Trocas de Experiências e Aprendizagem 

Claudete Ceron Mariano

       Licenciada em Letras pela UNEMAT- Universidade do Estado de Mato Grosso e Pós-graduada em Educação Especial e      Inclusão pelo IMP. Professora  de  Língua Portuguesa do Ensino Fundamental e Médio no  CEJA Antônio Casagrande a  partir de 2009.  Atuante na Educação Básica desde 2003.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é relatar a importância da valorização das experiências e conhecimento de mundo dos educandos, adequando o conteúdo a ser trabalhado à sua realidade, no processo de ensino-aprendizagem de jovens e adultos do CEJA -Centro de Educação de Jovens e Adultos Antônio Casagrande, na qual o educando é o ser capaz de transformar a realidade em que está inserido, mediante a aquisição do saber. 

Palavras-chaves: aprendizagem, experiências, educandos, realidade.

O processo de ensino-aprendizagem vivenciado no CEJA Antônio Casagrande é enriquecedor, pois é uma verdadeira troca de experiências com as turmas por meio dos conteúdos trabalhados. A partir dos temas abordados o educador amplia os horizontes culturais dos estudantes e o seu também, desse modo, educador e educandos sentem-se motivados e perseverantes no caminho do aprendizado.

Para desenvolver um bom trabalho na modalidade de ensino da EJA, o educador pode contar com as relevantes contribuições de Paulo Freire. Partindo dos pensamentos pedagógicos de Freire, a primeira tarefa do educador é escolher temas conhecidos dos educandos, ligados a sua realidade, visto que jovens e adultos já possuem uma vasta experiência de vida. Por isso, é necessário trabalhar de forma coletiva, interdisciplinar e individual, valorizando a experiência de cada um, integrando a turma à vida escolar e ampliando, assim, o universo cultural por meio da socialização.  

[...] preciso agora saber ou abrir-me à realidade desses alunos com quem partilho a minha atividade pedagógica. Preciso tornar-me, se não absolutamente íntimo de sua forma de estar sendo, no mínimo, menos estranho e distante dela. (FREIRE, 2003, p. 137).

O educador tem que estar atento à realidade dos educandos da EJA, eles têm suas especificidades, pois são, em sua maioria, sujeitos que já possuem família e que trabalham; chegam do trabalho e vêm direto para a escola, e isto se torna um desafio aos educadores e à escola em geral. Portanto é necessário motivar os alunos que chegam cansados. Isto evidencia fatores sociais que interferem na aprendizagem do educando, daí a necessidade do educador se aproximar de seus alunos para conhecer seus interesses e objetivos.

Nesse sentido, ser professor da EJA é um constante desafio, pois é necessário ser criativo para adequar o conteúdo a ser trabalhado à realidade do aluno. Esta é uma competência que deve ser desenvolvida por meio de novas técnicas e metodologias que atendam a esta proposta de aprendizagem. Com isso, o educador necessita de constante estudo para atender esses estudantes.

Segundo Paulo Freire (2003), o educador precisa estar qualificado para atuar na EJA, sabendo valorizar e respeitar as peculiaridades de cada educando da sua sala de aula, tendo uma reflexão teórica e prática sobre sua atuação pedagógica, ou seja, sobre sua própria concepção metodológica, de como trabalhar de forma diferenciada com a Educação de Jovens e Adultos.

Freire critica severamente o professor que desenvolve sua prática baseada na educação bancária, que vai transformando o educando num “fundo bancário”, ou seja, o educador deposita, de forma mecânica, informações ao educando e este memoriza os dados adquiridos.

Reforçando os pensamentos pedagógicos de Freire, argumenta, Brandão (1996), a educação de jovens e adultos deve ser um ato coletivo, solidário e, principalmente, um ato de amor entre educador e educando, em que o educador procura conscientizar os seus educandos dos problemas que os cercam, conduzindo-os à compreensão de mundo e ao conhecimento da realidade social, proporcionando-lhes qualidade de vida mediante a aquisição do saber.

Partindo do pensamento desses autores, ao trabalhar com as palavras, as frases, os textos e as produções escritas, o educador deve fazer as escolhas de acordo com a realidade de seus educandos, tornando assim a aula uma experiência agradável, trabalhando com o contexto deles, sem se prender muito a parte teórica. Dessa forma a aula é trabalhada de maneira diferenciada e interdisciplinar, envolvendo os conteúdos que precisam ser trabalhados na educação de jovens e adultos, com as experiências e realidade de vida dos mesmos.

Percebe-se, pelas produções escritas dos educandos, do CEJA Antônio Casagrande, que todos têm muito para compartilhar, pois possuem uma vasta experiência de vida, mas, saber dizê-lo por meio da escrita, é uma questão de tempo de aprendizado.  Ao proporcionar a eles acesso a esse aprendizado, promoveremos uma educação inclusiva voltada para a libertação do oprimido, defendida por Freire.

O educador tem que estar consciente de que o processo educativo da EJA deve ser construído com cuidado diante de sua complexidade, pois essa modalidade de ensino, se bem trabalhada, conduzirá o educando a uma mudança: social, política e econômica no universo no qual está inserido.

Daí a importância de prepará-los para atuarem na sociedade de forma mais justa e igualitária, para conhecerem e usufruírem dos seus direitos, bem como de cumprirem seus deveres.

Segundo Paulo Freire (2003), os adultos exigem do professor, além dos saberes disciplinares, práticas educativas que aproveitem a sua bagagem cultural e experiências acumuladas. O ideal é que o ensino de jovens e adultos responda às suas necessidades, estabelecendo uma relação entre os conteúdos trabalhados e o uso que farão deles posteriormente.

Apresentamos de forma breve algumas das condições fundamentais para que o aprendizado na EJA aconteça. O mais importante nesse relato de experiência é observar que a socialização entre professor e aluno por meio do diálogo, demonstra que ambos são pessoas atuantes dentro de uma mesma sociedade e esse relacionamento é amadurecido cada vez mais, quando valorizamos as experiências de vida dos nossos educandos, acreditamos em sua capacidade de aprendizado e explicitamos isso em nossas atitudes. 

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ªed. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1987.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 1996.