GEOPOLÍTICA DO TERRORISMO: ESTADO, UNILATERALISMO E GEOPOLÍTICA NO GOVERNO BUSH.

André William Segalla [1]

 

Resumo: Desde os atentados de 11 de setembro de 2001, o governo dos EUA, em especial na gestão do republicano George W. Bush (2001-2008) se envolveu em uma série de intervenções militares em diversas regiões do Oriente Médio. Entre essas intervenções está a invasão do Afeganistão (2002) e do Iraque (2003), as quais desestabilizaram completamente a região e criaram um cenário de caos e desordem sem precedentes. Muitos analistas apontam para o fato de que as ações unilaterais Norte-Americanas de invasão e conquista não são eventos ligados exclusivamente à punição dos culpados pelo 11/9, mas sim, Terrorismo de Estado, o qual busca antes de tudo estabelecer na região uma área de apoio geopolítico e geoestratégico às suas ambições universais. O presente artigo faz uma introdução ao tema do terrorismo clássico para em seguida discutir a questão do terrorismo estatal e de que forma o governo Bush se utilizou de tal política na busca de seus interesses globais.

Abstract: Since the terrorist attacks of September 11, 2001, the U.S. government, particularly the administration of the Republican George W. Bush (2001-2008) was involved in a series of military interventions in many regions of the Middle East. Among these interventions are the wars of Afghanistan (2002) and Iraq (2003), which completely destabilized the region and created a scenario of chaos and unprecedented disorder. Many analysts point to the fact that the unilateral actions of invasion and conquest of USA are not exclusively linked to the punishment of the responsible for 9/11, but rather, it’s State Terrorism, which seeks to establish in the region, a support to USA’s geopolitical and geostrategic universal ambitions. This article gives an introduction to the topic of classic terrorism then discuss the issue of state terrorism and how the Bush administration used such policy in the pursuit of its global interests.

Palavras-chave: Terrorismo, Unilateralismo, Doutrina Bush, Geopolítica.

 

Introdução

            Quando no início de 2003 os primeiros aviões dos Estados Unidos adentravam o espaço aéreo iraquiano, completava-se formalmente o círculo vicioso da guerra iniciado em setembro de 2001. A resposta ora dada pelo presidente George Bush ao Iraque, era na verdade, uma ameaça velada ao mundo como um todo: O governo Americano tem estratégias geopolíticas, e certamente irá coloca-las a termo.

            A gênese da guerra do Iraque, a mesma que em questão de meses se espalharia pelo Afeganistão e avançaria pelas fronteiras do território paquistanês estava oficialmente ligada aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova York. Na manhã da fatídica data, quatro aviões comerciais foram sequestrados por militantes islâmicos radicais e arremessados contra os símbolos da opulência e do poder americano, seus prédios comerciais e sua sede militar, culminando no maior atentado terrorista já perpetrado não apenas em solo norte-americano, mas em todo o mundo. Dos escombros espalhados por quarteirões veio o inquestionável apelo por respostas, a qual caberia aos cérebros político-militares atender.

            Em menos de 2 anos essa resposta foi dada. No entanto, a resposta foi desproporcional, e ainda mais, foi dirigida a alvos que não estavam e nem poderiam estar diretamente ligados aos ataques terroristas. Uma questão ficou latente nesse momento: Como pôde a maior inteligência militar do planeta não ter entendido quem eram seus verdadeiros inimigos antes de realizar um ataque devastador sobre o Oriente Médio? E mais, como o presidente da maior potência econômico-militar do mundo defendeu com tanta veemência uma guerra cujo objeto de destruição havia provado não ter nenhuma ligação com os terroristas nem possuir as tão alardeadas armas de destruição em massa? A resposta pode ser condensada em apenas uma palavra: Geopolítica.

            Os Estados Unidos da América do Norte desde o despontar do século XIX tem se empenhado ativamente em uma série de conquistas territoriais e apropriação de áreas em todos as áreas do globo. Canadá e México foram os primeiros países a terem parte de suas respectivas áreas anexadas. Logo vieram os acréscimos territoriais no Pacífico, as ilhas ao sul do continente e também, os territórios ao oeste, ligando os dois oceanos por uma imensa massa continental. Ora por via pacífica, ora pela força, indígenas, mexicanos, franceses, britânicos e russos perderam grandes faixas de terra para o nascente governo americano, o qual desde a origem já demonstrava grandes ambições expansionistas. Nas décadas subsequentes, tal ambição os levaria aos cinco continentes, onde hoje repousam mais de 700 bases militares, descontando as que estão dentro do solo norte-americano[2].

