TOXICOLOGIA FORENSE E AS DROGAS PSICOATIVAS

Moisés Bento Lacerda Neto

David José de Oliveira

Resumo

O Presente artigo pretende, a partir de uma abordagem dedutiva, produzir uma breve análise sobre as drogas de abuso no Brasil. Em vista do aumento do consumo a nível mundial, gerando assim uma preocupação do Estado frente o impacto do abuso das substâncias psicotrópicas na sociedade, sendo diversas vezes identificadas como canalizadoras de problemáticas sociais. Nosso trabalho pretende levar a público através deste artigo, os aspectos biológicos e analíticos do consumo dos psicoativos com o objetivo de enriquecer o estudo metodológico de identificação destas substâncias no âmbito forense.

 

 

Palavras-chave:

Droga Psicotrópica, toxicologia forense.

 

 

Abstract

The present article aims, from a deductive approach, producing a brief analysis of drugs of abuse in Brazil. In view of the increase in world consumption, thus generating a state concern facing the impact of the abuse of psychotropic substances in society, being repeatedly identified as canalizadoras of social problems. Our work aims to go public through this article, biological and analytical aspects of the consumption of psychoactive drugs with the aim of enriching the methodological study to identify these substances in the forensic context.

Keywords:

Psychotropic drug, forensic toxicology.

 

 

 

 

 

 

 

SUMÁRIO:

1. Introdução – Toxicologia Forense. 2. Análise Biológica e Toxicológica das Drogas Usuais3. Método de Coleta de Amostras. 5. Considerações Finais. Referências.

 

  • Introdução – Toxicologia Forense


 

Antes de adentrar no tema principal do presente trabalho, mister se faz abordarmos a origem do consumo das drogas psicoativas no Brasil, também chamada como "Drogas Noturnas" ou "Club Drugs", antes disso, no entanto, abordaremos ainda, acerca do Instituto da Toxicologia Forense, e sua importância, que nos subsidiará ao raciocínio que obteremos adiante, pois tal matéria se faz como sustentáculo de todo o trabalho.

A toxicologia forense é uma ciência atuante em múltiplas disciplinas que busca extrair a verdade de um fato relevante juridicamente, mas também objetiva a identificação e quantificação dos efeitos relacionados aos produtos tóxicos, especificadamente os prejudiciais. Ou seja, qualquer substância que possa causar dano ou produzir efeito no organismo, na seara de investigação criminal, sendo apoiada fundamentadamente na toxicologia analítica.

Gisbert Calabuig definiu como um conjunto de conhecimentos aplicáveis na resolução dos problemas toxicológicos que levantam em sede do Direito (CALABUIG, 1957); já Paul Matte, disse que é um estudo e aplicação da toxicologia ao direito para encontrar a verdade em causas civis, criminais e sociais com o objetivo de que não causem injustiças a nenhum membro da sociedade. (MATTE, 1970)

É uma disciplina científica de importante ligação com o Direito, de forma direta, e a partir dela, pode-se gerar a absolvição de um réu por exemplo, no caso de suspeita de homicídio através de drogas, ou venenos, identificando o nexo de causalidade entre os eventos e os efeitos tóxicos da substância. Através da Toxicologia forense, é possível determinar o agente químico que desencadeou o óbito de um indivíduo, e ainda quantificar, levando a sociedade uma resposta sobre o fato.

Mas, para que isso ocorra de forma idônea e segura, necessita de um procedimento anterior à análise que se chama cadeia de custódia, que é um procedimento onde se documenta toda a ação desde o recipiente, coleta, até o descarte final da amostra. Segundo CHASIN, ela se divide em duas fases, externa e interna: a fase externa seria o transporte do local de coleta até a chegada ao laboratório. A interna refere-se ao procedimento interno no laboratório, realizado pelo toxicologista, até o descarte das amostras.

Porém, para que tal procedimento ocorra de forma legítima e segura, é necessário métodos anteriores à análise que se chama cadeia de custódia, que um procedimento por meio do qual se documenta e se coleta amostras biológicas em que puderam ser identificadas a substâncias agentes. Segundo CHASIM (2001), este procedimento se divide em duas etapas, uma externa e a outra interna. A fase externa seria o transporte do local de coleta até a chegada ao laboratório. A interna é referente aos procedimentos internos dentro do laboratório, realizados pelo toxicologista especialista, até que as amostras coletadas sejam descartadas

No caso de uma morte súbita, por exemplo, é primeiro acionada a Policia Militar que visita o local do crime para reconhecimento e isolamento da área e manutenção correta das evidências para assim, determinar o que é o vestígio; posteriormente a autoridade policial vai até o local, e por último os peritos criminais.

