Pode parecer estranho, mas é verdade: tudo é história!

Tudo que fazemos acontece no tempo e o tempo é o ambiente da história, pois nada acontece fora dessa dimensão. Nossos saberes, nossas descobertas, todas as invenções e até mesmo aquelas aulas maravilhosas de matemática são eventos temporais. Não só acontecem no tempo, como são resultados das realizações e dos saberes acumulados ao longo do tempo.

Vivemos no presente que é fluído e dinâmico. Não temos acesso direto ao passado, mas o visitamos por meio de alguns recortes ou registros aos quais chamamos de documentos ou fontes históricas.

Esses documentos podem ser escritos (cartas, anotações, jornais), imagens (fotos, desenhos), monumentos (estátuas, placas comemorativas) ou a própria memória de quem viveu o fato.

Esses documentos não são a história nem o passado, mas nos trazem retalhos do passado para o nosso presente. Cabe ao historiador interpretar os documentos fazendo uma leitura do fato. Essa leitura/interpretação pode conter equívocos, os quais podem ser superados ou evitados por meio de novas pesquisas e comparação de documentos. Os erros ou equívocos dessa leitura/interpretação podem ser intencionais, pois o historiador, sendo uma pessoa que age a partir de interesses pessoais ou de grupos, pode querer defender um ponto de vista e se utiliza de elementos da história para isso!

O fato é que somos nós, em nosso presente, que nos interessamos pelo passado e nele buscamos as informações que nos interessam. São as memórias de quem viveu o fato que produzem as fontes; são os interesses atuais que interpretam os documentos. Nós os interpretamos, atribuímos significado e com eles iluminamos nosso presente... de acordo com nossos interesses...

Por isso é que dizemos: embora a história alimente-se do passado ela não é um estudo do passado, mas do presente. Utiliza os registros documentais com informações sobre o passado, mas interessa-se pelo presente. Ou seja, o passado não nos interessa por ser passado, mas porque pode nos ajudar a entender o presente. É o interesse pelo presente que direciona o olhar para os retalhos do passado.

É para entender o momento atual e as consequências do passado sobre os nossos dias que buscamos as origens históricas.

Procurando compreender melhor os fatos do passado que dividimos o tempo histórico em períodos menores. Esses períodos são chamamos, tradicionalmente, de Pré história, antiguidade, idade média, idade moderna e idade contemporânea. Mas também se fala e se faz história da medicina, história da psicologia, história da educação...tem história de tudo e tudo é história!

Essas divisões, entretanto, servem apenas para nos orientar ou situar no estudo, pois o tempo e a história são uma só realidade. A vida humana vivida, revista e interpretada é o que constitui a história.

E com isso voltamos à afirmação inicial e central: tudo é história, pois tudo está inserido no tempo. Todas as produções ocorrem no tempo e são utilizadas no tempo. Além disso, mesmo as inovações científicas e tecnológicas nascem a partir de conhecimentos e informações que se acumularam ao longo do tempo e, de posse desses saberes, o pesquisador/cientista desenvolve o novo saber, que é, também inserido no tempo.

Vale a pena, a respeito disso, lembrar alguns versos de Raul Seixas: “O hoje é apenas, um furo no futuro, por onde o passado começa a jorrar...”. E, assim, mais uma vez, podemos dizer que “tudo é história”, pois tudo ocorre no tempo que devora o próprio tempo. E o tempo presente é o monstro que devora o futuro, deixando o passado em seu lugar. Mas o trágico e o maravilhoso de tudo isso é que o homem, um ser inserido no tempo, não tem poderes para intervir nessa relação dinâmica e irreversível...

E assim se insere a fala de Gilberto Gil, dizendo que o tempo é rei... a ele é feito o pedido: “Tempo rei, ó tempo rei, ó tempo rei; Transformai as velhas formas do viver; Ensinai-me, ó Pai, o que eu ainda não sei...”

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO