UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE LINGUAGEM
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE TANGARÁ DA SERRA
DEPARTAMENTO DE LETRAS
ESPECIALIZAÇÃO EM LINGÜÍSTICA: LÍNGUA E DISCURSO



MARIA ELENA SANTOS GOMES







TOPONÍMIA: SENTIDO E MEMÓRIA NAS DENOMINAÇÕES DAS RUAS DA CIDADE DE TANGARÁ DA SERRA - MT





















TANGARÁ DA SERRA, MT
JUNHO ? 2005

MARIA ELENA SANTOS GOMES














TOPONÍMIA: SENTIDO E MEMÓRIA NA DENOMINAÇÃO DAS RUAS DE TANGARÁ DA SERRA




Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção de grau de Especialista em Lingüística: Língua e Discurso, ao Departamento de Letras, Universidade do Estado de Mato Grosso. Área de Letras, Língua e Lingüística.

Orientadora: Profª. Ms. Elizete Dall?Comune Hunhoff







TANGARÁ DA SERRA, MT.
JUNHO ? 2005

MARIA ELENA SANTOS GOMES










TOPONÍMIA: SENTIDO E MEMÓRIA NA DENOMINAÇÃO DAS RUAS NA CIDADE DE TANGARÁ DA SERRA









Monografia apresentada à obtenção do grau de Especialista em Lingüística: Língua e Discurso, Departamento de Letras, Instituto de Linguagens, Área de Concentração: Letras, Língua e Lingüística, Universidade do Estado de Mato Grosso.



Orientadora: Professora Ms. Elizete Dall?Comune Hunhoff





Banca Examinadora:
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Data de aprovação:___________________________________________________________







































A Larissa, Helen, Geórgia e meu esposo, que, quase tanto quanto eu empenharam-se nesta realização, aceitando de coração aberto minha ausência prolongada aos finais de semana. À Elizete D. Hunhoff, que me auxiliou instruindo-me e, acima de tudo, acreditou na minha capacidade. Por isso digo:

"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".

(Fernando Pessoa)
AGRADECIMENTOS


Aos professores Elizete Dall?Comune Hunhoff, minha mestra querida, da qual sou admiradora, que através da doação de seu trabalho edificou um sonho meu.
Aos professores Carlos Edinei Oliveira, Dante Gatto e aos demais professores do Curso, os quais, com a humildade que a sabedoria traz, com a tranqüilidade que só a experiência dá e com a amizade própria só de corações nobres, conseguiram transmitir mais do que seus profundos conhecimentos, pois me ensinaram a trilhar os sinuosos caminhos da vida.
À funcionária Cassiane Paula Sabedopt: A função de servir é de todos; a obrigação de agradecer e retribuir são daqueles que foram bem servidos. Muito obrigada!


























































O homem sentiu sempre ? e os poetas freqüentemente cantaram ? o poder fundador da linguagem, que instaura uma sociedade imaginária, anima as coisas, faz ver o que não existe, traz de volta o que desapareceu.

Émile Benveniste
RESUMO


O presente trabalho tem por meta estudar os topônimos das ruas centrais da cidade de Tangará da Serra ? MT. A toponímia estudada buscou não só o significado histórico dos nomes conferidos às ruas, contextualizando-as no tempo em que as mesmas foram nomeadas, como também a interdiscursividade que está inserida em cada nome, uma vez que a enunciação não é um ato do próprio sujeito. A análise desses enunciados não fica limitada à morfossintaxe, pois muito da significação está além desses limites, determinados por fatores extralingüísticos, passa pela ideologia de um determinado grupo social, o qual, determinou o discurso do memorável para a maioria dos nomes desses espaços públicos, homenageando mais especificamente os pioneiros com as ruas que trazem o discurso da nacionalidade, das relações de poder e o discurso do heroísmo, para as avenidas. Como resultado, constatou-se a vinculação desses nomes com a população, visto que, na maioria dos casos, a comunidade tangaraense é personagem que os denomina. Observa-se que dar nome às ruas de Tangará da Serra, foi um trabalho de conscientização, de resgate de valores daqueles que, de alguma forma, fizeram a história de Tangará da Serra. Zelar pela memória de um País, Estado ou Município não deixa de ser um ato de cidadania, e, estes cidadãos, indubitavelmente, fizeram jus à homenagem, de maneira que fosse permitido a perenização desses sujeitos no discurso do memorável.

Palavras-chave: Toponímia, discurso, sujeito, espaços públicos.






RESUMEN




El presente trabajo tiene por meta estudiar los topónimos de las calles centrales de la ciudad de Tangará de la Sierra ? MT. La Toponimia estudiada buscó no sólo el significado histórico de los nombres conferidos a las calles contextualizándolas en el tiempo en que las mismas fueron nombradas, como también no es un acto del propio sujeto, el análisis de estos enunciados no está limitada a la morfo sintaxis, pues mucho de la significación está allá de esos límites, determinados por factores extra lingüísticos, pasa por la ideología de un determinado grupo social, cuyo grupo, determinó el discurso del memorable para la mayoría de los nombres de esos espacios públicos, homenajeando más específicamente los pioneros con las calles las cuales traen el discurso de la nacionalidad, de las relaciones de poder y el discurso de heroísmo, para las avenidas. Como resultado, se constató la vinculación de esos nombres con la población, puesto que en la mayoría dos los casos, la comunidad tangaraense es personaje que los domina. Se concluye que dar nombre a las calles de Tangará de la Sierra, debe haber sido un trabajo de concienciar, de recate de valores de aquellos, que de alguna manera hicieron la historia de Tangará de la Sierra. Velar por la memoria de un país, Estado o Municipio no deja de ser un acto de ciudadanía y, estos ciudadanos, indiscutiblemente hicieron valer al homenaje, de manera que hubiera permitido la peregrinación de esos sujetos en el discurso del memorable.

Palabras-clave: Toponimia, discurso, sujeto, espacios públicos.







SUMÁRIO


INTRODUÇÃO 9
1. A LINGUAGEM COMO EFEITO DE SENTIDO 12
2. CONSTITUIÇÃO DO CORPUS 24
3. DENOMINAÇÕES DAS RUAS CENTRAIS DE TANGARÁ DA SERRA: SUA IMPORTÂNCIA COMO SIGNIFICANTE DE REFERENCIAL URBANO. 31
3.1 Toponímia: Sua Importância na Relação Indivíduo-cidade 32
4. UM BREVE ESTUDO DO RECORTE DAS NOMENCLATURAS DAS RUAS CENTRAIS DE TANGARÁ DA SERRA 33
4.1 A Importância dos Signos e Suas Emanações na Compreensão da Linguagem Segundo Greimas. 40
4.2 O Signo Ideológico Contextualizado Por Bakhtin 41
5. O DIALOGISMO CONTEXTUALIZADO POR BAKHTIN 48
CONSIDERAÇÕES FINAIS 53
REFERÊNCIAS 55

ANEXOS

















INTRODUÇÃO


Dar nome às "coisas" é tão antigo quanto à própria existência humana sobre a Terra. Se for observada uma visão em um contexto bíblico, encontrar-se-á o primeiro relato a respeito: "Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. Deus chamou a luz dia e as trevas noite" (Gênesis 1:4-5). Nomear é, em qualquer esfera da vida, sagrada ou profana, conferir sentido às coisas. Nas relações cotidianas, vale o exemplo do ato de nomear filhos. E não poderia ser diferente na nomeação de espaços públicos.
Objetiva-se, neste estudo, a busca do sentido do nome que nomeia as ruas da cidade de Tangará da Serra, MT, e o interdiscurso contido no ato de nomear, a partir dos princípios sintáticos semânticos que regulam tais denominações.
Os aspectos toponímicos e históricos sociais integram o objeto de estudo e a análise da nomenclatura dos referidos nomes. Tal análise visa a verificar como esses signos refletem a visão de mundo; e como se correlacionam os topônimos com os fatos e momentos históricos da ocupação urbana no município tangaraense.
A escolha de um nome próprio, de um enunciado ou até mesmo de palavras, não se dá aleatoriamente, sempre há uma ideologia, valores, ou seja, há uma intenção por trás de cada significado, e é tarefa do analista fazer a leitura enunciativa desses signos.
O espaço público, a partir do momento em que é nomeado, contém o discurso enunciativo de quem o nomeou, estabelecendo uma identidade que produz a significação referencial, cuja denominação de alguma forma está inserida no contexto social, político ou mesmo cultural da cidade, do estado ou do país. A própria história demonstra a importância dos nomes que se dão a logradouros públicos.
Esta monografia apresenta em seu I capítulo, aspectos introdutórios sobre a linguagem como efeito de sentido, uma vez que a língua não significa em si mesma e sim num conjunto; pois há sempre um discurso contido em cada significado e o discurso age para organizar a vida do cidadão, tornando o espaço público pleno de significação. No capítulo 2 é apresentada a constituição do corpus que traz os principais dados referentes à cidade de Tangará da Serra. Já no capítulo 3 são explanadas as denominações das ruas centrais e sua importância como referencial urbano, também sua relação indivíduo-cidade. No capítulo 4 é feita uma análise das nomenclaturas das ruas estudadas, por entender-se que atrás de cada nome está implícito uma discursividade e ainda como foram circunscritas, descreve ainda a sua estrutura morfossintática. O capítulo 5 apresenta uma abordagem reflexiva sobre os fundamentos semânticos e semióticos com o tema em questão: o signo lingüístico, aborda a importâncias desses signos na compreensão da linguagem segundo Greimas, o qual deixou de lado a nomenclatura do signo e firmou-se apenas nas significações e o signo e o dialogismo contextualizado por Bakhtin, o qual afirma que o signo é um elemento de natureza puramente ideológica, em contraste com Pêcheux, que diz que a ideologia não tem suas origens nos sujeitos, pois estes são apenas influenciados por ela. Nos anexos encontram-se breves históricos dos sujeitos que nomearam esses espaços públicos; a planta geral com relação das ruas com números de Leis, lembrando que se fez um recorte das ruas e Leis e Decretos das ruas citadas.
Tudo isso só é possível através da linguagem, pois a mesma contém uma visão de mundo, que determina nossa maneira de perceber e conceber a realidade, e impõe-nos essa visão. "A linguagem é como um molde, que ordena o caos, que é a realidade em si". (FIORIN.1998, p. 52).
O objetivo deste trabalho foi registrar o sentido, a historicidade, a nomeação, enfim, o significado de cada nome no contexto da enunciação; pois todo nome, seja de rua, de filhos ou de empresa, traz subjacente alguma significação. E é a linguagem que permite essa ordenação.