Desta forma, através dos peritos criminais, poderá ser visualizada a ação da toxicologia forense, demonstradamente de suma importância para a elucidação e análise de um crime.

É a partir deste panorama, do universo da toxicologia forense, abordaremos acerca das drogas de abuso utilizadas de longa data na sociedade moderna, e principalmente no Brasil, onde houve a intensificação nos últimos anos. A preocupação forense se encontra no fato de que as substancias também apelidadas de desiner drugs ou club drugs¸ pelo fato de serem facilmente sintetizadas, cada vez mais é multiplicado suas espécies, onde o usuário químico encontra no mercado uma multiplicidade de substancias psicoativas, de variados efeitos tóxicos.

O consumo de drogas é universal  nas diferentes culturas humanas em todos os tempos. O homem devido sua própria natureza busca meios para variação das sensações sensoriais, principalmente aquelas relacionadas ao prazer. Foi por meio de plantas que as substâncias psicoativas foram utilizadas nas primeiras experiências da civilização. A partir do Séc. XIX, ao homem foi possível isolar os princípios ativos vegetais como a amoxilina, morfina, endorfina, etc. Porém, foi a partir do séc. XX, com o surgimento das chamadas anfetaminas, que uma substância foi totalmente sintetizada em laboratório. Através do aparecimento destas drogas sintéticas, nos anos 80, que houve sua popularização. Atualmente podemos verificar sua proliferação nas chamas festas Raves. Estas drogas possui característica principal o fato de terem passado por modificação química em laboratório, para que seus efeitos fossem potencializados, criar efeitos psicoativos ou até eliminar efeitos indesejáveis, como também, meios de burlar a fiscalização.(HENDERSON, 1988)

O abuso de substancias psicotrópica tem sido constante alvo de preocupação social devido a sua íntima relação com o aumento da criminalidade, acidentes automobilísticos, desvio de comportamento e fuga escolar.(LARANJEIRAS, 2003)

A Secretaria Nacional Anti-Drogas – SENAD e o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas – CEBRID definem drogas psicotrópicas como :

 

As drogas utilizadas para alterar o funcionamento cerebral, causando modificações no estado mental são chamadas drogas psicotrópicas. O termo psicotrópicas é formado por duas palavras: psico e trópico. Psico está relacionado ao psiquismo, que envolve as funções do sistema nervoso central; e trópico significa em direção a. Drogas psicotrópicas, portanto, são aquelas que atuam sobre o cérebro, alterando de alguma forma o psiquismo. Por essa razão, são também conhecidas como substâncias psicoativas

O mesmo estudo, acima citado, definiu que o mecanismo de ação do psicotrópico no sistema nervoso central pode ser classificado da seguinte forma: a) Depressoras: barbitúricos, benzodiazépinicos, opiáceos, etanol, inalantes; b) Estimulantes: cocaína, anfetaminas e derivados; c) Perturbadoras: LSD, mescalina, cannabinóides.

Na década de 90, intensificou o problema das Drogas sintéticas, por haver uma enorme divulgação e destruição através da Rede Mundial de Computadores. Destarte, foi neste século que encontra-se o ápice do consumo, com o aumento de novos usuários de substancias ilegais, e aumento da apreensão destas drogas em todo mundo. É um desafio para Toxicologia Forense, bem como para comunidade científica, estar cadastrando frequentemente o surgimento de novas substâncias ou novas variações, para assim gerar proteção no meio jurídico.

As drogas sintéticas mais consumidas são os compostos originados de anfetamina, tais como 3, 4 – metileno-dioxi-anfetamina (MDA), 3,4-metileno-dioxi-mentanfetamina (MDMA, ecstasy), p-metoxi-anfetamina (PMA) e p-metoxi-metanfetamina (PMMA). No Brasil, podemos verificar que o uso recreacional, tem sido identificado como motivo em diversos pacientes que buscam tratamentos nas clínicas reabilitatórioas, sendo, desta forma, de grande importância sua correta identificação e quantificação para fins científicos e forenses. (CHASIN, 2001)

 

2. Análise Biológica e Toxicológica das Drogas Usuais

 

 

As drogas sintéticas são produzidas baseadas no princípio de ressintetizar drogas já existentes, com o objetivo de que se obtenha efeitos psicoativos através de moléculas diferentes quimicamente da substância original. Desta forma, a burlação a legislação vigente é facilitada, pois como a estrutura molecular da substância é modificada, elas deixam de estar cadastradas no órgão fiscalizador.

