Na área da saúde, os profissionais praticam diversos tipos de horário, que variam entre o horário fixo e o horário por turnos. Para além dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais propriamente ditas, as actividades realizadas pelas equipas de saúde, nomeadamente enfermeiros e médicos, geram a ocorrência de patologias relacionadas com este tipo de trabalho e desencadeiam frequentes situações de stress, fadiga física e mental, constituindo uma agressão contínua à sua saúde. O horário por turnos (rolman) torna-se particularmente penoso pela sua distribuição de horário. A fadiga muscular, o desgaste psíquico, a alteração do sono e da vigília, as alterações do sistema digestivo ou o burnout são algumas das suas manifestações mais evidentes.

Durante os últimos tempos, a qualidade dos serviços de saúde alcançou níveis sem precedentes. A evolução verificada na qualidade foi potenciada pela crescente competição entre as organizações tendo, muitas delas, enveredado pelo caminho da mudança para melhorar a qualidade da prestação. Os serviços de saúde não são uma excepção e o consumidor de cuidados de saúde mostra-se cada vez mais exigente e reivindicativo, daí resultando que a qualidade na prestação tem vindo a assumir uma crescente importância.

O presente trabalho estuda a "Influência do Trabalho por Turnos na Qualidade dos Cuidados de Saúde".

Após a abordagem teórica dos temas em análise (trabalho por turnos e qualidade dos cuidados de saúde) procedeu-se a um estudo de campo, aplicado no Centro Hospitalar Cova da Beira e Hospital Sousa Martins, e dirigido a enfermeiros e médicos que trabalham em horário fixo e horário por turnos.

Usando a técnica de questionário, foram avaliados aspectos como o sono, a situação social/familiar, o estado de saúde, a fadiga e a qualidade de vida destes profissionais. Foi também discutida a percepção que estes trabalhadores têm acerca da qualidade dos cuidados de saúde que prestam, bem como as formas de minimização do desgaste físico e emocional provocadas pelo trabalho por turnos.

Conclui-se dos resultados obtidos que os profissionais de saúde que trabalham por turnos apresentam mais alterações do sono e perturbações da sua vida social e familiar, sentindo-se mais fatigados e apresentando menor qualidade de vida que os seus colegas, trabalhadores em horário fixo. Por outro lado, confirmámos que, de facto, o trabalho por turnos influencia de forma negativa a qualidade da prestação de cuidados de saúde.

As soluções apontadas pelos enfermeiros e médicos para a minimização do desgaste físico e emocional decorrente do trabalho por turnos para o aumento da qualidade dos cuidados de saúde são: a redução da idade da reforma, a redução do número de anos no trabalho por turnos e a redução do número de doentes por profissional de saúde, medidas estas que podemos considerar de difícil implementação, face à actual situação económica e financeira do sector e de todo o país.