O trabalho do psicólogo no hospital vem sendo amplamente discutido. Existem atualmente muitos artigos que norteiam e discutem tal prática, mas fica claro que estamos apenas no começo de um árduo trabalho, ou seja, inserir a prática efetiva do psicólogo no hospital. Esbarramos em muitos empecilhos que estão cristalizados dada a institucionalização do hospital e as relações de poder presentes neste contexto, como fora discutido em aula e tão presente nos textos de Michael Foucault. A formação acadêmica dos psicólogos não é suficiente para atuação neste campo de saber, trazendo estas disciplinas como optativas, e já algum tempo o psicólogo vem sendo inserido neste contexto mas, não podemos pensar em psicologia hospitalar tratando as questões  de saúde individualmente, existe uma emergência para esta área de atuação. O psicólogo é convocado a trabalhar em função multidisciplinar, em conjunto com os médicos enfermeiros, nutricionistas e demais presentes no hospital. Acontece então o questionamento da hegemonia do saber médico promovendo a interlocução entre os diversos saberes. Este módulo nos permitiu compreender toda dinâmica do hospital, bem como os processos institucionalizados e as relações de poder e como tudo isso fora organizado. A função do psicólogo, muito mais do que promover uma relação de ajuda é intencionar, incomodar e possibilitar o diálogo. 

A dinâmica do hospital e a despersonificação

O processo de despersonificação do paciente é algo que merece nossa atenção, pois o paciente em uma situação de internação fica vulnerável ao que lhe for oferecido naquele ambiente. A rotina é institucional e o paciente diante de sua doença é frágil, agora já não conhecido por seu nome, ele é apenas uma doença, ou um número, tem um prontuário e nada mais, ali distante da família, não faz escolhas.  Exposto a exames e procedimentos invasivos o paciente  vê reduzido seu espaço vital.

A despersonalização do paciente deriva ainda da fragmentação ocorrida a partir dos diagnósticos cada vez mais específicos que, além de abordarem a pessoa em sua amplitude existencial, fazem com que apenas um determinado sintoma exista naquela vida. (CAMOM, pag. 17) 

Como nos mostra CAMOM o paciente fica segmentado em sua doença, desqualificado em sua existência. Até mesmo a presença do psicólogo deve ser cuidadosa para também não ter o mesmo significado de ser invasivo.

Partindo deste pressuposto o psicólogo deve ajudar os processos de humanização do hospital, fazendo um trabalho com toda equipe que os leve a reflexão para que possam dentro do hospital perder o caráter meramente curativo. 

O setting terapêutico

 CAMOM nos ensina que a psicoterapia tem como objetivo o autoconhecimento. A procura acontece a partir de uma mobilização do próprio paciente. Ao procurar um psicoterapeuta o paciente se dirigirá a um setting terapêutico estabelecendo um vínculo entre ambas as partes, o processo então é conduzido pelo psicoterapeuta com anuência do paciente. No setting terapêutico é possível encontrar privacidade e não há interrupções.

Todavia a realidade do hospital difere do setting onde o psicólogo está muitas vezes nos corredores atendendo a demandas emergenciais, depara-se então com uma saúde defasada, com a dor, a miséria, crianças doentes, a morte iminente, cenas que o psicólogo muitas vezes não pensou estar preparado para encarar, hospitais públicos ou particulares, são muitas as contradições no contexto hospitalar.

 

 

Objetivos e Parâmetros do psicólogo no hospital

Há algum tempo o psicólogo vem sendo inserido no hospital geral, reconhecendo que não é só o funcionamento biológico do paciente mas ele como um todo.

Isso acontece porque o adoecimento é em si uma situação de perda, “perde-se saúde, perde-se autonomia, perde-se tempo e dinheiro, e muitas outras coisas, isso quando não se perde mesmo a própria vida” (Simonetti, 2004, p.17-18).

 No hospital o paciente não procura por uma psicoterapia, a pessoa no hospital será abordada por um psicólogo, deve-se então atuar no sentido de clarificar a função do psicólogo, respeitando todos os limites até mesmo se o paciente não quiser a presença deste profissional ali. 

É necessário que se respeitem os limites institucionais.

Belkiss (1999) in Urbini explica que a atuação do psicólogo passou a se fazer necessária nos hospitais gerais a partir do momento que os médicos e outros profissionais de saúde se deram conta de que se manifestam nos pacientes internados conflitos e queixas de ordem psicológica que interferem no prognóstico e evolução do quadro do paciente.

A psicologia hospitalar deve trabalhar no sentido de promover uma transformação social, modificando a instituição como um todo. O psicólogo tem muitas ferramentas que o apóiam em seu saber e atuação, uma delas é a análise das relações interpessoais, o trabalho com a equipe, análise institucional, intervir na relação médico paciente, bem como sua escuta e acompanhamento do quadro clínico dos pacientes.

Considerações Finais        

A psicologia hospitalar é um campo de saber que suscita mudanças para ampliar o sentido do cuidado com o outro, é necessário lembrar de uma ética para prestarmos um bom atendimento ao doente e sua família. O psicólogo deve atuar em uma equipe de saúde proporcionando um trabalho multidisciplinar, favorecendo o diálogo entre os profissionais envolvidos.

É necessário trabalhar os grupos, e pensar também no próprio sistema de saúde principalmente quando o contexto se der em rede pública, repensar soluções institucionais, estratégias, palestras, trabalhar com o ideal coeso, para que possamos chegar ao reconhecimento de nossa pratica.