            Assim, quando George Bush afirmou em cadeia nacional em 11 de setembro de 2001, que encontraria e retaliaria os responsáveis pelos atentados daquele dia, ele disse, em outras palavras, que mais do que nunca, a geopolítica de poder dos EUA iria ser revista, e em todas as zonas onde houvesse, declaradamente ou mesmo supostamente um inimigo da democracia americana, eles atacariam. A guerra ao terror é em essência uma guerra geopolítica. E quando revisitamos a história dos Estados Unidos em todo o século XX, vemos com clareza estarrecedora, que todas as guerras travadas por essa nação foram guerras cuja motivação era em síntese, geopolítica: Segunda Guerra Mundial (1941-1945), Coréia (1950-1953), Vietnã (1965-1975), e Golfo Pérsico (1990). Todas elas tinham território, influência e poder como interesses de primeiro plano.

            A ação dos Estados Unidos no mundo de hoje não é nada mais do que a continuação da velha política de imperialismo velado em suas múltiplas subdivisões (imperialismo econômico, cultural, intelectual, de patentes, tecnológico, militar, etc.)[3]. Compreender como esse fenômeno se processa pode ser a chave para entender o futuro dessa imensa potência e o futuro do mundo globalizado como um todo, o qual caminha com seu destinado atrelado ao dele. Na origem do renascimento das ambições expansionistas norte-americanas após o começo do século XXI está o 11 de setembro e o recrudescimento do terrorismo, tema para o qual nos ateremos com mais ênfase.

                                                                                                                         

  1. 1.      Terrorismo: Perspectivas teóricas.

O Terrorismo não é um fenômeno recente. Relatos de práticas terroristas se perdem nos véus da história e podem ser encontrados ainda na antiguidade, em Roma, na ação coordenada de grupos rebeldes contra o Estado, em especial de ex-gladiadores em luta pela libertação. O caso Spartacus é um conhecido exemplo. Também existem referências a grupos terroristas agindo com força em plena idade média, como a seita dos Hasshasshin, o primeiro caso concreto de terrorismo islâmico[4]. O termo “terror”, no entanto, torna-se recorrente somente após a Revolução Francesa, quando o regime de Robespierre atinge cifras astronômicas nos seus índices de crueldade. Estima-se que o número de execuções foi da ordem de 17.000, com cerca de 300.000 prisões, as quais ocorreram muitas vezes sem julgamento ou, quando houve julgamento, sem defesa (FRAGOSO, 1981, p. 14).

No entanto, somente após a segunda metade do século XIX é que o terrorismo começa a ser usado de fato, como arma de guerra e tática de subjugação por um grupo, geralmente pequeno, sobre o estrato político-social mais amplo. Isto é, a imposição da vontade de poucos sobre muitos pela prática da violência indiscriminada. Nesse século, muitos grupos terroristas atraíram a atenção da mídia diária, através de ataques e de amaças de ataque contra alvos civis. Sendero Luminoso, IRA, Brigate Rosse, ETA, Al-Qaeda; todos esses nomes passaram do obscurantismo para o domínio público em virtude do apelo diário que passaram a ter sobre o coletivo. Em muitos sentidos, esses grupos tornaram-se mais poderosos pelo medo que foram (e são) capazes de incutir nas pessoas, do que exatamente pelo seu poder de destruição.

HALLIDAY (1999), em obra pertinente ao tema, enumera algumas formas de terrorismo e suas motivações mais comuns, descrevendo suas táticas e seus objetivos pressupostos. Entre tais objetivos ele cita o terrorismo como manipulação do discurso político através do medo. O medo é talvez, a maior das armas do terrorista moderno, uma vez que a disseminação das notícias através dos canais midiáticos acaba por catapultar e aumentar grandemente o impacto dos atos de violência. Assim, a globalização acaba por se tornar o veículo do terror, uma vez que a velocidade na transmissão de notícias e imagens colabora na criação de um clima de insegurança. O grande poder do terrorista, portanto, não está exatamente em que ele possa matar, mas em que tenha condições de fazê-lo e use a ameaça desse ataque a seu favor. A intenção do terrorista é causar um estado de medo, objetivando provocar no inimigo uma mudança de comportamento (libertação de prisioneiros, abandono de cerco ou evacuamento de regiões consideradas sagradas, etc.).[5]

Considerando-se que o objetivo do terrorismo é o de provocar pânico, sua vítima preferencial não é a vítima tática, aquela que perde a vida no atentado, por uma questão bastante óbvia: os mortos não podem ter medo e nem gerar mais medo. As vítimas buscadas pelo terrorismo são, portanto, aquelas que sobrevivem e espalham o pânico e a fobia de novos ataques. O fundamento do terror, não é necessariamente a morte ou o aniquilamento, mas a sensação de vulnerabilidade, de impotência e desamparo ante o terrorista e o que ele pode vir a fazer caso ataque novamente. O terrorismo é acima de tudo uma arma cujos fundamentos estão atrelados a questões psicológicas.

