Tipos de autor

Em termos da Árvore, o papel do Professor ocupa a posição de Tiferet no grupo. Está situado no ponto nodal entre as faces superior e inferior da Árvore e tem acesso à maioria dos sefirot e tríades, o que dá a ele um entendimento e capacidade únicos. Em teoria, quem quer que ocupe esta posição estará em contato com os três mundos inferiores da Ação, da Formação e da Criação, isto é, os níveis físico, psicológico e espiritual. Além disso, o Professor é o eixo do grupo e pode perceber e influenciar as flutuações e desiquilíbrios da Árvore do grupo. É uma posição altamente responsável e, como a palavra “responsável” sugere, traz consigo a tarefa de ser sensível às necessidades de cada aspecto de uma determinada situação. A cadeira de Tiferet não pode ser ocupada por alguém que viva no ego. Se isto acontece, então deixa de ser a conexão entre os mundos superior e inferior, e o grupo não tem o influxo do conhecimento superior. Encontrar uma pessoa de equilíbrio e desenvolvimento perfeitos é muito raro. Nem todo líder de grupo é um rabino Shimon bem Yohai, que assumiu a Grande Assembléia no Zohar. A maioria de nós deve estar não apenas contente com um tutor menos que perfeito, mas também agradecida de ter alguém que ao menos possua alguma experiência.

O papel do tutor é de facilitar o funcionamento do grupo. Significa não só presidir todas as discussões, mas conduzir as devoções e dirigir os exercícios físicos. O tutor deve também atuar como coordenador de tudo o que estiver acontecendo no grupo em geral, e ser capaz de lidar com o pessoal e com o particular. O tutor deve conhecer a teoria da Kabbalah bem e praticar a arte de Ser. “Kabal” significa “capaz de receber”. Isto exige um alto nível de compromisso, e não existe um kabbalista de meio-termo. Você é ou não um kabbalista. Deve ser assim no caso do tutor, porque em certas ocasiões não se é apenas responsável pelo grupo, mas também seu capitão, e todavia das almas individuais colocadas durante certo tempo sob o seu cuidado. Qualquer falha causará muito dano, e persistindo, se transformará em corrupção, que no trabalho espiritual é extremamente perigosa para um grupo e para os indivíduos dentro dele. Assim sendo, o tutor deve agir com grande cuidado do contexto do grupo, não importando o quão difíceis sejam seus problemas pessoais.

A forma mais comum de tutor é a pessoa a quem foi dada a tarefa de treinar novatos na ciência e arte da Kabbalah. Estes são líderes de grupos que receberam treinamento suficiente para serem capazes de conceber o que sabem com alguma autoridade; o que significa estarem imersos e suficiente para começar a afetar suas vidas diárias e se evidenciar em seu Ser. Muitas vezes, estas pessoas não acreditam que possuam habilidade para conduzir, e ficam surpresas quando são selecionadas para iniciar um novo grupo. Ser o tutor pode ter um certo encanto, mas é mantido apenas através de trabalho diligente e muito esforço. Depois de ter um grupo por algum tempo, o novo tutor começa a aprender mais do que ensina, porque ao sentar na cadeira de Tiferet se está ligado à Graça que desce de Daat, ou lugar de Conhecimento do grupo, enquanto que atua como intermediário entre Tiferet e Keter, a Coroa.

Estamos ainda lidando com o nível psicológico, de modo que a qualidade do tutor será fatalmente influenciada pelo tipo de pessoa que ocupa a cadeira. Assim, se seguiremos a sequência ascendente da Árvore, encontramos o tutor malkhutiano, terreno e prático, que relaciona tudo à vida comum; o caráter yesódico, que ensina através de símbolos ou exemplos pessoais; e o tipo hodiano, que transmite o Ensinamento através de brilhantes referências cruzadas, presença de espírito e eloqüência introspecção. A personalidade nezaica demonstra os princípios através de sentimentos, harmonia e forte reação. O tutor gevúrico segue as regras e impõe um regime rigoroso para conduzir o Ensinamento de forma particularmente pura. O tipo Hesed gera enorme amor dentro do grupo, o que permite o Ensinamento se manifestar em veneração e boa vontade. O tipo Binah possui um grupo que aparenta se ocupar do aspecto mais metafísico do Ensinamento, com discussões prolongadas sobre tópicos históricos ou cósmicos, enquanto o líder de grupos Hokhmah terá sessões irregulares de inspiração e crise; momentos tediosos e de iluminação, ao passo que tudo e todos estão periodicamente desequilibrados.

Todos os tipos citados acima expressam apenas as tendências gerais, mas após visitar várias reuniões, começa-se a perceber como um grupo assume as características de seu tutor. O que não significa dizer que o tutor planeje isso, mas sim que uma determinada lei atua, e aqueles que queiram trabalhar daquela maneira serão atraídos. Os que não estão em harmonia, logo partem e buscam alguém que possa lhes ensinar em sua própria linguagem. Este é o significado interno da observação das escrituras, que cada um ouve de acordo com o seu próprio idioma. Cada pessoa possui um sefirah predominante e procurará um tutor que transmita de maneira que possa compreender, ou encontrarão alguém para educar o sefirah específico necessitando de equilíbrio ou de fortalecimento. Um exemplo disso é o intelectual que busca o tutor erudito, ou, ao contrário, a pessoa da ação que vem ao mesmo grupo porque necessita desenvolver sua capacidade de pensamento. Assim, um grupo pode ser formado, a princípio, com pessoas iguais ao tutor, e com muitas outras que equilibrem e aumentem não só a capacidade do grupo, mas também as suas próprias. Se possível, o tutor deve ser capaz de acomodar todos.

