Um breve relato sobre o desenvolvimento da sociedade sob um olhar feminino

Roseli Montibeller da Silva

[email protected]

           Assim como a evolução da espécie humana, o período mesolítico e o período neolítico, são marcados por avanços de homens e mulheres em sua luta pela sobrevivência, nesse período eles domesticam   animais, criam gado e aparecem as palafitas ou cidades, e começam  a cultuar mais a vida do que a morte, assim a mulher será venerada como fontes geradores da vida “são elas que fazem nascer os produtos da terra , associando o poder da fecundidade ao de fertilidade”;( Badinter,1986: 59) a relação entre o sexo não se estabelece sob a ótica do domínio de um sobre o outro.

           A divisão de trabalho se caracteriza do período paleolítico, onde a mulher procria a prole (filhos) e cultiva a alimentação ,e os homens caçavam, as atividades ocorriam em uma relação de complementariedade entre os sexos, conforme define Badinter e irá continuar no período neolítico , porém com algumas diferenças, uma vez que nesse período as mulheres passam a ter mais prestigio.

          A  nova religião centrada na vida irá permitir um maior prestigio feminino pois os povos passam a cultuar as Deusas-mulheres, as Deusas –mães. Os homens, apesar de não terem o prestigio das mulheres, não viviam sob o controle de um poder dominador feminino, não havendo registro de um poder matriarcal conforme analisado por Engels em “A origem da família, na propriedade privada e do estado”. (1884).

           Os homens não aparecem nas representações pictográficas em situação de humilhação e submissão.

           A visão de que a criança humana era gerada pela mãe e fertilizada pela terra, dava ao homem um papel de pais adotivos, sendo o reconhecimento da paternidade realizado pelo ato de levantar a criança acima da terra. Com o tempo homens e mulheres descobrem que é preciso ser dois para procriar, a observação da reprodução animal, permite ao macho da espécie,  por analogia, descobrir o fato de que ,sem a participação masculina não há concepção. Esta descoberta irá influir na relação entre os sexos e na simbologia religiosa. O culto as Deusas cede lugar ao culto do casal de Deuses.

           O período em termos temporais em que a divisão sexual de trabalho e da diferença entre os sexos não é sinônimo de dominação de um sexo sobre o outro, durou cerca de trinta mil anos; nesse período a partir da descoberta do poder gerador masculino gesta-se o patriarcado, com a democracia ateniense, enquanto o poder era centrado na exclusão dos sexos, as mulheres tomam status de mercadorias, bens de troca como indica Angels, centra-se na questão do surgimento da propriedade privada, Bardiner aborda outras questões, indicando outros fatores, dentre eles a descoberta do poder gerador masculino, tendo como autoridade o poder de pai, que dá origem ao Pater-famílias. Poder do pai em relação a família.

            As mulheres assumem o status de escravas, assim como os filhos, a partir da instituição do poder da família. A forma mais absoluta desse poder ocorre através de um controle da sexualidade feminina, e a instituição da monogamia. Nesse processo o casamento é entendido pela matriz judaica como, santificação e separação das coisas impuras, no sentido de evitar a degeneração da união dos sexos em mero desejo sexual, a relação entre os  sexos aparece nessa mesma religião de forma assimétrica e hierarquizada, onde o patriarcado toma forma absoluta controlando a sexualidade feminina. Os múltiplos orgasmos, que são característica da sexualidade feminina e que no período das Deusas não eram controlados, agora passa a ter o controle religiosas sendo em razão desse fato, as mulheres associadas a coisas malignas.

            Para Aristóteles, o macho da espécie tem o poder de transmitir a alma, a inteligência no ato da geração de uma nova vida, a mulher transmite apenas a forma por sua definição, são apenas matéria, animada pelo homem transmissor da alma, o humano, o sensível, o inteligente, são qualidades masculinas, o não humano são qualidades femininas. A imagem da mulher ficou associada ao mal, no catolicismo, advindo da luxúria (devido aos múltiplos orgasmos), ainda são associadas á imagem feminina a noção de impureza na menstruação, nessa nova ordem, mulher e serpente se enlaçam. A idade média apresenta um momento de absolutização do patriarcado na Europa e nos países Latinos. Através da inquisição a igreja católica queima e tortura milhares de mulheres acusadas de bruxarias, associadas a coisas malignas, trata-se da absolutização do patriarcado, e de sua legitimação pela força e dor, (a matéria é vil e feminina).

Na sociedade moderna o patriarcado  se transforma porém mantém-se nas primícias básicas de exclusão, opressão, exploração e vai legitimar-se através não só da religião, mas também das ciências exatas, naturais, e sociais, políticas, familiar, escolar, e nos meios de comunicação.  

GENÊRO UMA CATEGORIA DE ANÁLISE

            A primeira distinção a ser feita quando falamos de gênero é a diferença entre sexo e gênero. Por isso entende-se a diferença biológica entre macho e fêmea. Por gênero entendemos o sexo socialmente construído.  Quando falamos em sexo nos referimos ás diferenças biológicas e as ciências médicas que estabelece macho e fêmea

            Quando falamos de gênero estamos considerando que os seres humanos não são unicamente produtos da natureza, mas também produtos de certa cultura quando dizemos que alguém é mulher estamos supondo um sexo, mas outras coisas, tipo: dona de casa, mãe, sensível, afetiva, má motorista...; quando dizemos homem, junto ao sexo atribuímos qualidades como: intelectual, racional, inteligente, pouco detalhista. Homem e mulher são palavras que vão além do âmbito biológico.