CAPÍTULO 1

A LINGUAGEM COMO EFEITO DE SENTIDO

A partir do momento em que a linguagem permite ao homem representar a realidade física e social desde o momento em que é aprendida e conserva um vínculo muito estreito com o pensamento, subentende-se, então sob essa perspectiva, que a língua é um sistema de signos histórico e social, o qual possibilita ao homem significar o mundo e a realidade.
É no interior do funcionamento da linguagem que é possível compreender o modo desse funcionamento. Produzindo-se linguagem, aprende-se linguagem e produzi-la significa produzir discursos, significa dizer alguma coisa para alguém de uma determinada forma, num determinado contexto histórico.
O discurso possui um significado muito amplo: refere-se à atividade comunicativa que é realizada numa determinada situação, abrangendo tanto o conjunto de enunciados que lhe deu origem, quanto as condições em que foi produzido, ou seja; a produção do discurso não acontece no vazio, ao contrário, todo discurso se relaciona de alguma forma com o que já foi produzido.
O discurso do memorável é o que determina a maioria dos nomes dos espaços públicos, salvo raras exceções. A exemplo disso percebemos, no mapa urbano das cidades circunvizinhas de Tangará da Serra, no interior de Mato Grosso, que os enunciados que nomearam suas principais avenidas, trazem o nome "Olacyr Francisco de Moraes", cuja personagem ainda vive na região. Não há dúvidas de que esse cidadão representou muito para o progresso dessas cidades, com a implantação de usinas, agropecuárias, calcários e algo mais, gerando, além da criação de um município, empregos e o crescimento das respectivas cidades. Diante desse fato histórico, o poder municipal homenageou, através de decreto, o cidadão como nomes de ruas, por ser um homem de bem, embora muitos desbravadores não o vejam sob a mesma ótica; entretanto, aí está imbricado um jogo de interesses políticos, transformando o cidadão em herói vivo.
O discurso da nacionalidade, também está presente nos nomes de ruas, das escolas, dos museus, das praças, entre outros espaços públicos, cujos enunciados fazem parte da História do Brasil, a exemplo, as avenidas Brasília, Tancredo de Almeida Neves.
A Avenida Tancredo de Almeida Neves, no momento em que foi nomeada, homenageou uma personagem que representa o Brasil como um "herói da pátria", o senhor "Diretas Já", uma utopia que se realiza por seus feitos, que marcou o fim da Ditadura no Brasil e ficou na história, mesmo não chegando ao Planalto da República, ficou como o bom herói, merecedor da homenagem, não só em Tangará da Serra como em várias partes do Brasil. Esse nome está numa memória que é a discursividade que qualquer leigo entende, pois toda a nação participou desse processo de transição de governos, e até os que nasceram após o fato são contemplados pela história, nas escolas, na mídia ou até mesmo no seio familiar.
Sobre isso Hunhoff (2001, p. 11), em suas palavras, diz que o nome dos espaços públicos apresenta a história de forma fragmentada, cifrada, não organizada e seqüencial, exemplificando que a "Rua Quinze de Novembro" contém os significados: a ? o fim do império, do absolutismo no país; b ? a Proclamação da República, o que afeta diretamente o enunciado "Av. Tancredo de Almeida Neves", devido este conter o discurso de restabelecimento da democracia no país através do fato histórico liderado pela pessoa de Tancredo Neves, no movimento político "Diretas Já", o que caracteriza uma grande verdade, porém, perceptível a quem faz muitas leituras do mesmo enunciado.
Há ainda os discursos de origem, nos quais encontramos o que vêm de narrativas locais, como a Rua Belizário de Almeida e outros enunciados de nome próprio das ruas da cidade de Tangará da Serra ? MT, pois trazem a história dos pioneiros, pessoas que fundaram a cidade. São nomes de pessoas que de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento da cidade, em sua maioria famílias tradicionais, de poder político ou de heroísmo.
O termo "desbravador" segundo o Dicionário Aurélio, refere-se à pessoa que prepara a terra para a cultura. É sabido que muitos desbravadores foram fraudados pelos pioneiros, no sentido amplo da palavra, a qual, conforme o mesmo dicionário a coloca com a significação de explorador de sertões, o primeiro que descobre o caminho dianteiro. Segundo Pereira (2000, p. 59), os desbravadores, enfrentavam as matas, preparavam "suas" terras, e ali viviam de seus trabalhos; entretanto, de poucas posses, econômicas e culturais, não conseguiam escriturar suas terras. Os pioneiros, por sua vez, sitiantes ou fazendeiros, vindos de outros Estados, avizinhavam-se desses, e em um dado momento escrituravam não só o seu terreno como também o do vizinho, ficando, dessa forma, com o bem do desbravador. Constatou-se que os desbravadores verdadeiros não constam na história oficial do município, como nome de rua pelo simples fato de não deterem poder algum sobre "suas terras" que com tanto sacrifício descobriram para os pioneiros conquistarem.
Segundo Hunhoff, a escolha de um e não de outro nome, no ato de nomear, traz
múltiplos comprometimentos ideológicos:

O homem por si só é um ser simbólico, tudo para ele é exterior. Assim sendo os recursos que entram na organização de um enunciado não são meros recursos formais, jogos visando embelezar a frase, ao contrário, a escolha de um ou outro signo revela múltiplos comprometimentos de cunho social ou ideológico. (HUNHOFF, 2000, p. 17).

A partir do momento que há essa necessidade de nomear "as coisas", todas essas questões são muito relevantes. A ação de dar nome, segundo Dubois (1998, p. 521), é o que se denomina toponímia ou topônimos que vem a ser a parte da lingüística que se ocupa da origem dos nomes de lugares, de suas relações com a língua do país, com as línguas de outros países ou com línguas desaparecidas. A matéria é geralmente dividida segundo a geografia (há especialistas de nomes de rios, de nomes de montanhas; há também especialistas para esta ou aquela região determinada).
Marx citado por DICK, (1997, p. 21), diz que o nome dos lugares lança luz sobre a evolução das cidades e abrem novas perspectivas para o estudo da urbanização, da vida e do espaço urbano em geral. A história demonstra a importância dos nomes que se dão aos logradouros públicos. Esses registram no tempo e na memória a evolução sóciopolítica e cultural de um lugar. São espelhos de uma época, registros da memória. Sobre isso, Novaes, citado por Novaes diz:

Narrar a história de um povo a partir apenas do tempo presente, tempo fragmentado, direcionado, instante fugidio tido como único tempo real, é negar a articulação de épocas e situações diferentes, o simultâneo, o tempo da história e o pensamento do tempo. (NOVAES, 1992, p, 9).

É sabida a importância da conservação da memória, da lembrança do tempo e da história, resgatar valores de pessoas que contribuíram para o desenvolvimento, crescimento de um lugar, de uma cidade, é a forma mais sublime de preservar a memória, e se não fosse assim, o caráter dinâmico da história e da linguagem acabaria por diluir. Entretanto, isso só é possível através da informação, da educação e, obviamente, da linguagem.
Comumente encontram-se logradouros que homenageiam vultos históricos e datas cívicas de significado nacional, que em função de sua importância fazem parte do registro dos livros de História. É fato que esses topônimos são mais facilmente identificados, conseqüentemente não caem no esquecimento se comparados com lugares menos conhecidos.
O que dizer então quando a preferência se atém a personagens da história local? A memória não incorrerá no risco de ser esquecida? Segundo Novaes, (1992, p.23), esquecer o passado é negar toda efetiva experiência de vida e é essa articulação que permite diferenciar condutas múltiplas no tempo e reconhecer que práticas políticas e culturais, consideradas estranhas e indesejáveis em determinado momento, sejam vistas de maneira diferente em outro.
Extraídos de uma língua viva, os topônimos são enunciados lingüísticos, formados por um universo transparente e significante. Passam pelo crivo de um denominador que os seleciona e interpreta de acordo com seus valores, intenções, códigos e usos convencionais que representam também os de seu grupo a fim de tornar o termo escolhido um possível referente para o receptor.
Conforme Saussure, citado por Baronas, (2004, p.04), a língua não se reduz a uma nomenclatura, a uma lista de termos que corresponderia a outras tantas coisas, mas sim, a uma maneira de categorizar, de organizar e de interpretar o mundo que nos rodeia.
Sabe-se que a palavra, de acordo com o contexto ao qual esta se insere, passa a significar e a representar a história de vida desta pessoa que a nomeia, bem como o dialogismo do homem com o mundo, com o próximo, com o social, com o exterior. Cabe-nos questionarmos um pouco mais sobre a natureza dos enunciados, interpretarmos essas relações. Sobre o efeito de sentido na realidade, Greimas diz:

Os topônimos, na qualidade de designações dos espaços por meio de nomes próprios, fazer parte da onomástica, subcomponente da figuratização. Juntamente com os antropônimos e os cronômimos, permite uma ancoragem histórica que visa constituir o simulacro de um referente externo e a produzir o efeito de sentido "realidade". (GREIMAS, 1998, p.186).

Poder-se-á entender os topônimos como um elemento preservador da cultura porque funciona como detonador da memória coletiva, além de ser entendido o seu lado útil, pois serve para localizar com mais facilidade ruas, avenidas, praças, etc. E assim, qualquer comunidade recorre a nomes, datas ou acontecimentos locais ou nacionais ou até mesmo internacionais, como uma forma de não deixar cair no esquecimento, de forma que passem uma mensagem para as gerações posteriores. O poder político se encarrega de definir ou atribuir, em última análise um nome para uma rua.
Na cidade de Tangará da Serra, evidencia-se ainda a existência de topônimos paralelos, que têm como característica sua não existência oficial, seu caráter espontâneo colocado no signo toponímico, que o torna de fácil aceitação, embora mutável. Há também inúmeros casos de designações por números, o que facilita a memorização dos usuários, até mesmo as que já foram denominadas, permanecem, ainda com seus números antigos, gerando assim uma duplicidade de significantes e um só significado, a exemplo: Rua José Corsino ou Rua 12, ambas são aceitas, tanto na forma oral como na escrita, fato que se dá em virtude das mesmas terem primeiramente enumeradas e posteriormente denominadas, à medida que foram homenageados os pioneiros.
A comunidade, por costume ou comodismo, não se adaptou plenamente às atuais denominações; inclusive os moradores mais antigos da cidade. Assim há no espaço urbano tangaraense a permanência da toponímia popular/oficial e a paralela à memória social. Em síntese, observa-se que os nomes das ruas centrais da cidade de Tangará da Serra, com raras exceções de quem conhece um pouco a história, existem para a população tão somente como um referencial a identificar determinados locais, tornando-os endereçáveis.
A necessidade que se tem de perenizar nomes de pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para o desenvolvimento da cidade não é hábito de uma determinada localidade, pois pode ser verificada em qualquer lugar do mundo. Trata-se de uma atitude tão pouco inócua que regimes revolucionários tendem a rebatizar vias e logradouros públicos com referências significativas aos fatos e personagens fundadores de regimes instituídos. Segundo Guimarães (1994, p.17), o estudo dos sentidos, ou a semântica, se constitui como uma discussão histórica por se considerar que a linguagem é feita de signos, ou seja, que seu caráter fundamental é simbólico e não natural. Então, identificar, estruturar e entender o discurso que permeia o meio ambiente é uma atividade vital de todo ser humano racional. Denominar os seus elementos marcantes é um atributo do próprio ser humano, uma vez que existe um sistema de comunicação baseado na linguagem verbal, oral e escrita. Portanto, os topônimos, tanto os paralelos quanto os oficiais, são necessários como referencial, pois num ambiente urbano é impossível de se locomover sem a existência desse significante, por tornar o espaço urbano endereçável.
A cidade de Tangará da Serra cultiva/transforma um ambiente impregnado de memória em seus significantes, o que de certa forma é justificável. Sobre isso Bosi diz:

A lembrança é a sobrevivência do passado que de algum modo se conservou, o passado conservando-se no espírito de cada ser humano, aflora a consciência em forma de imagens lembrança e que a lembrança é a história da pessoa e seu mundo enquanto vivenciada. (BOSI, 1994, p. 68).

Essas relações de afetividade que os indivíduos desenvolvem com o lugar só ocorrem em virtude de esses se voltarem para eles munidos de interesses pré-determinados, ou melhor, dotados de uma intencionalidade. Não raro, quando esses de alguma forma contribuíram com a cidade, seja nas formas social, cultural ou política, tratar-se-á, também, de referenciais afetivos, os quais desenvolvemos ao longo da vida, a partir da convivência no lugar e com o outro. Nas palavras de Buttimer (1985, p. 228), "Lugar é o somatório das dimensões simbólicas, emocionais, culturais, políticas e biológicas". Por isso estabelece-se uma identidade que produz a significação em qualquer dos âmbitos descritos acima.
Na cidade de Tangará da Serra os nomes das ruas trazem inúmeras enunciações, pois o processo de nomeação está determinado historicamente, não tendo só a função de localização para seus habitantes, uma vez que estes já estão "acostumados" aos números, e sim a forma de homenagear, cujo discurso é do memorável, anulando assim outras descrições.Tal ocorrência se dá em virtude da história da cidade, que vai formulando sua própria identidade com os nomes que a enunciam. Abreu diz:
A memória individual pode contribuir, portanto, para a recuperação das cidades. A partir dela, ou de seus registros, pode-se enveredar pelas lembranças das pessoas e atingir momentos urbanos que já passaram e formas espaciais que já desapareceram. (ABREU, 1998, p.26).

