Você vai participar a um evento e ouvir a tradução simultânea disponibilizada pelos organizadores do congresso? Sabe como usar o aparelho de tradução simultânea direitinho? Veja aqui algumas dicas para tirar proveito máximo da experiência e sugestões para resolver problemas com o receptor de tradução.

Pensando no ouvinte de interpretação de primeira viagem, estamos publicando um pequeno guia prático para tornar o seu uso do fone ou receptor de tradução uma experiência mais agradável. Receptor de tradução aliás, é o nome certo do aparelhinho parecido com um Walkman e dotado de um fone de ouvido que você vai usar para ouvir a voz dos intérpretes. Ao contrário do que muitos pensam, o nome dele não é tradutor simultâneo.

Como pode haver diferenças no modo de utilização dos aparelhos dependendo da marca, as dicas são gerais e utilizam o formato FAQ para maior facilidade de leitura.

Comecemos pelo começo.

1- Onde eu pego o aparelho de tradução simultânea?

Os congressistas experientes já sabem, mas os novatos às vezes vem pedir para o intérprete na cabine um receptor de tradução simultânea. Por mim tudo bem, só que eles não ficam conosco.

Em eventos pequenos, de uma ou duas salas, procure perto da entrada da sala por uma mesa com baús pretos em cima. Essas maletas são usadas para acondicionar os fones e, ao lado delas, sempre há uma ou duas atendentes de plantão distribuindo os fones para quem quiser ou precisar.

A retirada dos fones de tradução no Brasil é gratuita, uma cortesia do organizador do evento. Só que para pegar o fone você tem de deixar com a atendente o seu RG ou outro documento identificatório. A razão do procedimento é simples: os fones de tradução custam caro e muitos participantes costumam colocar no bolso e esquecem de devolver. O RG como seguro-garantia serve de lembrete: não esqueça de devolver fone ao terminar a apresentação ou antes de voltar para casa.

Nos eventos maiores, pode haver uma mesa de entrega de fones por sala ou um guichê central, com muitos atendentes ajudando na distribuição dos aparelhos. Confirme sempre ao pegar o fone qual é o canal de português ou outra língua que você vai ouvir na sala de interesse. Se esquecer, dê uma olhada na porta da sala ao entrar, tem sempre um cartaz indicando em qual canal cada língua vai estar.

Dica importante para os eventos com grande público: na retirada ou na devolução dos fones pode haver filas, portanto programe-se para pegar o fone de tradução simultânea com antecedência, ou você poderá perder o início daquela palestra tão aguardada.

2- Qual é o jeito certo de portar os fones?

Ótimo, você conseguiu se desvencilhar da fila, pegou o seu receptor de tradução simultânea, sentou-se num bom lugar (de preferência sem obstruir a linha de visão da cabine de tradução). Agora está pronto para colocá-lo em uso. Mas como colocar os fones?

Bem, não vou explicar como se veste um fone de ouvido em arco, também chamado de tiara, porque todo mundo sabe. É colocar na cabeça e ajustar as almofadinhas sobre as orelhas, tomando o cuidado de regular o arco para que não pressione o seu crânio (o que resulta em dor de cabeça garantida no fim do dia).

Contudo, o fone monoaural, também chamado de orelhinha, pode dar trabalho. Já vi muita gente usando ele errado, de ponta-cabeça, enviesado, nas posições mais esquisitas.

O fone monoaural tem como vantagem deixar uma orelha livre para você escutar diretamente a voz do palestrante, que é transmitida pelos alto-falantes da sala. Você também escuta o som ambiente com mais clareza, inclusive os comentários do seu amigo que sentou junto com você. O fone orelhinha é muito discreto, mal dá para ver que você está usando e por isso é o favorito entre os executivos zelosos de sua imagem. Outro benefício pouco mencionado é que ele não esquenta o ouvido.

As dicas para você encaixar o orelhinha com comodidade são duas. Primeira: o fio que liga o fone de ouvido ao receptor deve estar virado para a sua nuca, não para a sua face. Segunda: para acomodá-lo sobre a sua orelha, segure a aba superior da orelha com uma mão, projetando-a levemente para frente e, segurando o fone com a outra mão, encaixe-o na orelha, fazendo a cartilagem deslizar pela abertura do fone orelhinha.

Se você achou complicado demais colocar o orelhinha ou ele está incomodando apesar de estar corretamente ajustado, faça uma experiência para ver se os fones do seu iPod ou celular tem pino compatível com o jaque do receptor. Se encaixar você pode usar os seus próprios fones de ouvido, como muita gente faz no avião. Só cuidado para não perder o fone de ouvido que foi fornecido nem danificar o aparelho de tradução simultânea, para evitar multas para o organizador do evento.

