CONJUNTO E MATRIZ A INTEGRAÇÃO NO TRABALHO COM GRUPOS

 

 

 

Glória Maria Silva

 

 

 

Todas as vezes que um grupo de indivíduos se reúne para realizar uma determinada tarefa seja ela objetiva ou subjetiva, com finalidades práticas ou terapêuticas, do trabalho realizado pelo conjunto dos integrantes, acontece um fenômeno denominado matriz.

A interação do conjunto de integrantes com esta matriz forma uma unidade e capacita ao coordenador do grupo a tradução da complexidade que encontra-se ocorrendo no aqui e agora do acontecimento grupal; ilustrando com o exemplo de Kurt Lewin “O todo é muito mais do que a soma das partes dos elementos contidos nela”.

Os integrantes do grupo formam um conjunto que apesar das heterogeneidades tanto latente como manifesta, devem se manter harmônicos; o que vai determinar esta harmonia no grupo é a matriz.

A matriz marca o compasso de todo acontecimento grupal e o coordenador do grupo deve magistralmente captar este compasso no acontecimento grupal e conduzir o conjunto como um todo. É como se cada componente do grupo correspondesse a um instrumento de uma orquestra musical, conduzido por seu coordenador que afina o grupo em ressonância com a sintonia da matriz.

No entanto a matriz não é o conjunto nem pertence a ele, e sim uma nova entidade, emerge no aqui e agora do acontecimento grupal, é um fenômeno com vida própria que revela, desvela e se desfaz, esta entidade se podemos assim dizer acontece em todo curso do trabalho de grupo. Exemplificando na matemática o conceito: “no conjunto a intercessão está contida no conjunto, mas não pertence ao conjunto em nenhum deles”.

O complexo grupal é formado por pares interligados; conjunto-matriz, processo-fenômeno e trabalho-ressonância que desenvolve seguindo a organização de cada componente do grupo e do conjunto deles como um todo.

A teoria da técnica favorece a compreensão do conjunto e o reconhecimento da matriz. Compreender este fenômeno através da leitura do grupo torna-se possível a compreensão do todo processo grupal.

O trabalho com grupos tem o seu pilar na escuta e na neutralidade destituído de preconceitos e convenções pessoais, pois um coordenador preconceituoso não consegue perceber o progresso naqueles integrantes que não se ajustarem as suas convicções e crenças.

Conjunto e matriz são inseparáveis durante o trabalho. A matriz revela e reflete o conjunto subjacente com isso os integrantes passam a perceber a matriz e vão adquirindo conhecimento de si, de cada componente individualmente e do grupo como um todo e enquanto o coordenador interpreta o grupo como um todo. Os seus integrantes vão dando toques que contribuem para enriquecer ainda mais o trabalho.

A esse fenômeno matriz subjaz pares de opostos iguais e ambivalentes. O comportamento repetido e revelado pelo grupo é transformado pela matriz. Assim um grupo marcado pela meiguice e cordialidade pode esta ocultando o comportamento de integrantes excessivamente egoístas e hostis.

O coordenador deve estar atento a esses detalhes, no entanto deixar o processo se desenvolver por si próprio até a emergência da matriz, quando então poderá realizar interpretações, pois uma interpretação prematura poderá ser danosa ao grupo.

A interpretação de grupo deverá ser sempre na direção da matriz, jamais dirigidas ao conteúdo ou comportamento manifesto.

Vários fatores podem bloquear ou impedir o trabalho tais como: interpretações prematuras, exibicionismo, desejo e ansiedade do coordenador.

O condutor não deve parecer diferente, as interpretações e confrontações devem dirigir na revelação da matriz, o silêncio em determinados momentos torna-se mais proveitoso e eficaz, pois um coordenador egosintônico empobrece o trabalho, enquanto que um com o ego moderado torna-se por si só mais eficiente.

O coordenador embora sabendo encontrar-se no lugar do “suposto saber” por dominar os instrumentos, as ferramentas do processo, não espera resultados específicos, respeito o desenvolvimento do grupo a seu tempo, portanto não faz demonstrações excessivas do saber para não levar o grupo a um clima de êxito ou malogro e nem privilegia nenhum componente para não exarcebar nos narcísicos o exibicionismo nem nos depressivos, ausência silenciosa, faltas e abandonos.

Quando um condutor um coordenador de grupo sente necessidade de demonstrar seus conhecimentos, os demais integrantes sentem necessidade de agradá-lo, pois conseguem captar através da matriz que estarão expostos a força de retaliações.

Um coordenador cauteloso respeita prestando atenção a todos os comportamentos, isto faz com que o grupo se abra a possibilidade de escolhas muito maiores de comportamento e com isso aprende muito mais ao se encontrarem abertos as possibilidades do trabalho em si do que procurando agradar um coordenador vaidoso. O coordenador deve demonstrar que o conjunto não substitui a matriz e que o seu “saber” não é maior do que o conjunto de sabedoria que emerge da matriz grupal, e ademais exibições não demonstram saber e sim atuações e má utilização de força, o poder está contido e pertence à matriz.

O grupo aprende que o verdadeiro trabalho nasce do silêncio e revelação da clareza dos fatos. Isto gera segurança, o grupo como um todo descobre que o coordenador que verdadeiramente trabalhou o processo em sempre terá estrutura capaz de se manter firme e continuar seu trabalho, se faz necessário e eficiente ao contrario daqueles que se encontram preocupados em seu narcisismo aparentarem êxitos.

Por mais que nos esforçamos em definir a matriz, jamais chegaremos a uma conclusão lógica porque matriz é lei e assim se comporta, está no processo, mas não faz parte dele, no entanto é a base comum para todo acontecimento grupal, é uma lei presente em todos os eventos e em todos os integrantes.

O trabalho consiste ainda na observação do grau nas polaridades, na ambivalência: conjunto-matriz. As causas e os acontecimentos é que irão determinar maior ou menor grau dos conflitos. A ressonância determinará o grau de catexização ou descatexização encontrados nesta polaridade. Todos os acontecimentos no grupo como, por exemplo, o grau de cooperação na resolução e conflitos de seus componentes, são denunciados e elaborados a partir da interpretação da matriz quando o grupo é bem conduzido.

A ressonância vem do conjunto, o conflito e a ambivalência também. A matriz é uma unidade neutra, que revela o que está oculto, desvela e se desfaz. Ela se impõe imparcial seguindo a sua lei natural, as expensas do comportamento do conjunto então formado. A matriz aponta o agradável e o desagradável e o coordenador a interpreta de maneira imparcial. Os componentes do grupo não são superiores nem inferiores ao conjunto. O mesmo material subjacente ao grupo, subjaz a matriz. A matriz perpassa todo processo inclusive o coordenador do grupo.