TEORIA DA CRIAÇÃO ESPIRITUAL  (parte 3) 

Repassando alguns pareceres dos artigos anteriores, parte um (1) e parte dois (2), vimos que, na ordem da criação, as doutrinas do Espiritismo e do Monismo, de Allan Kardec e de Pietro Ubaldi, respectivamente, parecem conflitar-se em suas proposições acerca da criação espiritual, pois que: 

-Para Kardec: a criação dos Espíritos é Incessante, para todo o sempre; e 

-Para Ubaldi: a criação é Única, de infinitos Espíritos, ao âmbito de Deus. 

E vimos, igualmente, que tal incógnita estivera me importunando por quase três décadas. E, por mais buscasse, não obtinha êxito, não conseguia a solução para tão intrigante problemática, por não se ter como juntá-las, conciliá-las num mesmo entendimento, pelo fato de que uma informa uma coisa e a outra parece informar outra coisa que, a primeira vista, parecem distintas e bem claras para o entendimento do homem comum, de racionalidade mediana. 

Assim, frisei que no início de Março de 2011, pudera obter o maior de todos os contentamentos de minha vida no insight de que a solução do problema estava nele mesmo, ou seja, nos pareceres dos “Espíritos Superiores” que instruíram Kardec no século dezenove, e, de “Sua Voz”, que acompanhara Pietro Ubaldi logo a seguir, no século vinte. E, mesmo sabendo que estou sendo um tanto repetitivo, devo recordar ao leitor do fato de que escrevi o mais rápido que pude a Sentença Resolutiva da Criação Espiritual captada pelos meus precários dotes da intuição: 

“A criação é única conquanto caracterizar-se incessante por estruturar-se em dimensionalidade espacialmente infinita e insubordinável a termos definitivos de conclusividade”. 

E, mais ainda, recordo que, naquela parte dois (2) de tais escritos, ter passado a informação de que a “Teoria da Criação Espiritual” também poderia denominar-se “Teoria do Mecanismo Uno-Contínuo da Criação”. 

Assim, com tais pareceres vim a encerrar os artigos anteriores, sendo que agora procedo à natural seqüência dos pareceres filosóficos e matemáticos referentes a tal conteúdo expositivo e doutrinário. Vamos, pois, às demais explicações que, para tornar este trabalho o mais claro e o mais consistente possível, terei de fazer, igualmente, novas digressões de outros textos, pois que o tema é mui vasto e de difícil exposição doutrinária. E, por isto, conto com a compreensão e paciência do leitor amigo e interessado em tal descrição filosófica. 

Já vimos em “Transcendência e Imanência do Existir”, trabalho filosófico-matemático divulgado pela webartigos que: 

“De fato, e, realmente, sabemos que só Deus é Eterno; mas não a sua criação; esta, admitida como incessante e contínua, deverá ter tido um começo, um início, e que, portanto, não pode ser eterna tanto quanto o É o próprio Deus, o Legislador e a Lei do imensurável espaço astronômico, tangível e intangível da estruturação universal.” 

“Portanto: só Deus é Eterno!” 

“Mas Sua criação é imorredoura, pois que a um ‘determinado tempo’ surgira para imortalizar-se por Sua Soberana Vontade. Se assim for, pode-se, portanto, consolidar uma retrospectiva, uma espécie de volta ao princípio, ou, ao início de Tudo, ao Deus de caráter Transcendente (DT), antes de Sua criação. Minha lógica intuitiva, pois, cogita haver um período anterior à criação, a qualquer criação Sua; um período de Absoluta Transcendência no Infinito (oo) sem fim, ou, de Puro Pensamento sobre Si mesmo, que poderia assim compreender-se, equacionalmente, num ‘primeiro momento’ Seu, tal como:” 

“Equação Transcendental Divina:” 

  oo[( Deus Transcendente ) = (DT)]oo 

                 (primeiro momento) 

“Mas eis que, rompendo o silêncio de Seus próprios pensamentos, Deus Se autoriza acionar o mecanismo que coloca em ação os planos concebidos, e, nesse instante do faça-se, do Fiat Divinal, surgem concomitantemente:” 

“-Os tipos individualizados da energia divina, ou seja, os Espíritos Imortais, surgindo depois a matéria, o movimento, os fluidos, estando Tudo e todos submetidos à Lei, que é Deus; e, verifica-se, ainda:” 

“-A segmentação daquele período de Transcendência Divina em duas partes diferenciadas: Transcendência e Imanência, de um primeiro e de um segundo momentos Seus; e, mais ainda:” 

“-O excepcional ‘ponto cósmico’ destoante do único e do eterno tempo presente em Deus (Tpr.D): um ‘antes’ e um ‘depois’ de Sua criação.” (Vide: artigo citado para outros detalhamentos técnicos). 