Tanto Abreu quanto Bosi defendem que toda memória é social e que a mesma nos permite conhecer algumas práticas sociais, partilhada pelos indivíduos. Para tanto, far-se-á necessário um longo tempo de contato, de envolvimento com o lugar, pois em contraste uma pessoa pode ter vivido durante toda a sua vida em um determinado local e sua relação com ele ser completamente irreal, sem enraizamento. É sabido que em meio à sociedade há pessoas que não se envolvem, que não se sentem parte do lugar, a própria passagem do tempo, por alguma razão, não garante um senso de lugar. A exemplo, conheço um lugar, cujo local residi por longos anos, onde conheci muitas pessoas, e, embora muitos delas fizessem parte do lugar como "desbravadores", algumas personagens, depois de irem ao óbito, não tiveram seu reconhecimento pelo poder político local, caíram no esquecimento, no anonimato, razões que provam o que dissemos até aqui, o ato de nomear homenageia o cidadão notável "significativo", não o comum, sobre isso Greimas diz:

O mundo dito sensível torna-se assim objeto em sua totalidade, da busca da significação, ele se apresenta em seu conjuntos e em suas articulações como uma virtualidade de sentidos . A significação pode esconder sob todas as aparências sensíveis, ela está atrás dos sons, mas também atrás das imagens dos odores e dos sabores. (GREIMAS, 1973, p. 17).

O autor ao dizer que o mundo sensível pode esconder certas significações em detrimento de outras muito mais aparentes, imagens mais concretas (odores, sabores), dá-nos pistas interpretativas de termos certos nomes na nominação do espaço público e não outros de nossa preferência. Greimas, em suas manifestações a respeito da semiótica como teoria de todos os sistemas de significações, considera que o homem está no mundo, uma figura relacionada a outras aparências sensíveis, e, desta forma postula a existência de uma semiótica natural.
As ruas centrais da cidade de Tangará da Serra transportam como significante a memória do homem como ser histórico dentro de um contexto, o que significa dizer, que tais nomes não se dão de forma aleatória, e sim, há um sentido. Guimarães cita que para Bally: "a significação não é psicológica, ela é lingüística, ela é a significação que o signo traz" e reafirma que:

A palavra à parte é um método quase tão artificial quanto dar, como se é obrigado a fazer em fonética a história de uma vogal ou de uma consoante, ou seja, as mesmas não têm existência senão nas palavras. (GUIMARÃES, 1995, p. 17).


Diante dessa colocação, pode-se dizer que o nome das ruas centrais da cidade de Tangará da Serra está inserido num contexto definido, pois é assim que a linguagem e conseqüentemente a transmissão e troca de informações se efetivam. Quando se pensa em toponímia, pensa-se também num fenômeno capaz de padronizar um comportamento lingüístico social, dentro de um segmento social, e que nesse caso atenda aos seus usuários. Os lugares nem sempre são dotados de limites reconhecíveis no mundo concreto. Isto ocorre porque sendo uma construção subjetiva e ao mesmo tempo tão incorporada às práticas do cotidiano, as próprias pessoas envolvidas com o lugar não o percebem como tal. Este senso de valor só se manifesta na consciência quando há uma ameaça ao lugar, como a demolição ou a destruição de um lugar considerado importante. A exemplo, houve há algum tempo a sugestão de mudança do nome da Escola "29 de Novembro", também a destruição do "Salto das Nuvens" para uma possível usina, isso bastou para que surgissem tantos defensores da permanência do nome da Escola e do Salto das Nuvens, preservado até então na memória de tantos, aquele momento histórico e tão importante para a população num todo, obviamente, gerando muitas discussões em torno do novo e do antigo nome, prevalecendo assim a memória, o momento histórico. Hunhoff (2001, p. 9) vem ao encontro com esta teoria ao dizer que o contato com o real é mediado pela história e é nesse contexto que a linguagem se concretiza. Bosi diz que a história é revivida pela inscrição do nome no espaço público:

É a essência da cultura que atinge a criança através da fidelidade da memória. Ao lado da história escrita, das datas, da descrição de períodos há correntes do passado que só desaparecem na aparência. E que podem reviver numa rua, numa sala, em certas pessoas, como ilhas efêmeras de um estilo, de uma maneira de pensar sentir, falar, que são resquícios de outras épocas. Hoje a função da memória é o conhecimento do passado que se organiza, que ordena o tempo, localiza cronologicamente. (BOSI, 1994, p.75).


A toponímia registra a memória social enquanto seu significante for representativo a realidade, ele permanece como uma tradição lingüística. O resgate do significado dos nomes das ruas centrais de Tangará da Serra trará subsídios valiosos por se tratar de expressão lingüística que tão bem reflete o ambiente. Nas palavras de Orlandi (2001 p. 99), sujeito e o sentido se constituem ao mesmo tempo, na articulação da língua com a história, em que entram o imaginário e a ideologia de forma que a ideologia interpela o sujeito e este se submete à língua, significando e significando-se pelo simbólico na história. Explicita que não há nem sentido nem sujeito se não houver assujeitamento à língua e enfatiza que o sujeito se submete a lingua (gem), mergulhado em sua experiência de mundo e determinado pela injunção a dar sentido, a significar (se) em um gesto, um movimento sócio-historicamente situado em que se reflete sua interpelação pela ideologia de forma que a ordem da língua e a da história , em sua articulação e funcionamento, constituem a ordem do discurso.
É possível enquadrar os nomes das ruas centrais de Tangará da Serra, no que diz respeito aos topônimos em uma única categoria ou referenciais, tendo por parâmetros estudos históricos e lingüísticos desenvolvidos por Dick (1997), a saber: Antroponímico (relacionado com nomes de pessoas). Acredita-se que o poder público de Tangará da Serra, encarregado de definir ou atribuir nomes às ruas, tenha optado por homenagear os pioneiros da cidade como forma de não deixar cair no esquecimento a memória dessas personagens, passando assim uma mensagem para as gerações posteriores. Entretanto, tal procedimento não se dá aleatoriamente, é possível que seja necessário atentar para algumas questões, como ressalta Orlandi.

O sujeito para se constituir, deve-se submeter à língua, ao simbólico, é preciso acrescentar que não estamos afirmando que somos pegos pela língua enquanto sistema formal, mas sim, pelo jogo da língua na história, na produção de sentidos. (ORLANDI, 2001 p.102).

É possível resgatar o campo simbólico como espaço da ação humana e, como tal pertinente ao estudo histórico da cidade de Tangará da Serra. Esse olhar historiográfico, porém, não trata o simbólico como imagem fiel da realidade social. O simbólico é uma dimensão da realidade, cujo significado é encontrado não na direta correspondência com o real. Também a memória se caracteriza como uma identidade construída a partir de representações e práticas que os sujeitos articulam em suas relações.
A memória insere-se no interior dessa capacidade que toda sociedade apresenta através da história de representar-se nesse universo simbólico que poder-se-ia chamar de universo imaginário social. Orlandi diz que:

A cidade é um espaço simbólico, particular, tendo sua materialidade que produz sua própria forma de significar. Em outras palavras a cidade se caracteriza enquanto espaço em que se materializam gestos de interpretação específicos, aqueles que constituem o urbano. (ORLANDI, 2001, p. 186).

Tangará da Serra, como não poderia ser diferente, também tem sua forma particular de significar, optando assim pela memória de seus pioneiros, que de fato, fizeram, construíram a história e a cidade, constituindo assim o espaço urbano.
Para Orlandi (2001, p. 187), o sujeito é parte do acontecimento do significante, de forma que no sujeito o mundo faz sentido e a linguagem se diz, realiza-se como discurso.
Este trabalho, como já enunciamos, propõe o resgate das origens dos nomes das ruas centrais de Tangará da Serra a partir de sua fundação até a presente data, cuja formação discursiva encontra-se centrada nos sentidos de interagir, comunicar, transformando assim as injunções de normatividade social e, nesse contexto, a linguagem não é utilizada apenas no ato de comunicar, é antes um objeto que significa algo, a unidade de um povo, a identidade nacional.
O domínio da língua tem relação com a possibilidade da plena participação social, pois é por meio desta que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende idéias e pontos de vista, partilha e constrói visões de mundo e produz conhecimentos. "O objetivo das palavras é transmitir o sentido do ser, a melodia da existência. Quando esta é aprendida, as palavras são esquecidas".(A via de Chuan Tsau.)

































CAPÍTULO 2

CONSTITUIÇÃO DO CORPUS

Para dar significado às coisas, observa-se a aparente transparência da linguagem e a evidência do sujeito. Assim, constatamos que o ato de nomear ruas, logradouros e espaços públicos ocorre através de Leis e Decretos, cujos nomes passam pelo crivo de um denominador comum, ou seja, essa tarefa cabe à Câmara Municipal, com a aprovação do Governo Municipal.
Fiorin (2003, p. 52) diz que é fundamental ressaltar, nas teorias idealistas, que a linguagem tem um papel ativo no processo de aquisição do conhecimento: "Que é que determina, porém, essa imagem do mundo?". Schaff, citado por Fiorin, diz que a linguagem cria a imagem do mundo, produto da função simbólica. E que a linguagem cria a imagem do mundo, mas é também produto social e histórico. Assim a linguagem "criadora de uma imagem do mundo é também criação desse mundo".
Sendo assim, pode-se perceber que o componente semântico do discurso não deixa de ser determinado por fatores sociais, cujo componente contém a visão de mundo veiculada pela linguagem, fato este que comprova que essa visão de mundo não é arbitrária, ao contrário, resulta puramente de fatores sociais, ideológicos e políticos.
Para Wundt, citado por Orlandi, a linguagem é condutora da sociedade.

A linguagem, die sprache, não é em sua evolução, algo de individual; ela tem sua vida, sua dinâmica e seu determinismo próprio. Os indivíduos são presos a ela e pensam por ela mais do que a produzem ou a enriquecem. (HENRY, 1994 apud ORLANDI, 2001, p. 33).


Percebe-se que, sendo dessa forma, a linguagem não é individual, é própria em si mesma, são os indivíduos que a utilizam que pensam através dela. Wundt diz que a linguagem não possui um cunho individual, que não pode ser considerada uma particularidade de cada indivíduo, para ele a linguagem é coletiva, é o reflexo de um pensamento coletivo, logo de um povo donde surgem as características que o definem e os distinguem dos demais.
Partindo desses pressupostos, para urbanizar é necessário nomear. Na cidade de Tangará da Serra, quando ocorreu sua emancipação, a maiorias das ruas eram apenas enumeradas, o que não caracterizava uma nomeação, dando somente a localização. Verifica-se, desde então, o espaço aberto à nomeação e ao mesmo tempo ao sentido dessas nomeações. No espaço urbano, existe a necessidade de endereçamento para que o indivíduo se localize, entretanto, o objeto nomeado por sua vez não tem a intenção de ser descritivo. Faz parte do memorável, há o interesse explícito de apenas dizer onde é um determinado lugar.
As ruas centrais da cidade de Tangará da Serra, estado de Mato Grosso, foram tomadas como objeto de estudo deste trabalho e constituem um corpus investigatório, no qual analisar-se-á aspectos discursivos e históricos que produzem sentidos interpretativos diferentes em diferentes leitores, conforme sejam seus mecanismos interpretativos: experienciais ou teóricos; ligados ao seu conhecimento de mundo.
Os documentos que compõem esta investigação encontram-se nos anexos finais desta monografia.
De acordo com o historiador Ciriaco da Silva, 1998, p. 1, o município de Cuyabá deu origem ao Município de São Luiz do Paraguay (depois denominado São Luiz de Cáceres e, finalmente, Cáceres). Cáceres deu origem a Barra do Bugres.
Barra do Bugres recebeu uma parte do território de Diamantino, por essa parte de Diamantino, Barra do Bugres deu origem ao município de Tangará da Serra.
Nas palavras de Silva, a Lei Estadual Nº 2.906 de 06 de janeiro de 1969 o fez Distrito de Barra do Bugres, a Lei de Nº 3.687, de 13 de maio de 1976, criou seu próprio território, cuja sede instalada confortavelmente entre as Serras Itapirapuã (do guarany pedra redonda vista do alto) e a Chapada dos Parecis (Tribo Parecis).
Silva relata que o ano de 1959 marcou o início e a fundação de Tangará da Serra pela conveniência dos sócios: Júlio Martinez Benevides, Fábio Licere e Joaquim Oléas, ao projetarem as Glebas: Juntinho, Esmeralda, Santa Fé e Santa Cândida, perfazendo um total de 38.720 hectares de terras agricultáveis e a Fundação Colonizadora SITA ? Sociedade Imobiliária de Tupã para a Agricultura, cujo nome, homenageia um pássaro raro de cores bem definidas, cabeça vermelha e belo canto, denominado Tangará e pelo mesmo localizar-se acima de uma serra: Tangará da Serra. Daí a origem do nome da cidade.
Para Silva, os pioneiros e os desbravadores são aqueles que fizeram a história de Tangará da Serra.
A princípio, as ruas foram identificadas por números. Com o passar dos anos e com os óbtos de seus "pioneiros", através de Decretos e Leis aprovados pelas autoridades locais, foram sendo substituídas pelos nomes dos pioneiros, lembrando que há na história do município que os verdadeiros "desbravadores" nem sempre receberam esta homenagem.
A saber, um deles, o Pastor da I Igreja Batista, Efraim Santiago, desbravador, não consta descrito no mapa da cidade, embora tenha contribuído para o crescimento da cidade, principalmente espiritual como primeiro pastor da Igreja Batista. Tangará da Serra, possui boa parte da população de evangélicos e obviamente, estes se sentiriam honrados em ver o nome de um grande líder espiritual sendo homenageado.
Oliveira, (2004, p. 93) em suas pesquisas, encontrou o seguinte relato deixado pelo padre Egberto Pereira, que na época, era, aparentemente detentor do poder na "Vila", se assim se pode dizer. Registro no livro tombo: "Mais um alívio, com a chegada de famílias católicas, que povoariam o lugar dominado por protestantes":

