UNIFRAN

RESENHA
TRABALHO E ESCRAVIDÃO NA GRÉCIA ANTIGA

RAFAEL AZIZ BRAZ DA SI LVA

FRANCA
2010
Trabalho e Escravidão na Grécia Antiga

Jean-Pierre Vernant nasceu em Provins, na França, em 1914. Formado em filosofia, foi dirigente da Resistência durante a Segunda Guerra e membro do partido comunista até 1970. Em 1958, tornou-se professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales. Publicou mais de quinze livros, como a trilogia Mito e pensamento entre os gregos, Mito e sociedade na Grécia antiga e Mito e religião na Grécia antiga. Foi professor honorário do Collège de France. Foi galardoado com a medalha de ouro do CNRS em 1984. Em 2002 recebeu um doutorament "Honoris Causa" pela Universidade de Creta.
Pierre Emmanuel Vidal-Naquet nasceu em Paris no dia 23 de julho de 1930 e foi um historiador e intelectual francês, de origem judaica. Era especialista em Grécia Antiga, mas também tinha interesse pela História Contemporânea, assim como pela História Judaica.
Em 1989 os dois se unem e publicam Trabalho e Escravidão na Grécia Antiga, uma analise de textos e documentos de Xenofonte, Aristófanes, Platão, entre outros mesmo contemporâneos, que, levando o nome dos dois autores em conjunto, é divida em duas partes, sendo a primeira por Jean-Pierre Vernant e a segunda por Pierre Vidal-Naquet.
Jean-Pierre Vernant começa com uma analise não do trabalho escravo em si, mas com a relação trabalho-natureza na Grécia Antiga, onde ele discorre sobre como a agricultura e os deuses afetavam a mentalidade e o psicológico das pessoas, destacando a agricultura como a principal atividade mesmo no período clássico, onde ser um agricultor significava ser uma pessoa de bem, honesta e trabalhadora, e quanto mais se dedicava a atividade, mais se agradava aos imortais, destacando assim essa extrema proximidade do homem Grego com a natureza. Um outo ponto de destaque é a forma e o conceito de técnica entre os gregos, onde o autor mostra como o trabalho técnico era utilizado, visto e compreendido, dizendo, mesmo que por cima, a técnica não era muito bem desenvolvida entre os gregos, mesmo no período clássico, e sim uma adaptação às coisas, pondo em destaque a figura do artesão, que a principio é visto como quem esta a serviço de outro, com função econômica apenas de troca. Quando já ao fim de sua participação no livro, Jean-Pierre Vernant mostra certa tendência ao marxismo onde ele vai estudar a luta de classe; mas existiam classes sociais na Grécia Antiga? Segundo o Autor sim, pois o período antigo, seguido um linha de raciocínio marxista, estava ligado ao modo de produção escravista e como a sociedade era profundamente ligada à agricultura, os conflitos entre as classes se davam pelo modo de concessão do solo e termina dizendo "O fato de Pertencer a uma classe não depende da riqueza, nem da taxa de renda, mas do lugar nas relações de produção".**
Seguindo a mesma linha de raciocínio de seu companheiro e também uma marxista, Pierre Vidal-Naquet faz uma analise dos escravos como uma classe social na Grécia Antiga, mas não só de escravos em si, e sim fazendo uma ligação entre Hilotas, Metecos e Periecos, distinguindo as características de cada grupo; e o interessante é que o autor expõe que uma única pessoa podia passar por vários grupos diferentes, que se, por exemplo, um hilota podia tornar-se escravo segundo determinadas circunstancias, isso acontecia em épocas de intensas crises causadas pelas guerras ou mesmo por revolta. Em seus últimos dois capítulos Pierre Vidal-Naquet foge um pouco dessa linha de raciocínio marxista e analisa a escravidão e a Ginecocracia, onde mostra o papel da mulher que mesmo em uma sociedade onde se valoriza a figura masculina, ela desempenha um papel fundamental, que principalmente em época de guerra eram responsáveis pelos lares e em alguns casos não confirmados, ate mesmo pelas cidades, além do fato de ser a principal figura relacionada à procriação; e por fim o artesão na cidade, baseando em escritos de Platão, expõe a ascensão que se tem a partir do século V A.C., se antes estava apenas a serviço de outro com função somente para troca, agora há uma civilização do artesão.
De modo geral os autores conseguem passar de forma coesa, mas um pouco complexa as conclusões e analises feita em cima de documentos da época, além de outros trabalhos contemporâneos. Um ponto que vale ressaltar é a metodologia marxista intensamente usada ao longo do livro, é certo que Marx foi dono de uma grande mente, mas esta mente estava ligada a sua época, mesmo que tendo feito trabalhos ligando sua metodologia a períodos anteriores aos seus, o marxismo se da melhor na analise e compreensão de seu período, pois fica meio que complicado pensarmos em Classes Sociais em um período onde não se tinha o Capitalismo, prefiro levar em conta como Grupos Sociais ao invés de Classes. Outro ponto agora com relação à estrutura do livro são as palavras em grego que estão ao longo da obra, elas são expostas, mas sem uma tradução para as mesmas, ficando difícil assim a compreensão de determinada frase ou conceito. É uma analise indicada mais para o meio acadêmico pelo grau de complexidade da obra e por se tratar de um tema especifico e não geral, tomando sempre o cuidado para não se fazer um anacronismo passado e presente ou ate mesmo épocas distintas.
VERNANT, Jean-Pierre. NAQUET, Pierre-Vidal. Trabalho e Escravidão na Grécia Antiga. Campinas: Papirus, 1989.