             O gênero define a identidade do homem e da mulher a partir das atribuições que a sociedade estabelece para cada sexo, em outras palavras, o gênero designa as relações estabelecidas entre ambos os sexos.

            Mais aproximadamente no século XIX, os estudos de Eduard Clarke, membro da universidade de Harvard, afirmava a impossibilidade das mulheres ingressarem nas universidades, já que isso ocasionaria danos para a fisiologia reprodutora da mesma. Essa teoria baseava-se na conservação de energia para aplicar em determinadas partes do corpo. Para Clark a evolução para ambos os sexos traria como consequências uma onda particularmente esterilizadora, o que significa ao mesmo tempo, propagação das classes inferiores, e até o suicídio da raça.

             No entanto, o que a teoria de gênero propõe é a aplicação da diferença entre sexo e gênero.

             Scott diz que: “ O gênero não é só uma relação entre homem e mulher, é um elemento construtivo das relações sociais em geral, e se expressa ao longo do tecido, das relações e instituições sociais em símbolos, normas, organizações politicas e sociais e nas subjetividades pessoais e sociais.”, partindo desse pressuposto teórico  podemos dizer que as relações de gênero firmou-se através do poder e da sua legitimação. Então qual seria esse poder?, seria a capacidade de decidir e  controlar o acesso de bens materiais e simbólicos, possibilidade de decidir sobre a vida do outro, má intervenção com os fatos que abrigam, proíbem ou impedem a decisão feminina, e também seria o conhecimento social objetivando o que serve para justificar a ordem  social ou não.

ENTENDENDO OS CONCEITOS: GENÊRO, PRECONCEITOS, ESTERIÓTIPOS E SEXÍSMO.

  • GENÊRO: É o sexo socialmente definido e construído. Ex.:  Ao homem cabem tarefas de prestigio, autoridade e criatividade, tais como: economista, cientista, políticos, médicos, etc... As mulheres tarefas pouco reconhecidas socialmente, como: donas de casa, mãe, esposas, e quando algumas conseguiam executar tarefas fora de casa seguiam a extensão de suas atividades domésticas, professoras, enfermeiras, secretárias, etc...
  • PRECONCEITO: É uma opinião estabelecida, que é imposto pelo meio, época e educação. Ela regula as relações de uma pessoa ou de um grupo com a sociedade. Veja alguns exemplos:

ü  Toda a loira é burra.

ü  Mulher no volante perigo constante.

ü  Homem namorador é garanhão.

ü  Mulher namoradeira é galinha.

ü  Os homens nascem para vencer.

            Os preconceitos  aos poucos , vão se transformando em posição diante da vida, ao se espalharem nas relações carregam consigo outro subproduto que são  os estereótipos.

  • ESTERIÓTIPOS: É uma tendência a padronização de um pensamento, eliminando as qualidades individuais e as diferenças com a ausência total do espirito crítico nas opiniões sustentadas, assim  podemos dizer que é uma manifestação comportamental e a prática do preconceito. Exemplo:
  •  Justificar uma suposta inferioridade:
  •      Bateu o carro porque é mulher.
  •      As mulheres são frágeis.

Os estereótipos atuam como um tapume que impede a visão objetiva do outro. Eles reproduzem sem variação conceitos solidificados, sem permitir a reflexão.

  • Sexísmo: Uma tendência que favorece um sexo em detrimento do outro. Os homens recebem muito mais valores positivos que as mulheres, ( coragem,inteligência,auto-afirmação,competência profissional, espirito de aventura, etc...). Já as mulheres são representadas como seres desprovidos destas qualidades ditas viris, surgindo como pessoas dotadas de qualidades supostamente femininas ausentes nos homens, (sensibilidade, medrosa, burra, galinha, só fazem trabalhos repetitivos que não necessitam de usar inteligência, etc...)

COMO IDENTIFICAR O SEXÍSMO

Veja os exemplos:

ü  Nos vocabulários – Uso do gênero masculino para designar humanidade, ex.: os direitos do homem para designar direitos humanos, todos os homens são iguais, homens das cavernas. Todas essas expressões torna o sexo feminino invisível.

ü  Na gramática – havendo dois nomes ( um masculino e um feminino) os objetos e pronomes vão para o masculino plural.

ü  Nos julgamentos subjetivos:

  • Forte como um menino.
  • Frágil como uma menina.
  • Inteligente apesar de ser mulher.

ü  Nas ilustrações

  • Meninos brincam de carrinhos.
  •  Meninas brincam de bonecas.
  • A mãe serve a mesa.
  • O pai lê o jornal.
  • Meninas brincam de casinha.
  • Meninos andam de bicicletas.

Numa visão de igualdade, meninos e meninas brincam juntos, e constroem juntos seus brinquedos. Tem os mesmos direito dos outros e a mesma capacidade de se desenvolver socialmente e profissionalmente.