Teoria das Janelas Quebradas
Publicado em 19 de junho de 2013 por Luiz Lucas Libânio do Carmo
Teoria das Janelas Quebradas
Por
Ângelo Dassayeve Baliza Almeida
Luiz Lucas Libânio do Carmo
Origem e contextualização
A teoria das janelas quebradas foi introduzida inicialmente por James Q. Wilson e George L. Kelling, num artigo de mesmo nome, publicado na edição de março de 1982 da revista norte-americana The Atlantic Monthly. Sugere ela que uma sociedade ou segmento social que pareça desregulado, vai - por si mesmo - criar maior desregularização. Essa teoria está mais intimamente ligada com a corrente mais conservadora da sociologia, focando-se na coesão social e na lei e ordem. As suas proposições contribuíram bastante para a política de aplicação legal da década de 80 até o presente, mas suas proposições - entretanto - não se mostraram sempre apuradas.
A teoria é demonstrada num exemplo em que tem-se um prédio com uma janela quebrada. Se a janela não for consertada, a teoria infere que a tendência é de que vândalos quebrem mais algumas janelas. Eventualmente, eles podem até mesmo arrombar o prédio, e se ele estiver desocupado, podem ocupá-lo e até mesmo causar incêndios lá dentro. Isso se dá porque a alegoria de uma janela quebrada passa a mensagem para os transeuntes de que ninguém se importa com a situação, incentivando - portanto - o comportamente não-civilizado por parte daqueles que irão vandalizar o local mais ainda. Outro exemplo seria o acumulamento de entulho numa determinada calçada. Eventualmente, as pessoas começarão a deixar sacos de lixo no local e assim por diante.
Uma vizinhança em que tal prática cresce e se desenvolve teria como inevitável o surgimento de crimes mais sérios ou ataques violentos contra estranhos, pois o senso de obrigação mútua e de civilidade está enfraquecido ou até perdido. Muitos residentes locais pensarão que o crime, especialmente nas modalidades mais violentas, está em alta, e modificarão seus comportamentos de acordo. Passarão a usar as ruas com menor frequência, e - quando nelas - evitarão contato com os demais, andando a passos apressados e desconfiados, pensando sempre "não se envolva". Para alguns residentes, esse processo de decadência urbana não importa, pois não têm a vizinhança como seu "lar", mas meramente como "o lugar onde vivem". Seus interesses estariam noutro local, pois pensam como cosmopolitas. Já os que se importam com o senso de comunidade, o impacto é maior, pois a vizinhança e suas relações sadias a que estão acostumadas e tanto prezam, cessaria em existir. Tal é o processo de instauração do caos urbano proposto pela teoria.
A teoria das janelas quebradas não diz que o crime é necessariamente causado por vizinhanças em mal estado, mas sim que elas se tornam atrativos para o crime e a delinquência por conta de sua clara desorganização. Os residentes locais podem se tornar mais relaxados quanto às suas condutas enquanto civis e os indivíduos criminosos serão atraídos para estas áreas.
O artigo fizera bastante sucesso à época e foi tido como referência de citação desde então. Em 1996, a correlação da teoria com os crimes e as estratégias para contê-lo ou eliminá-lo das vizinhanças urbanas foi desenvolvida pelo livro Fixing Broken Windows: Restoring Order and Reducing Crime in Our Communities, de George L. Kelling e a co-autora Catharine Coles.
Segundos os autores, uma estratégia plausível para alcançar tal fim é cuidar dos problemas enquanto ainda forem pequenos. Isso evita a reação em cadeia que torna o problema cada vez maior e mais difícil de se conter. Procedendo à manutenção das janelas do prédio vai interromper e fazer cessar o processo de vandalização que nele se instalaria. Limpar a calçada regularmente vai impedir que se acumule lixo nela. Em suma, os problemas não tomarão proporções alarmantes, ou em "bola de neve", e os moradores respeitáveis não deixarão a vizinhança do local.
A teoria, portanto, propõe duas grandes teses: a de que os crimes de menor potencial ofensivo e comportamentos anti-sociais em geral serão detidos e que os crimes em maior escala, em consequência, serão previnidos. A maior crítica que ela sofre está ligada a esta última.
Criticismo quanto à teoria
Para alguns criminologistas, a teoria das janelas quebradas não tem muito sentido teórico, pois ela aproxima correlação de causalidade, um tipo de pensamento que é propício a gerar falácias. Em 2004, David Thacher, professor assistente de políticas públicas e planejamento urbano da Universidade de Michigan disse que os mais prominentes entre os estudiosos que reavaliavam a teoria, bem como aqueles que propunham idéias mais despojadas e amplas, concluíram que a relação entre desordem e criminalidade séria é modesta, e mesmo assim ela seria apenas mais um artefato de forças sociais muito mais fundamentais. Alguns experimentos e outros fatos, como a diminuição da criminalidade nos EUA na década de 1990, tanto nas cidades que aplicaram uma política de tolerância-zero, quanto nas que não o fizeram, servem de objeção quanto à teoria das janelas quebradas.
Embora tenha um argumento forte para explanar o motivo de certas áreas terem uma maior presença criminosa e delinquente do que outras, a teoria das janelas quebradas falha em explicitar as causas dos crimes sérios. O comportamento sociopata ocorre em grande parte porque os indivíduos que o apresentam não podem ser contidos. A questão levantada aqui é: a aparência de uma comunidade tem maior efeito na sua criminalidade do que o caráter e as circunstâncias dos seus residentes?
Ela também se evade da idéia de que muitos dos crimes de "desordem" sem vítima são associados à criminalidade porque são ilegais. Da mesma forma em que a proibição do álcool em alguns países criou uma nova empresa criminal do submundo, a proibição da maconha, a criminalização da prostituição e de outros crimes sem vítima não promovem a criminalidade mais do que as próprias atividades?
Conclusão
O ponto em que a teoria das janelas se torna rarefeita é justamente quanto às origens da desordem. Como as primeiras sementes das sociedades que se desconstroem são plantadas? Não há explicação quanto à origem dos indivíduos que delinquem e nem de suas práticas - apenas onde são atraídos.
A teoria das janelas quebradas, embora não sir
va para explicar as dúvidas levantadas, tem algum valor para a explicação de áreas de alta concentração criminosa. Locais que pareçam sem lei e desorganizados frequentemente funcionam como abrigo para alguns tipos de crime. Entretanto, a realidade é que o crime pode ocorrer em qualquer área independente de sua aparência, pois muito mais fatores - mais importantes - estão envolvidos do que a simples aparência de desordem.
Referências
KELLING, George; COLES, Catherine. Fixing Broken Windows: Restoring Order and Reducing Crime in Our Communities, ISBN 0-684-83738-2.
GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio García. Criminologia. 7.ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 12. ed. Rio de janeiro: Impetus, 2010.
James Q. Wilson, George L. Kelling. BROKEN WINDOWS: The police and neighborhood safety. Disponível em: <http://www.manhattan-institute.org/pdf/_atlantic_monthly-broken_windows.pdf>. Acesso em: 03 abril 2013 às 09h.