Cidade de Itapagipe M.G.

Quem sou eu.

Não  sou ninguém.

Muito menos.

Teria  que ser.

Apenas uma figura.

Excêntrica.

Isso me encanta.

Estudei Filosofia

Entendi  Filologia.

Nasci e cresci.

As margens do rio moeda.

Na fazenda serra da moeda.

Mo município de Itapagipe.

Ao amanhecer.

Ia a um feixe.

Apanhar peixes.

As tardes contemplavam.

As águas do rio.

A pastagem do gado.

Olhava as árvores.

E admirava a sua folhagem.

Não tinha que pensar.

Em Filosofia.

Não precisava.

Ser crítico.

Entender de Biologia.

Evolucionista.

Física Quântica.

Política.

Teoria econômica.

História ou Psicanálise.

Aliás.

Não tinha que pensar.

Em nada.

Eles pensavam.

E agiam por mim.

Não tinha que imaginar.

Nem mesmo a fazenda.

Muito menos cuidar dos bois.

Eles faziam tudo.

Cuidavam de mim.

Eu só tinha que montar.

Em um cavalo.

Cavalgar as margens do rio.

E noite olhava.

O esplendor das estrelas.

E o brilho da luz.

Da lua.

Tinha um cérebro livre.

Para dormir e sonhar.

Foram  noites.

Maravilhosas.

Dóceis iguais.

A vida levada.

Sentido a imensidão.

Do escuro.

A doçura da leveza.

Do espírito do campo.

O despertar da madrugada.

Não tinha que ser.

Ou deixar de ser.

Não precisa pensar.

Inventar palavras.

Desenvolver lógicas.

Racionais.

O mundo era apenas.

A  repetição.

Do dia e da noite.

A linguagem curta.

Tinha  pouco significado.

Não era necessário.

Nem mesmo os recursos

Da habilidade da fala.

Naquele tempo.

Era uma criança.

Achava graça em tudo.

Perdido na imensidão.

Do silêncio.

Não tinha medo.

Nem mesmo de sonhar.

Não tinha tempo.

Porque ele não passava.

Não existia.

Não conhecia os dias.

Da semana.

Não sabia da existência.

Dos meses.

Desconhecia também.

Os anos.

Não precisa imaginar.

O mundo era regular.

Sentia a profundidade.

Da  quietude.

A tarde entrava na plantação.

De  milho.

Ao meio dela encontrava.

Doces  melancias.

Naquela fazenda tinha tudo.

Era um verdadeiro supermercado.

Todas as frutas eram naturais.

Como a vida não poderia ser bela.

Tinham diversas tias.

Para cuidar de mim.

Ainda me chamava de Edjarzinho.

A terra parecia o céu.

Os anjos estavam na terra.

Hoje tenho que pensar.

Por  mim.

Tenho que cuidar.

Da minha pessoa.

Porque o paraíso.

Saiu  dos meus pés.

Compreender.

A  lógica do mundo.

A realidade da política.

Entender como funciona.

O  psicológico.

Das pessoas.

Para poder compreender

A  minha estrutura.

Psíquica.

O mundo mudou.

Radicalmente.

A fazenda do meu avô.

Era  a minha  defesa.

Hoje a minha proteção.

Sou  eu mesmo.

Sem acreditar em deus.

Sem gostar dos pastores.

Do liberalismo econômico.

Sem ninguém.

Para cuidar da minha pessoa.

Eu mesmo terei que fazer.

Essa amarga tarefa.

Tomar cuidado.

Para não perder o salário.

Não vejo a noite passar.

Nem sei se existe brilho.

No céu.

Se alma consegue voar.

Como o vento condutor.

Das fantasias.

De quem joga futebol.

Livrar-nos das ideologias.

Então que mundo é esse.

Quais suas epistemologias.

Silêncios guardados.

No  coração.

Todos querem destruir.

As emoções.

Com efeito, a vida é chata.

Perigosa.

Melancólica.

Alienada.

Uma vida escravizada.

Na sua essência.

Sem perspectiva.

De  ser libertada.

A contemporaneidade.

Não  tem racionalidade.

O mundo é naturalmente.

Sem  futuro.

Porque sou eu mesmo.

O meu eterno guardador.

Tudo o que nunca sonhei.

Ter que cuidar da minha vida.

Pacata e simples.

Perdida nas ilusões.

De um tempo passado.

Longínquo da imaginação.

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