Assim Tangará considerado núcleo protestante, não mais será. Aqui atualmente existe 10% de protestantes, dentre as seitas Congregação Cristã do Brasil, batistas, presbiterianos, Assembléia de Deus. Antes de vir o padre eles conseguiam reunir o povo, assim a Batista ficava com o templo repleto que mede 7x10 metros, hoje reduzido para algumas pessoas.Ainda a mais numerosa é a Cristã do Brasil. Os presbiterianos começaram o templo, mas está apenas nos alicerces. Eles podem contar com o pastor que vem de Rosário Oeste de avião, a Congregação Cristã possui avião e jeep. A Assembléia tem o foco principal no Progresso, aqui, poucos elementos. Não tenho condução, só posso contar com a graça de Deus. Sei que se tivesse condução poderia multiplicar meu trabalho.

Percebe-se a preocupação do padre Egberto em ganhar espaço, pessoas. Em seu discurso está implícito uma grande rejeição aos protestantes, algo como se o território lhe pertencesse. Há ainda outros relatos, sempre um discurso "autoritário", cujo discurso não abre possibilidades para que o interlocutor interprete a seu modo a realidade, pois o sentido único já está nele constituído.
Desnecessário acrescentar que, em nossa forma de sociedade, o discurso autoritário é dominante, cada vez mais a sociedade contemporânea sofre uma espécie de patrulha ideológica patrocinada pela mídia, que com raras exceções, esmera-se no intento de construir um pensamento nacional homogêneo. Apenas a uns poucos é dado o direito de interpretar a realidade e, logo, de produzir sentidos para ela. À maioria é dado tão somente o direito de concordar com essa interpretação e incluir-se no rol dos seguidores conformados ou de auto-excluir sempre que optar pelo pensamento independente. Assim, a interpretação constitui-se em privilégio, um monopólio pertencente aos grupos sociais hegemônicos, cujos aparelhos ideológicos encarregam-se de gerir a memória coletiva. Situação que Pêcheux (1997, p. 58) caracteriza como a divisão social do trabalho de leitura em que é dado e diz que:

A alguns, o direito de produzir leituras originais, logo interpretações; constituindo ao mesmo tempo, atos políticos (sustentando ou afrontando o poder local); a outros, a tarefa subalterna de preparar e de sustentar, pelos gestos anônimos do tratamento "literal" dos documentos, as ditas "interpretações"...

Temos, então, no trabalho de ler a realidade, dois papéis marcantes: o primeiro é o do autor de um discurso dito ?fundador?, que interpreta o mundo de acordo com a formação discursiva de sua classe social, ou de acordo com a ideologia da instituição.
Para tanto, o padre se utiliza "estatísticas" , como o número de pessoas existentes no templo, dá-se conta das viaturas, avião e outros pertences das Igrejas, para justificar, dar credibilidade a sua leitura.
De repente, entre esta e outras razões, os pastores locais não foram homenageados com nomes de ruas ou outros logradouros, pois havia um discurso "autoritário", de poder constituído, a Igreja Católica, inibindo, por assim dizer, esse processo de nomeação das ruas, os pastores, ainda que pioneiros ou desbravadores não têm seus nomes perenizados em Tangará da Serra.
Mas no ano 1976 se deu o processo de emancipação do território tangaraense, em 13 de maio de 1976. Oliveira, (2004, p. 12), diz: A cidade de Tangará da Serra encontra-se localizada a Sudoeste do Estado de Mato Grosso, com altitude média de 456 metros, entre os paralelos 14 e 15 graus e entre os meridianos 57"15?00" e 59 10?00".
Tangará da Serra limita-se com os municípios de Campo Novo dos Parecis, Sapezal, Campos de Júlio, Conquista D?Oeste, Pontes e Lacerda, Vale de São Domingos, Barra do Bugres, Nova Olímpia, Denise, Santo Afonso, Nova Marilândia e Diamantino. O clima de Tangará da Serra é do tipo tropical de Monção; sua vegetação é composta de 55% de matas de transição e o restante de cerrados e campos, os solos predominantes são os latossolos vermelhos e os vermelho-amarelas, com textura argilosa em 80%; areno-argilosa em 15% e arenosa em 5%. Os rios Sepotuba ou Tenente Lira, Juba, Formoso, Verde, Tarumã, Jubinha, Jauru e Sacre, formam os recursos hídricos do município, que possui uma área total de 11.423,04 km 2, sendo que, aproximadamente, 51% é área indígena do povo Paresí, habitante primeiro de toda a área dos campos do Tapirapuã, local onde está edificada a cidade e a zona rural de Tangará da Serra.
Atualmente a cidade possui cerca de setenta mil habitantes, numa área de 10.217.000 metros quadrados, situada a duzentos e quarenta quilômetros da Capital, Cuiabá. É denominado "Capital do Médio Norte", "Pólo Universitário" e "Pólo Regional de Saúde".
O fluxo migratório colaborou para o desenvolvimento da cidade. Há muitas pessoas provindas de outros estados, principalmente de Minas Gerais e São Paulo, segundo estatística, o que não ocorre na atualidade, pois a maioria dos habitantes são provindos do estado do Paraná e Rio Grande do Sul: o que caracteriza os desbravadores no início e os pioneiros em seguida, muitos desses ainda permanecem, mas de qualquer forma foram estes e aqueles que promoveram a expansão das atividades agropecuárias.
Com a fundação da cidade, as ruas receberam números, exceto as avenidas Brasil, Mato Grosso, Brasília e Cuiabá. A partir de então foram nomeadas as demais ruas, homenageando assim os pioneiros, cujos homenageados trazem no bojo sua história e seus significados, e o poder público por sua vez, conhecedor dos homenageados, vai dando nomes às ruas, in memorian.
A cidade de Tangará da Serra institui os nomes das ruas da cidade, a partir de algumas considerações ideológicas, políticas e sociais. Esses nomes são definidos e estudados, primeiramente pela Câmara Municipal e aprovados/ou não pelo poder público municipal.
Os nomes das ruas principais da cidade de Tangará da Serra homenageiam os pioneiros da cidade em questão, exceto as avenidas, cujas nomenclaturas foram nomeadas destacando três eixos da Marcha para o Oeste, o migrante ideal, a construção de Brasília e a ocupação do Centro Oeste.
a) Brasília: Representando o desenvolvimento;
b) Paraná e São Paulo: O povo migrante, (provindo dessas regiões);
c) Cuiabá e Mato Grosso: O espaço ocupado;
d) Brasil: A trajetória do movimento.
Percebe-se que, segundo estatística, entre 1964 e 1979, a naturalidade dos cônjuges em Tangará da Serra era de 33,9% de mineiros, contra 21,4% de São Paulo e 16,2% do Paraná, segundo Oliveira (2004, p, 89), entretanto não consta nenhuma rua ?Belo Horizonte? por exemplo, cujos desbravadores também não são homenageados.
Todas as avenidas caminham para outra maior que corta a cidade ao meio e só é interrompida pelo Centro Cívico, espaço em que os "poderes" se edificaram, mas que o ultrapassa, formando, então, a trajetória do movimento, a Avenida Brasil.
Segundo Carnevali, citado por Oliveira (2004, p. 74), os nomes das Avenidas foram dados por Wanderley Martinez, dono da SITA, em homenagem aos estados em que colonizadores moraram e também ao estado em que Tangará da Serra está localizado, bem como a sua capital. As ruas não receberam nomes na época, pois o arquiteto preferiu numerá-las no projeto original e os nomes seriam colocados posteriormente, para homenagear os cidadãos que trabalhassem para a cidade. (OLIVEIRA, 2004, p. 76).
O mapa com os nomes das ruas está assim descrito, todas as ruas estudadas levam nomes próprios, os mesmos trazem imbricados os sentidos, as histórias, os significados inseridos dentro da história da cidade. "Com a palavra se fundam as cidades, se formam os portos, se comanda o exército e se governa o Estado. (Geórgias. Elogio de Helena, 8.13: in HUNHOFF, 2001, p.36).











CAPÍTULO 3

DENOMINAÇÕES DAS RUAS CENTRAIS DE TANGARÁ DA SERRA: SUA IMPORTÂNCIA COMO SIGNIFICANTE DE REFERENCIAL URBANO.

As ruas são referenciais urbanos que permitem aos habitantes de uma cidade o acesso a qualquer que seja o endereço e são essenciais na orientação e identificação. São facilitadores indispensáveis à localização urbana. A importância das origens dos nomes das ruas como significante de referencial urbano, servirá para refletir sobre algumas questões pertinentes, como as diversas relações entre o homem e o ambiente em que vive e explorar melhor a questão da toponímia, ciência que estuda as denominações dos lugares geográficos.
Identificar e estruturar o meio ambiente é uma atividade vital de todo ser humano que se move, denominar seus elementos marcantes é um atributo próprio do ser humano, uma vez que se exige um sistema de comunicação baseado na linguagem. Num ambiente urbano, o cidadão desenvolve relações duráveis com a cidade onde reside, sendo que as imagens, os signos, o resultado de um processo bilateral entre o observador e seu ambiente são impregnados de memórias e significações.
A criação de uma imagem requer em primeiro lugar, a identificação de um signo e sua distinção de outras coisas. Este signo deve incluir a relação estrutural ou espacial do signo com o observador e com outros significantes, cujo signo deve ter um significado prático e emocional, enfim, são utilizados todos os sentidos do ser na sua orientação espacial.
Alguns signos acabam tornando-se pontos marcantes, quase sempre representados por um objeto fixo, definido de um modo simples: estátua, montanha, rio, rua, etc., e servem de referência e orientação para o indivíduo nesse ambiente, mesmo que seu significado original seja desconhecido.
As ruas de uma cidade tornam-se de difícil definição se forem confundíveis e as pessoas são, normalmente, dependentes destes referenciais para se orientarem dentro desse espaço.

3.1 Toponímia: Sua Importância na Relação Indivíduo-cidade

Um cenário físico vivo e integrado, capaz de produzir uma imagem bem definida, desempenha, dentre outros, um papel social. Uma boa imagem ambiental oferece ao seu possuidor um importante sentimento de segurança emocional. Uma imagem clara, permite uma locomoção mais fácil e rápida, por outro lado, a falta de referenciais pode tornar o ambiente caótico e transmitir insegurança à população.
A observação dos diversos elementos marcantes serve de base para sua nomeação, e passa a ser referencial nesse espaço. Dessa forma nasce a toponímia de uma determinada região ou aglomerado urbano, formada pelo conjunto de nomes de logradouros e pontos de referência, possuidores de significado e valor para seus habitantes.
Os nomes das ruas de Tangará da Serra são ferramentas essenciais de informação que permitem aos usuários orientar-se facilmente, são chaves indispensáveis que facilitam o acesso das pessoas a seus destinos de origem, são elementos de base de formação da toponímia urbana, pois ao se criar uma denominação, elas fazem parte do patrimônio urbano, marcam os bairros, as cidades, as ruas e acompanham sua história.
Por esta razão a denominação das ruas é de suma importância, a consolidação desses nomes acaba por consolidar a própria imagem da cidade no ambiente em que se está inserida.




