Planejamento, Implementação e Gestão da EaD

 

PROJETO DE TRABALHO FINAL DE CURSO

 

 

 

Tutoria Proativa-afetiva: uma proposta para a EaD

 

 

Grupo:

Gabriela Isabel da Silva de Souza

Luciana Claudia de Souza Silva

Rosemary Guimarães Aquino

 

 

 

 

 

 

 

1.0 INTRODUÇÃO

            A Educação a Distância é uma modalidade de ensino que vem despontando nas últimas décadas como um dos mais importantes instrumentos de propagação do conhecimento e democratização da informação.

            Essa modalidade de ensino apresenta especificidades, que não são comuns na modalidade presencial, no que tange à organização e desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, bem como das relações entre os sujeitos envolvidos. O professor/tutor e o estudante de EaD também desenvolvem papéis específicos, mais adequados à modalidade a distância.

 Quebrar alguns paradigmas, a fim de criar uma nova cultura educacional, como a autonomia do aprendiz e a mediação do professor, tem sido um desafio constante. Auxiliar na construção do conhecimento do estudante, de forma a dar significado à aprendizagem, por meio da interação pedagógica e andragógica, baseada em metodologias adequadas e relações interpessoais construtivas é a principal responsabilidade do tutor.

            O tutor precisa identificar e orientar os alunos com pouca compreensão sobre a metodologia de EaD, sobre a importância da autonomia do aprendizado. Para tanto, através de intervenções positivas e estimulantes, organizando a busca pelo conhecimento, pode-se propiciar situações de aprendizagem para o aluno desenvolver a criticidade e a proatividade nos estudos.

1.1  Justificativa

            Com o advento das rápidas inovações tecnológicas e a quebra das barreiras de tempo e espaço, cada vez mais a Educação a Distância (EaD) avança nos processos educativos de todo o mundo, colocando a informação como direito de todos e a construção do conhecimento como processo autônomo.

            Entretanto, tal autonomia de aprendizagem é um ponto de atenção a ser analisado, no que tange compreender seu conceito e sua aplicação naqueles processos, uma vez que a mesma não se limita ao autoestudo com uma máquina conectada à Internet, afinal o aprendiz é um ser social.

            No cenário atual, o entendimento do “ser autônomo em sua aprendizagem”, diferente do exposto acima, e a certeza da importância de um mediador e das emoções na construção de conhecimento de qualquer aprendiz foram os fatores de motivação para que o tema “Tutoria Proativa-afetiva: uma proposta para a EaD” fosse o eleito para a pesquisa a ser desenvolvida.

            O presente trabalho visa apresentar a pesquisa acerca dos Sistemas de Tutoria aplicados aos processos de ensino-aprendizagem, oferecidos na modalidade a distância e on-line. O Sistema de Tutoria será o foco da pesquisa e, dentre as estratégias que compõe, a Afetividade será destacada, visando propor a defesa de que um Sistema de Tutoria Proativa-afetiva seja o mais indicado para se construir conhecimentos e alcançar uma aprendizagem realmente efetiva.

 Espera-se que tal defesa venha a contribuir para os estudos e a conscientização de mediadores de processos de ensino-aprendizagem (professores, educadores, tutores, monitores etc.) que respeitam os conhecimentos prévios de seus aprendizes, e que acreditam serem eles seres inacabados que só se desenvolvem por meio da aprendizagem ativa, permanente, afetiva e social.

1.2  Objetivos

Como objetivos específicos pretende-se:

• Apresentar o histórico e o contexto atual da EaD;

• Apresentar os Sistemas de Tutoria adotados nos processos de ensino-aprendizagem da modalidade a distância e on-line;

• Mostrar a importância do mediador de construção de conhecimentos e da comunicação e afetividade nos processos de ensino-aprendizagem, por meio da adequada aplicação do Sistema de Tutoria Proativa-afetiva.

• Indicar, por meio de pesquisa quantitativa, os possíveis benefícios de um Sistema de Tutoria Proativa-Afetiva.

1.3  Metodologia

            Para que se alcancem os objetivos traçados, tal defesa será fundamentada por meio de pesquisas bibliográficas, como os estudos de Henri Walon, primeiro a considerar não só o corpo do aprendiz, mas também suas emoções; Piaget e Vigotsky por acreditarem e defenderem o papel do professor como mediador do processo de aprendizagem e o pressuposto da relação eu-outro social; dentre outros. Além da fundamentação teórica, será aplicada uma pesquisa de campo, por meio da utilização de um questionário on-line, como instrumento de coleta de dados e informações.

