A língua é o principal objeto de interação entre os seres humanos desde os tempos remotos, talvez por isso que ela possua variações capazes de mudar sua forma nos mais variados aspectos: fonológico, lexical e morfológico, passando também pela semântica até a sintaxe. Claro que isto é facilmente observado, quando comparamos uma língua, o Português, com a sua língua materna, o Latim, por exemplo, ou com a própria língua após um determinado tempo. Pois, as variações surgem com o tempo.

Vale ressaltar que essas mudanças não ocorrem de um dia para o outro ou de ano a ano, evidentemente que estas mudanças possuem um caráter gradual através dos séculos, em longo prazo. Nos estratos sociais, os mais velhos tendem a conservação de regras e formas antigas. As pessoas com o maior nível de escolaridade também mantinham esta preocupação, inclusive, pelo fato de fazer parte de seu trabalho a necessidade de uma boa apresentação. As mulheres também eram muito cobradas pela sociedade no que diz respeito a conservação das regras gramáticas, a famosa prosódia, para terem melhores casamentos. Importante lembrar, que alguns itens da estrutura lingüística ou do léxico, estão mais vulneráveis para as mudanças.

Segundo uma hipótese clássica, O tempo aparente é o estado atual da língua de um falante adulto, a qual reflete o estado da língua adquirida quando o falante tinha aproximadamente 15 anos de idade. Esta teoria defende que o processo de aquisição da linguagem, do indivíduo, se forma até a puberdade, após esta fase a língua da pessoa fica essencialmente estável – estagnada – pois de acordo com esta hipótese, a gramática do indivíduo não poderá mais mudar de maneira expressiva, pelo fato do acesso aos aparelhos cognitivos que são capazes de manejar (a faculdade mental) ficarem estorvados, bloqueados. Esta hipótese baseia-se na psicologia desenvolvimentista, a psicolingüística. As mudanças ocorridas são de caráter esporádico, ou seja, permutação de vocabulários do léxico ou troca da pronúncia de uma palavra.

O tempo aparente possui uma escala que é adquirida pelo meio de pesquisa com falantes de idades diversificadas, dessa forma, a fala de uma pessoa de 70 anos, hoje, representa a língua de 55 anos atrás. Já uma pessoa de 30 anos, hoje, possui uma fala de apenas 15 anos atrás. Esse modelo de escala de tempo aparente é denominado de "gradação etária", ela também se baseia na hipótese clássica, a uma escala de mudança real.

O jovem pesquisador Gauchat, em 1905, foi o pioneiro nos estudos de campo com as técnicas de tempo aparente em uma determinada aldeia na suíça. Ele notou que as pessoas de mais idade usavam a lateral palatal [λ] - escrito lh em português – já os mais jovens preferiam [y], diferentes dos falantes de idade intermediária, que utilizavam ambos os sons. De maneira semelhante aos falantes de mais idade que pronunciavam o som [θ], a exemplo a palavra inglesa think, os mais jovens usavam [h], os de meia idade oscilavam entre uma variante e outra. O jovem postulou, então, que os sons [λ] e [θ] estava sendo substituídos do dialeto daquela aldeia pelos sons [y] e [h]. Vinte e cinco anos depois, outro pesquisador, Hermann (1929), constatou a extinção dialetal parcial de tais vocábulos. Foram descobertos argumentos que fragilizaram o conceito de estabilidade da teoria clássica da língua formada na puberdade, pelo fenômeno chamado de status do som, em outras palavras, pessoas que usavam certa variação lingüística quando jovens, mudavam esta variação para a variação usada pelos mais velhos, quando esses eram mais jovens, assim, podemos afirma que as pessoas ao passo que se aproximavam-se desta fase da vida escolhiam variantes mais apropriadas a sua idade.

A concepção de tempo aparente ainda é, de certa forma, contestada, pois faz uso do sistema lingüístico, que se baseia numa hipótese clássica questionada por pesquisas de campo. O falante, enquanto indivíduo vai mudando a distribuição de suas variantes na comunidade, de acordo com a sua faixa etária, procurando se adequar. Contudo, é importante levar em consideração não apenas o indivíduo, mas também a comunidade em que esse se insere.