JENKINS (1986), afirma que a força do terrorista está em que ele possa atacar a qualquer hora e em qualquer lugar, qualquer tipo de pessoa e em números virtualmente ilimitados; uma vez que ele não se restringe a alvos militares nem se preocupa com as considerações morais ou éticas de seus morticínios. Ademais, como bem esclarece o autor, os alvos escolhidos são aqueles que não podem manifestar defesa imediata (não-militares) aumentando a letalidade do golpe[6]. Leve-se em consideração também, que a motivação religiosa dos modernos grupos terroristas leva os perpetradores dos atentados a aceitar a morte passiva, sendo que esses perecem, na maioria das vezes, no próprio atentado. Assim, o inimigo torna-se virtualmente indestrutível em seus arbítrios, uma vez que nem mesmo a morte ou a expectativa dessa é capaz de limitar seus intentos.

Outro fator de grande notoriedade quando tratamos dos objetivos gerais do terrorismo está em que os atentados possam insuflar o descontentamento generalizado e a desconfiança por parte da população na capacidade do seu governo em prover-lhes segurança. CARNEIRO MARTINS colabora nesse sentido ao afirmar que

[,,,] O terrorismo  “privado” procura cumprir aquilo que é comumente designado por “ciclo do terrorismo” (provocação – repressão – desestabilização – revolução),  tentando mostrar a incapacidade do governo que combate para proteger e dar segurança à  respectiva população, bem como provocar uma repressão que “dê razão” às acusações contra esse governo e, assim, de uma forma ou de outra, aumentar o descontentamento da respectiva população, esperando desse modo desencadear, finalmente, uma  revolução que mobilize  a  seu  favor as massas populares. (p. 56).

Em certo sentido, a grande desconfiança que recaiu sobre o governo americano após tornarem-se visíveis os resultados dúbios das guerras no Iraque e no Afeganistão acabou por cumprir com esse papel. O descontentamento interno materializou-se na vitória esmagadora de Barack Obama no pleito de 2008 (PECEQUILO, 2012, p. 82).

Desde o começo do século XXI, o mundo tem sofrido a contínua ameaça de importantes grupos terroristas, em especial a Al-Qaeda (A Base - em árabe). Fundada em 1988 por Osama Bin Laden, um milionário saudita do ramo da construção civil, a organização já conta com um portfólio de atentados muito acima do realizado por qualquer outra organização. Foram estes os mentores e executores dos atentados de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, o maior atentado terrorista da história mundial, bem como o Bombardeio do USS Cole, contratorpedeiro avariado em outubro de 2000. Entre outras ações cuja responsabilidade foi assumida pela Al-Qaeda está o ataque às embaixadas estadunidenses da Tanzânia e do Quênia em 1998, além do primeiro ataque com bomba ao World Trade Center em 1993. No total, o cômputo de mortes causadas pela Al-Qaeda gira em torno de 3000 pessoas, além de mais de 6000 feridos. Curiosamente, boa parte dessas vítimas eram muçulmanas, isto é, correligionários mortos inadvertidamente pelos terroristas da mesma fé (MUSHARBASH, 2009). Com a morte de Osama Bin Laden em 2011, a organização perdeu parte de sua força, mas segue viva sob o comando de Ayman Al-Zawahiri, o qual substituiu Bin Laden por ocasião de sua morte.

  1. 2.      Terrorismo de Estado: Uma nova política governamental?

A visão clássica que se tem de terrorismo é a que já discutimos: um grupo de radicais, os quais dispõem de treinamento, armas e dinheiro suficiente para ameaçar um governo ou mesmo um Estado e o fazem de acordo com seus objetivos políticos e/ou religiosos. Recentemente, um novo viés tem sido aplicado à questão, com a inclusão de um novo termo, o chamado Terrorismo de Estado (ou ainda segundo HALLIDAY, 1999, terrorismo de “cima para baixo”). Essa forma mais elaborada de terrorismo ocorre quando não existem grupos separatistas ou radicais intencionando a prática do terror, mas sim, o próprio governo, o qual exacerba sua autoridade sob a população civil. Desde o início do século XX houve pelo menos uma dezena de exemplos nesse sentido. O Terrorismo de Estado foi adotado como prática política pelos partidos comunistas de extrema esquerda em diversos países. Os expurgos de Stálin[7] desde a década de 30 na União Soviética são exemplos disso, bem como os milhares de crânios humanos que restaram do regime do Khmer Vermelho no Camboja depois da década de 70[8]. O terrorismo foi adotado como política de Estado, embora jamais reconhecida como tal, por regimes totalitários como os da Alemanha de Hitler, da Itália de Mussolini e da Espanha de Franco. Nesses países, os métodos de prisão, tortura e execução foram aplicados sem restrições de nenhuma espécie ou fundamento jurídico legal, para criar um clima de medo e desencorajar a adesão a ideologias contrárias aos objetivos políticos do regime ora no poder. Guetos e campos de concentração, polícias secretas, grupos de extermínio e técnicas avançadas de “extração de informações” tão recorrentes no século XX surgiram com grupos estatais, e não com grupos terroristas profissionais agindo contra o Estado.

