Wanda Camargo* 

É incrivelmente demorado - e complicado - obter qualquer tipo de informação, em qualquer estabelecimento, seja ele público ou privado, de qualquer natureza, salvo as raríssimas exceções que apenas confirmam a regra.Por um lado, é possível atribuir esta realidade ao despreparo de atendentes, num país em que o sistema educacional de boa qualidade é raro - e normalmente disponível tãosomente a uma estreita camada populacional.

Por outro, o problema funda-se na cultura de sigilo, arraigada de modo paradoxal em nosso país. Os detentores de informação a tem como sua propriedade, algo precioso que deve ser avaramente resguardado.O objetivo, ainda que inconsciente, possivelmente é obtenção e manutenção de poder, em todos os níveis. O funcionário que sabe, até por ser sua função, os procedimentos necessários para a obtenção de algum serviço, vai revelá-los a conta-gotas - e somente após ser rogado com todo o respeito devido à sua posição.

A maioria de nós já se irritou,por exemplo, até a apoplexia, com o tratamento padrão dispensado pelo pessoal de balcão, quando um voo atrasa em algum aeroporto. Algumas companhias aéreas parecem julgar seus passageiros incapazes de processar informações, como a de que um avião precisou de manutenção inesperada, que houve congestionamento aéreo ou más condições de tempo. Explicadas adultamente, e em tempo, seriam compreendidas por muitos, evitando boa parte dos confrontos.

Acostumados desde a época colonial com estruturas obscuras, destinadas ao máximo proveito de alguns - o que só poderia ocorrer com o mínimo de conhecimento dos muitos -, não estranhamos mesmo quando a desejada transparência de órgãos de serviços comunitários se revela cheia de meandros, segredos e faltas de clareza; e então fica perfeitamente compreensível que uma organização inadimplente, sem recurso nem pessoal qualificado, vença licitações e arrecade muito, sem oferecer nada - ou quase nada - em troca. Trata-se do dinheiro de todos (considerado sem dono) e parte do princípio de que não entendemos o mecanismo que rege o processo.

Disso decorre que nada mais nos surpreende - e mesmo a indignação manifestada nos idos de junho parece já ter se esgotado, morrido de inanição cívica, ou de excesso de corrupção.Perdemos a crença nas instituições - e o aparente renascimento da esperança não passou daquela inevitável melhora que antecede a morte: último alento de um organismo prestes a dar seu último suspiro.

No entanto, não se pode desconhecer que a área educacional viabiliza-se pela esperança, já que o estado de ignorância de hoje só pode ser suportado pela perspectivafutura de conhecimento. Todo estudo necessita renuncia aos prazeres momentâneos, em prol da aquisição de um pouco de sabedoria. Sem a crença na conquista desta habilidade, não se justifica dedicação ou empenho, não há educação no seu sentido amplo.Entendimento sobre os detalhes e funcionamento de todas as entidades, especialmente as públicas,é parte do preparo profissional, mas, acima disso, da atitude cidadã.

* Wanda Camargo é educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.