Traumas das imagens

  

Sites como o www.telehistoria.com.br , dos mais completos sobre a história da TV, são puro deleite para os apaixonados pelas imagens da telinha e sua epopéia histórica. Busca-se ali referência do passado recente, pois a história da TV brasileira tem pouco mais que cinqüenta e oito anos. Uma balzaquiana. No primeiro contato com o raro do telehistoria descobre-se a equipe preocupada com a memória do veículo do efêmero num país sem mem...Esqueci!  Programas de todos os canais estão listados  e muitos ainda aguardando o complemento das informações sobre elencos, enredos, diretores etc.

 

A coluna Mofo TV, do colunista José Marques Neto, o "ex-dentista" no Google, remete ao tempo tão  longe e tão perto naquilo que Deleuze chamou de memória involuntária.          Quem pesquisa por lá busca rever ou reencontrar o contato com as imagens percebidas ao longo da vida e no sofá, como telespectador, nas centenas ou milhares de horas frente ao ecrã. E faz a ponte entre o passado e o presente atualizado por segundo com a programação de hoje, em tempo real,  anunciada no "Agora na TV".

 

Ao encontrar a imagem que marcou a vida ou provocou algum transtorno cura-se de um traumatismo que foi produzido pela tela mágica eletrônica. Se não cair no túnel do tempo  do computador, como os vídeos do Youtube, as compras de publicações impressas de época estão fazendo a alegria de vendedores do Mercado Livre. Parte-se em busca do tempo perdido para recompor a história e cultura de cada um.

 

Imagem verbalizada 

 

Essa imagem  da história ou cultura está acorrentada no intelecto do telespectador ou leitor pois a ruptura aconteceu no passado. Explica-se: o procedimento de leitura da fotografia , como é percebido ao primeiro contato, é o mistério que Bruner e Piaget ajudam a esclarecer: “não há percepção sem categorização imediata, a fotografia é verbalizada no momento mesmo em que  é percebida ou melhor ainda: ela só é percebida verbalizada (ou se a verbalização tarda, há uma desordem na percepção, interrogação, angústia do sujeito e traumatismo). Assim a imagem percebida é apreendida imediatamente por uma meta-linguagem interior”.

 

As cenas que vão promover o traumatismo vão depender da história de vida do telespectador (ou leitor) da sua cultura, do entendimento e conhecimento do mundo. Isto. Cada um tem o seu mundo de coisas, único, específico e particular. Individual como a impressão digital que ontem era "coisa de analfabetos" e, hoje, o que há mais sofisticado da "tecno" em identificação legal e controle de patrões sobre empregado.

 

Cenas categorizadas 

 

Colecionadores apaixonados buscam capas de revistas, fotonovelas,  fotografias de jornais, álbuns de família, músicas eternas,  cenas de filmes ou novelas que ficaram como seqüela na  memória para reconstituir os signos que categorizaram suas vidas. "O trauma é inteiramente tributário da certeza de  que a cena realmente teve lugar". Cenas traumáticas, dizem os teóricos, são raras. Milhares passam despercebidas e não geram marcas. Outras são as fotografias traumáticas que Roland Barthes  cita como incêndios, naufrágios, catástrofes e mortes violentas  que foram colhidas "ao vivo".

 

Entre os traumas imagéticos do colunista estão a primeira aparição dos Secos e Molhados, no Fantástico, em 1973... Dos anos 60,  a novela com Tutuca "O Xerife Jiló contra a quadrilha do terror", o Doutor Valcourt, de Sérgio Cardoso em "O preço de uma vida”, os humorísticos com Consuelo Leandro, "A festa do Bolinha" com Jair de Taumaturgo,   na saudosa TV Rio; o programa do Capitão Furacão e a chinesa Lien, personagem de Theresa Amayo em "Passo dos Ventos", da TV Globo e, recentemente, a cena da morte de Odete Roittman e a cobertura dos atentados de 11 de setembro. E você? Liste aqui as imagens de  suas buscas...