos a se encantarem pela leitura profunda e não apenas a uma leitura superficial que logo será descartada.

            Paulo Freire salienta que não se pode ser professor “... sem me pôr diante dos alunos, sem revelar com facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar politicamente.”(FREIRE, 1996, p. 96). Ser educador no contexto atual, evidencia que a prática pedagógica precisa de uma aplicabilidade de forma a haver uma dinâmica educacional no sentido de que haja respeito mútuo. O que Paulo Freire quer mostrar é a necessidade de o professor ser autônomo e transparente, uma vez que também se busca isto no aluno.

 

Geração Z: como trabalhar?

            Como proceder com essa nova geração nas salas de aula é, indubitavelmente, uma das grandes inquietações dos educadores. É importante lembrar que não existe um aluno “ideal” ou um professor “ideal”, e sim seres humanos que cultivam suas diferenças dia após dia. Existe um certo constrangimento das gerações Baby Boomers e X, pois como a geração Z já é considerada nativa das inovações tecnológicas, pode ficar um sentimento de impotência por parte dos professores que são dessas gerações anteriores para a atual.

            E como trabalhar com essas crianças, adolescentes e jovens acaba sendo uma busca constante por parte dos professores e daqueles que assumem uma responsabilidade pelo aprendizado dos educandos. Assim como nenhuma teoria tem uma solução que satisfaça por completo os problemas da educação, assim também é com os alunos do século XXI. O que se pode tentar são usar mecanismos e suportes que ajudem os profissionais da educação a trabalharem com os seus alunos.

            É de extrema importância destacar que na atualidade o campo da psicopedagogia pode ser um grande suporte para os profissionais da educação, uma vez que, a psicopedagogia tem um “contato” mais direto e individual com o indivíduo e ou com um determinado grupo. Destacando o trabalho da psicopedagogia como enfrentando as angústias frente a frente, porque apenas fazer formações continuadas para professores acaba sendo insuficiente, visto que os mesmos não têm o privilégio de ter um contato mais direto e individual com cada aluno e uma dedicação com determinados grupos.

            A Psicopedagogia, além de ser um importante mecanismo para as instituições e aos educandos, também pode ajudar no sentido de fazer a ponte entre o indivíduo, escola e família, sendo talvez uma das grandes dificuldades encontradas hoje nas instituições. Segundo Oliveira:

Ao considerar o processo de aprendizagem como resultante de uma construção que envolve as relações do sujeito que aprende, nos vários contextos em que está inserido, a psicopedagogia não pode deixar de se preocupar com o processo relacional que se estabelece entre escola e família.(OLIVEIRA, 2009. p. 93).

Quando a sociedade e dentro desta as famílias indica a Escola como uma das principais instituições para um convívio equilibrado, ela mesma tem que assumir o seu papel e perceber que a Escola precisa de apoio e não o peso de se sentir culpada pelo desregramento da sociedade. Segundo Oliveira:

Os sistemas extrafamiliares passaram, dessa forma, a influenciar significativamente a vida do ser humano, pois as crianças permanecem um bom tempo de suas vidas na escola. Em contrapartida, a família passou a exigir mais qualidade e competência da instituição educacional na formação de seus filhos para a complexidade da vida, o que acabou gerando fronteiras tênues, frágeis e às vezes bastante rígidas entre esses dois sistemas. Dessa forma, a relação saudável entre família e escola é de fundamental importância para evitar que o educando seja prejudicado. (OLIVEIRA, 2009. p 102 e 103).

            Neste momento, em que se estabelece uma “imigração” das exigências que antes se tinha com mais veemência na família para a escola, há de considerarmos que esta escola também não deve ser a mesma, porém a realidade em muitas instituições ainda se assiste a uma Escola do século XX. Além de educadores que passam com seus horários lotados e muitas vezes tendo que conciliar três turnos e em Escolas diferentes, tendo que se adaptar a realidade de cada instituição e de cada aluno, acaba sendo  uma imposição desumana. Por isso que é indubitável que a psicopedagogia seja pensada no sentido de dar esse suporte às Escolas.

             Pensando nessas últimas duas gerações (Y e Z), há ainda mais a necessidade de se trabalhar a interdisciplinaridade como um caminho a ser traçado por todos. Neste sentido, a psicopedagogia passa a ser uma grande aliada para atender estas gerações e os profissionais que trabalham com elas. Segundo Grassi:

A psicopedagogia é uma área interdisciplinar, reunindo, portanto, conhecimentos de várias ciências e ramos do conhecimento. Busca compreender, de forma integradora, o processo de ensino e aprendizagem, que ocorre em dois espaços: o extraescolar e o intraescolar. Para tanto, analisa todos os elementos que fazem parte desse processo e os fatores que podem condicionar as dificuldades de aprendizagem e ensinagem. Além de área de conhecimento, com postulados teóricos consistentes que a fundamentam, configura-se também como campo de atuação específico, clínico e/ou institucional, em que a prática pode ser preventiva e/ou terapêutica. (GRASSI, 2009, p. 124)

           

            Analisando dessa forma, Grassi deixa bem claro a importância de se trabalhar a interdisciplinariedade, ainda mais nesse contexto do século XXI onde os estudantes tem acesso a mais informações, fazem várias coisas ao mesmo tempo e não aceitam passivamente momentos totalmente focados em assuntos específicos.