O caso da Europa, como já mencionamos, é o mais evidente. Praticamente todos os regimes não democráticos que governaram o velho continente entre 1917 e 1990 aplicaram o terrorismo estatal de alguma forma. Durante esse período viu-se também a convivência entre o terror do Estado e o terror anti-Estado, aquele realizado por grupos separatistas. Em algumas situações, o terrorismo “de baixo para cima” era uma reação ao terrorismo “de cima para baixo”. Alguns dos grupos que agiram contra governos na Europa foram o Exército Republicano Irlandês (IRA), lutando pela independência política da Irlanda contra o Reino Unido, o Movimento Pátria Basca e Liberdade (ETA) na região Basca, ao norte da Espanha e as Brigate Rosse (BR) na Itália.

Ações terroristas provindas de ações do Estado não são de domínio exclusivo da Europa. No Brasil, os vinte anos de ditadura militar (1964-1984) deram luz a inúmeros casos de assassinatos, desaparecimentos e torturas perpetradas pelo regime no poder. O aparelho repressivo montado pelo Estado agia na sombra, sob o codinome de DOPS (Departamento de Ordem Politica e Social) e agia à revelia dos direitos humanos no objetivo de alcançar seus intentos políticos de contra insurgência. (GASPARI, 2002, s/n). Não diferente foi o caso do Chile no regime de Augusto Pinochet e de Cuba, com os fuzilamentos de divergentes pelo grupo liderado por Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara logo após a tomada do poder em 1959. No Oriente Médio, o assassinato desmedido de milhares de membros da etnia curda por Saddam Hussein no Iraque, inclusive com o uso de armas químicas, proibidas por tratados internacionais, é uma prova de que tal faceta do terrorismo, como domínio de ação do Estado repressivo é universal.

  1. Doutrina Bush: O terrorismo interno encontra o externo.

Depois do atentado terrorista de 11/9 contra os símbolos do poder militar e econômico dos EUA, o Pentágono e o World Trade Center, o próprio governo norte-americano, o qual sempre utilizou as palavras “democracia” e “liberdade” em sua propaganda política, passou a agir de forma semelhante, e de forma muitas vezes arbitrária. O Terrorismo de Estado foi de fato, prática consumada do governo Bush ainda em sua primeira administração da Casa Branca (2001-2005).

Logo após a queda das torres gêmeas, o ex-presidente George Bush colocou-se diante dos escombros dos prédios desabados enquanto elogiava os esforços dos que trabalhavam no resgate das vítimas e afirmou: Buscaremos e puniremos os culpados.[9] Pouco depois, em entrevista concedida a imprensa, ele afirmaria que a guerra ao “novo mal” surgido com tais ataques, seria uma nova cruzada, a cruzada contra o terrorismo.[10] O uso da expressão “cruzada” imediatamente ocasionou uma série de respostas por parte dos governos de nações islâmicas, as quais mostravam-se consternadas com tal nomenclatura, uma vez que ela evocava uma série de bárbaras guerras religiosas entre o ocidente e o oriente. Para tais líderes essa visão mostrava uma nota aguda de xenofobismo por parte da administração Bush. Nas palavras de Michael Ratner, presidente do Centro para Direitos Constitucionais (CCR) e presidente do centro europeu para os direitos humanos,

Assim que Bush fez seu discurso sobre as ‘cruzadas’ poucos dias depois do 11 de setembro, algo que estava carregado de um tremendo significado para muçulmanos e cristãos, sabia-se que o atentado seria tratado como um ato de guerra, com o que o governo assumiria poderes muito maiores dos que tinha para perseguir e deter pessoas no estrangeiro, assim como para promover a espionagem doméstica, tudo como se fosse uma guerra (RATNER 2013, s/n).

Xenofobismo foi, em verdade, uma das características mais importantes do governo de George Bush desde então. Na expectativa de encontrar os responsáveis e dar à opinião pública dos Estados Unidos uma resposta conveniente aos ataques, ele lançou a controvertida Guerra ao Terror, a qual custaria centenas de vidas nos anos seguintes e um gasto superior a 1.2 trilhão de dólares ao tesouro americano (BELASCO, 2011) no que já estava sendo chamado por alguns críticos de a “décima cruzada” ou a Cruzada de Bush, uma óbvia referência aos seus comentários anteriormente mencionados[11].

