Resenhas do textos :

- TRABALHARA PARTIR DOS ERROS E DOS OBSTÁCULOS ÀAPRENDIZAGEM

- TRABALHARA PARTIR DAS REPRESENTAÇÕES DOS ALUNOS

- CONSTRUIR E PLANEJARDISPOSITIVOS E SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS

Autor: Philippe Perrenoud (p. 30-36)

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FICHA TÉCNICA

Título: DEZ NOVAS COMPETÊNCIAS PARA ENSINAR

Autor: PHILIPPE PERRENOUD

Editora: EDITORA ARTMED

Cidade: Porto Alegre

ano: 2000

número de páginas: 192

ISBN: 8573076372

TRABALHARA PARTIR DOS ERROS E DOS OBSTÁCULOS À APRENDIZAGEM

Baseia-se no postuladode que aprender não é primeiramente memorizar, mas reestruturarseu sistema de compreensão de mundo. O autorapresenta questionamentos para investigar os saberes prévios dos alunos:

  • Porque a sombra de uma árvore se alonga?

Porque o sol se deslocou, dirão aqueles que, na vida cotidiana, continuam a pensar que o sol gira em torno da Terra. Porque a Terra seguiu sua rotação, dirão os discípulos de Galileu. Daí a estabelecer uma relação precisa entre a rotação da Terra (ou o movimento aparente do sol) e o alongamento de uma sombra, há apenas um passo que supõe um modelo geométrico e trigonométrico que a maioria dos adultos teria bastante dificuldade para relembrar ou elaborar rapidamente. Pedir a alunos de onze ou doze anos que façam um esquema para representar o fenômeno colocá-los, portanto diante de obstáculos cognitivos que só poderão superar graças a certas aprendizagens.

Dia o autor a Pedagogia clássica trabalha com obstáculos, mas privilegia aqueles que ateoria propõe, aqueles que o aluno encontra em seu livro de matemática ou física, quando lendo pela terceira ou oitava vezo enunciado de um teorema ou uma lei, ainda não compreende porque a soma dos ângulos internos de um triângulo é 180º, ou como pode ser possível um corpo cair com aceleração constante.

Ele propõe a construção de uma ponte, na suposta tomada de uma fortaleza, assim solicita que calculem o comprimento que deverá ter uma escada que permita transpor um fosso deseis metros de largura, para que se alcance o alto de um muro de nove metros. Se conhecerem o Teorema de Pitágoras e forem capazes de ver tanto sua pertinência como sua aplicação, farão a soma das raízes quadradas de 6 e de 9, ou seja: 36+81=117 deduzindo que bastará uma escada de 11 metros.

Se não conhecerem o teorema de Pitágoras, deverão ou descobri-lo ou proceder de modo mais pragmático, construindo por exemplo uma maquete reduzida., isto inclusive poderá originar um trabalho sobre proporções, sugere o autor.

Observa Perrenoud, que conforme forem os saberes dos alunos, se conhecerem o teorema ou estiverem muito longe de descobri-lo, os alunos não farão as mesmas aprendizagens.

  • Se conhecerem o teorema; trabalharam a operacionalização ou atransferência de um conhecimento adquirido, em um contexto no qual sua pertinência não se mostra à primeira vista, já que se deve construir um triângulo retângulo , ou seja comparar o fossoe o muro aos lados do ângulo direito, a escada a hipotenusa pensando em Pitágoras. Nesse nível, pode se seguir aos alunos que considerem o fato de que não se colocará a escada exatamente na beira do fosso e que ultrapassará o muro.
  • Se chegarem perto do teorema, o obstáculo cognitivo será de outra ordem.Os alunos deverão construir a intuição de que provavelmente existe uma regra que lhe permitirá, se a encontrarem, calcular sem hesitar. Faltarádescobri-la e depois formalizá-la, fase na qual o professor, sem dúvida, intervirá propondo outras situações e talvez o próprio teorema;
  • Se os alunos "não tiverem nenhuma idéia" da existência de um teorema aplicável, eles se contentarão em buscar uma solução pragmática por meio de estimativas e simulações.

Uma verdadeira situação problema obriga a transpor um obstáculo graças a uma aprendizagem inédita, quer se trate de uma simples transferência, de uma generalização ou da construção de um conhecimento inteiramente novo. Os obstáculos tornam-se então o objetivo do momento, um objetivo obstáculo, conforme a expressão de Martinand (1986) retomada por Meirieu, Astolfi e muitos outros.Deparar-se com o obstáculo é em um primeiro momento enfrentar o vazio, a ausência de qualquer solução, a te mesmo de qualquer pista ou método, sendo levado à impressão de que jamais se conseguirá alcançar soluções.

O autor coloca que diante de uma tarefacomplexa, os obstáculos cognitivos são, em larga medida, constituídos por pistas falsas, erros de raciocínio, estimativas ou cálculo, acrescenta ainda,a didática das disciplinas interessa-se cada vez mais pelos erros e tenta compreende-los, antes de combatê-los.

Astolfi (1997) propõe que se considere o erro como uma ferramenta para ensinar, um revelador dos mecanismos do pensamento aprendiz.

