É razoável não ter razão. Numa vida em que sequer somos capazes de responder com a mínima precisão questões fundamentais como as tão famosas “Quem sou? “, “De onde vim?”, “Para onde vou?“, é comum, a despeito dessa incapacidade, nos julgarmos certos daquilo que afirmamos. Certos e veementemente convictos de que a razão nos acompanha, abandonando nossos pares que conosco discordam.

Essa análise poderia resultar num extenso tratado, pois são várias as maneiras pelas quais essa assertiva se auto-afirma. No entanto, bastam simples e sinceras observações para se verificar isso. Observações essas que se não forem feitas, nem mesmo a leitura de uma enorme e primorosa obra será capaz de aclarar a questão. O conhecimento é um processo que se dá tão-somente em nosso interior.

Seria uma contradição afirmar o que acabei de dizer e querer estar certo sobre isso. Porém, o ponto que quero enfatizar aqui não é o mero relativismo (até por que há limites para a razoabilidade: a não-verossimilhança e o estapafúrdio, por exemplo). É apenas na faixa compreendida entre o verossímil e o não-estapafúrdio que pode se dar tal relativismo.

Esclarecido isto, voltemos ao cerne da questão: Todo mundo quer ter razão, sempre! Mesmo nas situações mais banais, sobre as quais nem ao menos refletimos minimamente, esperamos estar certos. Reconhecemos não ser experts em Teologia, mas a nossa opinião sobre religião é a correta. Reconhecemos não acompanhar todos os acontecimentos políticos relevantes, mas sabemos qual o melhor candidato. Reconhecemos não entender de finanças, mas estamos certos sobre qual o melhor investimento para nosso dinheiro. E por aí vai.

Pois bem, até certo ponto essa posição não deixa de ser adequada: Se não acreditamos naquilo que nossas mentes e nossos corações dizem parecer o certo, vamos acreditar em quê? Ou em quem?

Creio que a resposta para essas questões possa ser atingida por meio de duas atitudes particulares manifestando-se conjugadamente: vontade de acertar e equilíbrio. Quando falo em vontade, não falo daquela vontade imanente, que reside no fundo – e lá permanece, quietinha – de todos nós. Falo de uma vontade que seja a força motriz capaz de promover a mudança. Um ponto de inflexão. Combustível. Quando a vontade de acertar entra em ação, saímos da inércia inicial. E é aí que entra o equilíbrio. Saímos de um estado de dormência e passamos a nos mover. Para onde vamos? Como iremos nos deslocar? Eis perguntas cujas respostas são encontradas com o tal do equilíbrio. Como encontrá-lo? Assim como o conhecimento, já mencionado, o equilíbrio, ou a sua busca, também é um processo que só se completa a partir da interiorização.

Pois então, o que proponho não é nem de longe crer na impossibilidade de se alcançar a razão; ao contrário: é a sua busca genuína, a qual se dá a partir da reflexão, da análise cautelosa e sincera. A partir de – e ao mesmo tempo durante o processo de – uma melhora, por assim dizer, interna. A busca pela verdade está longe de ser fácil, mas é por demais gratificante. Muito gratificante.