O debate sobre a remuneração da poupança despertou o interesse de muitos investidores para o Tesouro Direto. Para não perder clientes, bancos de varejo têm se mostrado cada vez mais abertos à negociação de títulos públicos, produto concorrente dos fundos de investimento, com custos compatíveis com o das corretoras independentes.

Aos olhos dos grandes conglomerados financeiros, desde quando foi criado, em 2002, o Tesouro Direto vinha sendo encarado com certas ressalvas, por representar concorrência à oferta de fundos na rede bancária. Trata-se de um segmento em que os bancos arrecadam receitas vultosas com taxas de administração, principalmente junto ao público de varejo, que aplica valores baixos e tem pouca mobilidade.

Mas essa situação também pode estar mudando. A Bradesco Corretora baixou drasticamente a taxa cobrada como agente de custódia, de 4% ao ano para 0,5% ao ano, ficando mais em linha com os custos do mercado. Desta forma, a Itaú Corretora será a única a manter preços proibitivos, de 4% ao ano no varejo e de 3% ao ano para os clientes da segmentação de alta renda do Personnalité. Cobra ainda R$ 25 por operação realizada.

O banco se junta agora ao Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, HSBC, Safra e Votorantim, cujas corretoras têm taxas inferiores a 0,5%.

Segundo a Bradesco Corretora, o banco decidiu reduzir a taxa do Tesouro Direto para não perder clientes para outras corretoras. O banco ainda não fez nenhuma divulgação da novidade junto aos clientes: "Quando começou o Tesouro Direto, o banco adotou uma taxa elevada. Talvez tivesse até um pouco de receio de que os clientes deixassem os fundos para virem operar no Tesouro Direto. No decorrer do tempo, percebemos que o cliente do Tesouro Direto é uma pessoa diferente, que tem um conhecimento mais profundo de renda fixa. O cliente que não é muito inteirado prefere operar nos fundos porque alguém vai tomar a decisão de investimento para ele".

Num momento de redução do juro básico - a Selic pode cair abaixo de 10% ao ano na próxima reunião do Copo, -, tanto maior o peso dos custos no rendimento do investidor. Um aplicador que tivesse adquirido na semana passada R$ 5 mil em Letras do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em 1º de janeiro de 2012 teria na Itaú Corretora um rendimento de 5,17% no resgate, já considerados os custos e a tributação. Se optasse, por exemplo, por uma corretora que não cobra pelo serviço, caso da Banif, Socopa e Spinelli, teria um retorno líquido de 8,95%. Entre uma alternativa e outra, a diferença é de R$ 319, o equivalente a 6,4%, mais do que o juro real. Isso quer dizer que se for considerada a inflação no período, o aplicador pode ficar mesmo no prejuízo.

A crise internacional teve muito a ver com a iniciativa do Bradesco de reduzir os custos: "Com a volatilidade do mercado no ano passado, o cliente saía da bolsa e não tinha onde investir na própria corretora, acabava saindo e não voltava mais", afirma a Bradesco Corretora,  reconhecendo que o custo de 4% ao ano no Tesouro Direto era considerado alto demais pelos clientes da casa. A resistência dentro do conglomerado foi quebrada a partir do entendimento de que o segmento de fundos no banco já está bem consolidado.

No Banco do Brasil maior intermediário do Tesouro Direto - com um fatia de 21,4% do estoque de R$ 2,8 bilhões em títulos públicos vendidos até o fim do ano passado e com mais de 27 mil clientes cadastrados -, nunca houve o conflito fundos-Tesouro.
O banco considera a taxa cobrada, de 0,50% ao ano, compatível com a Selic atual, de 10,25% ao ano, mas diz que se a trajetória de queda se aprofundar, a instituição será sensível à revisão deste custo.

O produto Tesouro Direto tem muita sinergia com os demais serviços prestados pela HSBC Corretora e, por isso, a opção de adotar uma taxa de 0,30% ao ano, a menor entre os bancos de varejo, segundo o banco. Oitavo colocado no ranking de agentes de custódia de 2008, ele afirma que a instituição consegue ter escala suficiente para cobrar barato, sem abrir mão de qualidade no atendimento.

Ter uma taxa competitiva, de 0,20% ao ano, é uma forma de fidelizar o cliente na corretora, qualquer que seja o cenário para o mercado acionário, afirma a corretora Ativa: "Num momento ruim para ações, quando há fuga para a renda fixa, o investidor fica sempre conosco", afirma, lembrando dos momentos vividos a partir da quebra do Lehman Brothers, em setembro, quando as bolsas despencaram mundo afora e os aplicadores de lá e cá buscaram o conforto dos títulos públicos, considerados de baixo risco.

Para a corretora, com a Selic caindo para 9% ou ficando até abaixo disso, mais perceptível será o custo na rentabilidade do investidor: "O Brasil está hoje num nível de juros que o mercado nunca operou e 0,10, 0,20 ponto vai fazer diferença". Tivemos casos de clientes saindo de corretora que cobrava 0,25% para operar conosco”.

Na Spinelli Corretora, uma das três que não cobram pelo serviço de intermediário no Tesouro Direto, a isenção é um atrativo mercadológico incontestável: "Sem a custódia, o investidor tem a rentabilidade cheia e é uma forma de trazê-lo para operar conosco, essa pode ser a sua porta de entrada na corretora."

A casa foi uma das eleitas pela BM&FBovespa para ter a integração do sistema do Tesouro Direto ao home broker, a plataforma de negociação de ações pela internet. Pelo programa, as corretoras mais ativas em negociação vão receber subsídio de R$ 50 mil cada para fazer os ajustes tecnológicos. As outras corretoras selecionadas foram Ágora, Alpes, Ativa, Banif, Coinvalores, Fator, Gradual, HSBC e Socopa. O BB já tem o serviço integrado ao seu internet banking, contratando o serviço de corretoras parceiras, enquanto não há uma definição sobre uma eventual centralização na corretora do Votorantim, banco ao qual a instituição se associou em janeiro, adquirindo uma participação de 50%.

Dessa forma, a aplicação no Tesouro Direto vem se tornando cada vez mais uma opção acessível que deve fazer parte da estratégia de diversificação de risco do pequeno investidor.

Bibliografia:
Jornal Folha de S. Paulo de 01 de junho de 2009
Jornal Valor Econômico de 01 de junho de 2009