O ódio ou o amor que sinto
Tudo é para glória de Deus.
A blasfêmia, o sabor, o pudor
Tudo é para glória de Deus.
A hipocrisia, a mentira, a virtude, a verdade, a vontade,
Tudo é para glória de Deus.
O medo, a traição, o pecado, a ressurreição,
Tudo é para a glória de Deus.
O bem, o mal, a juventude, a velhice,
Tudo é para a glória de Deus.
A morte, a vida, o ciúme,
O rancor, o beijo e o tapa,
Tudo é para a glória de Deus.
A sangue, a carne, a alma,
O existir e o desaparecer,
Tudo é para a glória de Deus.
A sal, o medo, o veneno e o amargo,
Tudo é para a glória de Deus.
A barbárie, a vida e também a paz,
Tudo é para a glória de Deus.
A abandono, a solidão,
Tudo é para a glória de Deus.
A beleza, a meiguice, a volúpia e a luxúria,
Tudo é para a glória de Deus.
Seu sexo, seu cheiro que entranha
Em meu falo e em minha fala,
Tudo é para a glória de Deus.
A choro, a lágrima, o sorriso e os dentes,
Tudo é para a glória de Deus.
A carinho, o desprezo, o nojo e o desejo,
Tudo é para a glória de Deus.
A dia, a noite, o começo e o fim,
Tudo é para a glória de Deus.
A Suicido, o homicídio,
A tempestade, a chuva e o frio,
Tudo é para a glória de Deus.
O expandir do universo,
O cair de uma folha,
Tudo é para a glória de Deus.
Mesmo com toda a contradição em meu peito,
Sem saber que sou ateu ou crente,
Se sou bom ou mau, se comunista ou
Anarquista, se brasileiro ou judeu, se poeta
Ou mentiroso, se vivo ou morro,
Se covarde ou audacioso, contemplo
As minhas dúvidas e sei que toda
A inquietação do meu espírito,
Tudo é para a glória de Deus.

Miguel Vieira