Teorias.

Meus colegas do curso de Psicologia sempre se questionam sobre a escolha de uma abordagem teórico-metodológica no campo da Psicologia. Por vezes se sentem pressionados a escolher uma das teorias aplicadas. Uma vez fiz um trabalho usando a Psicanálise como fundamentação teórica e fui criticada por usar o termo "contingência", pois, seria um termo próprio da escola comportamental. Agora penso, a palavra contingência significa algo que pode ou não acontecer, sendo anterior ao behaviorismo. Que culpa tem a palavra se um cara resolveu observar os ratos para conhecer o ser humano. Além do mais a Psicanálise precisa de todas as palavras e de todas as metáforas o possível.

Acho muito chato quando criticam Freud, pois, ele é o pai da psicanálise e contribui muito com a Psicologia. Sabendo que a Psicologia tem uma origem plural, tenho para mim que Freud ao ouvir uma histérica marcou o início da Psicologia. Ele ouviu quando poderia apenas medicalizar, não se preocupou em afirmar a Psicologia como ciência (como é o caso dos comportamentais) mais inicia a Psicologia como profissão, como postura profissional.

Um dia na faculdade nomeei uma pessoa como psicótica e a professora criticou-me alegando que eu estava rotulando a pessoa. Os maiores críticos da Psicanálisealegam que esta escola possui um caráter patologizante, o que não é verdade. O fato de classificar o sujeito como psicótico ou neurótico ou perverso visa a normalidade deste, ou melhor, visa a possibilidade deste gerir ou inventar sua normalidade. O interesse é saber como o sujeito deu conta ou não de determinada coisa, assim não há rotulações, mais individuações, singularizações.

Assim determinadas teorias se baseiam no equívoco do aspecto patologizante da psicanálise para construir uma antítese e acabam conseguindo resultados. Será que uma nova teoria se apóia em um equívoco? Lendo sobre a Gestalterapia soube que criticam a comportamental pelo fato de não valorizarem a potencialidade do sujeito, deste modo trabalhando com aquela coisa do "aqui e agora" também obtêm resultados. Tenho minhas reservas em relação à abordagem comportamental, mas sei que esta não ignora as pontecialidades do sujeito. Será mesmo que uma antítese parte de um equívoco?

Não. A antítese surge de um aspecto fenomenológico do saber. Não sai daquilo que falta na teoria mas provém daquilo que falta no pesquisador. Assim a teoria deve satisfazer o íntimo do teórico, não falo de uma ausência de critérios, mas a teoria deve responder as questões pessoais do teórico. Um psicanalista poderia trabalhar com um enfoque comportamental, não há nada de errado com tal abordagem, mas os paradigmas contem um espaço de subjetivação.

Assim um psicólogo não precisa escolher uma teoria, mas se profissionalizar.A teoria é para projetar o conhecimento, não para reprimir-limitar o sujeito como acontece com a religião onde o que deveria fazer transcender, inibe ou coíbe. O que quero dizer é que é preciso estar sobre a teoria e não sob. É preciso utilizar a teoria de forma criteriosa e crítica. A melhor apreensão da abordagem teórica fará com que seu usuário possa às vezes se libertar dela. Em outras palavras, teoria é para ser mastigada, degustada, ter todos os seus nutrientes sugados e por fim... ser cuspida.