CAPÍTULO 4

UM BREVE ESTUDO DO RECORTE DAS NOMENCLATURAS DAS RUAS CENTRAIS DE TANGARÁ DA SERRA


Estrutura dos nomes das ruas centrais de Tangará da Serra ? MT:


Avenida Ismael José do Nascimento
Rua Almerindo Xavier Cotrim
Rua Alziro Zarur
Rua Américo Rodrigues
Rua Antonio Barbeiro Herreros
Rua Antonio Batista da Costa
Rua Antonio Hortolani
Rua Antonio José da Silva
Rua Antonio Ribeiro da Rocha
Rua Arlindo Nogueira Gomes
Rua Atalíbio Correia Batista
Rua Avelina Jaci Bohn
Rua Belizário de Almeida
Rua Benedito Pereira de Oliveira
Rua Celso Rosa Lima
Rua Décio Burali
Rua Deputado Hitler Sansão
Rua Domingos Germano de Souza
Rua Erotides Padilha
Rua Euclides José Medeiros
Rua Francisco Antonio da Silva
Rua Francisco Ferreira Ramos
Rua Francisco José de Mendonça
Rua Francisco Souza Cruz
Rua Gumercindo Antonietti Marques
Rua João do Prado Arantes
Rua João Elias Ramos
Rua José Alves de Souza
Rua José Camilo da Silva
Rua José Cândido Melhorança
Rua José Corsino
Rua José de Oliveira
Rua José Florêncio Godrin
Rua José Garcia Lacerda
Rua José Mariano
Rua Jovino Pedro do Nascimento
Rua Júlio Martinez Benevides
Rua Luiz Martins Cardoso
Rua Manoel Dionísio Sobrinho
Rua Marlene Campos Lopes
Rua Martin Célio Rosella
Rua Neftes de Carvalho
Rua Olívio de Lima
Rua Osvaldo Faria de Oliveira
Rua Pedro Kwiecinski
Rua Pedro Rodrigues Zamparoni
Rua Professora Maria Goreti Dwrobel
Rua Ramon Sanches Marques
Rua Roberto Valenti Cavalari
Rua Rotary Internacional
Rua Samuel Corsino
Rua São Paulo
Rua Saturnino de Paula da Silveira
Rua Sebastião Barreto
Rua Sebastião Ferreira da Silva
Rua Valdemar José da Cruz
Rua Vereador Brasilino Gomes Amado
Rua Vicente Bezerra de Lima
Rua Viliabo Belhing

Percebe-se em cada nomeação a determinação interdiscursiva, pelo fato de que o nome próprio tem sentido; significa que está inserido numa certa historicidade, onde o espaço urbano é constituído de ruas, cada sujeito com sua história, seus méritos.

Rua Antonio Barbeiro Herreros; Rua Antonio Barbeiro Herreros;
Rua Antonio Batista da Costa; Rua Antonio Hortolani
Rua Antonio José da Silva

Observa-se o grande número de nomes "Antonio", no histórico de dois desses nomes, conta-se que receberam os nomes por seus pais serem devotos de Santo Antonio, constata-se a devoção no santo, também eram pessoas de bem, dotadas de recursos financeiros, fazendas ou sítios, também denominado "Sítio Santo Antonio", cujo nome se deu também em virtude da mesma devoção; as famílias seguiram os mesmos dogmas. Já Antonio Hortolani, foi gerente da firma colonizadora SITA. Diz a história que o mesmo realizou grandes feitos na cidade, era ele que realizava contratos de compra e venda, também tinha uma serraria, onde controlava e classificava madeiras e ainda controlava as viagens da "Marinete", primeira jardineira em Tangará da Serra. Antonio Hortolani recebe duas homenagens, nome de rua e nome de uma escola do município.
Neste ato se estabelecem relações de poder, homenagem somente para homem de bem, pioneiro, não consta nome de pastores evangélicos, líderes sindicais ou mesmo desbravadores, seus nomes foram esquecidos, ou seja, caíram no "discurso do silêncio". (ORLANDI, 1997, p. 13) destaca que o silêncio é fundante e constitui-se como real de significação, pois para falar, o sujeito tem necessidade de silêncio, um silêncio que é fundamento necessário ao sentido e que ele reinstaura falando. O aspecto fundante do silêncio é apontado como aquilo que marca o outro da palavra, é silêncio quando não há palavra, há silêncio antes e depois da palavra. Orlandi (1997, p. 14) afirma que a linguagem recorta o silêncio e estabiliza o movimento dos sentidos. Para ela "estar no silêncio com palavras é estar no sentido em silêncio, são modos absolutamente diferentes entre si". Como condição de produção de sentido, o silêncio permite também o movimento do sujeito. O silêncio fica como reduto do impassível, do múltiplo e abre espaço para o que não é "um", para o que permite, então, o movimento do sujeito. Na medida em que o sujeito aparece como possível operador da subjetividade, que possibilita o movimento do sujeito. O silêncio é uma opção (nem sempre consciente) entre dizer/falando e dizer/calando.

Rua Arlindo Lopes da Silva; Rua Belizário de Almeida;
Rua Benedito Pereira de Oliveira; Rua Celso Rosa Lima;

Os pioneiros acima, também representavam Tangará da Serra de alguma forma, Celso Rosa Lima, era ex-combatente do Brasil na Segunda Guerra Mundial, como participante em missão de comboio, o mesmo chegou em Tangará da Serra em 1966, após ter percorrido muitas partes do Brasil em busca de um lugar para se estabelecer. Conta a história que o "capixaba" adquiriu imóveis e ficou vivendo de sua aposentadoria como ex-combatente até sua morte.
Arlindo Lopes, outro cidadão vindo do Rio de Janeiro, deixou um legado de terras adquiridas no município aos filhos, foi o primeiro membro e fundador da Igreja Batista em Tangará da Serra, confrontando com padre Egberto a disputa dos fiéis, até os dias de hoje, a família Lopes tem influência política na região, diferentemente do pastor Efraim Santiago, esse cidadão era homem de bem, portanto, merecedor da homenagem, tem seu nome inscrito numa das principais ruas da cidade.
Belizário de Almeida é considerado o pioneiro número um, foi o responsável pela demarcação da estrada de Nova Olímpia até Tangará da Serra. Veio para a região exclusivamente para medir as glebas Santa Fé, Esmeralda e Juntinho. Por conveniência resolveu fixar residência em Tangará da Serra.

Rua Décio Burali; Rua Euclides José Medeiros
Rua Francisco Ferreira de Ramos; Rua Ismael José do Nascimento;

Décio Burali teve fortes ligações com a política da região, objetivando a emancipação do município, também exercia o comércio de compra e venda de madeira, enquanto seu pai trabalhava com a agricultura. Não há dúvida, de que este comércio (compra e venda de madeira) não era para qualquer um, os mesmos eram homens de posses, portanto, com o livre arbítrio para comercialização.
Euclides José Medeiros foi o primeiro fotógrafo de Tangará da Serra. Em contraste, Francisco Ferreira de Ramos, único de poucas posses homenageado, entretanto, foi o que ajudou a construir a I Igreja Católica, portanto, merecedor da homenagem, afinal, a Igreja era detentora de poder naquele momento. É sabido que desde a Idade Média a Igreja sempre deteve o poder, afinal, Francisco Ferreira de Ramos, ajudou a construir a Igreja Católica e não o Sindicato dos Trabalhadores no Comércio. E o fundador do Partido dos Trabalhadores não foi homenageado por quê? É ai que se configura o discurso autoritário, Orlandi (1997, p. 24), diz que: "O discurso autoritário não abre possibilidades para que o interlocutor o interprete a seu modo a realidade, pois o sentido único já está nele constituído". Esse discurso é aceito sem questionamentos, é imposto, pronto e acabado.

Rua João do Prado Arantes; Rua João Elias Ramos;
Rua João Elias Ramos; Rua José Candido Melhorança;
Rua José Corsino; Rua José de Oliveira;
Rua José Florêncio Godrin; Rua José Garcia Lacerda;
Rua Sebastião Barreto;

Percebe-se ainda o grande número de José e João, cujos nomes deixa claro a devoção pelos santos, o que justifica a maioria de católicos na cidade, o dia dos referidos santos são festejados, a saber, o dia de São Cristóvão é comemorado por uma semana consecutiva. A São João é dedicado todo o mês de junho e julho.

Rua Júlio Martinez Benevides; Rua Manoel Dionísio Sobrinho;
Rua Martin Célio Rosella; Rua Neftes de Carvalho;
Rua Olívio de Lima; Rua Saturnino de Paula Silveira;
Conta a história de Tangará da Serra que Júlio Martinez Benevides veio para este lugar em 1958, quando só havia mata. O mesmo foi o responsável pelo surgimento do município, juntamente com seu filho Wanderlei Martinez Benevides, não é de se ignorar que os mesmos passaram a homens de posse com o desenvolvimento da região e, obviamente dignos da homenagem.
Há ainda os nomes próprios de pessoas determinados por titulação como:

Deputado
Doutor
Presidente
Professora
Vereador
Essas titulações estão relacionadas com o discurso de poder, trazem outros discursos, como o nome do Vereador Ramon Sanches Marques, que além de fundador, foi responsável pela doação do terreno para a Escola de mesmo nome, duplamente homenageado: Rua Ramon Sanches Marques e Escola Ramon Sanches Marques, homem de posse, colaborador do município, ficou na "história". Os outros indicadores são nomes de famílias tradicionais, de poder. Família tradicional faz parte do memorável.
Registram-se também nomes de instituições como:
Rua Lions Internacional
Rua Rotary Internacional
São enunciados que indicam o memorável histórico de homenagear instituições sérias.
Todos os enunciados significam uma rede de memórias. Ao estudar o nome próprio de rua pode-se perceber que o nome não é próprio dela, não refere a si e sim funciona do ponto de vista interdiscursivo, por se tratar de uma informação que contém outra. O nome próprio constitui uma relação interdiscursiva, diz Hunhoff (2001 p.31).
É assim que a linguagem se efetiva, porque está voltada para o fora dela, é a palavra voltada para o exterior.



4.1 A Importância dos Signos e Suas Emanações na Compreensão da Linguagem Segundo Greimas.


Para Greimas (1973 p.29), o signo não é definido como tal, ou seja, ele não apresenta nenhuma terminologia que possa representar o conjunto de significações, segundo ele, mesmo não sendo apresentado um rótulo para designar um ponto a qual residem o significante e o significado, ele coloca duas terminologias dentro de um conjunto abstrato, quando pressupõe a inexistência de um sem o outro e do outro sem o um. Se o significado não é possível sem o significante, então eles se inter-relacionam, completam-se, referem-se, e por natureza semântica, devem ser semas de um semema.
O objetivo não é questionar porque Greimas deixou de lado a nomenclatura signo e firmou-se nas significações: o significante e o significado, assim sendo, Greimas define significante, significado e significação. Para ele (1973, p, 17), significantes são os elementos ou grupos de elementos que possibilitam a aparição da significação ao nível de percepção e, significados são o conjunto das "significações que são recobertas pelo significante e manifestadas graças aa sua existência". Alem de definir, ele apresenta uma classificação para os significantes, conforme a ordem sensorial pela qual eles podem se apresentar.
Com o conteúdo exposto, percebe-se a visão de Greimas sobre as significações e as relações que elas têm ao interagirem na formação dos significados discursivos, bem como observar que não é possível admitir a existência do significante sem o significado e vice-versa.