3- Como eu ligo o aparelho de tradução simultânea?

Na maioria dos modelos ligar o receptor é bem simples. O próprio botão de Volume serve para ligar e desligar o receptor de tradução simultânea. Lembra dos radinhos de pilha? É igualzinho, gire o botão para a direita até ouvir um estalido e pronto, ligou.

Se ele já está sintonizado no canal certo, evite ficar mexendo com os botãozinhos, você corre o risco de perder a sintonia com o canal desejado. Aliás, contenha a curiosidade e evite ficar mexendo e remexendo no aparelho de tradução simultânea. Como a maioria dos aparelhos eletrônicos, ele possui partes mecânicas, que podem quebrar.

4- Qual o volume ideal para ouvir uma tradução simultânea?

O volume ideal é aquele que permite que você acompanhe o que o intérprete está dizendo sem incomodar os outros membros da plateia. Não ouça no último volume, pois além disso fazer mal para a audição, tradução simultãnea não é concerto de rock n'roll.

Vamos combinar que pega a mal, a ponto de ter quem diga que deveria haver um círculo no inferno reservado para quem ouve tradução simultânea alto demais (imagino ele deve ficar um nível abaixo do círculo dos intérpretes que berram na cabine, falta gravíssima).

Os únicos que ficam dispensados de seguir esta recomendação são os congressistas que têm perdas auditivas ou outros problemas de audição.

4- A recepção está péssima, meu aparelho de tradução simultânea está chiando sem parar. O que eu faço?

Não perca minutos preciosos da palestra tentando descobrir um jeito de ouvir o intérprete através da estática. Levante-se imediatamente e vá pedir para trocarem seu receptor no mesmo lugar em que o retirou. Pode ser um problema de transmissão, mas na maioria dos casos o chiado aparece porque as pilhas do seu receptor estão fracas. As atendentes trocam o receptor por outro na hora, estão habituadas a esse problema.

Se mesmo depois de trocar o receptor o problema continuar, tente sentar-se em outro lugar da sala para ver se resolve, e de toda a forma comunique o fato à gerente de sala (uma atendente uniformizada que fica dentro na sala do evento). O áudio da tradução simultânea deve ter qualidade técnica perfeita para o ouvinte.

Em toda sala com tradução simultânea há um técnico responsável pela cabine de tradução e a transmissão e recepção do áudio em tradução. Eles geralmente ficam ouvindo a tradução simultânea o tempo todo para monitorar e resolver possíveis problemas na recepção do áudio que vem da cabine, o que requer muita experiência e a capacidade de realizar malabarismos incríveis, como trocar cabos e centrais de interpretação com o evento em andamento.

5- A qualidade do áudio da tradução simultânea está boa, mas esse intérprete...

Se você não está satisfeito com a qualidade da interpretação, você tem o direito e o dever de avisar o organizador de evento, manifestando-se pessoalmente ou por meio da ficha de avaliação do evento.

Saiba no entanto distinguir o que é interpretação (a maneira como o intérprete transmite as ideias dos palestrantes) do que é recepção de áudio (chiadeiras, zumbidos e tectecs afins).

Seja justo na sua avaliação, no entanto. Os intérpretes trabalham em condições difíceis. Raramente recebem as apresentações para se prepararem, frequentemente traduzem palestrantes que falam em velocidade atordoante, e às vezes penam porque o áudio que estão recebendo do pódio tem má qualidade, o que prejudica muito a sua concentração.

Para resumir: caro ouvinte, fazer interpretação de conferências não é moleza, mas ninguém é obrigado a endossar pelo silêncio o trabalho de um mau profissional.

E geralmente ninguém endossa mesmo, quando o intérprete falha, gagueja, fala asneiras ou trava, as reclamações vêem aos borbotões. Se a coisa estiver realmente catastrófica, o organizador vai dar um jeito de substituir o intérprete, se não na hora do almoço, no dia seguinte.

Agora, se o contrário for verdadeiro e os intérpretes estiverem dando um show na cabine, têm vozes lindas e seguras, reconheça e elogie o trabalho. Faça saber que você gostou da interpretação, que os intérpretes se desdobraram para transmitir a mensagem com fidelidade, elegância e clareza, como sempre nos esforçamos para fazer aqui na Voicelink Tradução Simultânea.

Os intérpretes que recebem avaliação positiva da plateia se sentem realizados e tem mais chance de retornar na próxima edição do evento. Isso é bom para eles e para quem os ouve também.