TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO (TOC): O DESCONHECIDO

Escrito por Elisangela Cristina Aparecida Pereira

Resumo

Mesmo com uma incidência consideravelmente elevada, o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) ainda é um distúrbio de difícil diagnóstico e pouca divulgação entre a população. Por vezes, as pessoas sofrem caladas e não procuram um tratamento profissional, por desconhecimento ou medo do preconceito que possam vir a sofrer. Este artigo tem o objetivo de discutir brevemente sobre os sintomas e possíveis causas deste distúrbio, despertando o interesse de pessoas ligadas à área de pesquisa para esta área ainda pouco explorada pela psicologia.     

Palavras-chave: Transtorno Obsessivo Compulsivo, TOC, Transtorno do Comportamento, Obsessão, Comportamentos Repetitivos, Transtorno de Ansiedade.

Introdução

Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), conforme definido por Hyman e Pedrick (2003), é um distúrbio neurocomportamental caracterizado pela presença de obsessões e / ou compulsões normalmente com pensamentos persistentes, imagens ou impulsos (obsessão), seguido por atos repetitivos (compulsão), como limpeza, lavagem das mãos, checagem de alguma situação (ex: se as portas de casa estão trancadas), e assim por diante. Esses comportamentos repetitivos normalmente causam sofrimento e interferem na rotina diária da pessoa que sofre de TOC. Consequentemente, com frequência há outros sintomas ligados a estes sintomas primários, tais como depressão, ansiedade, medo, irritabilidade, preocupação constante e raiva. (Antony, Downie and Swinson, 1998).

Contudo, mesmo sendo a incidência desta doença muito elevada, com uma taxa de 2,5 por cento da população sofrendo dos sintomas de TOC (ex. Hyman & Pedrick, 2005), ainda há muita dificuldade de diagnosticar este transtorno, visto que este possui algumas similaridades com outros transtornos, tais como Tic, Impulso de Controle ou Somatoforme e Transtornos Alimentares.  Por conseguinte, além da complexidade para o diagnóstico deste transtorno, de acordo com Penzel (2000), algumas pessoas não procuram tratamento profissional por medo de discriminação por parte de amigos e familiares ou por receio de serem classificadas como "loucas". Consequentemente, com o sofrimento causado pelos sintomas e agravados pela ansiedade e pelo medo da discriminação, o TOC pode fazer com que pessoas sociáveis ​​se isolem da sociedade e mentes brilhantes deixem de atingir sua capacidade intelectual.

Além disso, apesar do TOC ser mais comum que a Esquizofrenia, sendo um objeto de preocupação até mesmo para a Organização Mundial de Saúde, este transtorno ainda trás muitos desafios para a psicologia, onde há uma acirrada discussão onde alguns profissionais da área afirmam que o TOC é uma doença, enquanto outros defendem a ideia de que este é apenas um transtorno decorrente de um exagero de pensamentos e comportamentos comuns. (ex., Toates & Coschug-Toates, 2002) Porém, embora seja difícil estabelecer com precisão as causas do TOC, uma vez que as informações sobre a doença normalmente são providas pelos pacientes que procuram tratamento e são geralmente muito limitadas, imprecisas e retrospectivas, alguns estudos tem mostrado que a doença pode ser claramente relacionada com um acontecimento traumático do passado ou situações extremas de estresse (ex. De Silva & Rachman, 2004).

Por exemplo, como abordado por Toates e Coschug-Toates (2002), normalmente as pessoas com sintomas do TOC relacionados à limpeza, apresentam estes comportamentos obsessivos em resposta a lembranças negativas do passado, quando se sentiram sujas ou impuras, física ou moralmente. Assim sendo, espera-se alguma ligação entre as experiências dos pacientes ligadas ao passado, seus sentimentos naquela ocasião e os sintomas reais de TOC. Portanto, conforme afirma Rothenberg (2002), para a construção de tratamentos eficazes, é necessário levar em consideração algumas informações da vida cotidiana das pessoas com TOC, tais como histórico de trabalho, hábitos de casa, comportamento social e profissional, e assim por diante. Consequentemente, acredita-se que este tipo de informação pode ajudar a compreender e tratar condições ainda desconhecidas em relação ao distúrbio, visto que, os resultados podem identificar certa congruência entre o tipo de sintomas apresentados pelo transtorno atual com sentimentos intensos e estressantes experimentados dentro de eventos traumáticos do passado.

Considerações Finais

Apesar de muita pesquisa ter sido conduzida neste campo, a maior parte se concentra em análises quantitativas, utilizando escalas ou questionários que relacionam sintomas de TOC, perdendo assim a experiência individual e subjetiva dos participantes. Portanto, o que se propõe com este artigo, é o incentivo a pesquisas voltadas para a investigação qualitativa das experiências e sintomas das pessoas que sofrem de TOC. Além disso, os estudos sobre este transtorno podem ajudar a chamar a atenção do governo e da população para os transtornos de TOC, desmistificando alguns preconceitos, informando e adquirindo apoio financeiro para aperfeiçoar o diagnóstico e tratamento deste transtorno.

Referências

Antony, M., Downie, F. & Swinson, R. (1998). “Diagnostic Issues and Epidemiology in Obsessive-Compulsive Disorder”. In R. Swinson, M. S. Rachman & M. Richter (Eds.) Obsessive-Compulsive Disorder: Theory, Research and Treatment. New York: The Guilford Press.

De Silva, P. & Rachman, S. (2004). Obsessive-Compulsive Disorder: The Facts. Oxford: Oxford University Press.

Hyman, B. & Pedrick C. (2003). Obsessive- Compulsive Disorder. Monnesota: Twenty-First Century Books.

Hyman, B. & Pedrick C. (2005). The OCD Workbook: Your Guide to Breaking Free from Obsessive Compulsive Disorder (2nd Ed.). Oakland: New Harbinger Publications, Inc.

Penzel, F. (2000). Obsessive-Compulsive Disorders: A Complete Guide to Getting Well and Staying Well. New York: Oxford University Press.

Rothenberg, A. (2002). “Assessment and Management of Obsessive-Compulsive Disorder”. In M. Maj, N. Sartorius, A. Okasha & J. Zohar.(Eds.). Obsessive-Compulsive Disorder (2nd Ed.). West Sussex:Wiley.

Toates, F. & Coschug-Toates, O. (2002). Obsessive Compulsive Disorder: Practical, Tried-and-Tested Strategies to Overcome OCD. London: Class Publishing.