Tradições e Variações para o ensino da Língua Materna

 

Alexandra Carneiro

Atualmente a variação linguística é muito valorizada, existe a norma padrão, respeita-se, mas são poucos que a usam. Não há mais certo e errado e sim adequado e inadequado.

Segundo Neves, “na própria visão do povo, como percebemos claramente nos dias de hoje, fala como pode, mas considera e aceita que não fala como deve, quando não tem o padrão autorizado”. (p.47)

A norma é uma força conservadora na linguagem, mas não impede a evolução linguística. A norma é um conceito tradicional, é um certo controle da representação escrita da língua, sendo qualificado de erro, o que não segue esse modelo.

A autora defende que “a própria variabilidade e evolução que a sociolingüística traduz “variação e mudança” – é o suporte da consideração da exigência de diversos modos de uso, não só em lugares e em tempos diferentes” (...) (p.48)

Devemos estudar a norma padrão, mas não nos prendermos a ela, a língua está em contínua mudança, e é importante respeitar as variações. Dependendo da situação devemos ser mais formais, mas esta regra não é válida em todos os lugares, em todas as circunstâncias.

Neves coloca que, “nem linguisticamente nem sócio culturalmente fica aberto fica aberto terreno para que indivíduos (por mais especialistas que sejam) pontifiquem sobre qual seja a norma legítima.” (p.50)

Dizer que esta norma é correta, afirmar que se deve usar tal norma, que é certo falar ou escrever desta maneira, tudo isto é errado, pois, cada lugar tem seu próprio jeito de falar, seus costumes e assim todos devem respeitar a variabilidade existente, o seu papel, que não é apenas o de combater sem mais – a atitude prescritiva. Ele é quem sabe, em cada caso de “desvio (na verdade, de variação), refletir sobre o que ocorre, e, assim, não lhe é lícito deixar o campo para quem venha responder a essa necessidade alheado de deixar o campo para quem venha responder a essa necessidade alheado de compromisso com a ciência linguística”. (p.55)

O importante é partir da ação, valorizar o uso da língua, refletir sobre as variações, respeitar a língua falada.

Pensar o ensino de Língua Portuguesa, significa pensar numa realidade que permeia todos os nossos atos cotidianos: a realidade da linguagem. Ela nos acompanha onde quer que estejamos e serve para articular não apenas as relações que estabelecemos com o mundo, como também a visão que estabelecemos sobre o mundo.

É notável a importância de ensinar a língua materna para seus falantes. Constata-se que o texto “objetivos do ensino de língua materna” de Luís Carlos Travaglia, está bem atualizado, e segundo ele (p.17), “o ensino de língua materna se justifica com o objetivo de desenvolver a competência comunicativa dos usuários da língua, que é a capacidade do usuário de empregar adequadamente a língua nas diversas situações de comunicação”.

O falante será capaz de usar a fala em várias situações de modo adequado ao ambiente, também capaz de ler e produzir textos.

Travaglia ainda diz que “a competência gramatical é a capacidade que tem todo usuário da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor) de gerar sequências linguísticas gramáticas, isto é, considerados por esses mesmos usuários como sequências próprias e típicas da língua em questão”. (p.17)

O usuário já é um falante da sua língua nativa e a domina numa determinada variedade e um dos grandes problemas no ensino de português parece estar no domínio da língua padrão. Não há certo ou errado, mas aceitável e inaceitável em determinados lugares. Assim, a fala deve ser valorizada, o fato de se dominar as formas da língua padrão não significa, necessariamente, uma boa expressão oral. Mais importante que desenvolver o domínio das estruturas da língua padrão, é criar condições para construir discurso próprio, particularizar seu estilo e expressar com objetividade e fluência suas ideias.

Travaglia fala que “a competência textual é a capacidade de, em situações de interação comunicativa, produzir e compreender textos considerados bem formados”. (p.18)

O leitor maduro não é um sujeito passivo, mas alguém que constrói, concordando ou discordando do autor do texto, a sua interpretação numa relação de diálogo íntimo com aquilo que lê. A partir do contato com a diversidade de diferentes tipos de textos, é possível estabelecer o contraponto, mostrando que cada texto tem uma especificidade e revela uma determinada interpretação sobre o relato, o debate, a exposição de ideias

Travaglia, ainda expõe outros objetivos do ensino de português, que são preocupação frequente:

a)      “dominar a norma culta ou padrão;

b)      “Ensinar a variedade escrita da língua”. (p.19)

Deve-se conhecer a norma culta, mas não prender-se a ela, deve-se proporcionar o domínio da variedade padrão, confronto com estruturas diferentes, a partir daí seria mais fácil pensar em termos de adequação da norma a contextos específicos. Mas, infelizmente o que é percebido, é que os professores estão presos ao tradicional e nem se esforçam para mudar.

As variedades linguísticas revelam a história, as práticas culturais, as experiências de grupos sociais e não a incapacidade de se falar “corretamente”.

Ainda Travaglia, “um dos objetivos do ensino de língua materna, é levar o aluno ao conhecimento da instituição lingüística” (...) (p.20).

O aluno deve conhecer sua língua, estrutura e funcionamento, forma e função, ensinar o aluno a pensar, raciocinar, interagir na sua natureza, seu ambiente e na sociedade.

Travaglia propõe “um objetivo que, sendo mais ligado a atividade metalinguística, ao ensino de teoria gramatical, não se aplica só ao ensino de língua materna. Propõe o aluno a pensar, a racionar” (...) (p.20).

Se o professor levar tudo pronto para a sala de aula, o aluno não criará, não pensará, não racionará então o professor deverá criar situações de novas atividades para quebrar a rotina tradicional. Deverá ser o mediador do ensino.

Referências Bibliográficas

NEVES, Maria H. M. Que gramática estudar na escola? São Paulo: Contexto, 2003.

TRAVAGLIA, Luís Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no ensino de 1º e 2º graus. 5ª Ed. São Paulo: Cortez, 2000.