Listar-se aqui, uma série de substancias psicotrópicas mais usualmente encontradas nas apreensões, como também nas necropsias. A mais popular, pode ser citada o MDMA, desenvolvida como droga sintética na década de 70, mas é proibido em diversos países devido aos efeitos tóxicos, onde se destaca o comprometimento dos axônios e encéfalo, como também encéfalo e outras áreas cerebrais superioras. (PARROT, 2004)

 

2.1 Derivados Anfetamínicos

 

A classe de anfetamina e derivados anfetamínicos é abarcado por todas substâncias com uma estrutura de feniletilamina substituída. Tais substâncias tem sido as mais identificadas no mercado negro e a maioria destas derivações é produzida em laboratórios clandestinos (BARONE, 1997). Apesar de algumas substâncias estarem incluídas na relação de drogas ilícitas da Convenção Internacional sobre Psicotrópicos desde 1977, como, por exemplo, o 2,5  - dimetoxi-a, 4-dimetil-feniletilamina (DOM), a maioria destas so foi incluída em 1986. Tais compostos só diferem na velocidade e duração da ação no organismo, potência, capacidade de alterar o humor, ocasionando, ou não, alucinaões. (BARONE, 1997).

Essas metanfetaminas receberam maior popularidade na Costa Leste dos EUA e nos países orientais. Foram as primeiras drogas sintéticas derivadas das fenileilaminas sintetizadas no Japão em 1919. São administradas tanto via oral, como de forma injetável, podendo também ser inaladas e tragadas. São lipossolúveis, dentro do organismo concentram especialmente nos rins, pulmões e cérebro. Além dos riscos crônicos, como a overdose, o uso nocivo pode causar a dependência química, gerando assim, alucinações ou delírios, sintoma que se denomina "psicose anfetaminica", além de haverem provas científicas da toxidade desta substância a neurotransmissores (KLASSEN, 2001)

Uma das novas drogas de abuso são uma classe denominada 2Cs, com suas variações: 2C-B, 2C-I, 2C-C, 2C-E, a 4-etil-tio-2, 5-dimetoxi-b-feniletilamina (2C-T-2) e a 2, 5-dimetoxi-4-propitio-bfeniletilamina (2C-T-7). O 2C-B, juntamente com o 2C-T- são psicodélicos que foram desenvolvidos por Alexander Shulgins durante os anos 70, enquanto pesquisava sobre variedades de 2,5-dimetoxi-4-bromo-anfetamina (DOB). Quanto aos seus efeitos, estes assemelham aos do Ácido Liségico (LSD), entretanto, pode-se verificar os efeitos colaterais gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarreia) e sintomas de pânico e confusão mental. Tais efeitos são constantes e podem expor a usuário situações de risco. (DE BOER, 2004). Em 1985, os 2Cs se tornaram populares nos EUA e Europa quando o MDMA se tornou ilegal. Em 1999, elas se tornaram ilegais na maior parte do mundo, mas em alguns países o 2C-B ainda continua a ser comercializado ilegalmente como substituto do ecstasy. (DE BOER, 2004). Classificado como alucinógeno, assim como o MDMA e LSD, mas mais potente que o MDMA (dez vezes), e menos que o LSD, a 2C-B combina a ação enérgica do tipo anfetamina com a ação psicodélica da Mescalina.(CARMO, 2004)

Quanto aos alucinógenos originários da feniletilaminas, temos a mescalina,  encontrada no cactus peiote. A TMA foi o primeiro psicodélico alucinógeno completamente sintético, com estrutura relacionada a mescalina. A TMA-2 é outro derivado, porém mais potente que o TMA e a mescalina (KIKURA-HANAJIRI, 2005)

 

2.2 Derivados da Triptamina

 

Quanto aos derivados da Triptamina, o principal representante desta classe identifica-se como a N, N-dimetil-triptamina (DMT). Considerado um composto tipicamente psicoativo derivado da triptamina que existem em milhares de espécies arbóreas.  Existem outros compostos, estruturalmente semelhantes como a 5-MeO-DMT, bufotenina, psilobicina e pisilocina, os quais também são produtos naturais (KIKURA-HANAJIRI, 2005)