Republicano, neoconservador e liberalista radical, a forte pressão de Bush sobre o aparato legal e militar dos EUA, assim como sua contínua investida em direção ao oriente médio em busca de “culpados” acabou por criar um forte desequilíbrio sistêmico global, aumentando exponencialmente aquilo que os realistas políticos chamam de “anarquia estrutural”. Sua liderança passou a ser pautada pelo unilateralismo, criando um novo termo para sua administração: Doutrina Bush. Tal ideologia assumia que a defesa deveria se basear no ataque preventivo antes da diplomacia, e na negação das liberdades individuais a qualquer suspeito de ser um inimigo da democracia americana. Conforme ponderou PEREIRA:

“Consagrada como  "Doutrina Bush",  a nova estratégia destaca, entre seus pilares o  contraterrorismo  e a  legítima defesa preventiva.  Formulada pelo Conselho de Segurança Nacional, mais precisamente pela então assessora presidencial Condoleezza Rice, e anunciada de forma definitiva pelo presidente em discurso na Academia Militar de West Point, em 01/06/2002, representa uma radical mudança dos conceitos geoestratégicos que vigoravam no país desde a Guerra Fria, e se justificaria por sua finalidade, ou seja, criação de instrumentos legais para controle absoluto de todas as atividades individuais, principalmente de imigrantes, e, da mesma forma, de concessão ao presidente de poderes para atacar preventivamente, em qualquer parte do mundo, grupos terroristas ou Estados hostis aos norte-americanos”. (PEREIRA: 2006, p. 130).

Em suma, os EUA, nação que sempre mostrou-se orgulhosa por sua defesa dos ideais democráticos, em virtude de um ataque terrorista sem precedentes passar a agir como se não o fosse, na busca de suas ambições pessoais. E para muitos autores, os resultados alcançados com a guerra ao terror iriam extrapolar em muito os objetivos iniciais. De fato, não apenas o governo dos Estados Unidos estava violando direitos constitucionais, mas ele mesmo estava praticando uma forma aberta de Terrorismo de Estado na aplicação sistemática da Doutrina Bush.

Em consonância com os objetivos centrais do governo G. W. Bush, algumas medidas de cunho político foram votadas, as quais ferem diretamente os direitos humanos. O primeiro foi o denominado Patriotic Act, assinado e tornado lei em outubro de 2001. Pelo ato, qualquer cidadão, suspeito ou sob suspeita de terrorismo pode ser espionado, inclusive por escutas telefônicas, quebra de sigilo bancário, invasão de residência a qualquer hora, diurna ou noturna, além de estar sujeito a interrogatórios sem direito a defesa e julgamentos de quaisquer espécie[12]. Outra manobra política surgida com a Doutrina Bush foram as Extraordinary Renditions, isto é, a movimentação de prisioneiros de um país para outro sem obedecer aos procedimentos legais de extradição. Na maior parte dos casos, as vítimas eram encaminhadas diretamente para a prisão de Guantánamo, supervisionada pela CIA e sob forte acusação de torturas por parte do Human Rights Watch.[13]

As ações do governo Bush eram antes de tudo, de ação preventiva. Antes de uma ameaça se concretizar, o aparato militar norte-americano atacava de forma “preventiva”. Essa linha de ação ficou bem clara na Estratégia de Segurança Nacional dos EUA (National Security Strategy, 2002), na qual lê-se que

“As ações da OTAN […] devem partir do pressuposto de que é preferível evitar ataques terroristas do que lidar com as suas consequências […] O contraterrorismo é uma ação militar ofensiva desenvolvida para reduzir as capacidades dos terroristas. As nações aliadas concordam que os terroristas não devem poder basear-se,  treinar, planejar,  levar a cabo e executar ações terroristas e que a ameaça pode ser suficientemente severa para justificar a ação contra estes terroristas e os que lhes dão abrigo, sempre que necessário...”

Em todo o desenvolvimento da guerra ao terror realizada por George Bush foi possível notar com clareza um unilateralismo doentio. Em 2003, por ocasião dos preparativos da invasão ao Iraque, a Casa Branca acusou o regime de Saddam Hussein de apoiar o terrorismo e de manter instalações de produção de armamentos nucleares. Depois da visita de especialistas da ONU, ficou provado que o Iraque não possuía tais instalações, nem se pôde comprovar in absolutum sua participação ou apoio ao terror. A despeito de a ONU ter vetado a invasão, o governo Bush resolveu agir independentemente do conselho e atacou o país em 2003. Conforme lembrado por DIAS LEMOS,

A invasão dos Estados Unidos ao Iraque foi vetada por França, Rússia e China (países com interesses opostos aos norte-americanos), mas a proibição foi desrespeitada e o conflito ocorreu de qualquer maneira. Depois, na tentativa de punir os Estados Unidos, houve o veto da Inglaterra e França, agora acuada pela influência estadunidense, impedindo qualquer sanção ao país invasor (DIAS LEMOS, 2008, s/n).