            Para a aplicação dos questionários será elaborado um documento de solicitação de pesquisa dirigido à instituição acadêmica, a ser entregue virtual ou pessoalmente. Já a distribuição desses instrumentos se dará por meio do site Survey Monkey, espaço virtual voltado para a criação, armazenamento e aplicação de questionários on-line, o qual também será a ferramenta de tabulação dos resultados esperados.

            Após a tabulação, fará parte do trabalho, a apresentação dos resultados, que visam corroborar com a defesa a ser feita.

1.4  Organização do trabalho

            Este trabalho será elaborado pela realização de um relatório de ações teórico-prática, contendo partes comuns, a ser desenvolvida de forma colaborativa e também de partes individuais, que deve ser relacionada à análise do questionário. Está estruturado em três capítulos: a Introdução, os Pressupostos Teóricos e as Referências.

2.0 Pressupostos Teóricos

“O indivíduo é social não como resultado de circunstâncias externas,

mas em virtude de uma necessidade interna”.

Henri Wallon

            A Educação a Distância  é uma oportunidade de acesso à educação aos jovens e adultos que foram excluídos do processo educacional convencional por residirem distante dos estabelecimentos de ensino ou por indisponibilidade de tempo. A relação professor e aluno transpõe os limites geográficos e temporais, ou seja, ambos não precisam está ao mesmo tempo, em um mesmo local para que a aprendizagem aconteça.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação- LDB no artigo 47,§ 3º define que a Educação a Distância deve ser compreendida como a atividade pedagógica que é caracterizada por um processo de ensino-aprendizagem realizado com mediação docente e a utilização de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes tecnológicos de informação e comunicação, os quais podem ser utilizados de forma isolada ou combinadamente, sem a frequência obrigatória de alunos e professores.

 Os primeiros registros em Educação a Distância no Brasil são do século XX. Em 1904, o Jornal do Brasil registra, em sua 1ª edição da seção de classificados, anúncio que oferece profissionalização por correspondência para datilógrafo. Em 1923, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro ofereceu curso de Português, Francês, Silvicultura, Literatura Francesa, Esperanto, Radiotelegrafia e Telefonia. Em 1939, o Instituto Monitor, o primeiro instituto brasileiro a oferecer cursos profissionalizantes por correspondência. A comunicação escrita tornou-se o símbolo do ensino a distância desta geração.

            Em 1959, a Diocese de Natal cria algumas escolas radiofônicas, dando origem ao Movimento de Educação de Base (MEB) marco na Educação a Distância não-formal no Brasil. Em 1974, surge o Instituto Padre Reus e na TV Ceará começam os cursos das antigas 5ª e 8ª séries, com material televisivo, impresso e monitores.             Em 2000, é formada a UniRede, consórcio que reúne 70 instituições públicas do Brasil, oferecendo cursos de graduação, pós-graduação e extensão.

Atualmente, as novas tecnologias da informação e da comunicação tem sido uma ferramenta para a propagação do conhecimento e democratização da informação. O uso da tecnologia e da internet oferece ao aluno a possibilidade dele ser o próprio gestor de sua aprendizagem, isto é, o educando terá que “aprender a aprender”, a autonomia passa a ser um conceito chave. Por outro lado, o professor/tutor tem a responsabilidade de orientar, estimular e provocar o aluno a construir o seu próprio saber. As interações entre os alunos, entre o professor/tutor e o aluno, a diversidade de opiniões e o debate possibilitam que o conhecimento seja construído e reconstruído.

            Para Piaget (1962), cooperar é operar em comum. Isto requer trocas e participação dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, que poderá surgir espontaneamente ou por provocação. Neste sentido, a relação professor/tutor e aluno deve ser a mais próxima possível, porque o vínculo afetivo é um grande facilitador no processo ensino e aprendizagem.

            A atuação do tutor é necessária para que o aluno avance, aprenda e desenvolva suas competências em situações didáticas planejadas, com objetivos definidos, em tarefas que propõem desafios, com organização das formas de trabalho, previsão do tempo a ser utilizado e principalmente, com intervenções pedagógicas consistentes.