Como exemplo de produto natural, temos a Ayahuasca, uma mistura aborígene de plantas, utilizada pelos nativos ha longa data com fins espirituais, é preparada através de duas espécies vegetais que contém alcalóides e DMT (RIBA, 2001)

 

2.3 Derivados da Piperazina

 

A piperazina e algumas substâncias derivadas possuem uso medicinal com agentes anti-helmínticos. A benzilpiperazina (BZP) foi pela primeira vez testada na década de 1970 como uma droga para produção de fármaco antidepressivo, porém, por ter apresentado propriedades semelhantes à anfetamina em testes com homens e animais, foi paralisada a pesquisa. Apesar de seu uso medicinal não tenha encontrado apoio, há relatos do seu uso como droga abusiva, tendo sido verificada em uma necropsia forense em 1998 (WIKSTRÖM, 2004), e detectada em materiais encaminhados para análise e identificação.

Importante colar transcrição de artigo na seara deste tema:

 

Em 2008, foram recebidos pelo Laboratório de Toxicologia Forense do Núcleo de Perícias Criminalísticas de Campinas - Superintêndencia da Polícia Técnico-Científca do Estado de São Paulo, comprimidos de diferentes cores, tamanhos e formatos, oriundos de apreensões realizadas em Campinas e cidades adjacentes para exame pericial. Os exames químico-periciais realizados apresentaram resultados inesperados, diferentes daqueles obtidos quando a substância analisada é a MDMA, que é principal droga de abuso consumida na forma de comprimidos no Brasil. A partir daí, foi iniciada uma investigação química para verificar a substância ativa presente nos comprimidos. Para isso, foi realizada uma triagem, com métodos colorimétricos, como o Teste de Marquis, comumente utilizado para triagem de compostos anfetamínicos, tais como MDMA. O material examinado permaneceu incolor, semelhante à cor apresentada pela cocaína, porém o resultado foi diferente dos obtidos pelos padrões de anfetamina (laranja) e MDMA (preto). No Teste de Scott, para detecção de cocaína e outros anestésicos locais, observou-se o aparecimento de coloração azul na placa de toque. Este resultado diferiu daquele observado para a MDMA, que apresentou solução rósea com precipitados de coloração azulada e o Teste de Simons, resultando em uma coloração laranja (até 30 s) e marrom escuro (após 2 min). Além disto, foi realizada uma triagem por cromatografia em camada delgada de alta eficiência (CCDAE) utilizando três diferentes sistemas solvente, seguida por cromatografia líquida com detector de arranjo de diodos (CLAE/DAD) e confirmação por espectrometria de massas (EM), confirmando a presença de CPP.69 Porém, a espectrometria de massas não distingue os isômeros mCPP, oCPP e pCPP, que são comumente encontrados em produtos apreendidos. Contudo, para fins legais, a diferenciação isomérica não foi necessária, pois a RDC n.79/2008 menciona no adendo 1.1 da lista F2 que devem ser controlados todos os sais e isômeros das substâncias elencadas na referida lista. (BULCÃO, 2012)

 

 


3.  Método de Coleta de Amostras

 

No meio forense, as verificações toxicológicas são utilizadas com objetivo de orientar os procedimentos judiciais, sendo desenvolvidos com o fim de estabelecer a causalidade entre o agente químico e o óbito ou dano causado ao ser humano.

Para uma análise toxicológica eficiente é necessária a realização de uma um diagnóstico eficiente, segundo BULCÃO (2012):

 

Primeiramente é realizada uma triagem, por métodos gerais, principalmente quando não se conhece o agente tóxico a pesquisar. Estes métodos são empregados para verificar a ausência ou a presença de uma determinada classe ou grupo de substâncias. A importância da escolha de um método de triagem é fundamental, pois define a variedade de analitos que serão procurados e detectados. Portanto, deverá ter sensibilidade, eficiência e abrangência de compostos para ser considerado adequado.76 Do ponto de vista ético, resultados obtidos a partir de técnicas de triagem não podem ser considerados definitivos, devendo-se realizar métodos confirmatórios.


A identificação consolidada do tipo de psicotrópico ingerido requer uma análise profunda com a utilização de técnicas complementares, incluindo EM, espetroscopia no infravermelho, difração de raio-x e RMN (RODRIGUES-CRUZ, 2006).

