Pequena reflexão sobre o trânsito na cidade de Goiânia

 

 

 

Estranho...hoje saí  do trabalho às seis horas. Já no primeiro semáforo, fechado para mim, o condutor do veículo ao lado ouvia uma música de composição de Fernanda Takai  que tem por título, Tribunal de causas realmente pequenas. Há muito não ouvia aquela música....enquanto curtíamos o som, cuja a letra dizia: “você pensa que faz o que quer? Não faz. E que quer fazer o que faz? Não quer. Tá pensando que Deus vai ajudar? Não vai...”,  alguns condutores, infratores às leis de trânsito, começaram a avançar o sinal vermelho. Sem embargo daquela constatação observei que a idéia de educação no trânsito pode ser ambígua. Por isso, não me furtei o direito de pensar um pouco, nesse texto, o cotidiano do trânsito de nossa cidade e de fazer um paralelo com a canção que tocava no som do veículo naquele ponto ínfimo de Goiânia.

Quando nós, cidadãos, habitantes de grandes metrópoles, somos remetidos ao conceito do termo “trânsito”, procuramos, recorrentemente, um réu a quem poderíamos acusar pelos erros “que nunca são nossos”.  O fato é que parece não haver consenso, como na maioria das discussões presentes na mídia, sobre os métodos a serem utilizados para a obtenção de uma solução para o trânsito cada vez mais caótico.

Não se trata de priorizar a discussão em torno de quais são as funções, finalidades ou qual seria o papel que o poder público ou sociedade civil deveriam desempenhar em face da chamada má educação para o trânsito ou porque não dizer má educação para a vida. Trata-se de compreender o processo que leva à má educação e seus desdobramentos...

Pretendo , nessa pequena reflexão,  possibilitar um olhar crítico, afastado das tendências  televisivas, que, de um lado, vê o poder público como solucionador dos problemas no trânsito, e, de outro, como causador genuinamente “eleito” da desordem no trânsito. Nesse sentido, não há a necessidade de encontrarmos a quem acusar. Contudo, esclareço que o objetivo desse pensamento não pode nos remeter à idéia de que o poder público não deve assumir as consequências por tão alto índice de acidentes de trânsito em nossa cidade, mas, sobretudo, somar-se também as responsabilidades individuais do condutor habilitado. 

Não obstante, já nas primeiras horas daquele dia, presenciei ali, no semáforo, cinco avanços de sinal vermelho e duas conversões proibidas à esquerda.  Fui remetido, então, a uma publicação de Pablo Kossa, jornalista, mestre em comunicação pela UFG-GO, datada do dia 02 de março de 2011, no periódico, O Diário da Manhã, onde ele falava, dentre outras coisas,  que: “o fato é que se multa pouco em Goiânia. A minha experiência cidadã, totalmente empírica,  me mostra que circulando pela cidade como condutor, pedestre ou ciclista, vejo muito mais infrações do que agentes da AMT. Percebo o desrespeito contínuo do motorista aos limites de velocidade (Exemplo? Marginal Botafogo), estacionamentos em áreas proibidas (arredores da Universo), falando ao celular (qualquer esquina da cidade), entre outras infrações. E não vejo fiscais descendo a caneta como deveria ser feito. Essas reclamações me soam mais como esperneio de infratores contumazes do que críticas ao mau trabalho dos agentes....todas as vezes que fui multado, eu realmente estava errado e tinha feito bobagem no trânsito.” 

Entendo que o jornalista, Pablo Kossa, abre um enorme leque de reflexões, que deixo  a cargo do leitor a sua própria conclusão. Ademais, penso ser o desconhecimento ao Código de Trânsito brasileiro e a legislação complementar em vigor, aliados às ansiedades, ao egoísmo e ao “mal-caratismo” um agravante para a falta de educação no trânsito. Sendo assim, é flagrante vermos e ouvirmos absurdos dos cidadãos comuns e, até mesmo, de “pseudos –intelectuais” que contribuem para a instauração das “desgraças” no trânsito de Goiânia. Alguns, mais “ousados”, até usam termos de baixo calão quando tratam com agentes da autoridade de de trânsito como: industria da multa, brucutu, entre outros...

Ora, se se admitir que situações  como aquela que presenciei ao sair do trabalho e que foram reforçadas pelo  depoimento do Publicitário, repetem-se, inúmeras vezes, ao longo de todo o dia, conclui-se que ninguém irá escapar do “monstruoso” efeito da má educação no trânsito. Em suma, o condutor “certo” ou o condutor “errado” estão sujeitos às leis da vida, e, a frágil vida não resiste aos violentos impactos de tamanha má educação no trânsito. E por fim, a dor, as perdas, a morte...

“Tribunal de causas realmente pequenas”

“Você pensa que faz o que quer? Não faz.

E que quer fazer o que faz? Não quer.

Tá pensando que Deus vai ajudar? Não vai.

E que há males que vêm para o bem? Não vêm.

E que ao menos alguém vai escapar? Ninguém.

Paro pra pensar, mas não penso mais de um minuto

Sem pensar em alguém

Que não pensa em ninguém

Você acha que eu tenho demais? Roubei.

Você acha que eu não sou capaz? Matei.”