 Tais ações demonstraram claramente que os objetivos perseguidos pelo governo dos EUA não eram apenas a guerra contra os causadores do atentado de 11 de setembro, ou seja a Al-Qaeda e o radicalismo islâmico, mas sim, reverter o tabuleiro geoestratégico a favor dos interesses dos Estados Unidos e ainda, favorecer suas ambições em áreas até então entranhadas no território de inimigos históricos: o Oriente Médio. Em verdade, desde a queda do Iraque em 2003 e do Afeganistão em 2002, só há virtualmente um inimigo de peso ao governo americano na região, o Irã dos aiatolás. CANTALAPIEDRA colabora ao postular que a visão estratégica dos EUA no Pós-Guerra Fria e em especial no governo Bush enfocou três linhas básicas de ação:   a) Guerra Global ao Terror, b) o estabelecimento de uma ordem  internacional  favorável aos  valores e  interesses dos EUA, e c) evitar a ascensão de uma potência hegemônica regional ou global que desafie a ordem internacional criada pelo governo norte-americano (CANTALAPIEDRA, 2008. Pág. 57).

As críticas que foram despejadas sobre o presidente Bush não foram suficientes para fazê-lo perder a reeleição em 2004, que apesar de envolta em suspeitas de fraude, o manteve no governo por mais quatro anos. Ainda assim, ele amargou o fato de ser o mais impopular entre os presidentes desde Richard Nixon, que sofreu impeachment em 1974 após o escândalo de Watergate (EICHENBERG, STOLL, LEBO, 2006). Suas ações também colaboraram por acirrar o clima de animosidade contra os Estados Unidos em todo o mundo, especialmente em nações islâmicas. O tragicômico ato do repórter iraquiano Muntazer al-Zaidi que arremessou seus sapatos contra Bush em uma comitiva de imprensa em dezembro de 2008, é uma alegoria de o quanto esse homem passou a ser desprezado no mundo muçulmano. A guerra ao terror em termos de apelo público perdeu seu sentido com a invasão ao Iraque e passou a ser duramente criticada dentro e fora dos EUA, consumando uma das maiores derrotas políticas do governo Bush. Em 2008, Barack Obama consegui eleger-se ao prometer acabar com a guerra e trazer os soldados estacionados no Oriente Médio de volta aos EUA.

Com a saída de Bush da Casa Branca, as ações políticas dos Estados Unidos assumiram uma postura mais moderada. Ainda assim, os resultados geopolíticos da guerra ao terror de Bush permanecem como grandes troféus para a maior potência global, a qual usou o Terrorismo de Estado como arma de guerra, e jamais reconheceu estar errada a esse respeito[14]. Com Bush, a visão de Realpolitik estabelecida por Henry Kissinger atingiu seu clímax: “Impérios não tem interesse em operar em um sistema internacional. Eles aspiram ser o sistema internacional” (KISSINGER, 1994, Pág. 21).[15]

4. O mundo pós-Bush. Uma herança macabra?

As recentes ações do governo norte-americano, seu unilateralismo e a guerra criada no Oriente Médio que desestabilizou e levou ao abismo da crise duas nações árabes, bem como custou a vida de milhares de pessoas, abriu um precedente terrível na conduta estatal. O fato de agir a revelia do Conselho de Segurança em seus vetos contra a guerra, demonstrou ao mundo a fraqueza do órgão em policiar e mesmo controlar as ações de Estados poderosos. Essa fraqueza torna mais enfática a necessidade de reforma do órgão, em consonância com o interesse declarado de diversos Estados, inclusive o Brasil. Ademais, a visão de que o governo dos Estados Unidos é despótico e tem ambições neocolonialistas cresceu exponencialmente em todas as regiões do mundo, criando um clima geral de instabilidade.

Conforme verifica-se na Doutrina Bush, a qual deu ao século XXI sua primeira razão para ser lembrado na história, o poder quando exercido de forma irresponsável e fanática (pois o fanatismo de forma alguma é exclusivo de grupos terroristas religiosos), gera desconforto, guerra e mortes. O objetivo declarado dos Estados Unidos ao invadir o Afeganistão e o Iraque era o de eliminar o risco de novos ataques terroristas. Suas ações mal calculadas, no entanto, apenas intensificaram o ódio e ensejaram novas ameaças não apenas por parte da Al-Qaeda, mas de diversos outros grupos radicais, como a irmandade islâmica e a Fatah, além de radicalizarem a conduta de toda uma geração de jovens islâmicos. Estes são os herdeiros de uma herança de ódio e de divisionismo que só tende a crescer à medida que as idéias pan-islâmicas prosperam no Oriente próximo.

