Em novembro, como nos demais meses, existem datas importantes e outras nem tanto. É tempo propício a algumas considerações, não porque no mês seguinte tem Natal, mas porque neste mês se comemoram algumas datas cívicas. E uma delas vem ganhando realce. Note que não estou me referindo ao dia 15 nem 19, que andam meio esquecidas, mas ao dia 20. E o destaque crescente não se deve ao aniversário do assassinato de Zumbi, mas àquilo que vem sendo chamada do Dia Nacional da Consciência Negra.

É verdade que todos os tempos são favoráveis àquilo que queremos realizar. Em qualquer tempo podemos desenvolver a cultura da paz ou provocar situações de violência – principalmente sabendo que a violência é mais lucrativa que a paz! Em qualquer tempo podemos realizar grandes obras ou simplesmente esperar o tempo passar, como se no transcurso do tempo estivesse a solução de todos os problemas; como a negar o fato de que a solução de problemas se dá pelo trabalho e não pela acomodação. E, sendo assim, o dia 20 de novembro é uma data com essa característica ascendente. Mas, apesar de ser prenhe de significados, permanece uma data a ser construída pelo que pode produzir e não só pelo que passou.

Dia da consciência negra, na realidade é um tempo de todos.

Tempo de todos porque todos pertencemos à mesma sociedade brasileira que se desenvolveu não partir de brancos ou negros, mas por mãos de brancos, negros, índios e outros tantos; ou seja, uma história de misturas. Dia 20, portanto, não é apenas o dia da consciência negra, mas um tempo de e para todos. Inclusive tempo de refletir até mesmo sobre a denominação "Consciência Negra" que, embora produzida para dar voz ao movimento negro e como meio de resgate de nossa africanidade, pode soar com carga preconceituosa.

Além disso, não podemos negar que houve, sim, um tempo em que os brancos eram donos de negros e os tratavam como coisas ou como animais: trabalho forçado, agressão física e outros maus tratos... Tempo em que ser dono de um negro era sinal de opulência e status... mas nesse mesmo tempo houve negros que se rebelaram, fugiram e organizaram quilombos, assinalando para a história que a liberdade não tem cor, mas tem personalidade. Um tempo em que a atitude de corajosos visionários ameaçou aquela estrutura escravocrata.

Entretanto, no transcorrer dos anos e séculos muita mistura se deu. Negros, índios e brancos formaram um Brasil de muitas faces e cores: Branco, amarelo, vermelho, pardo, mulato, sarará, crioulo, moreno, branquelo, negão... e mais outras faces foram formando o Brasil detodos, que não é nem branco, nem negro, nem índio, mas mestiço. A mestiçagem produziu a mistura que nos nutre a todos, ao ponto de dizermos com Jorge Amado que o brasileiro puro é o mestiço. Mérito nosso? Não, de nossa história!

E então, consciência negra? Só se for uma consciência de pertencimento em que todos são responsáveis por erros e acertos; responsáveis por uma sociedade de mestiços que tem problemas, mas que busca soluções para todos e não para alguns. Sabendo que ao negar nossa africanidade negamos parte de nos mesmos, mas supervalorizar apenas um aspecto pode hiperbolizar outro equivoco, produzindo justamente o que queremos evitar!

Tempo de consciência negra? Mas também branca, mestiça, índia... e com isso ampliar nossa consciência de um pertencimento; para ampliar nossa consciência de que formamos uma sociedade feita de diferentes; para reforçarmos a consciência de que o diferente do que sou é justamente o que não sou e, portanto, o que me falta. Custa-nos admitir que os diferentes se completam e complementam,

Dia Nascional da Consciência Negra! Por que não dizer dia de valorização das diferenças culturais? Por que não dizer dia de todos? E, pior ainda, por que só um dia? O que fazer com os outros dias? Embotar a consciência? Comemorar o 20 de novembro, mas o que fazer nos demais dias?

Dia Nacional da consciência Negra! Por que não dizer dia de superar as diferenças? Pois se há diferenças que nos unem, existem situações em que o fato de sermos diferentes nos degrada a todos. Portanto existem diferenças a serem superadas.

Quais as diferenças a serem superadas?

Não se trata da cor da pele, mas da conta bancária, pois o que alguns tem de mais é o que falta para a maioria; não se trata da diferença de alguns fazerem um coisa e outros tantos se dedicarem a outras atividades, mas das condições de trabalho, de acesso ao trabalho, pois é pelo trabalho que o homem se constrói; não se trata da diferença de escolarização, mas de possibilitar a todos o acesso e permanência no ambiente escolar, pois a escolarização é um caminho para ampliação dos horizontes... os bancos escolares são degraus que nos elevam para enxergarmos mais longe

Novembro. Dia 20. Dia de um pertencimento. Dia Nacional da Consciência Negra, na realidade dia de sabermos que brasileiros somos todos e estamos num tempo de reconstrução da consciência nacional.

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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