TEORIAS CURRICULARES

Fatiane Rosa da Silva[1]

O currículo é um dos instrumentos mais fundamentais no processo educacional, a partir dele conceituamos a construção da identidade escolar, o ponto de partida da organização a que se espera. Processo este que é discussão ao longo dos anos e até os dias de hoje precisamos estabelecer qual teoria adotar para uma melhora significativa na realização dos trabalhos pedagógicos.

Compreender de fato o que quero aprender ou mesmo ensinar com maior ênfase, levando sentido aos docentes e discentes, formando uma conjuntura de saberes necessários, onde os professores possam construir, definir de forma coerente o currículo de sua área de atuação.

            O currículo é abordado por muitos pesquisadores, cada um a sua maneira de ver, com conceitos, teorias, definições que perpassam por muitos momentos históricos. E aqui trataremos das teorias apontadas por Silva[2] (2003), que defini de forma clara as três teorias curriculares, ou seja, as teorias tradicionais, as críticas e as pós-críticas. Sendo assim definimos:

Teorias tradicionais do currículo

A teoria tradicional sofreu grande influência em muitos países, especialmente nos Estados Unidos, chegando ao Brasil em meados do século XX. O currículo era visto como uma organização burocrática para manter uma postura padrão, imposição de regras, sendo visto como ação mecânica, onde a repetição ou mesmo a memorização era o maior foco. O professor era o condutor do saber e o aluno apenas um recipiente que tinha no professor única fonte do saber.

O ensino voltado apenas na aprendizagem centrada no mestre, com as repetições de atividades, levando a memorização, as avaliações seguiam modelos padrões, sem levar em consideração os saberes individuais, a metodologia aplicada, seguia a orientação do professor que por sua vez ignorava o processo cultural e histórico dos alunos.

Dessa forma o currículo apenas abordava de forma burocrática o que a escola pretendia realizar, mas não passava de um documento, onde traçava objetivos e apenas ficava na gaveta, sem nenhum interesse de qualquer natureza de fazer o currículo acontecer, sem preocupar-se com os reais interesses da comunidade escolar.

            A forma mecânica realizado nas atividades escolares era visto como eficiência, levando o aluno ao um sucesso na vida profissional, com maior objetividade, neutralidade nas realizações dos trabalhos desenvolvidos, pois foram ensinados nas realizações de atividades repetitivas e assim seriam ótimos funcionários principalmente no campo da indústria, período onde teve grandes avanços.

O ensino era voltado para o campo do trabalho, quanto mais dedicado o aluno, melhor seria como no ramo profissional, e a administração educacional seguia para que tudo seguisse conforme o planejamento.

Teorias críticas do currículo

No momento em que a teoria tradicional do currículo estabelece maior preocupação com o profissionalismo entra em questão as críticas as estas teorias, levando-os a ideologia do senso crítico com a insatisfação com a realidade escolar.

Nesse momento surge o que consideramos o marco da luta pelas desigualdades sociais destacando grandes nomes, que levantaram a bandeira em prol de uma sociedade mais justa, igualitária que se preocupava mais com o que de fato fazia sentido na vida escolar do aluno como isso influenciaria sua vida, onde fossem respeitados os processos históricos e culturais da sociedade. Embora muitas vezes o poder do capitalismo falasse mais alto, pois influencia de forma direta nas relações de trabalho.

Para alguns pesquisadores o processo da indústria cultural, acabou por estabelecer o poder de uma minoria que controlava a maior parte da sociedade, sendo estes aos poucos deixando de lado a arte popular, morrendo de fato a cultura local predominava um sistema dominante, que refletia diretamente no currículo escolar que por sua vez deixava de lado os saberes existências das crianças para trabalhar simplesmente os conteúdos programados, levando a realidade escolar de fato muito longe das reais situações.

Estabelecer uma reprodução social e cultural de outros povos, não permitindo ao aluno de fato transmitir sua realidade, sua vivência, fazendo apenas com que ele reproduza histórias fora da sua realidade, levando-os a perceber que a escola não servia para eles, pois refletiam diretamente no seu futuro que muitas vezes vai além muros escolares.

Teorias pós-críticas do currículo

Com a construção do currículo como paradigma tradicional, com seus objetivos voltados para preparação do trabalho, onde o aprendizado era de maneira mecânica, repetitiva que se utilizavam da autoridade do professor e o currículo não passava de um documento burocrático, com este ponto de vista surgem às críticas, com a insatisfação da reprodução social e cultural, com o controle do poder capitalista e um sistema dominante, onde procuram discutir sobre as desigualdades sociais, e que na escola o aluno não encontrava seu espaço por não considerá-lo com um ser formado em um meio voltado de cultura.

Mesmo com os avanços, dentro da própria teoria crítica surgem as críticas, enfatizando que as desigualdades sociais vão muito além, surgindo à teoria pós-crítica, colocando o indivíduo na busca da própria identidade, com a alteridade, ou seja, mais humanista, respeitando as diferenças, deixando de lado uma concepção de uma cultura puramente machista, branca, européia, passando por um multiculturalismo, onde nenhum grupo é superior ao outro, compreendendo que aprendemos uns com os outros.

Com a teoria pós-crítica, o currículo ganha força para realmente alcançar seu espaço, apoiando as escolas na realização das ações, colocar de fato o que o aluno almeja aprender e o que vai verdadeiramente surti efeito na vida do mesmo, fazer com que os professores possam ter uma visão ampla dos seus objetivos, planejar com convicção dentro das suas ações fazendo com que o aluno participe mais, de forma subjetiva, enfatizando suas raízes, questionando sempre, errando e voltando a fazer de forma prazerosa, duvidando do progresso e lutando por conquistas ainda não alcançadas.

                 Contudo hoje as escolas precisam seguir um currículo, não como mero documento burocrático, mas como instrumento que auxilie todos especialmente o professor, com proposta que realmente condiz com a realidade escolar, focando nas necessidades conjuntas e individuais dos alunos, dando sentido ao aprendizado, tendo apoio no PPP (Projeto Político Pedagógico), nos livros didáticos, onde fará a seleção de conteúdos e avançando no processo ensino-aprendizado, com mais ênfase.

VER: Tomaz Tadeu da Silva – Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo.



[1] Mestranda em Educação Inclusiva; Especialista em Estudos Matemáticos, pela Faculdade Católica de Anápolis (2011); Graduada em Matemática, pela UNITINS (2010); [email protected]

[2] Tomaz Tadeu da Silva é Ph. D. pela Stanford University (1984). Atualmente é professor colaborador do Programa em Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.