A Educação a distância ainda sofre com a resistência de muitos estudantes e professores, haja vista a cultura educacional – tradicionalista e presencial – que acompanha a todos por séculos, onde o professor é o ator do processo de ensino-aprendizagem, enquanto o estudante é receptor passivo de informações. Além disso, a facilidade proporcionada pela comunicação oral e corporal em sala de aula, sobretudo na transmissão de conteúdos e na retirada de dúvidas, é fator significativo para tal resistência existir.

Por isso, as instituições de ensino a distância devem se conscientizar que, além do planejamento, desenvolvimento e implementação dos cursos, o papel do tutor e a qualidade do serviço prestado por ele é de extrema importância para a quebra dos paradigmas, a aceitação às mudanças e a prevenção à evasão. Conscientes disso, as instituições devem investir em uma seleção e capacitação qualificada de tutores, já que esses precisam competências específicas, que diferem do tutor e/ou professor que atua presencialmente.

Baseando-se em Peters (2002), Litwin (2001), Campos (2003) e Belloni (2003) é possível afirmar que a obtenção da sedução e a manutenção do aluno ativo ficam mais facilitadas com a Tutoria Proativa. Para tanto, o papel do tutor é direcionado para a mediação, orientação e facilitação da aprendizagem, por outro lado, podemos afirmar que a atividade de ensinar não está contemplada na relação das ações do tutor. Freire (1997) já sinalizava que ninguém ensina nada a ninguém, as pessoas aprendem através das interações com o mundo e com outras pessoas[1]. Se ainda voltarmos mais um pouco na história e pesquisarmos Galileu Galilei[2] no século XVI observamos a compreensão “que ninguém ensina a ninguém, o máximo que podemos fazer é ajudar as pessoas a descobrir as coisas dentro de si mesmas”. Assim, a principal responsabilidade do tutor proativo está em ajudar na construção do conhecimento através da interação pedagógica baseada em relações interpessoais construtivas e motivadoras.

Para obter tal qualidade nas interações com e entre os alunos são necessários diversos comportamentos e conhecimentos, como a comunicação proativa e efetiva; orientação sobre o funcionamento do modelo de EAD; estimular e esclarecer a importância do trabalho colaborativo; ter facilidade de “movimentação” entre pessoas com compreensões diversas sobre o significado de aprender; capacidade de adequação do discurso para atingir a todos; disponibilidade de acesso e conhecimento sobre andragogia, alteridade e afetuosidade.

Dentro dos comportamentos anteriores, necessários para promover relações interpessoais de qualidade, podemos destacar a importância da comunicação proativa, principalmente a facilidade na escrita motivadora e no momento correto. Portanto, é através da efetividade das comunicações mantidas com a turma que serão facilitadas a participação, a aceitação e a colaboração dos alunos. É possível ainda afirmar que grande parte da eficácia dos outros comportamentos adotados nas relações pessoais, passa pela comunicação.

Cabe ainda ao tutor proativo identificar os alunos que sinalizam alguma dificuldade na compreensão a metodologia de EAD e sobre a importância da autonomia do aprendizado. Para tanto, através de intervenções positivas e estimulantes, organizando e estimulando a busca pelo conhecimento, pode propiciar situações de aprendizagem para o aluno desenvolver a criticidade e a proatividade nos estudos. De acordo com a faixa etária dos alunos, para o sucesso deste comportamento, é importante que o tutor possua algum conhecimento sobre andragogia, ou seja, a forma como os adultos aprendem e se interessam pelos temas abordados num curso.

Estimulando o trabalho colaborativo e em equipe, o tutor direciona o aluno para uma dinâmica de construção do conhecimento em que ele observa e reconstrói a realidade através do contato com outras realidades. Com esta postura promove interações pessoais de cooperação e envolvimento entre os alunos por um assunto ou projeto. Através das atividades grupais é possível tornar as relações amigáveis de forma com que o aluno se sinta “em casa” e compartilhe experiências e se sinta seguro para interagir e questionar.

Espera-se ainda que o tutor proativo "tempere" as relações interpessoais com afetividade, de forma que o processo de aprendizagem seja atrativo e, mesmo a distância, o aluno precisa sentir "calor humano" e acolhimento nas interações. Medeiros (2010) complementa que a presença humana é fundamental para evitar o desinteresse e o isolamento do aluno[3] na EAD. A afetividade pode ocorrer através da prontidão e na forma de responder ao aluno, num atendimento individual em situações pessoais que estejam interferindo no aprendizado e até na identificação da longa ausência de um aluno das atividades. 

