Teologia Sistemática:


A Teologia Sistemática é, estritamente falando, a sistematização e defesa das doutrinas expressas nos símbolos da igreja . A expressão Teologia Sistemática veio a ser entendida como a "organização sistemática da teologia". Em linhas gerais, o objetivo da Teologia Sistemática é apresentar uma visão clara e organizada dos principais temas da fé cristã. Para isto, a teologia sistemática toma o material fornecido pela Teologia Bíblica e Histórica e o arranja em ordem lógica sob os grandes títulos do estudo teológico. O teólogo norte-americano Charles Ryrie, que serviu como professor de Teologia Sistematica durante muitos anos no Seminário Teológico de Dallas, explica que a "A teologia sistemática correlaciona os dados da revelação bíblica como um todo, para exibir sistematicamente a imagem completa da auto-revelação de Deus". Já  o teólogo Católico Romano João Batista Libanio, por sua vez, argumenta que a "teologia sistemática como inteligência atualizada dos dados da fé, não se ocupa meramente em repetir os dogmas, mas em tornar compreensível e significativo o imenso patrimônio da vida e reflexão dos cristãos" .
O primeiro grande manual da teologia ocidental em sentido sistemático foi organizado pelo teólogo e filósofo escolástico Pedro Lombardo (1100-1160). Conhecida como os "Quatro livros de sentenças", esta obra foi organizada quando Lombardo lecionava na Universidade de Paris por volta do século XII. A obra é formada por um conjunto de citações/sentenças dos Pais da Igreja (Patrística) juntamente com textos das Sagradas Escrituras. Dividido por tópicos, o primeiro dos quatro livros tratava da Trindade; o segundo, da criação e do pecado; o terceiro, da encarnação e da vida cristã; e o quarto e último livro, sobre os sacramentos e os últimos dias .
Com efeito, as sentenças de Pedro Lombardo tornaram-se logo um dos livros fundamentais da cultura filosófica medieval, servindo de guia para o surgimento de outros trabalhos teológicos e filosóficos até o século XVI. Tamanha influência pode ser percebida na famosa obra de Tomás de Aquino, Suma Teológica, por exemplo. Tomás de Aquino resumiu toda a teologia cristã em três partes empregando princípios parecidos com aqueles que foram adotados por Pedro Lombardo. Embora pouco citado entre os teólogos protestantes, Pedro Lombardo teve uma grande importância no desenvolvimento da teologia no Ocidente. Como observou o teólogo alemão Paul Tíllich: "Todos os grandes escolásticos começaram a carreira escrevendo comentários sobre as Sentenças de Lombardo".
Quanto à atual organização da Teologia Sistemática, podemos dizer que esta tem seguido o sentido tradicional semelhante ao padrão do Credo Apostólico, ou seja, começa-se pela "doutrina de Deus" e termina pela doutrina das "últimas coisas". Assim, de modo geral, são abordados os seguintes temas na Teologia Sistemática: "a doutrina de Deus", "a doutrina do homem com relação a Deus", "a doutrina da pessoa e obra de Cristo", "a doutrina da igreja", "a escatologia", entre outros .
Contudo, essa ordem ou sequência de temas abordados na Teologia Sistemática podem variar de acordo com cada autor. A obra Teologia Sistemática do teólogo Paul Tillich, por exemplo, encontra-se dividida em três partes. A primeira parte trata respectivamente da "razão", da "Revelação" e do "Ser de Deus". A segunda parte trata do tema "existência" e de "Cristo". A terceira e última parte trabalha o conceito de "vida", de "Espírito" e a concepção de "Reino de Deus".
Além do conteúdo e dos temas escolhidos por Tillich, sua obra tem como característica singular a linguagem filosófica que foi aplicada. Ela se desvia do emprego habitual da linguagem bíblica que geralmente são encontradas nas obras de Teologia Sistemática tradicionais. Diferente de Tillich, os teólogos que seguem uma linha mais tradicional procuram fundamentar suas afirmações específicas com citações bíblicas apropriadas enquanto que, de modo diferente, Paul Tillich procurou usar conceitos filosóficos, psicológicos e frequentemente referências sociológicas e científicas a fim de fundamentar seus escritos. Como o próprio Tillich observou: "Este procedimento parece mais adequado para uma teologia sistemática que procura falar inteligivelmente ao grande grupo de pessoas cultas [...] para quem a teologia tradicional se tornou irrelevante" .
Além da sistemática de Paul Tillich, outras obras também tiveram bastante importância no cenário teológico, sobretudo no século XX. Dentre essas obras, destaca-se a obra "Dogmática Cristã", um extenso trabalho do teólogo Suiço Karl Barth, cujo primeiro título foi publicado em 1932. Para Barth, que é costumeiramente tido como um te'ologo neo-liberal, pensar teologicamente é ter diante dos olhos a figura viva de Cristo, e por isso mesmo uma dogmática cristã deve ser cristológica em sua estrutura fundamental como em cada uma de suas partes. Diferente de Paul Tillich, Karl Barth tentou elaborar uma teologia sistemática completamente livre de qualquer influência filosófica. Eis o panorama de alguns volumes publicados de sua Dogmática: 1/1) "A palavra de Deus como critério da dogmática (1932); 1/2) A revelação de Deus, a Sagrada Escritura, o Anúncio da Igreja (1938); II Parte, Deus, que compreende dois volumes II/1) A obra da Criação (1940); II/2) A Eleição gratuita de Deus: O mandamento de Deus (1942)", etc .
Quanto ao lugar da Teologia Sistemática no Brasil, percebem-se algumas iniciativas promissoras e bastante significativas. Já é possível encontrarmos algumas obras na linha da Teologia Sistemática organizadas por teólogos brasileiros, sobretudo por teólogos pentecostais. Contudo, ainda assim, vê-se a necessidade de inovação, uma vez que em muitas dessas obras se aborda praticamente os mesmos temas com poucas alterações.
Falando sobre a importância e a necessidade de uma Teologia Sistemática contemporânea, o teólogo Júlio Zabatiero explica que esta, a Teologia Sistemática, "Deveria ser um sistema aberto, flexível, que "a partir da Escritura" procurasse encontrar respostas teologicamente adequadas e significativas para os problemas atuais. Para os problemas religiosos e, especialmente, para os problemas ecológicos e sociais". No mais, ainda prevalecem as traduções das obras de teólogos estrangeiros que durante muito tempo tiveram uma importância significativa no cenário teológico brasileiro como Lewis Chaffer, Charles Hodge, Augustus Strong, Louis Berkhof, Wayne Grudem dentre outros.






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