Ainda segundo Bulcão (2012):

 

Os métodos utilizados na análise de designer drugs em materiais biológicos podem ser compostos a partir de diferentes procedimentos de extração, separação, identificação e quantificação dos analitos presentes na amostra. A seleção da técnica de extração a ser usada, bem como o tipo de equipamento empregado na identificação e quantificação, deve levar em consideração além da finalidade a que se destina a análise e, portanto, da sensibilidade requerida, o tipo de equipamento disponível para a execução dos trabalhos. Em análises forenses, deve-se buscar sempre a elaboração de métodos sensíveis, seletivos e específicos, permitindo ao analista a emissão de resultados inquestionáveis e irrefutáveis.

Além disto, a maioria dos testes rápidos para detecção de designer drugs, que são testes inespecíficos, é baseada em princípios imunológicos, podendo apresentar resultados falsos positivos ou falsos negativos. Em 2004, foi avaliada a interferência de determinadas substâncias estruturalmente semelhantes com alguma designer drug.

O pré-tratamento das amostras biológicas, que abrange as etapas de extração, pré-concentração e purificação, tem sido requerido nas análises cromatográficas de drogas para eliminar interferentes (compostos endógenos ou outras substâncias administradas concomitantemente com os analitos) e aumentar a sensibilidade e seletividade analíticas.86 As técnicas de extração líquido-líquido (ELL), extração em fase sólida (EFS) e microextração em fase sólida (MEFS) têm sido utilizadas em métodos convencionais de análises rotineiras e no preparo de amostras biológicas

 

Quanto a escolha do material biológico para realização de análise toxicológicas deve ser levado em relevância, especificadamente, as características toxicocéticas dos agentes investigados e o objetivo do diagnóstico em laboratório da intoxicação nos casos de envolvimento médico-legal. Se sofrerem longos períodos, as análises tornam-se inviáveis devido a degradação causada na matriz biológica, levando a formação de interferências que prejudicam a verificação das substancias interessantes frente as descartáveis.

Historicamente, podemos apontar a urina, o sangue, o humor vítreo e as amostras de tecido como úteis no processo metodológico de análise. Entretanto, cabelos unhas, saliva, estrato córneo, suor e outras matrizes biológicas tem sido preferidas como amostras alternativas, em casos específicos, para análise de drogas, ou para complementar a realizada em outras amostras. (BULCÃO, 2012)

 

3.1 Amostras Convencionais

 

O sangue possui diversas vantagens, considerado uma dos principais amostras convencionais.

Segundo BULCÃO (2012), pode-se inferir:

 

Em indivíduos vivos, os efeitos fisiológicos da maioria dos fármacos possuem correlação direta com suas concentrações no sangue e seus derivados (plasma e soro), fato que serve de base para a monitorização terapêutica de fármacos. Quando, entretanto, as amostras de sangue são coletadas post-mortem, são necessárias ressalvas, uma vez que fatores como o local de coleta e outros relacionados à redistribuição (cinética post-mortem) que eventualmente ocorreram quando cessados os fenômenos vitais podem modificar os valores encontrados

.

Quanto à urina, após o humor vítreo, que demonstra estimativamente 98% de água em sua constituição, é considerada a matriz biológica com menor interferência endógena, pois sua constituição eminentemente aquosa apresenta níveis significantes de proteína e lipídios apenas durante estados patológicos. (BULCÃO, 2012).

Entretanto, os resultados demonstram apenas que a substância foi utilizada, já que a indentificação entre os efeitos é fraca, devido a diversidade de fatores que influenciam na taxa excretora de composto específico e o volume urinário. (CLAUWAERT, 2001)

Em relação ao conteúdo estomacal Rachel Bulcão (2012) considera que este constitui forma de amostra post-morten, já que prepondera no estômago a forma inalterada e ionizada de algumas substâncias. Ou seja, estas drogas podem estar presentes tanto na forma de resíduos de substância ingerida quanto pela possível atividade gastro-secretora, desde que sejam bases fracas e passíveis de serem secretadas para o lúmen estomacal, onde haverá sua ionização e permanência até posterior reabsorção do duodeno.

 

3.2 Amostras Não Convencionais

 

Quanta a esta podemos iniciar citando o fluido oral, que representa mistura de saliva e outros constituintes presentes na boca. Sua composição e volume podem ser afetados por vários fatores como o ritmo cardíaco, dieta, idade, doenças sistêmicas,, como fibrose sística e diabetes melitus, como também pela utilização de algumas drogas e medicamentos, levando a diminuição do volume de secreção bucal produzido.