Embora fundamental nos processos de ensino-aprendizagem a distância, a afetividade parece não receber a atenção devida em muitos cursos planejados, e assim, deixa de ser aplicada como uma estratégia de aproximação e humanização dos processos de aprendizagem, sobretudo nos ofertados a distância.

Desde a década de 70, quando Carl Rogers apresenta suas teorias, que a afetividade é tema de estudos relacionados à aprendizagem e que alguns educadores passaram a entender que as relações humanas neste processo são de extrema importância para o desenvolvimento afetivo e cognitivo do indivíduo. Tal tema também é foco dos estudos de Henri Wallon, que, segundo DANTAS (1992), defende que a construção do eu depende essencialmente do outro, seja ele como referência, seja ele para ser recusado.

Teorias como essa fundamentam o que se propõe, no presente trabalho, como um Sistema de Tutoria Proativa-afetiva (STPa). Tal sistema se compõe das características do Sistema de Tutoria Proativa, já apresentada, porém a elas são aliadas estratégias, ferramentas e recursos que possibilitam maior interação, maior motivação, a aproximação humanizada entre os atores do processo – tão cobrada pelos estudantes – e menor evasão nos cursos.

Na Tutoria Proativa, as ferramentas assíncronas são as mais utilizadas pelo tutor. É nelas que ele busca interagir, motivar, auxiliar na construção dos conhecimentos, acompanhar e avaliar de maneira formativa etc.

As ações que compõem o Sistema de Tutoria Proativa-afetiva vão um pouco além. Em um curso com esse sistema de tutoria quanto maior a quantidade de ferramentas e recursos forem disponibilizados ao tutor, melhor serão os resultados esperados. Dentre essas ações podem ser citadas: ambientação do AVA por meio dinâmicas virtuais em grupo, voltadas para a socialização; espaço no AVA para atividades de descompressão; linguagem objetiva, mas afetiva; comunicação personalizada; vídeos motivacionais, gravados pelo tutor e pelos estudantes; chat para dúvidas; chat para aproximação; feedback rápido e objetivo; atendimento por telefone e e-mail; comunidade de prática; blog pessoal no AVA; encontros presenciais para tratar do curso e encontros presenciais para estreitar as relações.

Tais ações, sendo bem elaboradas e aplicadas de acordo com o perfil de cada grupo e/ou estudantes, resultam no proposto Sistema de Tutoria Proativa-afetiva, uma vez que supre grande parte das necessidades dos atores do processo de ensino-aprendizagem, de acordo com a pirâmide de Maslow.

Referências:

ALVES, Lucineia. Educação a Distância: conceitos e história no Brasil e no mundo. Artigo 7. Associação Brasileira de Educação a Distância.

BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 2003.

CAMPOS, Fernanda [et al]. Cooperação e aprendizagem on line. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

CAMPOS, Fernanda; COSTA, Rosa; COSTA; Neide. Fundamentos da Educação a Distância, Mídias e Ambientes Virtuais. Juiz de Fora: Editar, 2007.

DANTAS, Heloisa. A afetividade e a construção do sujeito na Psicogenética de Wallon In: DE LA TAILLE, Yves. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

LITWIN, Edith (org). Educação a distância: debates para uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

MEDEIROS, Leila; MACEDO, Margarete; AMARAL, Sérgio; RIBEIRO, Vera. Sistemas de tutoria em cursos a distância: Texto base. Material da disciplina Sistemas de tutoria em cursos a distância, do curso Planejamento, Implementação e Gestão da EAD, 2010, UFF, Rio de Janeiro.

PETERS, Otto. A educação a distância em transição. São Leopoldo: UNISINOS, 2002.



[1] FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

[2] Galileu Galilei, cientista (1564-1642).

[3] MEDEIROS, Leila; MACEDO, Margarete; AMARAL, Sérgio; RIBEIRO, Vera. Sistemas de tutoria em cursos a distância: Texto base. Material da disciplina Sistemas de tutoria em cursos a distância, do curso Planejamento, Implementação e Gestão da EAD, 2010, UFF, Rio de Janeiro.