A influência política nos conglomerados midiáticos

Um breve diálogo

 Renara Rocha de Oliveira

2012

 

Os conglomerados midiáticos são instituições de produção e transmissão simbólica eles: produzem, reprocessam, armazenam, vendem e distribuem mercadorias (os bens simbólicos) em um mercado. Ou seja, são empresas. Sendo assim, é fácil perceber que se orientam em busca do lucro e então do poder, e não necessariamente por valores humanos ou democráticos.

O Politólogo Atilio Boron é conhecido dentre outras coisas por sua célebre frase: "Não há erro: Os meios de comunicação simplesmente são grandes conglomerados empresariais que têm interesses econômicos e políticos. Na América Latina, os monopólios midiáticos têm um poder fenomenal que vêm cumprindo na função de substituir os partidos políticos de direita que caíram em descrédito e que não têm capacidade de chamar a atenção nem a vontade dos setores conservadores da sociedade”.

É a partir deste conceito que começo a exposição gradual da influência política nos meios de comunicação e em seus conglomerados que burlam leis para terem sua hegemonia comprovada.

A expressão mais forte na mídia atualmente não é “conteúdo”. Atualmente o publico foi formado\ou está sendo formado\ ou reage melhor, com a imagem (assunto que vale de muita discussão mas não é o foco deste artigo),  apresentadores de teles jornais que fazem  um verdadeiro show com uma denúncia, reportagens com cenas fortes de violência, é como se “só vendo pra crer”. Isso empobrece o conteúdo que deveria estar em primeira importância, desta forma nos encaminhamos para a expressão mais forte da mídia que é então “modelo de negócios”.

A discussão sobre o poder de manipulação, persuasão e objetivos que visam ao lucro indiscriminado por parte dessas empresas ou a influência do governo nelas não deve se esgotar nem mesmo sob a ótica dos visionários do futuro da internet e sua capacidade colaborativa de organizar uma nova democratização social.

Podemos perceber que há uma crescente perda da memória coletiva, da população em geral, afinal somos bombardeados simultaneamente por diversas notícias que vão tornando obsoletas instantaneamente uma á outra e assim substituímos por lembranças alheias e de curto prazo, várias informações que são estas que favorecem a no processo de formação das identidades. Isto é um ponto muito importante, e muito utilizado pelos meios de comunicação para manipular nossas ideias.

Ficamos escandalizados com o péssimo governo de Collor, e depois o elegemos novamente em outro cargo. Brasileiro tem memória curta, gosta de sofrer ou é apenas um influenciado pelo show político oferecido pelas emissoras?

            É fácil perceber inclusive historicamente como o governo se demonstra o inimigo número da imprensa e esta tensão se traduz em um confronto no qual vários governos identificam a mídia como o principal inimigo a ser combatido e sufocado. É exatamente por isso que muitas vezes nos deixamos acreditar pela manipulação da informação das redes midiáticas pois são publicadas falsas denúncias, ou elas se portam em favorecimento de um governo cúmplice á sua rede, ou até mesmo a escandalização de pequenos acontecimentos para abafar acontecimentos políticos realmente importantes. Como temos o conceito no nosso imaginário de que o jornalismo e a mídia são denunciadores que estão do lado do civil, passamos a tomar como verdade o que elas nos apresentam, muitas vezes sem uma reflexão crítica.

Porém, tudo já mencionado acontece á favor de outras correntes políticas ás quais o vinculador é adepto pois favorecem a sua empresa.Ou pior, muitas vezes aqueles que usufruem de cargos políticos importantes estão ligados diretamente ou indiretamente á esses conglomerados e as utilizam de forma positiva á seu favor.

Aqui no Brasil, 271 políticos são sócios ou diretores de emissoras de televisão e rádio. Dados apurados pelo Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom) que revelam que 271 políticos brasileiros – contrariando o texto constitucional (artigo nº 54, capítulo I) – são sócios ou diretores de 348 emissoras de radiodifusão.  Esses números, porém, correspondem apenas aos políticos que possuem vínculo direto e oficial com os meios – não estão contabilizadas as relações informais e indiretas (por meio de parentes e laranjas), que caracterizam boa parte das ligações entre os políticos e os meios de comunicação no País.