E ainda, segundo Bulcão (2012)

 

A saliva também se configura como amostra importante na determinação das designer drugs. A passagem de fármacos da corrente sanguínea para a saliva já havia sido sugerida desde a segunda metade da década de 60. Mesmo assim, a utilização de saliva como matriz biológica alternativa vem aumentando muito nos últimos anos, principalmente em estudos de farmacocinética, monitorização terapêutica e na verificação do uso de drogas ilícitas, particularmente por agências que monitoram motoristas quanto ao uso de substâncias psicoativas, dada a facilidade da coleta deste material na beira da estrada.2,98,99 A saliva possui ainda a vantagem de que sua coleta não é invasiva e provavelmente se constitui como o único fluido biológico através do qual se podem traçar paralelos com a concentração sanguínea, podendo ser empregada em estudos de farmacocinética e em análises forenses, por permitir correlacionar as concentrações obtidas com alterações comportamentais que possam eventualmente ser causadas pela droga


Quanto à amostra através do cabelo, este oferece vantagens como facilidade na obtenção, coleta não invasiva, maior dificuldade de fraude, janela ampla para identificação, além de não exigir cuidados no transporte e armazenamento. A identificação do uso de psicotrópicos por verificação do cabelo é uma ferramenta útil para inferir ou excluir os indícios de uso crônico.

As unhas, juntamente com o cabelo, tem garantido uma atenção considerada por causa das vantagens relacionada as metodologias de exames toxicológicos. Assim como o cabelo, este tecido queretinizado pode armazenar fármacos que foram administrados por meses, fornecendo assim, evidências retrospectivas do uso de substâncias psicoativas.

São compostas por uma proteína chamada queratina, a qual tem a natureza de absorver as drogas durante o período de crescimento das unhas, gerando assim, uma janela maior de detecção, bem como impossibilidade de fraude nos testes.

Em relação ao suor, podemos verificar a análise de Bulcão (2012) que assim discorre:

 

Em geral, as drogas são encontradas no suor, em vez de seus metabólitos polares, que normalmente predominam na urina. Contudo, a análise de drogas no suor raramente é realizada, porque é extremamente difícil estimar o volume de suor e coletar quantidades adequadas. Nos últimos anos, este empecilho parece ter sido resolvido pelo desenvolvimento de adesivos sweat patch, para coleta de suor . O suor também possui a vantagem de não representar coleta invasiva e de facilitar o controle de indivíduos internados em clínica de tratamento e detentos em liberdade condicional. Foi desenvolvido e validado um método para análise de derivados anfetamínicos com EFS, seguido de análise por CG/EM120 e por diagnóstico imunológico utilizando enzimaimunoensaio (ELISA)

Por fim, citamos o Humor Vítreo, material este que preenche a cavidade posterior do olho,contendo concentrações de drogas, geralmente proporcional a concentração sanguínea (BULCÃO, 2012). Além disto, o humor vítreo muitas vezes é considerado como a melhor amostra disponível para análise post-mortm como, por exemplo, em casos de corpos gravemente carbonizados ou em decomposição.

Ainda, existem outras matrizes alternativas, apesar de pouca utilização na rotina forense, como é o caso do líquido pericárdico e do músculo esquelético, sempre utilizados também em situação post – mortem.(MORIYA, 1999)

4. Considerações Finais

Nos dias atuais, o uso de substâncias psicoativas representa um dos maiores problemas que a sociedade encara. As drogas psicotrópicas são responsáveis por afetar uma boa parcela da população, já que seus efeitos não atingem tão somente o usuário, mas também a sua família, assim como a comunidade a seu redor.

A estratégia do mercado ilegal de drogas e sempre inovar com drogas mais potentes e mais baratas.

A precariedade de conhecimento de dados farmacocinéticos e toxicológicos de grande parte dificulta sua correta identificação e análise. A maioria das compostos, principalmente os mais novos, não se encontra presente nos cadastros comerciais, sendo, portanto, desafio incomum para os laboratórios forenses. A identificação correta e definitiva do tipo de droga geralmente exige uma profunda análise com utilização de métodos complementares, que só o profundo estudo da Toxicologia Forense, seria capaz de executar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS


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MOISÉS BENTO LACERDA NETO

DAVID JOSÉ DE OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


TOXICOLOGIA FORENSE E AS DROGAS PSICOATIVAS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MONTES CLAROS

2014