Eis, pois, o que entendo por “Mecanismo Uno-Contínuo da Criação” que nada mais é que o “Ato Primordial da Criação Divina”, e suas conseqüências no infinito da Criação Única e Incessante em Deus. Em tais bases, pois, venho afirmar, e, com maiores detalhes explicar, que: a Criação é Única e Completa na Mente de Deus, conquanto precisemos quebrá-la em ciclos de inumeráveis criações finitas do pretérito, do presente e do futuro sem fim, em nossas análises de relativa compreensão. Mas, quero crer, ainda mais, que tal paradoxo se resolve na dimensão e na estrutura mesma do referido Mecanismo Uno-Contínuo, como veremos seguidamente. 

Por outro lado, presumo que saibais dos detalhes afiançados noutro artigo de minha escrita intitulado: “Filosofia Matemática do Existir” (revista eletrônica: ‘O Consolador’ – nro. 267), onde descrevo que Deus está além dos tempos passados e futuros que tão só Lhe representam e Lhe são de um Eterno Estado de Presencialidade em Tudo, ou, do que pude descrever como sendo de um Tempo Presente em Deus (TprD); sendo que tal texto estivera fundamentado, ainda, na resumida e altíssima sentença de Kardec, que, em seu último trabalho (“A Gênese”) proferia que: 

“O passado e futuro são o presente para Deus”.

Sendo que tal artigo poderá ser complementado ainda com: “Transcendência e Imanência do Existir”, já citado, e, com “Existencial Evolutivo do Espírito Imortal” que constituem uma trilogia. 

Por conseguinte, devo enfatizar com uma série de argumentos filosóficos e matemáticos, e, fundamentado, sobretudo, naquela Sentença Resolutiva da Criação Espiritual, que: 

No “instante” em que Deus, no “passado”, acionara em Si mesmo tal Mecanismo da Criação Espiritual, e, por tratar-se de uma função a disseminar-se pelo infinito (oo), tal Mecanismo não cessara ainda sua divina programação e tampouco cessará “um dia”, “amanhã” ou “depois”, pois que tal iniciou-se em um determinado ponto cósmico com a finalidade de estender-se ao infinito de uma dimensão universal espacialmente esférica e sem limites demarcatórios de sua infindável extensão; sua superfície, pois, está no infinito (oo) que não tem fim. 

E não parece ser tão difícil assim de entender, conquanto tratar-se de fenômenos dispostos Incomensurável, no Eterno e Presente Existir de Deus, sendo que tais, desnecessário repisar, estão sendo observados do “lado de fora”, ou melhor, de um ponto de vista relativo à nossa compreensão do indescritível fenômeno em Deus. 

Tal ponto de vista, por conseguinte, está sujeito aos equívocos provocados pela contração psíquica, ou dimensional, de nós mesmos, em virtude do que se instrui, equivocadamente, porém, mais inteligível, na forma de uma “queda espiritual”, que melhor se define não como alguma coisa que “caiu”, mas sim como uma espécie de desmoronamento moral da criatura, ou, então, melhor ainda, como uma contração psíquica do Ser falido até à linha da matéria e do tempo, sua nova condição constrangida para viver e experienciar as mais diversas gradações conscienciais evolutivas que, na medida em que se reconstrói e se salva, vai albergando novas e mais amplas consciências que, nada mais são, do que novas conquistas no campo da ética e do saber, onde, na condição humana terrena, já detêm, relativa compreensão das coisas do mundo, da vida e da imensurável dimensão universal, mas que se encontra, ainda, tão distante da compreensão do Todo em que se insere a Indescritível Mente de Deus. 

Nossa visão, portanto, muito difere da eterna e da Presente Visão de Deus no infinito, no Eterno Tempo Presente de Sua Infinita Dimensão. Assim, quero acreditar que: 

-A criação é Única no sentido de que Deus atua em Seu Presente Existir que está, por Sua Transcendência, além de um tempo passado que não existiu e além de um tempo futuro que não existirá. 

Eis aí, o que a visão da obra ubaldiana alcançou: a visão de Deus, de uma obra pronta e perfeitamente acabada. Entretanto, se é Única e já está concluída na Mente de Deus, paradoxalmente: 

-A criação vem a ser de uma multiplicidade infinita por não comportar um termo final de sua realização no próprio infinito (oo) que não tem fim; e daí: ser Contínua e Incessante. 

Eis o que a visão da obra kardequiana alcançou e que também se encontra, tal como a outra, refletindo a verdade, porém, sendo suscetível, uma e outra, de novos esclarecimentos por meio do Mecanismo Uno-Contínuo e dos procedimentos de lógica intuitiva que ora proponho como solução.

 É que Deus Tem uma Visão Total e Instantânea de Tudo: de Sua obra pronta e definitivamente acabada por estar sujeita e adstrita à Sua Imutável Lei que não vigora para o passado e tampouco para o futuro, e sim, para o Eterno Presente de Si mesmo e de Suas criaturas. 

E, tais criaturas, por sua vez: Não tem como abraçar o Todo e de, portanto, ter uma Visão Completa e Integral de Tudo quanto existe em Deus e não só porque somos filhos d’Ele, criaturas de ordem finita, mas também porque somos filhos rebelados, aderentes às contingências prisionais da matéria e do cotidiano de fragmentação psíquica de nossa temporalidade evolutiva. 

(fim da parte 3)    

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