Noam Chomsky certa vez afirmou que os terroristas com suas bombas pretendem “dizer ao mundo o que pensam”  sobre o ocidente, e querem também livrar-se dos invasores. Quando a Rússia comunista entrou no Afeganistão, eles eram os inimigos do islã e era contra eles que as armas de Bin Laden e dos mujaheddin se voltavam. Quando a Rússia deixou o Oriente Médio, os ataques contra os soviéticos cessaram por completo. O mesmo poderia ter acontecido com os EUA, caso tivessem respeitado a individualidade de um povo cuja religião e espírito combativo tem raízes milenares. Chomsky complementa: “do ponto de vista deles, estão apenas defendendo os muçulmanos dos infiéis” (CHOMSKY, 2002. Pág. 23-24).

Evidentemente, nem o terrorismo nem a matança do 11/9 podem ou devem ser desculpadas sob o viés da individualidade ou da proteção de zonas consideradas sagradas. No entanto, se em nome de um bem maior os interesses geopolíticos tivessem sido deixados de lado quando a Guerra Fria acabou, certamente a Al-Qaeda jamais teria sido criada. A Doutrina Bush ao invés de colaborar para a solução do dilema, jogou muito mais combustível sobre as labaredas já ardentes. O resultado disso, é que o século XXI inteiro, tende a consumir-se nessas chamas de ódio e de guerra. Huntington de fato, foi um profeta e ao que tudo indica, sua profecia continuará nos assombrando por décadas.

REFERÊNCIAS

 

BELASCO, Amy. The Cost of Iraq, Afghanistan, and other Global War on Terror Operations Since 9/11. Congressional Research Service (Report for Congress) 7-5700. Washington DC, 2011. 59 p.

 CANTALAPIEDRA, David Garcia. A Administração Bush e o futuro da política estratégica dos EUA da GWOT à Longa Guerra. Relações Internacionais n.º 19,  Setembro: 2008. IPRI: Instituto Português de Relações Internacionais. Pág. 55 a 72.

 CARNEIRO MARTINS, Raúl François. Acerca de Terrorismo e de Terrorismos. Cadernos do Instituto da Defesa Nacional (IDN). Lisboa, outubro de 2010, 128 p.

 CHOMSKY, Noam. A Nova Guerra Contra o Terror (Palestra feita pelo autor em 18 /10/2001 no Fórum de Tecnologia e Cultura do Massachusetts Institute of Technology MIT, EUA). In Estudos Avançados 16 (44), 2002 (Pág. 5-33).

 CNN NEWS. The text of President Bush's address Tuesday night, after terrorist attacks on New York and Washington. New York, 11 de setembro de 2001. Disponível em <http://archives.cnn.com/2001/US/09/11/bush.speech.text/>. Acesso em 24 de maio de 2013.

 EICHENBERG, Richard C., STOLL, Richard, J., LEBO, Matthew. Journal of Conflict Resolution Vol. 50 No. 6, December 2006, p 783-808.

 FÉLIX, Carla Sofia. Breve Incursão Histórica, Social e Psicológica sobre o Terrorismo. Nação e Defesa nº 109, Outono‑Inverno 2004, p. 155 a 174.

 FRAGOSO, Heleno. Terrorismo e criminalidade política. Rio de Janeiro: Forense, 1981.

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 HALLIDAY, Fred. Repensando as Relações Internacionais. Porto Alegre: Ed. da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS, 1999.

 HOBSBAWM, Eric John. Era dos extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Cia. das Letras, 1995. 598 p. 

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 LEMOS, Vanessa Dias. O conselho de segurança da ONU frente às necessidades do mundo atual. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 1723, 20 mar. 2008 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/11080>. Acesso em 24 de maio de 2013.

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 MUSHARBASH, Yassin. Surprising Study On Terrorism: Al-Qaida Kills Eight Times More Muslims Than Non-Muslims. Berlin, Germany. December 03, 2009. Disponível em <http://www.spiegel.de/international/world/surprising-study-on-terrorism-al-qaida-kills-eight-times-more-muslims-than-non-muslims-a-660619.html> Acesso em 23 de maio de 2013.

 NATO’s military  concept  for  defense against  terrorism. Outubro  de  2003. North Atlantic Treaty Organization (NATO/OTAN), Brussels, Belgium. Disponível  em:  <www.nato.int/ims/docu/terrorism.htm>. Acesso em 23 de maio de 2013.