TRABALHARA PARTIR DAS REPRESENTAÇÕES DOS ALUNOS

Trabalhar a partir das representações dos alunos não consiste em fazê-las expressarem-se paradesvalorizá-las imediatamente. O importante é dar-lhes regularmente direitos na aula, interessar-se por elas, tentar compreender se elas surgirem novamente, quando as julgávamos ultrapassadas. Para isso deve-se abrir um espaço de discussão, não censurar imediatamente as analogias falaciosas, as explicações animistas ou antropomórficas e os raciocínios espontâneos, sob pretexto de que levam a conclusões errôneas. Bachelard (1996) observa que os professores têm dificuldades para compreender, já que perderam a memória do caminho do conhecimento, dos obstáculos, das incertezas, dos atalhos, dos momentos de pânico intelectual ou de vazio. Diz Perrenoud, que o professor se distância do caminho percorrido ao aprender uma vez que "já aprendeu" determinado conteúdo. Ele cita como exemplos: Um número, uma fração são saberes adquiridos e banalizados,a assim como: O imperfeito, noção de verbo de concordância,de subordinação, de célula, de tensão elétrica,de dilatação.

O professor que trabalha a partir da representação dos alunos tenta reencontrar a memória do tempo em que ainda não sabia colocar-se no lugar dos aprendizes.

O aluno que não compreende o princípio de Arquimedes deve-se avaliar sua extrema abstração, a dificuldade de conceituar a existência da água ou de se desfazer da idéia instrutiva de que um corpo flutua"porquê faz esforços para não afundar" como um ser vivo.

Importante o aspecto de que não basta saber.Para imaginar o conhecimento já construído na mente do aluno e que obstaculiza o ensino, não basta que os professores tenham a memória de suas próprias aprendizagens.Sugereo autor uma cultura mais extensa em história e filosofia das ciências, para compreender porque a humanidadelevou séculos para abandonar a idéia de que o sol girava em torno da Terra ou para aceitar que uma mesa seja um sólido essencialmente vazio, considerando-se a estrutura atômica da matéria.A maior parte dos conhecimentos científicos contraria a intuição.Perrenoud considera que as representações e as concepções que lhes são opostas não são apenas aquelas das crianças, mas das sociedades do passado e de uma parte dos adultos contemporâneos.Sugere que é útil que os professores tenham uma noção de Psico- Genética.É importante, acrescenta ainda, que se confrontem com os limites de seu próprio conhecimento e que re-descubramque as noções de número imaginário, de quanta, de buraco negro, de supercondutor, de DNA, inflação, meta cognição, colocam-no em dificuldades da mesma forma que seus alunos, diante de noções mais elementares.

Perrenoud entende como Competência Didáticado professor, fundamentar-se nas representações prévias dos alunos, sem se fechar nelas, e encontrar um ponto de entrada em seu sistema cognitivo, uma maneira de desestabilizá-los apenas o suficiente para leva-los a restabelecerem o equilíbrio, incorporando novos elementos às representações existentes, reorganizando-as se necessário.

CONSTRUIR E PLANEJARDISPOSITIVOS E SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS

Começa o capítulo dizendo que uma situação de aprendizagem inscreve-se em um dispositivo que a torna possível e, às vezes, em uma seqüência didática na qual cada situação é uma etapa em uma progressão. Assim o professor que planeja vê o conteúdo num plano e o aluno que o manipulará em outro.Planejar o conteúdo é ir em frente de forma a não impor ao aluno idéias mas sem ajustes em seu saber que permitam que o mesmo possa absorvê-lo. Seqüências e dispositivos didáticos inscrevem-se por sua vez, em um contrato pedagógico e didático, regras de funcionamento e instituições internas à classe. As noções de dispositivo e de seqüência didáticas chamam a atenção par ao fato de que uma situação e aprendizagem não ocorre ao acaso e é engendrada por um dispositivo que coloca os alunos diante de uma tarefa ser realizada, um projeto a fazer, um problema a resolver.Não há dispositivo geral, tudo depende das disciplinas, dos conteúdos específicos, ao nível dos alunos, das opções do professor.Se um procedimento ou projeto leva a certos dispositivos, o trabalho por meio de situações problema leva a outros, os procedimentos de pesquisa, a outros ainda.

Perrenoud comenta um experimento em torno do princípio de Arquimedesàs várias abordagens realizadas por professorese alunos. Ele comenta o caso de um professor que leciona física numa turma de ensino fundamental, mas que é formado em biologia.Diz ele:

Sem dúvida, é por essa a razão que não abordam o princípio de Arquimedes de maneira tão abstrata.

Ao falar de peso e densidade, o professor introduz uma terceira seqüência que chama de flutua ou afunda, dizendo: "Um iceberg de 50000 toneladas flutua, uma bolina de aço de 10 g afunda!". Os alunos respondem-lhe que o aço é mais pesado que o gelo.

Quanto mais se aderir a um procedimento construtivista, mais importante será conceber situações que estimulem o conflito cognitivo entre alunos ou na mente de cada um, por exemplo, entre o que o aluno antecipa e o que observa.

Segundo Piaget (1974) dispositivos e seqüências didáticas buscam, para fazer com que se aprenda mobilizar os alunos seja para compreenderem, seja para terem êxito, se possível os dois.

Percebe-se o delicado equilíbrio a ser encontrado na estruturação didática do procedimento e a dinâmica da turma.

Pode-se apostar que a maioria dos seres humanos que faz corpos ou barcos flutuarem ignora esse princípio. Eles utilizam regras mais práticas que derivam da experiência transmitida de geração em geração ou do conhecimento teórico dos engenheiros. Um professor não pode legitimar uma atividade de pesquisa demonstrando facilmente que o saber visado é de uma importância vital na vida cotidiana dos seres humanos.