            Devemos destacar que não há um modo óbvio, linear para trabalhar com a geração Z, ainda mais quando outras gerações também estão se transformando. Pais querem uma solução da escola, esses pais que, em muitos casos, já fazem parte de um conceito de família totalmente diferente dos seus antecedentes. Professores sentem-se impotentes e precisam da ajuda das famílias, esses professores também sofreram modificações nos seus pensamentos e nas suas famílias. Estamos vivendo em uma realidade que não se pode olhar apenas para os estudantes e sim buscarmos como sociedade uma solução breve.

            O problema se estabelece quando a sociedade, de um modo geral, cai na tentação de “surfar” no consumismo desenfreado. Só conseguiremos trabalhar com as novas gerações, quando entendermos as aflições que estamos vivendo. Há a necessidade de descansarmos, o cérebro humano precisa de repouso, essa consciência não virá da internet, pois a sua lógica é totalmente inverso a isso, a sociedade, as mentes críticas devem estar atentas a isso.

            Talvez, o modo mais correto de trabalhar com esta nova geração, será o desafio de fazê-la parar e aprender a apreciar uma boa música, fazê-la sair da frente do computador e aprender a observar a natureza, fazê-la aquietar a mente fazendo uma caminhada ao ar livre, fazê-la sentir o prazer de viajar pelas páginas de um livro. Como fazer isso? Como levar o estudante ao interesse de fazer os estudos valerem à pena e não apenas usá-lo para um fim financeiro?

            A Escola precisa mudar, mas não só ela, todos os ambientes em que esses indivíduos da geração Z estão inseridos devem mudar e se estruturar melhor. Não se estruturar no sentido de dar mais tecnologia sem uma atenção técnica, mas no sentido de estruturar aproveitando com foco um determinado ambiente.

            A geração Z está aí, pronta para continuar se ambientando em ambientes virtuais, basta agora, toda a sociedade se responsabilizar e ajuda-los a entender o mundo de sua forma, mas também respeitando tudo aquilo que já foi construído pelas gerações anteriores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 

            Ao realizar este estudo, percebe-se que as gerações sempre impressionaram e causaram mudanças no contexto em que viviam, principalmente com a ascensão da tecnologia que ano após ano foi se aprimorando. Os resultados que temos na atualidade, é reflexo daquilo que foi vivido. Portanto, a sociedade transformou-se, modificou-se e essas transformações estão cada vez mais rápidas, visto que através do estudo das gerações, ficou claro que as mudanças estão mais intensivas.

            A demonstração dessa rapidez está muito nítida principalmente na Escola, onde esta pode servir como um laboratório para entender essa nova geração.  Os educando não carregam mais com sigo apenas livros, mas sim um aparato tecnológico que a cada dia surge com mais novidades.

            No que se refere a aprendizagem dos adolescentes da geração Z, é a forma como estes aprendem fazendo várias coisas ao mesmo tempo, porém com muitas dificuldades para ter foco. Ao estudar a forma como os indivíduos aprendem, os educadores encontram-se numa verdadeira contradição, uma vez que, a cobrança para os professores se atualizarem e trabalharem com essa nova geração é muito grande, todavia estes educadores não recebem apoio necessário da sociedade e das entidades mantenedoras para terem segurança do trabalho que estão fazendo.

            O que se tem, na realidade, são várias perguntas, e quando se tem várias perguntas também surgem hipóteses, há uma grande oportunidade de trazer este debate para a sociedade. Porém o senso comum (jornalistas, comentaristas sem formação na área da educação, leigos em educação) não podem continuar tendo o espaço que tem nos meios educacionais.

            Os profissionais da educação compreendem a ajuda que a sociedade quer dar para a aprendizagem, todavia essa ajuda deve surgir através do apoio da sociedade nos diferentes setores, e não se resumir em ajudas de instituições privadas que desejam se autopromover. Existe a possibilidade, de professores considerados de outras gerações trabalharem com a geração Z? Sim, precisamos abrir o debate, não só para os educandos, mas também para os educadores, estes tem muitas perguntas e também muitas respostas que dever-se-á ser dada a devida importância.

          A solução, se há solução, não virá de pensadores que ficam em quatro paredes ouvindo as vozes frias dos livros sem escutar aqueles que estão no dia-a-dia, mas sim de educadores que estão na prática enfrentando as contradições da sociedade e dessa nova geração pronta a causar ainda mais mudanças.   

REFERÊNCIAS:

 

BALESTRA, M.M.M. A psicopedagogia em Piaget: uma ponte para a educação da liberdade. Curitiba: Ibpex, 2007.

BLAINEY, G. Uma breve história do século XX. São Paulo: Fundamento Educacional, 2010.

CLOUTIER, R.; DRAPEAU. S. Psicologia da Adolescência; tradução de Stephania Matousek. Petrópolis: Vozes, 2012.

CASTANHA, D.; CASTRO, M. B. de. (2010). A necessidade de refletir sobre as necessidades da geração Y. Revista de Educação do Cogeime. Ano 19. Nº 36. Jan./Jun.

GRASSI, T. M. Psicopedagogia: um olhar uma escuta. Curitiba: Ibpex, 2009.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LAKOMY, A. M. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. Curitiba: Ibpex, 2008.

OLIVEIRA, M.A.C. Psicopedagogia: a instituição educacional em foco. Curitiba: Ibpex, 2009.     


[1] Graduado em História - UNICRUZ, Curso de Extensão em Teologia – IMT, Pós-graduando em Psicopedagogia Clínica e Institucional da Facinter.

[2] Psicopedagoga Clínica e Institucional – IBPEX; Especialista em EAD – IBPEX; Pós-graduada em Educação Infantil e Alfabetização – UTP; Pedagoga – UTP; Orientadora do Grupo UNINTER