 PECEQUILO, Cristina Soreanu. Política Internacional - Manual do Candidato. Brasília: FUNAG, 2012. 354 p.

 PEREIRA, Antônio Celso Alves. Direitos Humanos e terrorismo, in Direitos Fundamentais: estudos em homenagem ao Professor Ricardo Lobo Torres (Org. Daniel Sarmento e Flávio Galdino. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

 RATNER, Michael. Entrevista a David Brooks: "Washington promoveu una Operação Condor mundial". La Jornada / Carta Maior, 08 de setembro de 2011. Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18427>. Acesso em 23 de maio de 2013.

 THE WHITE HOUSE ARCHIVES. Remarks by the President Upon Arrival. Washington, 16 de setembro de 2001. Documento disponível em <http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2001/09/20010916-2.html>. Acesso em 13 de maio de 2013.

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[1] Mestrando do PPGFIL, Universidade de Caxias do Sul (UCS). Pós-Graduado em Relações Internacionais e Geopolítica.

[2] O mapa completo das bases dos Estados Unidos (com infográfico) pode ser acessado em: http://news.nationalpost.com/2011/10/28/graphic-mapping-a-superpower-sized-military/.

 [3] MANDEL, Ernest (1970) apresenta em detalhes o novo modelo imperial norte-americano em suas mais distintas formas.

 [4] A chamada “Ordem dos assassinos” esteve ativa no século XI, e era reconhecida pela eficácia de suas técnicas e pela postura altamente profissional dos mercenários, todos eles muçulmanos radicais. Antes de executarem suas vítimas, os assassinos costumavam dopar-se com haxixe, advindo daí sua denominação “Hasshasshin”. A palavra de origem árabe foi latinizada e dela originou-se o atual vocábulo “assassino”.

[5] Colaborando com os objetivos gerais do terrorismo, é dito por FÉLIX, Carla Sofia, 2004, p. 160 que “O objetivo maior da causa terrorista será, talvez, a aniquilação dos valores da sociedade democrática. Contudo, muitas podem ser as causas que motivam os atos terroristas: expulsão  de  estrangeiros, mudanças  políticas,  ação  de  retaliação  e  vingança,  obtenção  de  projeção local ou global, construção de uma imagem de poder, preservação do território [e] motivos religiosos.”

 [6] “The greatest advantage that terrorists have and will continue to have is a virtually unlimited range of targets. Terrorists can attack anything, anywhere, anytime, limited only by operational considerations. Terrorists do not attack defended targets; they seek soft targets.” JENKINS, Michael, 1986, p. 261‑262.

[7] De 1934 a 1939 Stálin procurou limpar o partido socialista soviético de dissidentes e indivíduos que demonstrassem a mínima desconfiança para com seu modo de governar. Calcula-se em cerca de 6 mil os expurgados nesse período, desde civis a generais de exército. Junto com esses, os “gulags” ou campos de prisioneiros,  subtraíram a liberdade de até 13 milhões de prisioneiros. Ver HOBSBAWN, 1995, pág. 371.

 [8] Calcula-se que o número de mortos passe de 1.4 milhões.

[9] De acordo com o texto de “President Bush’s Adress”. (CNN NEWS, 2001).

 [10] A frase em questão, proferida em 11 de setembro de 2001 foi a seguinte:  “This is a new kind of ,  a new kind of evil.  And we understand, and the American people are beginning to understand.  This crusade, this war on terrorism is going to take a while.  And the American people must be patient.  I'm going to be patient”. A íntegra da entrevista de George W. Bush pode ser encontrada nos WHITE HOUSE ARCHIVES, 2001.

[11] Para esclarecimento dessa nomenclatura, ver “The Tenth cruzade”. Artigo disponível em http://www.counterpunch.org/2002/09/07/the-tenth-crusade/.

[12] Texto do Patriotic Act disponível integralmente em http://epic.org/privacy/terrorism/hr3162.html. Página visitada em 23 de maio de 2013.

 [13] Detalhes acerca das acusações de tortura em Guantánamo estão disponíveis no site do Human Rights Watch em http://www.hrw.org/topic/counterterrorism/guantanamo. Página visitada em 23 de maio de 2013.

[14] “Justificando seus atos, tanto Bush filho quanto Blair afirmaram que houve problemas na interpretação de dados da inteligência sobre a capacidade de Hussein, mas que independente disso a operação se justificava por si mesma.” PECEQUILO (Opus cit, p. 78).

[15] No original inglês consta: “Empires have no interest in operating within an International System; they aspire to be the International System”. Tradução livre do autor, itálicos mantidos de acordo com o original.