4.2 O Signo Ideológico Contextualizado Por Bakhtin

O signo para Bakhtin é um elemento de natureza ideológica, ele chega a afirmar que todo signo é ideológico por natureza."Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo, [...], tudo que é ideológico é signo, sem signo não existe ideologia". (BAKHTIN, 2002, p. 31).
Sendo assim, pode-se dizer que o signo é carregado de significações ideológicas. As ruas centrais da cidade de Tangará da Serra trazem em seus enunciados uma grande carga de significados, a sociedade que as nomeou, sem dúvida alguma, buscou razões para tal, onde algo predomina, sua história de vida, como afirma Popper (apud Henry, 1994, p. 29) "Se tirarmos da história o sentido comum a ela dado, ela deixa de existir". Do ponto de vista das Ciências Humanas, a história não existe em si mesma, mas sim de um resultado dos processos econômicos, sociológicos, psicológicos, ideológicos, etc.
Nenhum signo isolado possui valor em si mesmo, o que significa dizer que todo signo deve ser contextualizado para ganhar significação e se o mesmo não contiver em si uma carga de ideologia, emanada pelo contexto a que pertence, não poderá ser considerado um signo perfeito. Sendo assim Bakhtin ressalta:

Cada signo ideológico é não apenas um reflexo, uma sombra da realidade, mas também um fragmento material dessa realidade. Todo fenômeno que funciona como signo ideológico tem uma encarnação material, seja como som, como massa física, como cor, como movimento do corpo ou como outra coisa qualquer. (BAKHTIN, 2002, p. 33)


O signo embevecido de significação ideológica pode estar sujeito a critérios de avaliação do meio ideológico, e naturalmente, ser entendido conforme a necessidade contextual dos interlocutores. Quando o signo é contextualizado, o campo de domínio do signo converge com o campo de domínio do fator ideológico que ele representa. Um signo à margem é um signo sem valor significativo, mas um signo que refrata o seu valor sígnico por meio da inter-relação que adquire no contexto com outros signos é um signo repleto de significações. No lugar em que tiver um signo carregado de sentido, ali também estará o ideológico por sua natureza representativa e significativa, e este deve ser considerado de valor semiótico, conforme Bakhtin.
Os significados simbólicos que o indivíduo adquire pode ser modificado como qualquer outro significado. Os óculos, por exemplo, tiveram seu significado mudado através dos tempos. Os óculos podem significar sabedoria, seriedade ou mesmo que seu portador venha a ser um cientista. Porém, os óculos escuros podem denotar um "mafioso" ou mesmo, ao contrário "um gatão", sedutor e jovem, podem ainda significar uma adolescente sedutora e liberal, etc.
Os óculos também tiveram grande uso em caricaturas, desenhos, em que os autores desejavam ridicularizar ou realçar melhor os traços e características. É sabido que os óculos têm uma capacidade de disfarçar, dando uma nova identidade a rostos, que de outro modo, seriam insípidos e agressivos, ou ainda inexpressivos. Enfim, tem o poder de embelezar, remoçar ou até mesmo envelhecer, tudo dependerá do estilo e do tempo. Arrisca-se dizer que assim também é com o sujeito, que poderá sofrer modificações com o passar do tempo, hoje pode ter prestígio, entretanto, amanhã pode ser "bombardeado" pela opinião pública, por algum motivo e cair no esquecimento. Analogia própria, não tendo embasamento teórico. Assim como os óculos nos possibilitam várias leituras, assim também se dá com os signos, cabe ao leitor fazer a leitura que está embutida em cada enunciado.
Para Pêcheux (1997, p. 270), em sua Semântica do Discurso: "A descontinuidade ciências/ideologia é um mito, o qual propõe uma lógica como núcleo da ciência e, conseqüentemente, uma língua logicamente perfeita e um sujeito que pensa livremente".
Concepções estas que vão justamente de encontro a uma teoria materialista do discurso proposta por Pêcheux. O funcionamento sociolingüístico, segundo o autor, realiza o acobertamento ideológico dessa descontinuidade, simulando-o ideologicamente e diz:

As ideologias não são idéias nem têm suas origens nos sujeitos, mas sim, são forças materiais que constituem os indivíduos em sujeitos. Assim, a evidência do sujeito é somente um efeito ideológico, pois o indivíduo é sempre já sujeito.

Em outras palavras Pêcheux quer dizer que o sujeito seria resultado de um processo histórico-social e apenas influenciado ideologicamente, o que o transforma e marca seu discurso. Se por um lado é facilmente concebível que um sujeito imerso em uma sociedade é influenciado por ela, por outro a questão referente à presença de ideologia é discutível, pois Bakhtin consegue ver o sujeito como elemento participativo e atuante no processo comunicativo e de natureza puramente ideológica. Entretanto, Pêcheux, assim como Bakhtin afirma que não há discurso sem sujeito e nem sujeito sem ideologia. (PÊCHEUX, 1997, p. 48). Então, ao se falar em ideologia e sujeito, percebe-se que as toponímias da cidade de Tangará da Serra são de cunho ideológico, há contido uma formação de idéias sócio-políticas, para tal definição, uma vez que tais sujeitos tiveram alguma influência social e ou política no município de Tangará da Serra.
Como já foi enunciado anteriormente, que o homem vive ladeado de signos, cria signos para representar tudo o que quer, interpreta os signos naturais para entender os fenômenos da natureza e, acima de tudo, convenciona-os, com a finalidade de perpetuar a consciência humana.
Há até mesmo signos extranaturais para leitura, indagação e tentativa de compreensão do sobrenatural. Mas Bakhtin diz que a consciência só pode ser entendida como tal quando se enche de conteúdo ideológico e interage com outras consciências, isto significa dizer que nenhum signo tem valor absoluto fora da interação social, ou seja, à margem do contexto dos interlocutores que o utilizam como elemento de implementação, reflexão e transformação do ideológico, analisado segundo limites do espaço e do tempo.
Em síntese, pode-se dizer que o signo bakhtiniano é ideológico por natureza, não porque não signifique algo vazio de sentido, de idéia, mas porque algo que pode ser assimilado pelo ideológico ou que pode personificar o próprio ideológico. Concluindo, para Bakhtin (2002, p. 41), o signo é a mola propulsora que o induz às transformações sócio-culturais, tendo em vista a sua natureza ideológica. Como afirma Citelli (1998, p. 27), "tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo fora de si mesmo. Em outros termos, tudo que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia".
Na conclusão de "Semântica e Discurso" o autor retoma esta questão da forma-sujeito e suas modalidades de subjetivação e diz que, é:

Como todas as evidências, inclusive aquelas que fazem com que a palavra ?designe uma coisa? ou ?possua um significado? (portanto inclusas as evidências da ?transparência? da linguagem), a evidência de que vocês e eu somos sujeitos ? e que isto não constitua um problema ? é um efeito ideológico, o efeito ideológico é elementar. (PÊCHEUX, 1997, p.153).

Para dar significado às coisas utilizamos dessa transparência da linguagem, a evidência do sujeito, a saber, é através de Leis é que se constituem os nomes de ruas, passando pelo crivo de um denominador, cuja função cabe à Câmara Municipal com aprovação do governo municipal, por exemplo:

Lei de nº 1467/98 de 08 de outubro de 1998 que designa:
Dispõem sobre a denominação que passa no Jardim Shangri-lá e que, em toda sua extensão, passa a denominar-se Rua "José Camilo da Silva" e dá outras providências.
O Engº Jaime Luiz Muraro, prefeito Municipal de Tangará da Serra, Estado de Mato Grosso, usando das atribuições que lhe são confereidas por Lei.
Faz saber, que a Câmara Municipal de Tangará da Serra aprovou e é sancionada a seguinte Lei:
Art. 1º - Por força da presente Lei, a Rua 35, que passa pelo Jardim Shangri-Lá, passa a denominar-se em toda a sua extensão, Rua "José Camilo da Silva".
Art. 2º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Prefeitura Municipal de Tangará da Serra, Estado de Mato Grosso, aos oito dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e noventa e oito.
Engº JAIME LUIZ MURARO
Prefeito Municipal
Registrado na Câmara Municipal de Administração e Controle Interno e publicado por afixação em lugar de costume na data supra.
Prof. FÁBIO MARTINS JUNQUEIRA
Secretário Mun. de Adm. e Controle Interno (Registro da Prefeitura Municipal)

Dessa forma é que a linguagem toponímica se efetua, surge nesse processo, como instrumento de comunicação na realização conjunta de atividades laborais.
Historicamente, desde os primórdios, os homens viviam reunidos em bandos, o que determinou a origem social do trabalho e a conseqüente necessidade de comunicação. Esta, por outro lado, uma vez instituída levou a uma maior aproximação e entendimentos entre o homem.
O surgimento da linguagem, por outro lado, veio facilitar o desenvolvimento de novas atividades laborais. Para se ter uma idéia da dimensão da linguagem no processo de constituição do homem, perceber-se-á a relação que se estabelece entre a linguagem e a consciência, o pensamento e o mundo simbólico.
A consciência é o reflexo do mundo material no cérebro do homem em sua relação com o meio. Nesse sentido, como sinais, os signos lingüísticos e as palavras permitem interagir com o meio sem o contato imediato com objetos e fenômenos, e, conseqüentemente, num nível de abstração e generalização que leva à formação dos conceitos com os quais surge e se desenvolve a consciência.
Para Pêcheux, observar que o caráter comum das estruturas-funcionamento designadas, respectivamente, como ideologia e inconsciente é o de dissimular sua própria existência no interior mesmo do seu funcionamento, produzindo um tecido de evidências "subjetivas", devendo entender-se este último adjetivo não como "que afetam o sujeito", mas "nas quais se constitui o sujeito". Pêcheux, (1997, p. 152) "... tanto para vocês como para mim, a categoria de sujeito é uma evidência primeira (as evidências são sempre primeiras): está claro que vocês como eu, somos sujeitos (livres, morais, etc.).
Diante do exposto, far-se-á necessário reforçar que não se pode falar em ideologia fora da linguagem. Como sistemas de idéias e concepções, a ideologia se constrói a partir dos sentidos sócio-históricos que são veiculados pela linguagem, a face material desse sistema de idéias e concepções é que formam a consciência, só é possível identificar esse sistema nas manifestações da linguagem, seja ela verbal ou não-verbal. Daí a importância da norma, uma língua como conjunto de regras lingüísticas, considerado ideal para um grupo social, ou seja, as regras lingüísticas vigentes de um dado lugar, para uma dada comunidade.
As funções da linguagem no desenvolvimento do homem, na prática social, instrumento de comunicação e constituição de consciência, mecanismo de interação social, vão mudando e se tornando mais complexas à proporção que a própria sociedade vai se desenvolvendo ao longo da história. Nesse sentido a relação indissolúvel entre linguagem e sociedade é que determina o papel em diferentes contextos sociais.
Desse modo, percebe-se a gradativa interação de papéis da linguagem no desenvolvimento do homem e na prática social. Denominar um novo elemento na paisagem urbana pode ser um exercício desafiador, embora a própria cidade ofereça os meios necessários para fazê-lo, ao receber um nome novo, seja qual for a denominação, não importa se exótico, estranho ou outra definição qualquer, isso porque após algum tempo, passa a ser conhecido por todos e se configura como um referencial que pode chegar até mesmo ao nível metropolitano, o que até antes não significava nada para os moradores da cidade. Os nomes das ruas têm sido de vital importância na orientação de seus habitantes bem como dos demais transeuntes.












CAPÍTULO 5
O DIALOGISMO CONTEXTUALIZADO POR BAKHTIN


Tudo se reduz a diálogo, à contraposição dialógica enquanto centro.Tudo é meio, o diálogo é o fim. Uma só voz nada termina, nada resolve. Duas vozes são o mínimo de vida. (Mikhail Bakhtin).



