Não é de hoje que o trabalho docente vem sofrendo profundas alterações no campo da gestão, do currículo, da formação docente em função das mudanças efetivadas na base material da sociedade e também, decorrente das políticas educacionais que foram adotadas no país nas últimas décadas.

Maués (2003) aponta que as reformas educacionais apresentam um objetivo político bem definido, que envolve tanto a estrutura administrativa e pedagógica da escola, quanto a formação de professores, os conteúdos a serem ensinados e os suportes teóricos a serem adotados. Enfim, tudo o que possa estar relacionado ao processo de ensino-aprendizagem.

Assim, a desqualificação sofrida pelos professores nos processos de reforma que tendem a retirar deles a autonomia, entendida como condição de participar da concepção e organização de seu trabalho, contribuiu para o fortalecimento da sensação de mal estar desses professores, como diz Oliveira (2003).

Com base nessas questões, percebe-se o impacto que o modelo econômico neoliberal desencadeia na educação e, por consequência, repercute significativamente no embate cotidiano do trabalho docente, bem como na formação docente.

Nesse sentido, faz-se necessário um curso de formação de professores voltado à emancipação dos futuros professores, não apenas para atender demandas do mercado, mas para formar um profissional em que o compromisso político busque diminuir a desigualdade social numa sociedade que se diz democrática.  

Nessa perspectiva, compreende-se que num currículo, principalmente de formação de educadores, é primordial contemplar a formação política para que se efetive o papel sociopolítico do educador e que este seja capaz de criticar a ideologia vigente e, não apenas reproduzir a cultura dominante, como alertam Santos e Mesquita (2007).

Nesse contexto, cabe lembrar, o pensamento de Paulo Freire, que a educação além de um ato de conhecimento, é também, um ato político. A educação como ato político, exige mediação, exige participação, exige postura crítica e política, no fazer pedagógico (FREIRE, 1997). Momento propício à reflexão sobre o assunto em nosso país (!).

Talvez não consigamos mudar tão rapidamente a consciência despolitizada de nossos educadores e a comunidade escolar, mas o melhor que se poderia fazer para tentar reverter o quadro que se instaura hoje seria, através do conhecimento da situação política, desde a comunidade local, como a do município, do estado, do país e do mundo, para melhor compreendermos o processo de globalização.

 Desenvolver a capacidade de discernimento na escolha dos governantes também resultaria na possibilidade de evitar maiores prejuízos, e angariaríamos mais chances de a educação ser enxergada como direito social de todos como de fato prega a nossa Carta Magna. Assim, estaremos participando e podendo exigir com propriedade e afinco os nossos direitos “já garantidos”.

                               Carolina Lopes Delgado é professora de Português em Rondo

nópolis há 17 anos.