Trabalho Por Turnos E Qualidade Dos Cuidados De Saúde
Publicado em 01 de agosto de 2008 por Paulo Jorge Lopes Matos
Na área da saúde, os profissionais praticam diversos tipos de horário, que variam entre o horário fixo e o horário por turnos. Para além dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais propriamente ditas, as actividades realizadas pelas equipas de saúde, nomeadamente enfermeiros e médicos, geram a ocorrência de patologias relacionadas com este tipo de trabalho e desencadeiam frequentes situações de stress, fadiga física e mental, constituindo uma agressão contínua à sua saúde. O horário por turnos (rolman) torna-se particularmente penoso pela sua distribuição de horário. A fadiga muscular, o desgaste psíquico, a alteração do sono e da vigília, as alterações do sistema digestivo ou o burnout são algumas das suas manifestações mais evidentes.
Durante os últimos tempos, a qualidade dos serviços de saúde alcançou níveis sem precedentes. A evolução verificada na qualidade foi potenciada pela crescente competição entre as organizações tendo, muitas delas, enveredado pelo caminho da mudança para melhorar a qualidade da prestação. Os serviços de saúde não são uma excepção e o consumidor de cuidados de saúde mostra-se cada vez mais exigente e reivindicativo, daí resultando que a qualidade na prestação tem vindo a assumir uma crescente importância.
O presente trabalho estuda a "Influência do Trabalho por Turnos na Qualidade dos Cuidados de Saúde".
Após a abordagem teórica dos temas em análise (trabalho por turnos e qualidade dos cuidados de saúde) procedeu-se a um estudo de campo, aplicado no Centro Hospitalar Cova da Beira e Hospital Sousa Martins, e dirigido a enfermeiros e médicos que trabalham em horário fixo e horário por turnos.
Usando a técnica de questionário, foram avaliados aspectos como o sono, a situação social/familiar, o estado de saúde, a fadiga e a qualidade de vida destes profissionais. Foi também discutida a percepção que estes trabalhadores têm acerca da qualidade dos cuidados de saúde que prestam, bem como as formas de minimização do desgaste físico e emocional provocadas pelo trabalho por turnos.
Conclui-se dos resultados obtidos que os profissionais de saúde que trabalham por turnos apresentam mais alterações do sono e perturbações da sua vida social e familiar, sentindo-se mais fatigados e apresentando menor qualidade de vida que os seus colegas, trabalhadores em horário fixo. Por outro lado, confirmámos que, de facto, o trabalho por turnos influencia de forma negativa a qualidade da prestação de cuidados de saúde.
As soluções apontadas pelos enfermeiros e médicos para a minimização do desgaste físico e emocional decorrente do trabalho por turnos para o aumento da qualidade dos cuidados de saúde são: a redução da idade da reforma, a redução do número de anos no trabalho por turnos e a redução do número de doentes por profissional de saúde, medidas estas que podemos considerar de difícil implementação, face à actual situação económica e financeira do sector e de todo o país.