O pensamento de Bakhtin, apesar de plural, tem uma unidade garantida pela centralidade da linguagem, cujo método de análise é a dialética. O dialogismo é um conceito que permeia toda a sua obra. É o princípio constitutivo da linguagem, o que significa dizer que toda a vida da linguagem, em qualquer campo, está impregnada de relações dialógicas.
A concepção dialógica contém a idéia de relatividade, da autoria individual, e conseqüentemente, o destaque do caráter coletivo e social da produção de idéias e textos. O próprio humano é um intertexto, não existe isolado, sua experiência de vida tece, entrecruza-se e interpenetra com o outro. Pensar em relação dialógica é remeter a um outro princípio ? a não autonomia do discurso. As palavras de um falante estão sempre, inevitavelmente atravessadas pelas palavras do outro, ou seja, o discurso elaborado pelo falante se constitui também do discurso do outro que o atravessa, condicionando o discurso do eu. Em linguagem bakhtiniana, a noção do eu nunca é individual, mas social. Nos seus escritos, Bakhtin aborda os processos de formação do eu através de três categorias: o eu- para mim, o eu-para os outros, o outro-para-mim. Segundo Freitas "não há um mundo dado ao qual o sujeito possa se opor. É o próprio mundo externo que se torna determinado e concreto para o sujeito com quem ele se relaciona".(FREITAS, 1996, p.125-6).
Sendo assim, a consciência é, portanto, um fato social e ideológico, ou seja, a realidade da consciência é a linguagem e são os fatores sociais que determinam o conteúdo da consciência dos conjuntos dos discursos que atravessam o indivíduo ao longo de sua vida, é que se forma a consciência. O mundo que se revela ao ser humano se dá pelos discursos que ele assimila, formando seu repertório de vida, pelo fato da consciência ser determinada socialmente não se pode inferir que o ser humano seja meramente reprodutivo, o que se ressalta é, também, a criatividade do ser humano: esta é influenciada pelo meio, mas se volta sobre ele para transformá-lo. Duas vezes nasce o homem: fisicamente (o que não o faz inserir na história) e socialmente determinado pelas condições sociais e econômicas.
Sob a forma de signos é que a atividade mental é expressa exterior e internamente para o próprio indivíduo. Sem os signos a atividade interior não existe. A palavra não é só meio de comunicação, mas também conteúdo da própria atividade psíquica. Partindo do pressuposto de que linguagem e pensamento têm raízes diferentes, Vygotski constatou que o pensamento e a palavra, apesar de não serem ligados por um elo primário, não podem ser considerados como dois processos independentes. Para compreender o pensamento verbal, Vygotski identifica que essa unidade é o significado das palavras, que é o seu aspecto intrínseco. Para ele, apesar de a natureza do significado não ser clara ainda, sua certeza é a de que, no significado da palavra, o pensamento e a fala se unem em pensamento verbal. No significado também estão as respostas às questões sobre a relação entre pensamento e fala. Embora o significado de uma palavra represente "um amálgama tão estreito do pensamento e da linguagem", suas pesquisas revelaram que o significado, critério da palavra e componente indispensável, é um fenômeno do pensamento e não da fala, uma vez que são generalizações ou conceitos, ou seja; atos do pensamento. No entanto:

O significado das palavras é um fenômeno de pensamento apenas na medida em que o pensamento ganha corpo por um meio fala na medida em que esta é ligada ao pensamento, sendo iluminada por ele. É um fenômeno do pensamento verbal, ou fala significativa ? uma união da palavra e do pensamento. (VYGOTSKY, 1989, p.4).


Se o significado da palavra é simultaneamente pensamento, então é nele que está a unidade da natureza verbal e por conseqüência o significado das palavras evolui, ou seja, são dinâmicas e não estáticas. Dentro dessa perspectiva, poder-se-á dizer que, um livro, um jornal, uma revista, por exemplo, é um ato de fala impressa. Bakhtin:

O discurso escrito é de certa maneira parte integrante de uma discussão ideológica em grande escala: ele responde a alguma coisa, refuta, confirma, antecipa as respostas e objeções potenciais, procura apoio, etc. (BAKHTIN, 1978, p. 123).


Sendo assim, a palavra, o nome de uma rua que se configura como um discurso, um diálogo, por si só antecipa a resposta ideologicamente.
A Rua Antonio Hortolani, como espaço público, está diretamente ligada à memória de Antônio Hortolani, pioneiro, que no ano de 1960 realizou sua primeira viagem à Tangará da Serra e, no ano de 1963, assumiu a gerência da firma colonizadora SITA (Sociedade Imobiliária de Tupã para a Agricultura), sem a qual não seria possível organizar aquele povoado, diz a história que "movido pelo seu sentimento humanitário, determinou uma área próxima ao centro da cidade para que todas as famílias que fossem chegando pudessem armar seus barracos, enquanto norteassem seus destinos". (SILVA, p.4) Esse cidadão contribuiu para o crescimento da cidade, organizando, dialogando, e sobretudo implantando a paz e a harmonia entre aquele povo.
Pensando assim, tudo está em constante comunicação. A idéia de diálogo agrega-se um outro elemento que não se refere apenas à fala em voz alta de duas pessoas, mas a um discurso interior, do qual se emanam as várias e inesgotáveis enunciações que são determinadas pela situação de sua enunciação e pelo seu auditório.

A situação e o auditório obrigam o discurso interior a realizar-se em uma expressão exterior definida, que se insere diretamente no contexto não verbalizado da vida corrente, e nele se amplia pela ação, pelo gesto ou pela resposta verbal dos outros participantes na situação da enunciação. (BAKHTIN, 1978, p. 125).

A toda essa forma, a questão está relacionada à formação de repertórios, que, no dizer de Bakhtin, são formas de vida em comum, relativamente regularizadas, reforçadas pelo uso e pela circunstância.
Assim sendo, as formas estereotipadas, no discurso da vida cotidiana, respondem por um discurso social que as consolida, ou seja, possuem um auditório organizado que mantém a sua permanência, refletindo, assim, ideologicamente a composição social do grupo ou comunidade; tem-se a evidência da palavra de Bakhtin ao dizer que "a palavra é o fenômeno ideológico por excelência" ou "todo signo é ideológico".
É nessa perspectiva é que se dão as denominações das ruas da cidade de Tangará da Serra. Uma resposta a um discurso social de um grupo que, a priori, constituí-se como sujeito merecedor desses significantes, cada qual com suas particularidades respeitadas e inseridas num contexto social e ideológico.
A partir do momento em que uma história ou um significado se liga a um objeto, o seu valor como elemento marcante aumenta, passa a fazer parte do repertório cultural de seus observadores, como também das cidades onde moram. Alguns símbolos podem trazer em si muitos significados e a sua compreensão, pela população que ali reside, muitas vezes pode ser prejudicada por falta de informação. Alguns nomes das ruas centrais de Tangará da Serra estão diretamente ligados à memória dos pioneiros que adentraram à cidade na época em que esta era mata virgem, ainda; que enfrentaram animais selvagens, que conseguiram estabelecer um povoado e daí, com muito custo, construir a cidade que hoje se consolida.









































CONSIDERAÇÕES FINAIS

No estudo dos topônimos das ruas de Tangará da Serra, procurou-se conhecer melhor o processo de transformação pelo qual passou a estrutura sócio-política da cidade desde sua criação aos dias de hoje. As mudanças que foram conferidas ficaram registradas nos nomes que foram conferidos a essas ruas, demonstrando assim, uma sociedade não desvinculada da realidade em nível local.
Percebe-se claramente os valores ideológicos presentes nos enunciados que nomeiam as ruas da cidade de Tangará da Serra, o que não ocorre somente em espaços públicos, mas também no seio familiar e em outras esferas, nenhum nome se dá arbitrariamente, a ideologia está intrínseca, além de outros valores intertextuais subjacentes.
Segundo Hunhoff (2001, p. 40), toda palavra é porta-voz de um patrimônio cultural, ideológico e coletivo, ou seja, toda enunciação, toda palavra traz uma mensagem, cabe ao indivíduo interpretá-la de acordo com o discurso, pois toda interpretação é lugar de ideologias, porque a linguagem assim funciona. Orlandi (1996, p. 20), diz que a linguagem é um sistema de relações de sentidos onde, a princípio, todos os sentidos são possíveis, ao mesmo tempo em que sua materialidade impede que o sentido seja qualquer um.
Cada enunciação como um acontecimento, é descrito por Orlandi (1996, p. 70) que diz:

"A enunciação deste modo é um acontecimento de linguagem perpassado pelo interdiscurso, que se dá no espaço de memória no acontecimento. É um acontecimento que se dá porque a língua funciona ao ser afetada pelo interdiscurso. É, portanto, quando o indivíduo se encontra interpelado como sujeito e se vê como identidade que a língua se põe em funcionamento".

Ao findar este trabalho, percebemos que ele apenas começa. Há uma necessidade de disposição de tempo para outros momentos de investigação da memória oral da cidade, outras histórias poderão ser contadas e, conseqüentemente, a pesquisa poderá tomar novos rumos, outros viezes.
Ao mesmo tempo em que se resgata a história da cidade através das nomenclaturas das ruas, novas temáticas se apresentam mais latentes, supostas como fontes a serem exploradas, investigadas como o querer fazer parte de um complexo emaranhado de ralações sociais que é a própria cidade.
A cidade de Tangará da Serra faz parte da identidade de sua comunidade. Sem a sua memória, sem os seus principais símbolos, a cidade perderia sua referência. Por isso é fundamental preservar a história relacionando-a aos processos sociais no tempo e no espaço.
Conclui-se que a simples oposição de uma placa a indicar um nome de rua não é um ato deslocado, alheio ao universo da cidade. Paradoxalmente, ela pode até conter uma boa dose de desinformação (em relação ao morador não saber quem foi Antonio Hortolani, por exemplo), mas até mesmo nisso estão ocultos interesses do ponto de vista histórico e são importantes para a compreensão das relações sociais.
Espera-se que o ineditismo do trabalho não desperte apenas para a curiosidade e informação de trabalhos posteriores, e sim, que sirva de instrumento conscientizador na prática da cidadania pelo mérito de se fazer uma reflexão crítica a cerca dos espaços públicos, a partir do nome de uma rua em que o indivíduo more.



REFERÊNCIAS

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VYGOTSKY. L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1998.