Em 2007, uma subcomissão especial da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informática (CCTCI) encaminhou uma proposta de Emenda Constitucional, acrescentando um parágrafo ao artigo nº 222 da Constituição, que estabelece: "Não poderá ser proprietário, controlador, gerente ou diretor de empresa de radiodifusão sonora e de sons e imagens quem esteja investido em cargo público ou no gozo de imunidade parlamentar ou de foro especial". Como esse artigo ainda não foi regulamentado, os detentores de cargos públicos conseguem burlar a Constituição. E os políticos utilizam essas brechas para adquirir emissoras.

De acordo com o pesquisador Guilherme Godoi (2004, p. 87), “ A política dos militares de integrar o país a partir da comunicação fortaleceu a política das empresas midiáticas, principalmente a Rede Globo. Além disso, com o uso político “indiscriminado” de trocar concessões de rádio e TV por apoio e votos na Câmara dos Deputados e no Senado, os presidentes da República, principalmente José Sarney, “permitiram” que a mídia brasileira tivesse “autonomia”, desrespeitando as leis do país.”

A mídia tem algumas características intrínsecas pelo próprio modelo de propaganda publicitária. Por ser persuasivo, comprometido ideologicamente e atuar sobre o inconsciente, o sistema midiático-cultural influencia poderosamente na própria percepção que os sujeitos têm da realidade. E “No sentido de que seus símbolos, ícones, imagens, valores e mensagens, produzidos por poucos, com nenhuma ou pouquíssima intervenção dos receptores, são revestidos de um poder ou potencial simbólico enorme; tal poder simbólico pode ser considerado ideologia se e enquanto tais produtos contribuem para criar ou reforçar formas de dominação explícita ou camuflada” (Thompson, 1995).

O jornalismo, ainda comumente chamado de 4º poder não existiria mais como um interlocutor da sociedade? Pois o encontramos esse “poder” apenas embutido no controle dos conglomerados midiáticos seguindo o querer e o não querer dos políticos. Se são eles que difundem ou determinam ideologias, o que é ou não necessário para o cidadão, como então se saber no que acreditar, onde estará a verdade? A representatividade da cidadania nunca esteve tão ameaçada. Pois na verdade, o Poder Político está intimamente ligado ao poder do Mercado e das grandes Mídias.

A participação política nas mídias e seus conglomerados é importante sim, não podemos negar isso. É apenas graças á imprensa que ficamos sabendo de escândalos, denúncias e o que o governo está fazendo de certo ou errado. É assim que nos informamos, porém o que anda acontecendo é que a informação está sendo manipulada á favor de terceiros e não da população civil que usufrui e precisa do serviço.

Onde está a ética jornalista? Podemos perceber como se trata de um problema gravíssimo observando até a nossa própria cidade, que em um processo de espetacularização da campanha política de 2008 elegeu Micarla de Sousa para prefeita. Muitos comerciais bonitos, muito teatro e no fim tivemos uma péssima representante no poder. Esta que inclusive tem vínculo direto e indireto com uma emissora local.

Com isso podemos concluir que os conglomerados deste país são na verdade “meios de comunicação política” que estarão á serviço deste sempre que se houver necessidade, como nas campanhas políticas ou para abafar escândalos. E que por isso devemos não acreditar na primeira informação que nos chega, averiguar, desconfiar e só então tirar nossas próprias conclusões. Pena é que grande parte da população vai continuar se servindo do banquete manipulado de informações políticas.

 

 

Bibliografia

 

Artigos:

Cultura midiática e Educação Infantil - Por Alberto da Silva Moreira

PARLAMENTARES NA RADIODIFUSÃO cresce o número de políticos  de comunicação - Por Ana Rita Marini

Os grupos de comunicação e o cenário midiático brasileiro – Por Eula Dantas Taveira Cabra

          www.bernardosorj.com.br/pdf/Poder_politico_e_meios.pdf

Sites:

http://jornalismob.com/2011/08/

http://www.brasildefato.com.br/node/10995

peneiranews.blogspot.com/2012_10_01_archive.html

cadernoensaios.wordpress.com/category/colonialismo/