Esta abertura por parte do tutor é essencial para o crescimento. Se o tutor também não se abre, então o material será apenas repetido e o grupo se estagnará. Indivíduos que superam o tutor então partem, deixando atrás de si aqueles que não vivem sem a segurança de um refúgio tedioso, porém, seguro. Isto acontece quando há algo de errado com o tutor, talvez alguma crise interior, que ele não sabe transcender, os tutores, tal como os estudantes, são ainda suscetíveis a traumas. Por esta razão, projeções carismáticas sobre o tutor devem ser desencorajadas, ou os estudantes os verão apenas como líderes, e não como pessoas que também devem lutar e trabalhar. O crescimento é igualmente importante para o tutor, se o grupo desejar aumentar o alcance de sua consciência. Isso é visto com clareza no seu relacionamento com os três mundos que se encontram no Tiferet do grupo, onde se senta o tutor.

O primeiro nível é o mundo natural. Aqui o Keter ou Coroa, daquele cosmo toca o lugar do tutor. Manifesta-se no fato de que o tutor deve ser capaz de lidar com assuntos cotidianos. Era tradicionalmente definido como uma pessoa deveria ser saudável, ganhar a vida, ser casada e madura, isto é, estar apta a traçar seu caminho no mundo sem esforço excessivo. Tal facilidade indicaria habilidade em operar o plano da Ação e dos Elementos. A qualificação do casamento era parcialmente física, mostrando que o tutor era pelo menos fisicamente normal de acordo com os padrões daquela época, e integrado na sociedade, no sentido de possuir um relacionamento íntimo com alguém além de si mesmo, pois na tradição kabbalística, o parceiro de alguém atua como espelho complementar. A abordagem solitária ao desenvolvimento interno se presta a uma ausência de supervisão e, deste modo, há tendências psicológicamente separatistas, que acontecem no isolamento. A questão do relacionamento também pertence ao nível psicológico, no sentido de ser capaz de agir dentro de um círculo, como uma família e um grupo. Aqui, a sensibilidade aos outros é fundamental, pois um tutor não pode operar corretamente se só enxerga o que está ao seu redor. Trabalhar com o mundo psicológico é uma tarefa muito sutil.

O plano de Yerirah, ou Formação é o mundo no qual a maioria do trabalho de grupo acontece, e assim o lugar do tutor está localizado em seu centro. Daí, no ápice simultâneo da Árvore física, o tutor pode observar de cima o mundo natural, enquanto percebe as operações do grupo feitas na alma, que está no coração do grupo. Embora seja possível, contudo, ter um líder que é só uma pessoa física, como um comerciante bem-sucedido que não conhece nada além dos seus negócios ou um psicólogo astuto, que conhece o comportamento das pessoas, não é possível haver um grupo kabbalístico sem a conexão espiritual com o terceiro mundo que toca o Tiferet das reuniões. Aqui temos a singularidade de qualquer reunião esotérica. Deve haver alguém que possa fazer todos os três mundos inferiores até o ponto de intersecção da cadeira.

Agora, embora muitos tutores não possam manter uma posição de conexão interna muito tempo em sua vida comum, é um fato miraculoso que enquanto estão sentados na cadeira conduzindo uma reunião este estado seja possível. Qualquer um que possa manter o ego sob disciplina pode ocupar e experienciar esta posição, como muitos dos que foram dirigentes atuantes compreenderam. Alguns que não estavam bem-preparados para este lugar descobriram ser este um lugar de temor e respeito para se sentar, porque a energia que está ali focalizada é mais que aquela gerada quando se dirige uma reunião social comum. Muitas pessoas compreendem, depois de sentar naquela posição de “Cerco Arriscado”, que não é tão fascinante como pensaram, pois carregam pesadas responsabilidades, e poucos podem suportá-las se não tiverem um compromisso profundo com a Kabbalah.

Um tutor ideal deve estar simultaneamente consciente dos três mundos. Em geral, uma pessoa pode estar ciente apenas de um ou dois mundos ao mesmo tempo, porque, a princípio, o campo de atenção não é amplo o suficiente, embora isto venha com o tempo. Muitas vezes, por exemplo, um tutor está angustiado, embora ao mesmo tempo sinta que a sala está demasiado abafada ou quente. Às vezes, uma profunda presença do Espírito de repente dissolve todo o alerta sensorial, enquanto o grupo muda de níveis e o tutor deve trazer a reunião de volta à Terra. O trabalho de um tutor é o mesmo do capitão do navio. Ele deve monitorar todos os níveis e tomar decisões imediatas ou de longo prazo a partir da ponte no centro da Árvore do grupo. Aqui está o foco do recebimento e da transmissão do conhecimento, enquanto o tutor mantém a conexão entre o grupo nas duas Árvores mais baixas e nas superiores, do Céu e do Divino. Não é uma posição fácil de se estar.