ANEXOS



Rua José Corsino: Mineiro da cidade de Ubá, onde nasceu em 9 de julho de 1909 chegou em Tangará da Serra 1972, existia apenas um pequeno povoado com mais ou menos 20 casas, não existiam ruas, apenas trilhas, segundo seus filhos, "Zé Corsino" como era chamado, levantava-se entre 3:00 e 4:00 horas, trabalhava com os filhos na roça e depois trabalhava em sua pensão. Trabalhou incansavelmente até seu falecimento em 24 de setembro de 1986.
Responsável pela informação: José Diogo dos Santos.
Rua Antonio José da Silva: Natural da Bahia, conhecido como "Irmão" e assim era chamado, chegou à Tangará da Serra em 1959, procurando melhoria de vida, encontrou somente cerrado e mato, não havia nem uma casa no povoado, somente um barracão para guardar os "apetrechos". Sua função era furar poços e criar animais domésticos, faleceu em 1969.
Responsável pela informação: Almerindo José da Costa.
Rua Euclides José Medeiros: Natural de Ituiutaba ? Minas Gerais, nascido em 15 de novembro de 1939, a rua recebe este nome pelo fato do mesmo ser um pioneiro, chegando em Tangará da Serra em 1972, subiu a Serra Tapirapuã à pé, na cidade tinha apenas uma farmácia e três armazéns gerais, exerceu a profissão de fotógrafo, como já era conhecido. Faleceu em 16 de junho de 1987.
Responsável pela informação:Aurealísia Alves Medeiros, sua esposa.
Rua Saturnino de Paula Silveira: Mineiro de Captólio ? MG, nascido em 29 de novembro de 1901. Chegou em Tangará da Serra em 1962 com um único objetivo, melhorar de vida, trabalhou com criação de suínos e ovinos, aos finais de semana gostava de caçar perdizes, tocar viola e jogar baralho, faleceu no dia 27 de junho de 1985.
Responsável pela informação: Adelma Aparecida dos Santos.
Rua João Elias Ramos: Mineiro de Tarumirim ? MG nasceu em 11 de abril de 1921. Conhecido como João Bernardo, chegou em Tangará da Serra em 1965, nesta época Tangará tinha apenas umas 20 casinhas de madeira, uma Igreja no meio da Av. Brasil. O transporte era de "Marinete", espécie de ônibus, levava quatro dias para chegar em Cuiabá, pelo percurso mais rápido que era por Nortelândia, a que se faz hoje, levaria seis dias.
As pessoas faziam compra em Nova Olímpia, iam de bicicleta ou à cavalo. João Bernardo como era conhecido faleceu em 22 de abril de 1986, deixando oito filhos.
Responsável pela informação: Aurélia Balbino Ramos, sua filha.
Rua Benedito Pereira de Oliveira: Baiano de Ubeira ? BA nasceu em 14 de abril de 1928. A rua recebe este nome porque o pioneiro chegou a Tangará da Serra em 1968. Seu Dito, como era chamado era evangélico, pertencia a Igreja Assembléia de Deus. Seu Dito trabalhava com pequena agricultura, pecuária e era oleiro. Faleceu em 14 de abril de 1978, deixando 12 filhos.
Responsável pela informação: Rubem Pereira de Jesus.
Rua João do Prado Arantes: Nascido em Ituiutaba ? MG em 05 de março de 1913. Seu João como era chamado chegou à Tangará da Serra em 13 de maio de 1977, era pecuarista, não gostava de festas era muito caseiro, faleceu em 02 de dezembro de 1977.
Responsável pela informação: Almicina Arantes, a esposa.
Rua Neftes de Carvalho: Nascido em 04 de maio de 1918, na cidade de Botafogo ? SP. Apelidado por "Nefão", veio para Tangará da Serra incentivado por vários amigos, com promessa de que a terra era boa e fértil, trouxe para Tangará mais de cem burros por terra, gastou 75 dias de Araçatuba até Tangará, exerceu a função de enfermeiro quando a febre atingiu Tangará. Abriu loteamento o Shangri-lá, era tocador de berrante na abertura das festas pecuárias, contador de piadas, caçador de capivaras e gostava dos serviços filantrópicos. Faleceu em 11 de abril de 1988.
Responsável pela informação: Simone Horbach
Rua Sebastião Barreto: Nascido em 20 de fevereiro de 1920. Foi homenageado porque "Tião" como era chamado, veio para Tangará da Serra para vender terras para a SITA. Era pecuarista, levava uma vida simples e trabalhava muito. Faleceu em 20 de outubro de 1987.
Responsável pela informação: Simone Horbach
Rua Olívio de Lima: Nascido em Paraguaçu Paulista em 25 de abril de 1924. a rua foi assim denominada porque Olívio veio para Tangará da Serra em 1972 em busca de melhores condições de vida para a família, trabalhava com agropecuária, gostava de ir á missa aos domingos e participar de festas religiosas. Faleceu em 14 de janeiro de 1991.
Responsável pela informação: Celso Manoel de Lima, filho.
Rua Antonio Barbeiro Herreros: Nascido em 18 de abril de 1917, natural de São Paulo ? SP. Chegou em Tangará da Serra em 1976, acreditou na terra prometida, solo fértil para o plantio de café, atividade que exerceu por um longo período. Faleceu em 18 de março de 1996, deixando dez filhos.
Responsável pela informação: Antonio Moacir Herrera, filho.
Rua Antonio Batista da Costa: Natural de Jubai-MG, nascido em 24 de maio de 1927. a rua recebe este nome, porque "Toinzinho" como era conhecido veio para Tangará em 1964, com o intuito de melhorar de vida, veio para cuidar da Fazenda da família Tavares que morava em Rinópolis ? SP, com o passar do tempo adquiriu um sítio, que nomeou de Sítio Santo Antonio, cujo nome se deu em virtude da família ser "devota" de Santo Antonio, exerceu a função de agropecuarista até sua morte em 28 de dezembro de 1984.
Responsável pela informação: Eleuza Batista da Costa, filha.
Rua José Garcia Lacerda: Paulista de Monte Aprazível, nascido em 24 de outubro de 1931. Conhecido como "Zé Garcia", chegou em Tangará da Serra em 04 de setembro de 1971, Tangará era ainda uma pequena vila, existia somente um supermercado.
Zé Garcia trabalhou como agricultor de café em seu sítio, mais tarde mudou-se para uma chácara, deixando a lavoura passou a trabalhar como "Porteiro" na Escola João Batista, onde era responsável pela horta e pela segurança dos alunos. Faleceu em 23 de novembro de 1990.
Responsável pela informação: Zilda Dias S. Lacerda, esposa.
Rua Arlindo Lopes da Silva: Natural de Macaé ? Rio de Janeiro, nasceu em 11 de abril de 1912. A rua recebeu este nome por ele ter chegado em Tangará da Serra em 14 de abril de 1961, na época existia apenas seis famílias na vila. Foi fundador da 1ª Igreja Batista de Tangará da Serra, sempre solidário com os que vinham chegando, chegou a se perder na mata, a família ficou desesperada, somente no outro dia que conseguiu achar o caminho de volta. Faleceu em 02 de dezembro de 1985.
Responsável pela informação: Moacir Renaldi Lopes, filho.
Rua Martin Célio Rosella: Nascido em Jaraguá do Sul ? Santa Catarina em 14 de abril de 1950. Martin como era conhecido chegou à Tangará da Serra em 1981, a cidade estava em fase crescimento, o mesmo soube que havia a necessidade de uma Serraria no lugar e veio com este objetivo. Martin, também foi responsável pela fundação do Rotary Club, Maçonaria, o Sindicato Rural e pelo início da construção do Parque de Exposições. Faleceu em 24 de agosto de 1990.
Responsável pela informação: Maria Laurete Rosella, esposa.
Rua Belizário de Almeida: Considerado o pioneiro número um. Paulista da cidade de Barretos, nasceu no dia 24 de fevereiro de 1903. Conhecido por "Tio Bibi", um dos mais antigos pioneiros, chegou em Tangará da Serra em 1958, foi Belizário que fez a demarcação da estrada de Nova Olímpia até Tangará da Serra . Veio exclusivamente para medir as glebas Santa Fé, Esmeralda e Juntinho, juntamente com Wanderley Martinez. Faleceu em 09 de julho de 1989.
Responsável pela informação: Antonio Ferreira de Almeida, filho.
Rua Décio Burali: Natural de Cornélio Procópio ? Paraná, nasceu em 18 de março de 1948. Chegou à Tangará da Serra em em fevereiro de 1973, na época só existia uma farmácia e duas escolas "29 de Novembro" e "Emanuel Pinheiro". Décio Burali veio com seu pai para exercer o trabalho de compra e venda de madeira enquanto seu pai trabalhava com agricultura e comércio. Envolveu-se na política para lutar pela emancipação do município. Faleceu em 10 de maio de 1993.
Sandra Mara Burali Garcia, sua irmã.
Rua José Florêncio Godrin: Nasceu em Caiteté-Bahia, em 11 de abril de 1924, também conhecido como "Zequinha", veio para Tangará da Serra em 1969, trabalhou com o plantio de arroz, feijão, milho e algodão. Mais tarde desistiu da agricultura e tornou-se comerciante no ramo de Borracharia. Segundo relatos, foi ele quem trouxe a imagem de Nossa Senhora Aparecida para a Igreja da cidade. Zequinha, também foi responsável pela aposentadoria de muitos idosos na cidade, sendo, inclusive, apelidado de "protetor dos velhinhos". Faleceu em 31 de julho de 1987.
Responsável pela informação: Laurentina Araújo Godrin, sua esposa.
Rua José Candido Melhorança: Paulista da cidade de Andradina, nasceu em 29 de julho de 1916 a rua foi assim denominada pelo fato do mesmo ser um dos fundadores de Tangará de Serra, chegando na vila em 1960. Exercia a função de topógrafo e vendedor de lotes sendo responsável pela abertura das glebas Bandeirante e Paraíso. Faleceu em 29 de fevereiro de 1992.
Responsável pela informação: Cirene \melhorança Moreira, sua filha.
Rua Júlio Martinez Benevides: Não identificado data e local de nascimento.Chegou a Tangará da Serra em 1958, só havia mato, veio com o objetivo de abrir áreas, veio juntamente com seu filho Wanderlei para abrir a mata, dando assim o surgimento do município de Tangará da Serra. Faleceu no mesmo ano no mês de julho.
Responsável pela informação: Wanderley Martinez Benevides, seu filho.
Rua Ismael José do Nascimento: Assim denominada por ser uma das primeiras pessoas a adentrar este sertão, chegou em 1962, como a maioria, também veio em busca de terras férteis, na época os únicos meios de transporte era o de tração animal, em Tangará da Serra não existia praticamente nada, tudo era comprado em Nova Olímpia. Sr. Ismael faleceu no dia 20 de outubro de 1980, deixando oito filhos.
Responsável pela informação: O filho: Manoel do Nascimento
Rua Manoel Dionísio Sobrinho: Recebe este nome porque, "Samuelão", como era conhecido, chegou em Tangará da Serra em 1969, veio com intuito de desbravar a terra para implantação de uma fazenda e exercer sua função de agricultor. Samuelão, foi o responsável pela coleta de cobras venenosas para o Butantã em São Paulo, segundo depoimentos da família, o mesmo gostava de brincar assustando os amigos com as cobras por ser muito extrovertido e brincalhão. Manoel D. Sobrinho foi um dos fundadores da Santa Casa, envolveu-se na causa da febre, ajudando de todas as formas a salvar pessoas. Samuelão chegou a ser delegado da Arena I, sempre gostou de política, mas sempre se recusou a candidatar-se.
Responsável pela informação: Ana Claudia Linck, sua única filha.
Rua Francisco Ferreira de Ramos: Nascido em 10 de janeiro de 1925 na cidade de Leopoldina ? Minas Gerais, a rua foi assim denominada porque Sr. Francisco, conhecido por "Chico Alfaiate" em sua cidade de origem, veio para Tangará da Serra em busca de melhoras de vida, a princípio não exerceu sua profissão, trabalhou como cozinheiro para os peões, padeiro, pedreiro e outros serviços que surgissem. Ajudou a construir a primeira Igreja Católica, na época a mesma ficava na rotatória em frente ao Banco do Brasil. Chico contava de uma árvore que dava leite, segundo ele, na Vila Araputanga existia essa árvore, sempre que ´podia, pegava um copo e ia lá para tomar do leite. Francisco faleceu no dia 08 de outubro de 1991, deixou cinco filhos.
Responsável pela informação:Laura Sebastiana Gurgel, uma das filhas.
Rua Antonio Hortolani: Natural de Dracena ? São Paulo, nascido em 26 de fevereiro de 1922. A rua foi assim denominada porque Antonio Hortolani chegou em Tangará da Serra em 1960, não existia estradas nem pontes na época, Sr. Antonio foi proprietário do primeiro meio de transporte na cidade. Adquiriu uma "Marinete", que fazia a linha Tangará ? Arenápolis, mas sua função era de Fiscal da SITA, firma responsável pelo loteamento da cidade, em seguida foi promovido a gerente da mesma, além de ser motorista de caminhão. Faleceu em 22 de janeiro de 1977.
Responsável pela informação: Joaquim Alves da Silva, grande amigo e a professora Luzia Scheller.
Rua José de Oliveira: Nasceu em Irapuã ? São Paulo em 02 de agosto de 1923, Foi homenageado porque "Zé Flausino" como era apelidado, chegou em Tangará da Serra com um grande sonho: Aumentar seu capital, pois o novo lugar, segundo ele, era promissor. Como pequeno agricultor, investiu todo o que tinha na cidade, não mais voltou à sua terra de origem. Veio a falecer em 27 de agosto de 1993.
Responsável pelas informações; Inês Aparecida de Oliveira, sua filha.
Rua Celso Rosa Lima: Natural de Pinheiros ? Espírito Santo, nasceu no dia 19 de abril de 1906. A rua recebe este nome pelo fato do mesmo ter chegado a Tangará da Serra em 1966, após ter percorrido muitas partes do Brasil em busca de um lugar para se estabelecer. Chegando a Tangará da Serra não teve dúvidas de que este era o lugar ideal, adquiriu um imóvel e fixou residência no lugar, vivendo de sua aposentadoria como ex-combatente do Brasil na Segunda Guerra Mundial, onde participou em Missão de Comboio. Sr. Celso faleceu em 9 de fevereiro de 1994.
Responsável pela Informação: Câmara Municipal de Tangará da Serra.