RUBEMAR ALVES

Três estórias parecidas - mistura de sonho, decepção, ansiedade, tudo isso ao mesmo tempo.

Interior de evoluído Estado nordestino, mas localidade tãooooo distante “do mundo”, digamos assim, que ainda há poucos anos ali não chegava sinal de tevê. Não problema grave nem desesperador ou “sangria desatada”, como se diz popularmente. Levaram para o botequim pé-sujo um aparelho novinho de loja, sem defeito algum, colocaram em lugar visível a todos, instalaram antena. Claro que não deu certo! Em dia de futebol muito importante, homem algum ficava em casa - eles se reuniam, distribuíam a cerveja (amarrar a um pau espetado na terra, lado de fora do poço, as garrafas com um barbante ou cordinha, mergulhar algum tempo na água e depois é só puxar pelo barbante a bebida gelada), os copos, os baralhos, jogos de dama e dominó, ligavam a tevê, manchas ‘arco-íris’ enlouquecedoras e forte chiado, escutavam o jogo através do rádio de um caminhão (conseguiam!) e imaginavam os lances no campo. O importante nas tardes de domingo era a reunião de amigos.

Trabalhadores abriam um túnel numa grota e consertavam a estrada. Perto dali, um mendigo se abrigava da chuva sob a cobertura de palha numa cabana abandonada. Comia frutas do mato ou recebia comida de um restaurante pobre de beira de estrada. Certa vez passou perto da obra, olhou, pensamento estudioso e interessado, conscientizou graves erros e ao mesmo tempo que ninguém o escutaria, sacudiu a cabeça, continuou andando, mas gritaram a alcunha de Zé Mané (como adivinharam? - foi casual, porque o doutor José Manuel há muitos anos não usava mais o precioso diploma de engenheiro). Voltou. Jogaram para ele uma arca achada no local, moedas antigas, e sugeriram que fosse comprar comida ou roupa ou... ou... Os pouquíssimos comerciantes locais riram dele, “que-diabo-de-dinheiro-velho-é-esse-que-não-serve-para-nada?!” - deram comida, arranjaram roupa velha. Lembrou-se da versão nada absurda de fenícios naquele lugar, comprovadas inscrições rupestres agora ao abandono. Explicar aos doadores da arca o valor das moedas aparentemente nacionais e fora de circulação? Venderia as moedas milenares, tesouro incalculável. A quem dirigir-se? Como um mendigo maltrapilho e mal cheiroso entraria num antiquário ou num museu de arqueologia? Onde? No mínimo, o prenderiam para confessar “o roubo”... Em poucos minutos imaginou-se numa casa com piscina, bonito e elegante como antigamente, carrão, criadagem, uma mulher feliz a seu lado (perdera noção da idade dos filhos, bem longe)... Mas, bebida constante e droga que o alegravam, a cátedra na faculdade já ficara para trás, no tempo e no espaço. Desiludido, caminhou mar a dentro e jogou a esmo uma a uma todas as moedas valiosíssimas. Talvez vagassem ao sabor da água e retornassem ao Oriente Médio.

Conheço uma pessoa que está há sete dias sem Internet. Explicaram que um raio caiu perto dali... Conserto no mínimo em noventa dias. Liga o computador, suspira fundo, sente-se uma ratinha abandonada à distância sem um gato Gigante e exibido que implique com ela. EU sou vaidoso e por volta de vinte e duas horas “escuto” imaginariamente ELA me dizer “Boa noite, Cigano!” Muito triste, olha repetidas vezes na telinha a mensagem de incomunicabilidade, desconhece trabalhos literários que publiquei e imagina os textos dos e-mail s que não pode me enviar................. “Carinho, sempre!” Igual aos homens sem tevê e mais ou menos como o mendigo que dispensou a fortuna recebida. Quando (assumo que estou exagerando agora) minha AMIGA voltará a ser feliz?

F I M